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Uso desequilibrado da tecnologia pode inibir o desenvolvimento espiritual de crianças e adolescentes

Foto: JackF / Adobe Stock

Por Evandro Teixeira

Especialistas afirmam que, ao longo das últimas décadas, a educação de crianças e adolescentes tem sido fortemente impactada pelas transformações sociais, culturais, econômicas e, sobretudo, pelo avanço da tecnologia. Antes, o contato com recursos tecnológicos era mínimo — em alguns casos, inexistente —, e o lazer se concentrava em brincadeiras ao ar livre, com bolas, cordas, brinquedos e jogos de tabuleiro. Porém, de uma década e meia para cá, com a expansão da banda larga e das redes móveis, o acesso de crianças e adolescentes a smartphones e tablets se popularizou.

O uso maciço de aparelhos eletrônicos por indivíduos com idades de 0 a 19 anos — e seus impactos positivos e negativos — tem despertado o interesse de estudiosos norte-americanos e europeus. O escritor, historiador e crítico cultural norte-americano Ted Gioia observa que o número de jovens que leem por prazer está em queda nos Estados Unidos. Para ele, isso ocorre devido ao engajamento excessivo da juventude nas redes sociais, fenômeno que tem impulsionado o consumo de conteúdos viciantes e o afastamento de hábitos saudáveis, como a leitura e a reflexão.

O escritor, historiador e crítico cultural norte-americano Ted Gioia observa que o número de jovens que leem por prazer está em queda nos Estados Unidos – Foto: Divulgação – modificada por IA

Essa mudança na sociedade – que repercute diretamente na maneira como as novas gerações consomem informação e desenvolvem a fé – também foi percebida por um estudo realizado pela National Literacy Trust (NLT), uma das principais instituições do Reino Unido dedicadas à promoção da alfabetização e do prazer da leitura entre crianças e jovens. De acordo com a pesquisa da NLT, crianças que leem apenas em telas têm menos chances de gostar de ler e, portanto, menos probabilidade de se tornarem bons leitores. Para alguns estudiosos da Palavra de Deus, a ausência desse hábito pode afetar também o tempo dedicado à busca de conhecimento bíblico, comprometendo, assim, o crescimento espiritual.

Por sua vez, a pedagoga Evanize Rodrigues Flôres de Oliveira constata os avanços proporcionados pela tecnologia, especialmente nas áreas de saúde e da comunicação. No entanto, ressalta que a forma como são utilizados determina seus efeitos. Em sua avaliação, os problemas apontados por especialistas deixam explícito que há um desequilíbrio no uso das tecnologias, notadamente entre crianças e adolescentes. “Foco e tempo de uso previamente estabelecidos fazem toda a diferença nos resultados. Só há consequências negativas quando o limite entre o uso saudável e o excessivo é ultrapassado”, adverte.

A pedagoga Evanize Rodrigues Flôres de Oliveira constata os avanços proporcionados pela tecnologia, mas adverte que há um desequilíbrio no uso dessas ferramentas, especialmente entre crianças e adolescentes – Foto: Arquivo pessoal

A Pra. Maria Marta Ramos Pinto, líder regional da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Poços de Caldas (MG), compartilha dessa visão. A pregadora reconhece a importância de tais recursos no desenvolvimento cognitivo do público em questão, mas reitera que a inserção dos pequenos nesse ambiente precisa ser feita de maneira cautelosa. “Esse processo deve ter o acompanhamento dos pais. Convém aos responsáveis definir o que é essencial, porque o uso exacerbado desses instrumentos pode comprometer a saúde mental, física e espiritual, levando à dependência tecnológica”, alerta.

A Pra. Maria Marta Ramos Pinto reconhece a importância de tais recursos no desenvolvimento cognitivo do público em questão, mas reitera que a inserção dos pequenos nesse ambiente precisa ser feita de maneira cautelosa – Foto: Divulgação / Welton Matos – Modificada por IA

Orientações práticas – O teólogo Elismar Alves da Silva chama a atenção para os pontos negativos dessas inovações: “Muitos jovens enfrentam dificuldades para manter a atenção por períodos prolongados nos estudos bíblicos e nos momentos de oração silenciosa, justamente por estarem habituados ao ritmo acelerado das telas”. O estudioso pontua que a Igreja deve ser uma aliada dos pais, oferecendo orientações práticas e promovendo palestras educativas sobre o uso consciente da tecnologia. Em sua visão, as escolas bíblicas exercem um papel importante ao incentivar a leitura das Sagradas Escrituras e os momentos de reflexão, sempre com abordagens adequadas a cada faixa etária. Entretanto, Elismar Silva frisa a responsabilidade parental no controle do tempo gasto pelos filhos no uso desses aparelhos eletrônicos. “Cabe à liderança da igreja advertir acerca desses comportamentos e apresentar alternativas saudáveis, mostrando que nem tudo precisa girar em torno do entretenimento”, pondera.

