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Brasil
01/08/2022
Família – 278
01/09/2022
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Foto: Reprodução
Abraão de Almeida

O avanço da Reforma: Itália

Na edição anterior, começamos a falar do avanço da Reforma Protestante na Europa. Neste artigo, vamos tratar do progresso do movimento reformista na Itália.

Estendendo-se por outras terras da Europa, além dos Alpes e Pirineus, a Reforma também chegou às terras italianas, assim como em território espanhol. Era natural que muitos italianos ansiassem por uma reforma em sua igreja, que fora objeto de impetuosas e procedentes denúncias de padres ilustres, em especial do grande pregador e reformista Girolamo Savonarola (1452-1498), queimado vivo em 23 de maio de 1498. As doutrinas luteranas entraram na Itália de várias maneiras, mas, em especial, pelas cartas do reformador alemão Martinho Lutero (1483-1546) e seus auxiliares, que, sob nomes fictícios, dirigiam-se aos italianos. Tais missivas eram passadas de mão em mão, chegando, por certo tempo, a circular no próprio Vaticano sem que se suspeitasse da sua verdadeira origem e intenção.

Por outro lado, italianos de várias partes – atraídos pela fama do reformador e astrônomo alemão Filipe Melancton (1497-1560) – viajavam até Wittenberg para lá aprender os novos ensinos e, em seguida, divulgá-los aos seus patrícios. Também os soldados crentes que acompa­nharam o arquiduque Carlos V (1500-1558) em sua revolta contra o papado não esconderam seu testemunho e muito fizeram pela evangelização de Roma e cidades vizinhas. Assim, a Reforma alcançava sensíveis progressos em toda a península itálica, chegando mesmo a contar com o concurso de homens notáveis, como o humanista e escritor espanhol Juan de Valdés (1509-1541).

Em muitos lugares organizaram-se igrejas reformadas, que possuíam ministros e realizavam reuniões secretamente. O progresso do protestantismo na Itália pode ser avaliado pelo testemunho do cardeal Giovanni Girolamo Morone (1509-1580), quando voltou de uma missão papal na Alemanha. Escreveu ele em 1542, referindo-se a Roma: Em todo lugar onde vou, e de toda a parte, ouço que a cidade está se tornando luterana (Monsenhor Cristiani, em Breve história das heresias, São Paulo, Livraria Editora Flamboyant, 1962, p. 53).

Inquisição – Vendo-se ameaçada no próprio território, a igreja romana reagiu ofensivamente. Um grupo de 50 ou 60 pessoas importantes organizou em Roma o chamado Oratório do Amor Divino, uma liga de defesa da religião da qual faziam parte Carlo Caraffa (1517-1561), Gasparo Contarini (1483-1542) e Jacopo Sadoleto (1477-1547), os quais foram mais tarde eleitos cardeais. Pelo menos em parte, essa organização conseguiu fazer frente à ameaça protestante por meio da reinstalação dos terríveis tribunais da Inquisição.

O movimento de oposição às doutrinas luteranas e calvinistas – conhecido pelo nome de Reação Católica ou Contrarreforma – espa­lhou-se por toda a parte sob a forma de entidades fanáticas em defesa dos dogmas e das tradições romanistas. A mais importante dessas entidades, a Ordem dos Jesuítas (ou Companhia de Jesus), foi organizada em 1534 pelo espanhol Inácio de Loyola (1491-1556) com a principal finalidade de converter os sarracenos ao catolicismo. Mais tarde, essa sociedade mudou de ideia e pediu ao papa que fosse admitida como serva submissa da igreja, no que foi atendida em 1540.

Dedicados à formação cultural e religiosa da mocidade e na qualidade de professores, os jesuítas tinham fácil acesso às cortes dos príncipes, conseguindo, assim, com sua influência, o apoio político de que tanto carecia a Contrarreforma. Certamente influenciado pela malícia jesuítica, o papa Paulo III (1468-1549) convocou o concílio ecumênico de Trento, que se reuniu de 1545 a 1563, cujas últimas sessões foram presididas pelo teólogo espanhol Diego Laynez (1512-1565), sucessor de Loyola. Esse conclave rejeitou toda e qualquer tentativa de reforma doutrinária na igreja, declarou heréticos os ensinos reformistas, afirmou ser a tradição igual em autoridade à Bíblia e considerou inspirados por Deus vários escritos apócrifos, inclusive um aditamento ao livro de Daniel, como aparecem nas bíblias editadas com aprovação eclesiástica romana (em latim, nihil obstat / imprimatur;
expressões que, traduzidas em português,significam:nada impede de ser impresso/ deixe ser impresso).

No entanto, apesar de tanta oposição, a semente do Evangelho, plantada em muitos corações pelos reformadores, brotou, suportou as mais cruéis adversidades e produziu frutos que permanecem até hoje. Se o protestantismo não vingou na Itália como em outras partes do solo europeu, pelo menos fortaleceu naquele país as correntes evangélicas ali existentes, particularmente os waldenses. Estes, segundo uma autoridade católica, lá por 1533 adotaram as principais doutrinas da Reforma Protestante: justificação só pela fé, redução dos sacramentos a dois, e interpretação da eucaristia no sentido calvinista, registrou Juan Carlos Varetto, na página 237 de seu livro La Reforma religiosa del siglo XVI (A Reforma religiosa do século 16), publicado em Buenos Aires pela Junta Bautista de Publicaciones em 1959.

Abraão de Almeida
Pastor da Igreja Evangélica Brasileira em Coconut Creek, Flórida, EUA, e autor de mais de 30 livros em português e espanhol. E-mail: abraaodealmeida7@gmail.com

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