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Foto: Matt Botsford / Unsplash

Explosão gospel

Consumo desse gênero musical tem crescido 44,1% a cada ano no Brasil

Por Patrícia Scott

A estudante de Farmácia Isabela Veiga, 22 anos, tem mais de 11 playlists com temas evangélicos disponíveis em seu celular. Cada uma, por sua vez, conta com mais de 200 músicas. Consumidora voraz do gospel, a jovem afirma que chega a ouvir mais de cem canções por dia. “Gosto muito dos louvores de adoração”, informa ela, que congrega na Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Piabetá, em Magé (RJ). “Não escuto outros gêneros, porque não me edificam”, prossegue Isabela. Assinante de um serviço de streaming, ela acredita que o compartilhamento de músicas cristãs também é uma forma de evangelização. “Está bastante fácil ter acesso ao gospel. O preconceito hoje é menor, pois mesmo pessoas que não professam a fé cristã ouvem essas letras”, observa.

A estudante de Farmácia Isabela Veiga, consumidora voraz de música gospel: “Gosto muito dos louvores de adoração”
Foto: Arquivo pessoal

O estudante do Ensino Médio Josias Victor Correa Neto, 18 anos, diariamente, seleciona, pelo menos, 15 louvores da playlist que mantém em uma plataforma digital. O intuito é conectar-se com Deus. O estilo dele preferido é o louvor congregacional. “Somos aquilo que consumimos. Então, é importante alimentar a nossa alma com o que vai nos edificar”, opina o rapaz, ministro de louvor da Igreja da Graça na Taquara, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ). As mídias, de acordo com Josias Neto, têm feito ampliar o mercado de música gospel. “Estamos na Era da internet, e as plataformas digitais têm sido essenciais, inclusive para o lançamento de novos nomes no mercado musical cristão.”

De fato, o consumo desse gênero no Brasil cresce – em média – 44,1% a cada ano. É uma tendência que se repete desde 2015, segundo pesquisa do Spotify, um dos serviços de streaming de música, podcast e vídeo mais populares da web. Em evento realizado recentemente em São Paulo, a empresa revelou outros dados sobre o alcance do gênero religioso no país e informou, por exemplo, que a playlist Sucessos Gospel beirava um milhão de seguidores e figurava entre as cinco mais populares no país. 

O estudante Josias Victor Correa Neto opina: “É importante alimentar a nossa alma com o que vai nos edificar”
Foto: Arquivo pessoal

Tamanha popularização das canções evangélicas tem chamado a atenção até do meio acadêmico. O fator mais importante para o crescimento da demanda por música gospel seria o reflexo do crescimento do número de evangélicos no país e da diversificação desse segmento com o surgimento de denominações e ministérios voltados para grupos específicos, analisa o artigo As racionalidades do mercado religioso: considerações sobre produção e consumo da música gospel, publicado na Revista de Ciências Sociais, da Universidade Federal do Ceará (UFC). Os autores do texto – a doutora em Antropologia Cultural Olívia Bandeira de Mello Carvalho e o doutor em Sociologia Michel Nicolau Netto – destacam outra relevante característica do público evangélico: em geral, rejeita o consumo de música pirateada.

Guarda-chuva O aumento do número de cristãos nas últimas décadas, sem dúvida, tem ligação direta com o crescimento do mercado de música gospel no Brasil. Mas esse não é o único fator, como aponta a cantora Izabela Ryos, contratada recentemente pela Graça Music. Ela acredita que esse gênero musical vem evoluindo tecnicamente, ao longo dos anos, em arranjos e letras, tornando-se referência até para o meio secular. Além disso, na opinião da cantora, o interesse pelo estilo é reflexo de trabalhos que aliam qualidade e espiritualidade. “São canções que edificam as pessoas, despertando nelas esperança e paz. Em momentos conturbados, elas aliviam a dor, saram as feridas, transformam, restauram e curam.”

A cantora Izabela Ryos acha que o gênero gospel vem evoluindo tecnicamente, tornando-se referência até para o meio secular 
Foto: Rodrigo Di Castro

Outra peculiaridade do gospel é não ser um estilo homogêneo. Na verdade, trata-se de um grande guarda-chuva capaz de abrigar qualquer gênero musical. O que o diferencia das canções seculares, muitas vezes, são as composições de cunho cristão. O Pr. Matheus Lima Francisco, líder do Ministério de Louvor da IIGD no Estado do Rio de Janeiro, ressalta que a segmentação da música evangélica, em dezenas de ritmos diferentes, igualmente tem contribuído para despertar o interesse da população. “O nicho de mercado ficou ainda maior”, avalia o líder, o qual frisa que é essencial não perder de vista o objetivo maior: a evangelização. “A identidade [cristã] das canções, assim como a qualidade do trabalho, contudo, precisa ser preservada para que permaneça o propósito de alcançar vidas.”

