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12/12/2025
Por Lilia Barros
Para os estudiosos, a relação entre a direção e a permissão de Deus é um dos temas centrais da teologia cristã, pois trata da coexistência entre a vontade soberana do Senhor, do livre-arbítrio humano e dos acontecimentos do mundo. De acordo com os teólogos, as Sagradas Escrituras demonstram, de maneira inequívoca, que nada se cumpre fora do controle do Criador: Quem é aquele que diz, e assim acontece, quando o Senhor o não mande? Porventura da boca do Altíssimo não sai o mal e o bem?(Lm 3.37,38).
No livro Como você pode conhecer a vontade de Deus (Graça Editorial), o evangelista norte-americano Kenneth E. Hagin (1917-2003) pontua que o ser humano busca orientação em diversas fontes, mas, frequentemente, deixa de recorrer à oração e à Palavra do Senhor. Hagin afirma que o Altíssimo fala ao homem por meio do espírito — o que não significa ouvir vozes audíveis. A voz divina é percebida na oração e na comunhão com Ele, escreveu Hagin, acrescentando que, quando um servo busca conhecer a perfeita vontade do Pai, o Senhor a revela, seja por uma voz suave interior, seja por manifestação sobrenatural. Deus sempre conduz aquele cujo coração está aberto a Ele no caminho da paz, afirma.

Ao tratar da vontade permissiva do Todo-Poderoso, o evangelista compartilha uma experiência pessoal. Ele narra que, certa vez, ao considerar assumir o pastorado de uma igreja no estado do Texas (EUA), fez um teste com o Senhor: se toda a congregação votasse a seu favor, entenderia como uma expressão da vontade divina. A votação foi unânime, e ele aceitou o cargo. Contudo, relata que aquele foi o período mais infeliz da vida dele — tão difícil que admite ter perdido a unção para pregar. Quando preparava os sermões, sentia como se um fogo ardesse em meus ossos; mas, logo que colocava os pés na igreja, era como se recebesse um balde de água fria. Eu estava fora da vontade do Senhor, agindo apenas sob a Sua
permissão; e as coisas não funcionam bem só com a vontade permissiva de Deus, registrou, reconhecendo que aquelafoia única vez em queerrou ao assumir uma igreja.

Soberania de Deus – O Pr. Raphael Henrique Pinheiro Abdalla, da Primeira Igreja Batista em Guarapari (ES) e presidente da Convenção Batista do Estado do Espírito Santo (CBEES), aponta que a direção de Deus representa a Sua vontade perfeita e soberana, enquanto a permissão ocorre quando o Altíssimo, sem aprovar, permite as escolhas individuais — ainda que governe soberanamente os resultados. “Nem tudo o que acontece é a direção de Deus; muitas vezes, é fruto do pecado humano ou da ação do mal, que Deus permite, mas transforma em seus propósitos maiores. O Senhor é soberano, e nada foge ao Seu controle.” O ministro batista esclarece que os resultados da escolha são diferentes. “Seguir a vontade diretiva de Deus produz paz, propósito e frutos espirituais. Seguir apenas a permissiva pode trazer dor, disciplina e arrependimento, mas a pessoa nunca fica fora do cuidado de Deus”, garante Abdalla.
Já a Prof.ª Lidice Meyer Pinto Ribeiro, doutora em Antropologia Social e docente no Seminário Teológico Batista em Portugal, observa que, “embora Deus exerça vontade soberana sobre tudo, Ele não criou o ser humano como um mero fantoche, incapaz de escolher ou agir; pelo contrário, concedeu-lhe liberdade de decisão”. Porém, Meyer frisa que Deus é capaz de transformar o mal, resultante das escolhas pessoais, em um bem que se harmonize com Sua vontade. Para ilustrar, cita a história de José do Egito, que, mesmo traído por seus irmãos, reconheceu a providência divina em meio ao sofrimento: Vós bem intentastes mal contra mim, porém Deus o tornou em bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar em vida a um povo grande(Gn 50.20).

A professora defende que a Bíblia apresenta outros episódios em que os conceitos de direção e permissão divinas se entrelaçam. Um exemplo marcante, lembra ela, é a decisão de Pôncio Pilatos, governador da Judeia, quanto à crucificação de Jesus. Ao optar por entregar o Mestre ao tribunal judaico, a ação de Pilatos pareceu injusta, mas, ainda assim, a soberania de Deus estava em plena operação, pois o sacrifício de Cristo na cruz era necessário para a remissão dos pecados da humanidade (At 4.27,28). “Mesmo diante das intenções humanas, boas ou más, todas as coisas cooperam para o cumprimento perfeito da vontade do Todo-Poderoso”, assinala a doutora, referindo-se ao que o apóstolo Paulo escreveu em sua carta aos Romanos: E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto (Rm 8.28).
O Pr. Denilson Silva, líder estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no Acre, ressalta que Deus permitiu o sofrimento de Jó, causado por Satanás (Jó 1.11-19; 2.4-7). “O texto bíblico revela a permissão divina e deixa nítido que, enquanto o mundo valoriza as posses, o Senhor considera mais importante a essência do ser humano”, pontua o ministro, completando que “o primeiro Adão permitiu ao príncipe deste mundo, o diabo, agir na Terra; mas o segundo Adão, Jesus (1 Co 15.45), pela vontade soberana do Pai, garante-nos a vitória nesta vida e na eternidade (Rm 5.17)”.

