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Foto: Arquivo Graça / Marcos AC

Pregadores de multidões

Cruzadas evangelísticas transformaram uma geração e ajudaram a expandir o Evangelho no Brasil e no mundo

Por Marcelo Santos

Em outubro de 1974, o evangelista norte-americano Billy Graham (1908-2018) desembarcou no Rio de Janeiro (RJ) para uma visita de quatro dias à capital fluminense. Ele iria realizar uma de suas cruzadas evangelísticas – eventos que costumavam reunir centenas de milhares de pessoas pelo mundo. Desde o início de seu trabalho como pregador itinerante, em 1947, Graham já havia ministrado em diversos países.

Naquele ano, o Brasil fora escolhido por ser, na época, um país quase totalmente católico. Cerca de 92% da população nacional se dizia adepta da fé romana, enquanto apenas 5% dela se identificava como evangélica. Números muito diferentes dos registrados neste século: segundo o último Censo, realizado em 2010, os evangélicos já representavam, ao menos, 22% da população. Projeções recentes indicam que esse número já ultrapassou os 30%.

O evangelista norte-americano Billy Graham (1908-2018) pregando no estádio do Maracanã: quatro dias de pregações para milhares de pessoas no Rio de Janeiro (RJ) Foto: Reprodução

Quando Graham subiu ao palco montado no gramado do Maracanã, havia 225 mil pessoas no estádio, público superior ao da final da Copa do Mundo, levada a efeito no mesmo estádio, em 1950, entre as seleções brasileira e uruguaia. Entre os presentes no evento evangelístico, estava Jorge Antônio Barros com apenas 12 anos. “Naquele dia, quando ele pregou, a ‘ficha caiu’. Entendi que, mesmo não tendo cometido grandes pecados e nenhum crime, precisava do perdão de Deus. E tudo passou a fazer sentido”, recorda-se o jornalista, de 59 anos. “Até hoje, guardo o Novo Testamento que ganhei no Maracanã. Percebi que a história de Jesus era viva. Senti o poder de Deus pela Palavra”, alegra-se.

O jornalista Jorge Antônio Barros, que aceitou a Cristo em evento do evangelista Billy Graham: “Até hoje, guardo o Novo Testamento que ganhei no Maracanã. Percebi que a história de Jesus era viva” Foto: Arquivo Graça / Solmar Garcia

Para a professora e pesquisadora Ângela Maringoli, 62 anos, doutora em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo e pela Universidade de Coimbra, em Portugal, nenhum outro nome foi tão popular quanto o do evangelista norte-americano, que morreu em 2018. “Billy Graham realizou pregações até seus 80 anos. Visitou quase todo o mundo”, rememora, referindo-se ao fato de que, em seis décadas de ministério, o norte-americano fez mais de 400 cruzadas em 185 países e pregou para 215 milhões de pessoas.

O evangelista T. L. Osborn (1923-2013), autor do best-seller Curai enfermos e expulsai demônios (Graça Editorial): um dos primeiros norte-americanos a pregar nas antigas repúblicas soviéticas Foto: Osborn Ministries International

Multidões reunidas – Outros pregadores se dedicaram ao ministério de anunciar o Evangelho para multidões por meio de cruzadas evangelísticas. Entre eles, Kenneth E. Hagin (1917-2003) e Thomas Lee Osborn (1923-2013), mais conhecido como T. L. Osborn. Ambos norte-americanos, igualmente levaram milhões de pessoas a Cristo por meio de suas pregações ao redor do planeta. Osborn é o autor do best-seller Curai enfermos e expulsai demônios (Graça Editorial), publicado pela primeira vez nos Estados Unidos em 1951. “Nos últimos anos de vida, dedicou-se a levar o Evangelho a nações, como a França e os antigos países soviéticos. Foi um dos primeiros norte-americanos a pregar nesses locais após a queda do comunismo”, explicou, na ocasião do falecimento de Osborn, o também pregador David Soares, filho do Missionário R. R. Soares e hoje deputado federal pelo Democratas.