O Pr. Matheus Lima Francisco avalia: “O nicho de mercado [de música gospel] ficou ainda maior”
Foto: Rodrigo Di Castro

Um exemplo dessa diversificação de estilos é o que o cantor e pastor baiano Fernandes Lima produz. Ele é conhecido nacionalmente pelo ritmo contagiante de forró que grava. Com mais de duas décadas de carreira na Graça Music, esse servo de Deus tem acompanhado de perto a evolução da música cristã em nossa nação e acredita que o preconceito em relação ao gênero é algo do passado. “Em 2000, ainda havia [um sentimento hostil em relação ao gospel]. As pessoas chegavam a me perguntar se eu não sentia vergonha. Agora, até quem não é evangélico ouve meu repertório.”

O cantor e pastor baiano Fernandes Lima: “É preciso unção. As pessoas buscam justamente esse diferencial na música gospel
Foto: Rodrigo Di Castro

Fernandes defende a ideia de que o crescimento do gospel está intimamente ligado à melhoria da qualidade técnica das produções. Mas destaca: não basta a evolução dos arranjos e das letras, de bons músicos e de gravações em estúdios com alta tecnologia. Em sua opinião, nada disso importa se o cantor não tiver intimidade com o Senhor. “É preciso unção. As pessoas buscam justamente esse diferencial na música gospel. Foi o louvor, inclusive, que me levou aos pés de Jesus”, testemunha. 

Resultados impressionantes – O ministro de adoração Filipe Valente, da sede estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus em Porto Velho (RO), tem opinião semelhante. Para ele, o grande desafio dos cristãos brasileiros é produzir músicas não somente de alta qualidade técnica, mas também cheias da unção divina. Ademais, ele vê com alguma cautela toda a visibilidade que as plataformas digitais estão dando à música cristã. “Confesso que fico receoso de o gospel virar moda e perder a verdadeira virtude que é a adoração a Deus.” 

Filipe Valente: “Confesso que fico receoso de o gospel virar moda e perder a verdadeira virtude, que é a adoração a Deus”
Foto: Arquivo pessoal

No entanto, ele reconhece que são inegáveis as facilidades de divulgação proporcionadas pelos meios digitais, os quais deram acesso global ao trabalho de artistas e bandas, dos mais conhecidos aos estreantes. “Um exemplo é o worship”, acentua Valente, referindo-se a um estilo musical de adoração contemporâneo. Seus representantes têm divulgado os trabalhos por canais do YouTube e em outras redes sociais, com resultados impressionantes. “Esses louvores ‘estouram’ imediatamente, até no meio secular”, informa ele.

A cantora Kelly Benigno: “Fico feliz por esse avanço, pois são mais vidas alcançadas para o Reino a partir da música”
Foto: Rodrigo Di Castro

Apesar de ter caído no gosto de tantos brasileiros, a música cristã ainda enfrenta uma última barreira: as programações das rádios seculares que, curiosamente, insistem em se manter refratárias ao gênero. “Talvez por medo de perder a audiência”, opina Kelly Benigno, integrante do cast da Graça Music. A cantora frisa que os diretores dessas rádios consideram que, se alguém deseja ouvir louvores, provavelmente buscará uma rádio especializada nisso. Mas, motivos à parte, o interesse dos brasileiros pelo gospel segue em alta e, segundo Benigno, é mais uma comprovação de que o Evangelho cresce a cada dia no país. “Fico feliz por esse avanço, pois são mais vidas alcançadas para o Reino a partir da música.” 

ESTILOS DIVERSOS

O cast da Graça Music mostra quão eclética é a música cristã na atualidade. Diversos estilos são explorados pelos artistas da gravadora. O cantor e pastor Fernandes Lima é um dos nomes mais consagrados do selo e é conhecido por suas canções em ritmo de forró, as quais animam cultos pelo Brasil afora. Outro pastor da Igreja da Graça que faz sucesso é Jayme de Amorim Campos, líder estadual da IIGD em São Paulo, com cinco CDs lançados pela gravadora. Os dois transitam por vários estilos populares, a exemplo das canções registradas nos sete discos já gravados pelo Missionário R. R. Soares. 

David Soares, outro pregador que está no elenco da gravadora, adota um estilo mais contemporâneo, assim como a Pra. Valeria Azerrad, radicada na Itália. O louvor congregacional é a marca das canções interpretadas por Kelly Benigno e Tiago Peres. Há ainda o modern worship, representado por Lilian Lopes e Eliezer de Tarsis. Izabela Ryos, por sua vez, apresenta pitadas de soul, black e R&B. (Colaborou Élidi Miranda)


4 Comments

  1. Pop Ads disse:

    Poxa até que fim encontrei o artigo que estava precisando
    e ajudou muito. Infelizmente na internet e no youtube
    não encontrei bons conteúdos sobre esse assunto.
    Compartilhado nas redes sociais.

  2. Estava procurando este tipo de artigo, obrigado por publicar aqui. Posso compartilhar com meus amigos e amigas?

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