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Ecos da fé
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Por Marcelo Santos
A bola veio rasteira, rápida, em uma jogada curta pelo meio-campo do San Lorenzo, da Argentina, então time do jogador de futebol Paulo Silas do Prado Pereira. No círculo central, Silas recebeu o passe com o pé direito, ergueu a cabeça e, em dribles velozes, deixou os marcadores do River Plate para trás antes de disparar um chute certeiro que silenciou a torcida adversária no Monumental de Núñez, em Buenos Aires. Um gol tão bonito – anotado em 1994 – que até Diego Maradona lamentou por não ter sido o autor.
Menino humilde, nascido na periferia de Campinas (SP), Silas, hoje com 60 anos, cresceu em uma família numerosa. Perdeu a mãe ainda criança e encontrou, na fé cristã e na disciplina do pai, os alicerces que moldaram o seu caráter. Dos campos de várzea à base do São Paulo Futebol Clube, aprendeu, desde cedo, a lidar com as adversidades e transformou sonhos em realidade. Com a camisa 10 do Tricolor paulista e da Seleção Brasileira na Copa de 1990, na Itália, viveu momentos que mudaram sua vida e sua fé, conquistando títulos e experiências dentro e fora do Brasil.
Membro da Igreja do Nazareno, em Campinas (SP), casado com Eliane, 58, pai de três filhos (Nathan, 36; Carole, 33, e Calebe, 28) e autor da autobiografia Além do sucesso: um em um milhão (Editora Vida), Silas fez da família e dos valores cristãos sua proteção contra as pressões da fama e do futebol profissional. Depois de encerrar a carreira como jogador, em 2004, foi técnico por mais de uma década e, atualmente, trabalha como comentarista esportivo na ESPN Brasil, sempre guiado pelas lições de fé e de perseverança que marcaram sua trajetória.
Nesta entrevista à Graça/Show da Fé, ele discorre sobre sua longa carreira, o papel da fé em sua jornada e a importância da educação recebida em casa pautada nos princípios bíblicos.
Consegue mensurar o impacto em sua vida por ter crescido em uma família modesta e ter perdido a mãe ainda criança?
Ter nascido em uma família simples, com muitos irmãos, e perdido a mãe cedo, naturalmente, marcou minha vida. Mas, aos cinco anos, meu irmão gêmeo Paulo e eu recebemos muito cuidado, não só do nosso pai, mas também de nossas seis irmãs, que nos ajudaram imensamente. Esse amor e apoio foram fundamentais para nos moldar e nos tornar as pessoas que queríamos ser.
Você começou no futebol jogando em campos de bairro, passou pela base do São Paulo e chegou à Seleção Brasileira. Quando percebeu que Deus conduzia seus passos para transformar o sonho em realidade?
Percebi a mão de Deus principalmente na educação que recebi do meu pai, sempre atento. Ele nos levava à igreja e nos ensinava valores como ética. Depois, vi como o Senhor foi abrindo portas desde os primeiros passos na minha carreira, quando entrei no São Paulo Futebol Clube. Mesmo com bronquite e sendo muito magro, Jesus foi à minha frente, colocando ao meu lado bons companheiros e técnicos, e permitindo que eu assinasse meu primeiro contrato com o São Paulo.
Qual foi o lance no futebol que mudou sua vida?
O gol contra o River Plate, na Argentina, foi o mais bonito que fiz. Neymar fez um parecido contra o Flamengo, na Vila Belmiro, em Santos (SP), e o próprio Maradona, em uma partida contra a Inglaterra, na Copa de 1986, no México. Mas talvez o gol mais marcante tenha sido contra o Juventus, durante um jogo preliminar no Morumbi, em São Paulo (SP). Eu estava jogando pelos aspirantes e fiz um gol por cobertura, lindo. Quando entrei no vestiário, os jogadores profissionais já se preparavam para disputar o jogo principal, e fui surpreendido. O técnico do time profissional, Cilinho, segurou o meu braço e me disse: “Na terça-feira, você se apresente aqui para trabalhar com a gente”. Acho que esse foi o gol e o dia que mudaram a minha vida.
A experiência de jogar em Portugal, na Itália e na Argentina trouxe conquistas, mas também desafios, como a distância da família e a adaptação a novas culturas. Como a sua fé o ajudou a enfrentar a solidão e as dificuldades fora do Brasil?
Jogar fora, apesar de ser um sonho, traz enormes desafios de cultura, idioma, clima e distância da família. Eliane, minha esposa, sempre esteve comigo. Nosso relacionamento começou na igreja e seguiu firme ao longo de toda minha carreira no futebol. Confiamos nas promessas do Senhor de que Ele nunca nos abandonaria. Isso nos deu força para viver em tantos lugares e transformou tudo em experiência para o futuro.
Qual foi o papel da família e da fé diante da fama e das pressões tão comuns do futebol?
No meu caso, Eliane sempre teve uma participação essencial. E seguimos, dentro de casa, não só os conceitos da Palavra de Deus — de ética, de vida e de família —, mas também o conselho do apóstolo Paulo: Sede meus imitadores, como também eu, de Cristo (1 Co 11.1). Então, sempre tivemos Jesus como nosso guia, assim como o Espírito Santo, que nos direcionou a fazer as melhores escolhas e a encontrar pessoas que nos ajudaram a manter os pés no chão: família, irmãos e irmãs, pastores e amigos.
Depois de pendurar as chuteiras, você trabalhou como técnico por pouco mais de uma década em clubes do Brasil e do exterior. Quais lições espirituais e profissionais aprendeu nesse período?
Foram 11 anos trabalhando como técnico de futebol. Passei por clubes como Avaí (SC), Fortaleza (CE), Grêmio (RS), Flamengo (RJ), Naútico (PE), Ceará (CE) e América Mineiro, além de duas equipes do Catar (Al-Arabi e Al-Gharafa). Aprendi a colocar em prática as experiências adquiridas na época de jogador, exercendo um papel de liderança e ajudando outros atletas a se encaminharem na vida. Também aprendi com treinadores sobre trabalho, sucesso e propósito. Acredito que a vida pode ser dividida em três fases de dez anos: o tempo de se dedicar ao trabalho, o tempo de colher o sucesso e, por fim, o tempo de viver com significado, cuidando da família.
Ao olhar para a sua trajetória, da infância humilde aos palcos do futebol mundial, que conselho daria para quem sonha com o sucesso?
Não há nada de errado em ter sucesso e fama, mas é essencial manter a simplicidade. É preciso ter humildade, que é uma virtude traiçoeira: quando achamos que a temos, é justamente quando a perdemos. É importante lembrar de onde viemos, das pessoas que nos ajudaram, do esforço feito para realizar o sonho e, além disso, não virar as costas para quem precisa. Acredito que, seguindo assim e confiando que tudo dará certo, o resultado será grandioso.
Paulo Silas do Prado Pereira
Ex-jogador e comentarista de futebol


