
Pressão redefinida
11/11/2025
Por Victor Rodrigues
Alguns líderes evangélicos têm dedicado seus ministérios a pregar e lembrar aos crentes o que a Bíblia diz a respeito do papel masculino na sociedade. Inspirados pelos conselhos do apóstolo Paulo a Timóteo, esses pregadores ensinam que cabe ao homem de Deus seguir a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão (1 Tm 6.11) e alertam para a disseminação de estereótipos que conflitam com a Escritura Sagrada. O teólogo e pastor batista estadunidense John Piper esclarece que a masculinidade não é exploração sexual, não é função rude, direcionada e orientada à conquista. Pelo contrário, homens com almas cheias do Evangelho não veem as mulheres como coisas a serem manipuladas ou controladas, mas como tesouros a serem honrados e protegidos. Por sua vez, o Pr. Jack Hibbs, da Calvary Chapel em Chino Hills, na Califórnia (EUA), enfatiza que, hoje, há uma mentira que se espalha contra os homens: não podem ser fortes, líderes nem terem opinião, porque é feio, grosseiro, sexista, chauvinista ou racista. Já o pastor e missionário batista norte-americano Paul Washer denuncia que a maioria dos jovens que cresce nas igrejas não são influenciados pelas Escrituras no que diz respeito à masculinidade, mas persuadidos pelo mundo secular.

Foto: Divulgação / Desiring God
Na opinião de alguns pastores, como o assembleiano Ciro Zibordi, não há problema em mulheres terem protagonismo em algumas áreas. No entanto, para ele,isso não pode ocorrer em detrimento da liderança masculina. O homem está sendo impedido de exercer o seu papel como líder para não ofender os adeptos da ideologia feminista, prega ele, para quem existe uma desconstrução da masculinidade por meio da ruptura dos padrões bíblicos. Segundo o Pr. Renato Vargens, autor de Masculinidade em crise e seus efeitos na Igreja, vivemos um tempo de grande ausência masculina. Os homens deixam de cumprir os seus papéis e transferem as suas responsabilidades efetivamente para as mulheres.

Foto: Arquivo pessoal
Princípios de Deus – Para o Pr. Filipe Espindola, presidente da Convenção Batista Nacional (CBN), o único modo de enfrentar as pressões culturais e, ao mesmo tempo, buscar moderação na vida cristã, é olhar para o exemplo deixado por Jesus, o maior Modelo de masculinidade. “Ele alia autoridade e firmeza com serviço, compaixão e entrega total à vontade do Pai. Na Bíblia, não há homem perfeito, exceto Ele. Mas a Palavra mostra boas referências, como Jó, que se manteve íntegro mesmo diante da pressão da esposa”, pontua Espindola. O pastor cita ainda Jetro, o qual aconselhou Moisés a escolher homens tementes a Deus e de caráter firme, e Paulo, que, embora tenha sido interpretado de modo equivocado muitas vezes, foi um homem convicto, sóbrio e que ensinava a se contentar com o necessário. “Esses exemplos mostram que a verdadeira masculinidade é pautada no temor a Deus, na firmeza, na sobriedade e no governo da própria casa”, prega o líder batista, acrescentando que, quando o homem aprende a servir dentro do lar, torna-se capaz de liderar também na igreja, na comunidade e até mesmo entre desconhecidos. “A masculinidade deve ser vivida à luz dos princípios do Senhor: proteger, prover, governar com sabedoria e conduzir a família a reconhecer o Pai eterno, ainda que com as limitações do pai terreno, sempre contando com a orientação do Espírito Santo.”

Foto: Arquivo pessoal
De acordo com o Rev. Eber Cocareli, apresentador do programa Vejam Só!, da Rede Internacional de Televisão (RIT TV), a imagem masculina passou por uma transformação significativa ao longo do tempo. “Se, antes, a figura paterna era associada à sabedoria e ao equilíbrio, hoje o homem é, muitas vezes, retratado como imaturo e irresponsável”, observa, assinalando que é urgente resgatar o verdadeiro sentido bíblico de “cabeça do lar”, conforme declara Paulo em Efésios 5.22-24: Vós, mulheres, sujeitai-vos a vosso marido, como ao Senhor; porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo. De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seu marido. “Cristo é o Modelo de liderança: não dominador, mas aquele que Se entrega em sacrifício pelo bem da Igreja”, lembra o pastor, destacando que a Bíblia reforça a importância da liderança espiritual masculina no lar. Citando 1 Pedro 3.7 (Igualmente vós, maridos, coabitai com ela com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais fraco; como sendo vós os seus coerdeiros da graça da vida; para que não sejam impedidas as vossas orações), Cocareli afirma que exercer a masculinidade bíblica é assumir responsabilidade com propósito, amor e discernimento, promovendo diálogo honesto e cuidado no lar. “O homem de Deus precisa ser o garantidor da estabilidade, conectando sua família ao Criador e à Sua Palavra, tomando decisões sábias e exercendo liderança com amor sacrificial.”