A Profª Ângela Maringoli explica: “O movimento das cruzadas evangelísticas, estudado por cientistas da religião, historiadores e sociólogos, ganhou força mesmo após 1950, com a vinda de muitos pregadores norte-americanos” Foto: Marcelo Santos

No Brasil, a partir da segunda metade do século 20, surgiram vários pregadores que reuniam multidões e lhes anunciavam a Palavra. “O movimento das cruzadas evangelísticas, estudado por cientistas da religião, historiadores e sociólogos, ganhou força mesmo após 1950, com a vinda de muitos pregadores norte-americanos”, explica a Profª Ângela Maringoli. Foi em 1953 que o Pr. Harold Edwin Williams (1913–2002), por exemplo, iniciou suas cruzadas de evangelização pelo país, começando pelo estado de São Paulo. Sua estratégia – já bastante popular nos EUA, na época – era usar tendas de circo, especialmente no interior, para realizar reuniões. Foi o início do chamado Movimento das Tendas. Essa revolução em terras brasileiras passou a inspirar outros pregadores a sair dos templos (já que, em muitas cidades, sequer havia igrejas) e a cumprir o Ide em ruas e praças. “As pregações acolheram diversas pessoas e tiveram uma influência forte também no crescimento dos evangélicos no país”, relata a professora.

O Pr. Luiz Schiliró, o mais antigo pregador de multidões ainda vivo no Brasil: “Sou fruto e pioneiro do avivamento derramado no país em 1953. Nos avivamentos, ocorrem curas da alma e do corpo” Foto: Arquivo pessoal

A Pra. Ester Rodrigues, da Igreja Vivendo em Cristo, de Valinhos (SP), no interior de São Paulo, lembra-se das histórias de sua mãe, Eunice Paes Coelho da Silva, que se convertera aos 16 anos por meio do Movimento das Tendas, com Harold Williams, em Limeira (SP). “Ela dizia que todo mundo chamava o missionário de ‘Haroldo’ e que ele tinha um jeito de ator de Hollywood [de fato, antes de se converter, o pregador havia feito sucesso na indústria do cinema], com chapéu de caubói”, diverte-se, com as recordações da mãe, que faleceu em 2020, deixando um livro de memórias no qual registrou alguns episódios de sua vida e de suas experiências nos cultos promovidos pela Cruzada de Evangelização.

Evangelização e cura – Dos pregadores brasileiros que surgiram naquela época, destaca-se o missionário Manoel de Mello e Silva (1929-1990). Egresso das Assembleias de Deus, ele fundou o movimento O Brasil para Cristo. Em sua biografia, Mello conta que, em 1955, teve uma visão em que lhe era ordenado começar um movimento de reavivamento espiritual, evangelização e cura divina. O Senhor Jesus mesmo deu-me o nome: ‘O Brasil para Cristo’. Um ano depois, no mês de março, no Teatro de Alumínio, estrutura montada para receber grandes eventos no centro da capital paulista, Mello iniciou suas pregações para grandes públicos.

O missionário Manoel de Mello e Silva (1929-1990) pregando para uma multidão: egresso das Assembleias de Deus, ele fundou o movimento O Brasil para Cristo Foto: Reprodução

Dono de lembranças vívidas daqueles tempos, o Pr. Luiz Schiliró, 102 anos, é o mais antigo pregador de multidões ainda vivo no Brasil. “Sou fruto e pioneiro do avivamento derramado no país em 1953”, informa o pregador veterano. “Nos avivamentos, ocorrem curas da alma e do corpo, acontecem milagres, como a criação e a recriação de órgãos e membros de corpos que foram destruídos ou mesmo inexistentes.” Morando atualmente na zona sul de São Paulo (SP), ele começou suas pregações com Manoel de Mello. Em 1958, ambos deram início a uma campanha de avivamento que resultou em pregações em cinco teatros municipais e um culto de encerramento no estádio do Pacaembu com 50 mil pessoas presentes. No ano seguinte, Schiliró passou a comandar reuniões semanais no circo do palhaço Piolin. Contudo, seu ministério não ficou restrito ao território nacional. Conhecido como o “pastor dos cinco continentes”, Schiliró conta que visitou 55 países e pregou em cruzadas feitas em mais de 500 cidades. Fundou diversas igrejas, entre elas, a Igreja Evangélica Unida.

