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A plenitude do Pai em nós (Parte 1): Estêvão
Quando os judeus de fala grega reclamaram que as suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária de alimento (At 6.1), os 12 discípulos decidiram instituir sete diáconos (At 6.3-5), entre os quais se sobressaía Estêvão. Isso porque os discípulos queriam se manter apenas na oração e na pregação da Palavra.
O padrão para a escolha dos diáconos era bastante objetivo: deveriam ser sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria. A honestidade, por sua vez, não pode ser substituída por nenhuma outra virtude imaginária nem por nenhuma espiritualidade. Jesus elogiou essa virtude em Natanael, ao apresentá-lo como um verdadeiro israelita, em quem não há dolo (Jo 1.47). Do mesmo modo, ao descrever a Timóteo as qualidades de um bispo, Paulo declarou: Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento (1 Tm 3.2,3).
Acerca de Estêvão, a Bíblia afirma que era um homem cheio de fé e do Espírito Santo (At 6.5), além de possuir muita sabedoria – uma combinação perfeita. Seu saber era dirigido: ele conhecia a Escritura e a interpretava tão bem que os seus opositores perderam por completo qualquer argumento. Então, taparam os ouvidos e partiram para a violência, apedrejando aquele que se apresentara perante eles com um rosto como o de um anjo
(At 7.57,58; At 6.15)!
Há pessoas cheias da graça, mas vazias de sabedoria. Por causa da ignorância, a graça de Deus presente nelas não produz nenhum proveito, mas, muitas vezes, vergonha.
Estêvão era ainda cheio da graça e do poder de Deus (At 6. 8 − ARA). Quando a graça precede o poder divino, temos alguém repleto de autoridade espiritual. Porém, se o poder vem antes da graça, já não há autoridade, e
sim autoritarismo.

Tive o privilégio de ter um pai que possuía e exercia autoridade. Ele não disciplinava os filhos com violência, mas com seu exemplo de vida. Era amado e respeitado por todos os 11 filhos e as dezenas de netos e bisnetos. Ele nunca afirmava que tinha autoridade. Aliás, é verdadeira aquela expressão: “quando alguém diz: quem manda aqui sou eu, é porque, na verdade, já não manda em nada”.
Tarefas difíceis – Estevão era o único judeu entre os sete diáconos, os outros seis tinham nomes gregos. No entanto, ele estava acima das raças e venceu também a distinção entre o sagrado e o secular. Nas suas atividades aparentemente seculares, servindo às mesas, a santidade estava bem presente. Cumpria-se Zacarias 14.20,21: Naquele dia, se gravará sobre as campainhas dos cavalos: Santidade ao Senhor; e as panelas na Casa do Senhor serão como as bacias diante do altar. E todas as panelas em Jerusalém e Judá serão consagradas ao Senhor dos Exércitos, e todos os que sacrificarem virão, e delas tomarão, e nelas cozerão; e não haverá mais cananeu na Casa do Senhor dos Exércitos, naquele dia.
Para Estêvão, servir à mesa dos necessitados era como servir à mesa do Senhor. A santidade havia descido da cabeça do sumo sacerdote para as suas vestes, a igreja, para a diaconia dos sete, às campainhas dos cavalos e às panelas das donas de casa. Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união! É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes. Como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião; porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre (Sl 133.1-3).
Tudo isso significa santidade em toda a nossa maneira de viver. Servindo às mesas e evangelizando, Estêvão unia Maria e Marta no seu ministério. O apóstolo Pedro ensinou: Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo, como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque eu sou santo (1 Pe 1.13-16).

Oposição – Ao ser caluniado, o rosto de Estêvão brilhou. Sua vida era tão cheia da presença divina que era capaz de transformar calúnias em glória (At 6.15). Resistir aos interesses de Estêvão era o mesmo que resistir ao Espírito Santo (At 7.51). Nada podia desviá-lo de sua missão (At 7.57).
Podemos dizer que algo parecido ocorreu com Davi diante da afronta de Golias. O filisteu era valente, mas incircunciso (1 Sm 17.26). Era grande, mas Deus era muito maior. Os soldados israelitas viam Golias como um sujeito enorme e Davi como alguém pequeno que não poderia vencer o gigante.
Mas tudo dependia do ponto de vista. Imagine dois vendedores de calçados enviados a duas nações na África. O primeiro andou pelo país e enviou o seguinte telegrama à fábrica: “Mercado negativo; aqui ninguém usa sapatos”. O segundo vendedor andou pelo outro país e enviou o seguinte recado: “Mercado positivo; aqui ninguém usa sapatos”.
Olhando para Golias, Davi pode ter pensado: “Ele é tão grande que não vou errar o alvo”. A primeira pedra se alojou em uma pequena área livre na fronte do guerreiro, e ele tombou vencido (1 Sm 17.49).
Certa vez, um ateu perguntou a um cristão por que Deus não aparou as pedras que tombaram Estêvão. O crente em Jesus lhe respondeu que o Senhor fez algo melhor: permitiu que ele, no meio das provações, visse a glória de Deus (At 7.54,55). Então, Estêvão perdoou os inimigos que o injuriaram e disse suas últimas palavras: E, pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes imputes este pecado. E, tendo dito isto, adormeceu (At 7.60).
Abraão de Almeida
Pastor da Igreja Evangélica Brasileira em Coconut Creek, Flórida, EUA, e autor de mais de 30 livros em português e espanhol. E-mail: abraaodealmeida7@gmail.com