Foto: Divulgação / IIDG Florianópolis-SC – modificada por IA
Ao compartilhar do mesmo entendimento, o Pr. Israel Bomerich, líder estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Santa Catarina, reforça a ideia de que a autoridade masculina não deve ser confundida com imposição. “Se cada pai ensinar os seus filhos com palavras e atitudes visíveis, certamente, veremos uma nova geração vivendo a masculinidade que honra a Deus”, assevera ele, destacando que a ausência de referências familiares têm sido um grande desafio. “Atualmente, as pressões culturais, os escândalos e a falta de pais espirituais tornam a construção da masculinidade ainda mais desafiadora”, afirma Bomerich, o qual ressalta que práticas espirituais são fundamentais para moldar o caráter de um homem em conformidade com a Palavra. “Vigiar, orar, ler e estudar as Escrituras e guardar os mandamentos bíblicos são caminhos essenciais para que o indivíduo se torne semelhante a Cristo. É assim que se constrói uma masculinidade que honra o Senhor.”

Foto: Arquivo pessoal
Para o Pr. Daniel Costa, da Igreja da Graça em Cabuçu, na cidade de Nova Iguaçu (RJ), na Baixada Fluminense, o resgate da identidade masculina se dá pela liderança com autoridade, mas sem autoritarismo. Segundo ele, a masculinidade cristã é definida pela fidelidade e obediência a Deus e pelo cumprimento dos princípios bíblicos. “O maior desafio da atualidade é demonstrar dignidade e lealdade em meio a um mundo que normaliza a infidelidade e desvaloriza a figura do homem”, diz o pregador, salientando que os homens precisam ser maridos de uma só mulher, fiéis e firmes nos valores da Palavra. De acordo com Costa, a masculinidade bíblica não exclui sentimentos nem emoções, e cabe à Igreja assumir um papel de acolhimento e de restauração daqueles que carregam feridas emocionais e espirituais. “Josué, diante da ausência de Moisés − sua referência de liderança −, sentiu tristeza, mas se levantou ao ouvir a voz do Todo-Poderoso”, cita o ministro, esclarecendo que o resgate da masculinidade é, em resumo, voltar ao caminho indicado pelo Senhor e assumir o papel de um guia comprometido com Sua obra.

Foto: Arquivo pessoal – modificada por IA
Na opinião do Pr. Delano Maia dos Santos, presidente da Assembleia de Deus Fonte de Vida, sediada em Vitória (ES), a masculinidade cristã deve se manifestar em três dimensões fundamentais: profética, apologética e testemunhal. “Na primeira dimensão, Deus busca homens cheios do Espírito, com coragem e unção para denunciar o pecado e proclamar a Verdade diante de uma sociedade corrompida”, observa. Na segunda dimensão, assevera Santos, o líder deve pregar a Palavra com fidelidade, confrontando a Bíblia com ideologias que se opõem à fé cristã. “Por fim, o maior sermão que um homem pode oferecer é o testemunho da própria vida: ser luz para sua família e para a sociedade, como um marido amoroso, um pai presente e um provedor responsável.”

Foto: Arquivo pessoal – modificada por IA
Comunhão com Cristo – De acordo com o motorista de aplicativo Samuel Manger, 40 anos, a verdadeira masculinidade vai além da força física ou da posição social: tem a ver com a formação do caráter do homem, o desenvolvimento de sua fé e o senso renovado de responsabilidade e propósito. “Crer em Jesus transformou minha mentalidade sobre meu papel. Eu buscava aprovação em conquistas e posições, mas compreendi que estava errado. Na verdade, ser homem é se reconhecer como filho de Deus”, testemunha Manger, que congrega na sede estadual da IIGD em Florianópolis (SC). Ele garante que a masculinidade cristã reflete os ensinamentos do Salvador, evidenciados em Sua postura enquanto esteve na Terra desenvolvendo Seu ministério. “Entendo que minha masculinidade é expressar Jesus na maneira como vivo, assumindo compromisso, amando de modo sincero e vivendo com objetivo. Essa consciência me fortaleceu para enfrentar desafios e permanecer firme nos caminhos do Senhor”, admite.

Foto: Arquivo pessoal
O mesmo ponto de vista é compartilhado pelo Pr. Eduardo Costa, 21 anos, auxiliar na sede regional da Igreja da Graça no Méier, zona norte do Rio de Janeiro (RJ). Ele argumenta que a comunhão com Cristo é o alicerce de uma vida aprovada diante do Criador, o que inclui a masculinidade. “Posso até me autodenominar um homem segundo o coração de Deus, mas só Ele me conhece e sabe se meu coração está realmente aprovado”, afirma Costa, ensinando que “o primeiro passo é sermos verdadeiros e buscarmos constante intimidade com o Altíssimo por meio das Sagradas Escrituras”.
Segundo o ministro, o homem pode agir com firmeza sem abrir mão da sensibilidade, desde que esteja sob a direção do Espírito Santo. “O equilíbrio está em discernir o que Deus espera de mim em cada situação, perguntando sempre ao Espírito o que Jesus faria no meu lugar”, observa. O pastor pontua que, nesses tempos, em que há tantos conceitos distorcidos sobre a verdadeira identidade masculina, permanece intacta e atual a Palavra de Deus, única capaz de moldar o caráter de Cristo no homem.