Na opinião do teólogo Evandro Pinheiro da Costa, do Instituto Bíblico das Assembleias de Deus do Rio de Janeiro (IBADERJ), uma decisão motivada por interesse ou vontade pessoal não pode ser considerada pecado em si mesma. “Ela está dentro do âmbito do livre-arbítrio. O pecado consiste em fazer aquilo que desagrada a Deus. Entretanto, o livre-arbítrio é parcial, e não absoluto.” O estudioso salienta que essa limitação é comparável à liberdade que os pais concedem aos filhos. “A liberdade deles nunca é total, mas parcial, pois podem fazer escolhas perigosas — e, por isso, precisam de proteção.” Evandro Costa enfatiza que o cristão deve sempre agir em dependência da vontade divina, conforme o ensino de Tiago 4.15: Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo.

Segundo Costa, a Escritura adverte contra a presunção de planejar o futuro sem reconhecer a soberania de Deus; ainda assim, o Senhor permite que os indivíduos escolham, como indica Deuteronômio 30.19,20: […] Tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição […]. Ele também cita o exemplo de Jesus no Getsêmani, que, mesmo pedindo ao Pai que O livrasse da cruz, submeteu-Se à direção do Criador. “Cristo orou três vezes pedindo, se fosse possível — pela vontade permissiva —, que aquele cálice fosse afastado. No entanto, acima de tudo, desejou que se cumprisse o desígnio do Altíssimo”, relata o teólogo, o qual lembra que, seja diante da vontade permissiva, seja diante da determinação do Todo-Poderoso, o posicionamento do filho de Deus deve ser sempre o mesmo: orar conforme a vontade do Pai (Mt 6.9-13).
Obediência à Palavra – O Pr. Daniel Silva, líder regional da IIGD em Venda Nova, na cidade de Belo Horizonte (MG), ensina que o cristão pode discernir se está sob a vontade diretiva ou permissiva de Deus. “Jesus não deseja que ninguém sofra, mas todas as ações produzem consequências. Se a pessoa vive em constante sofrimento e infelicidade, essa não é a vontade de Deus, e sim resultado de Sua permissão diante das decisões equivocadas.” O pregador exemplifica com o caso hipotético de uma jovem cristã que inicia, conscientemente, um namoro fora dos propósitos do Senhor e insiste nessa escolha. “As consequências serão resultado da permissão de Deus perante a teimosia humana.” Por outro lado, Silva enfatiza os frutos de quem segue a direção do Criador e vive em obediência à Palavra. “Assim, a pessoa está seguindo a vontade diretiva do Senhor, que traz paz e a verdadeira felicidade.”

O teólogo Adriano Santos acredita que uma das maiores lutas da vida cristã é saber distinguir entre a vontade diretiva e a permissiva de Deus. “Quando o Senhor disse a Abraão: Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei(Gn 12.1), vemos a vontade diretiva, pois Deus deu instruções específicas para ele”, explica o estudioso. Ele acrescenta que seguir a orientação divina é sempre o melhor caminho, porque produz paz e frutos espirituais. “A vontade diretiva está de acordo com as Escrituras Sagradas, e os resultados espirituais são visíveis. Deus nunca conduz alguém em contradição com a Sua Palavra”, declara ele, citando o Salmo 119.105: Lâmpada para os meus pés é tua palavra e luz, para o meu caminho.

Para o teólogo, viver submisso ao plano do Senhor protege o crente de decisões erradas: “O apóstolo Paulo foi impedido pelo Espírito Santo de ir a certas regiões e, em visão, foi direcionado à Macedônia (At 16.6-10).” Insistir na vontade permissiva nos leva a consequências dolorosas. “Em geral, nasce da insistência humana, e o resultado é um aprendizado custoso. Em vez de aproximar o cristão de Deus, tende a afastá-lo da oração e da comunhão”, conclui ele, consciente de que o crente em Jesus é chamado a viver segundo a vontade perfeita e soberana do Senhor, a qual conduz tudo em direção ao cumprimento de Seu plano eterno.
A soberania do Senhor
A soberania do Senhor é apresentada na Bíblia sob dois aspectos principais: a vontade diretiva – aquela que expressa Seu plano perfeito e Seu propósito absoluto – e a vontade permissiva, pela qual Ele permite que determinadas situações ocorram mesmo não correspondendo ao Seu desejo ideal, em respeito à liberdade de escolha humana. Confira o que a Escritura diz a respeito do tema:
Direção de Deus
O coração do homem considera o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos(Pv 16.9);
Qual é o homem que teme ao Senhor? Ele o ensinará no caminho que deve escolher(Sl 25.12);
Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade
(Fp 2.13);
Porque eu bem sei os pensamentos que penso de vós, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que esperais(Jr 29.11).
Permissão de Deus
Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? Diz o Senhor Jeová; não desejo, antes, que se converta dos seus caminhos e viva?(Ez 18.23);
O qual, nos tempos passados, deixou andar todos os povos em seus próprios caminhos
(At 14.16);
E disse o Senhor a Satanás: Eis que tudo quanto tem está na tua mão; somente contra ele não estendas a tua mão. E Satanás saiu da presença do Senhor (Jó 1.12);
Disse-lhes ele: Moisés, por causa da dureza do vosso coração, vos permitiu repudiar vossa mulher; mas, ao princípio, não foi assim(Mt 19.8).(Fonte: Bíblia Sagrada)