Foi no final da década de 1970 que o então advogado Jurandir Sousa Oliveira, hoje desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), conheceu o ministério do Pr. Schiliró. “Um exame na escola constatou que meu filho tinha sete graus de miopia. Soube que o pastor Luiz Schiliró estaria pregando no bairro do Paraíso [zona sul paulista]. Chegamos lá, e a TV estava gravando. Havia um programa chamado 11 no 11, que era transmitido pela TV Gazeta. No final, ele orou pelo meu filho e o ungiu. Repetimos o exame, e a miopia dele havia caído para apenas um grau. Foi um milagre”, testemunha Oliveira.

A Pra. Maria José Carmassi, que conheceu Jesus assistindo a um programa do Missionário R. R. Soares: “Estava recém-operada, enferma e sentia dores. Ele pregou sobre Isaías 53, dizendo que Jesus levou todas as nossas enfermidades. Foi como se Deus derramasse algo sobre mim. Toda a dor saiu” Foto: Arquivo pessoal

A Profª Ângela Maringoli lembra que as cruzadas evangelísticas ganharam um reforço a mais nos anos de 1970 e 1980, com o uso das ferramentas de comunicação de massa. Rádio e televisão eram grandes aliados dos pregadores de multidões, que começaram a usar também esses meios para propagar a mensagem da salvação em Cristo. “O método de se levar o Evangelho é a dispersão. O Ide”, destaca Maringoli, referindo-se ao conhecido texto de Marcos 16.15 (E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura).

Um dos pioneiros no uso da televisão para propagar o Evangelho foi o Missionário R. R. Soares. Ao longo de seu ministério, tem desenvolvido, com maestria, o trabalho evangelístico feito por meio das mídias eletrônicas e nos grandes eventos de massa. Dessa forma, já reuniu milhares de pessoas em locais, como o Vale do Anhangabaú e a praça Campo de Bagatelle, na capital paulista, no Aterro do Flamengo e na Enseada de Botafogo, no Rio de Janeiro (RJ), na Praça da Estação, em Belo Horizonte (MG) e no Anfiteatro Pôr do Sol, em Porto Alegre (RS), entre outros, em capitais e pequenas cidades de todo o país e também no exterior.

Jurandir Sousa Oliveira, desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), conheceu o ministério do pastor Luiz Schiliró e testemunhou a cura do filho: “Foi um milagre” Foto: Marcelo Santos

Foi por meio de um programa de televisão apresentado pelo Missionário que a Pra. Maria José Carmassi, 70 anos, de Itanhaém (SP), na Baixada Santista, conheceu Jesus. “Estava recém-operada, enferma e sentia dores. Ele pregou sobre Isaías 53, dizendo que Jesus levou todas as nossas enfermidades. Foi como se Deus derramasse algo sobre mim. Toda a dor saiu. Dois meses depois, estava na Igreja da Sé, na rua Silveira Martins [no Centro de São Paulo] e nunca mais deixei a obra.”


2 Comments

  1. Luís Henrique Tausendfreund disse:

    Matéria fantástica, mas poderia aprofundar um pouco mais na história da evangelização do Brasil e como hoje o nosso País contribui para as missões mundiais.

    Grato.

    • Editor disse:

      Caríssimo, já fizemos outras reportagens sobre a história da evangelização no Brasil, inclusive sobre a contribuição evangélica brasileira nas missões mundiais. Mas anotamos aqui sua sugestão de pauta. Grato!

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