O teólogo Elismar Alves da Silva pontua que a Igreja deve ser uma aliada dos pais, oferecendo orientações práticas e promovendo palestras educativas sobre o uso consciente da tecnologia – Foto: Arquivo pessoal – Modificada por IA

Embora não haja consenso entre os cientistas sobre a idade ideal para as crianças terem contato com essa tecnologia, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que menores de dois anos não tenham acesso às telas e, a partir dessa idade, que o tempo de uso seja limitado e supervisionado pelos responsáveis. No entanto, para a pedagoga Elisane Rocha Gusmão, os pais – em geral – não seguem essa orientação. Na tentativa de acalmar os filhos, ressalta ela, entregam o celular nas mãos dos pequenos sem o devido monitoramento. “Com isso, as crianças acessam conteúdos atrativos e absorvem informações, ainda que superficiais.” A profissional concorda com a recomendação da SBP e adverte: “Se não houver uma mudança de postura dos pais e das lideranças, as crianças de hoje podem não ser os futuros obreiros caso o uso exagerado da tecnologia comprometa o desenvolvimento espiritual das próximas gerações”.

A pedagoga Elisane Rocha Gusmão adverte: “Se não houver uma mudança de postura dos pais e das lideranças, as crianças de hoje podem não ser os futuros obreiros caso o uso exagerado da tecnologia comprometa o desenvolvimento espiritual das próximas gerações” – Foto: Reprodução / Instagram – Modificada por IA

A mesma preocupação é partilhada pelo Pr. Douglas dos Santos Paiva, líder da IIGD no bairro Monte das Oliveiras, em Manaus (AM). Pai de dois meninos, ele estabeleceu regras para o uso do celular em casa e definiu tarefas domésticas para os filhos, que, conscientes de suas responsabilidades, realizam essas atividades com leveza e diversão, sob a orientação paterna. O pastor acentua que o exemplo dos responsáveis é essencial. “Muitas crianças estão presas ao mundo virtual. Por isso, precisamos reconectá-las com a realidade para entenderem que há vida além das telas.” Paiva é taxativo quanto ao impacto negativo do consumo constante de conteúdos rápidos nas redes sociais. “Prejudica a concentração e ainda interfere na capacidade de meditação e de oração silenciosa — práticas fundamentais para uma vida cristã equilibrada e madura. A prioridade deve ser buscar o Reino de Deus. As crianças precisam ser alimentadas diariamente pela Palavra, para alcançarem equilíbrio emocional e espiritual.”

O Pr. Douglas dos Santos Paiva acentua: “Muitas crianças estão presas ao mundo virtual. Por isso, precisamos reconectá-las com a realidade para entenderem que há vida além das telas” – Foto: Arquivo pessoal – Modificada por IA

Educação e família – Uma das propostas para promover uma conexão mais saudável com a tecnologia é resgatar a educação clássica ou tradicional (europeia), baseada nas artes liberais, nos cânones ocidentais da literatura clássica, nas belas-artes e na História da civilização ocidental. Essa abordagem, segundo alguns especialistas, favorece o desenvolvimento cognitivo e a formação integral do ser humano e reforça os pilares para a construção de uma fé sólida.

O educador Wilton Joscel defende que a educação clássica oferece uma didática que estimula a concentração, promove o pensamento reflexivo e ensina a arte de ouvir. Ele lembra que, ao longo de sua trajetória profissional, tem observado que crianças habituadas à leitura profunda tendem a desenvolver maior capacidade de reflexão, empatia e de encontrar sentido no silêncio. “Esses elementos são importantes para a formação espiritual, que exige tempo, atenção e profundidade.” Membro da Igreja Batista Luz em Nova Iguaçu (RJ), na Baixada Fluminense, o educador cita ainda um movimento crescente entre as famílias cristãs: o adiamento do uso de celulares por crianças. “Longe de ser um exagero, essa decisão é uma medida preventiva para o desenvolvimento emocional e relacional saudável dos filhos”, sublinha.

O educador Wilton Joscel defende o adiamento do uso de celulares por crianças: “Longe de ser um exagero, essa decisão é uma medida preventiva para o desenvolvimento emocional e relacional saudável dos filhos” – Foto: Arquivo pessoal

Já a teóloga Aline Lima Silva Prata complementa que o equilíbrio no uso da tecnologia está diretamente ligado à saúde emocional e espiritual. Em seu ponto de vista, crianças e adolescentes ainda não têm maturidade para estabelecer limites, portanto é essencial haver o controle dos pais. Mas, na atualidade, até adultos têm demonstrado falta de autocontrole nesses recursos. “Diante disso, devemos nos nutrir pela leitura da Palavra, mantendo-a viva no coração.”

A teóloga Aline Lima Silva Prata lembra que crianças e adolescentes ainda não têm maturidade para estabelecer limites, potanto é essencial haver o controle dos pais – Foto: Arquivo pessoal

Aline Prata acrescenta que, a tecnologia oferece recursos valiosos, mas não substitui o contato humano nem supre o anseio por intimidade com o Senhor. “Então, é de grande relevância que os pais promovam momentos de qualidade em família, dedicando tempo à oração e à leitura da Bíblia.” A teóloga reforça que a Igreja tem papel substancial nesse processo. “Nesse ambiente de fé, por meio do ensino das Escrituras, crianças e adolescentes são encorajados a viver de maneira santa, equilibrada e cheia da graça de Deus”, afirma Prata, deixando claro que tecnologia e fé não precisam estar em campos opostos. “Pelo contrário, quando bem orientado, o uso equilibrado dos recursos digitais pode até impulsionar o desenvolvimento espiritual das novas gerações”, conclui.


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