
Almas resgatadas
15/12/2025
Por Victor Rodrigues
Há um movimento silencioso nas igrejas evangélicas que dispensa microfones, ou qualquer estrutura visível, mas que move o coração de Deus de maneira muito especial: a intercessão – ato de orar em favor de pessoas, grupos ou causas. Os teólogos lembram que o maior exemplo dessa prática é Jesus, que, durante Seu ministério terreno, intercedia por Seus discípulos para que eles estivessem prontos para cumprir a grande missão de pregar o Evangelho. Por sua vez, as Escrituras relatam que o apóstolo Paulo orava por todas as igrejas que havia fundado em suas viagens missionárias e clamava pelos irmãos na fé que cruzavam seu caminho. Essas intercessões paulinas demonstravam a compaixão e o cuidado dele pelas igrejas e pelos crentes em suas missões.
Passados tantos séculos, as comunidades cristãs do Brasil e do mundo não só aprenderam as lições deixadas por Cristo e Paulo, como também vêm pregando sobre a importância vital do ato de interceder. É o caso da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD), a qual entende que, por meio dessa prática, ministérios são sustentados espiritualmente, como Homens que Vencem (MQV), Mulheres que Vencem (MQV), Jovens que Vencem (JQV) e Crianças que Vencem (CQV). Esses são alguns dos “motores” de fortalecimento da comunhão entre os membros, do amadurecimento da fé, da propagação das Boas-Novas e do resgate de vidas.

Na IIGD em Jardim Promissão, Diadema (SP), a intercessão tem sido um pilar fundamental do ministério liderado pelo Pr. Adriano Bento, 51 anos, à frente da Igreja há sete. De acordo com ele, os encontros de oração ocorrem de modo ocasional, geralmente em duas terças-feiras do mês, às 19h, em um monte situado a 6 km da congregação. “O número de participantes varia, mas, normalmente, contamos com a presença de 15 a 25 pessoas, entre obreiros e membros”, relata o ministro, acrescentando que as orações versam sobre cura de doenças, fortalecimento espiritual, causas judiciais e outros desafios enfrentados pela membresia.
Além dessas reuniões, o líder organiza um momento de intercessão no templo, todas as quintas-feiras, às 19h, a fim de que os membros se unam em oração em prol da intervenção do Alto na comunidade. “A intercessão é a base de uma congregação. A meu ver, há a necessidade desse alicerce espiritual para sustentar a Igreja”, afirma. O pastor também compartilha histórias de transformação, como a de um obreiro que, após um ano de lutas para adquirir a casa própria, viu a situação mudar milagrosamente depois das intercessões feitas no monte. “Deus é fidedigno e sempre vai além do que imaginamos”, diz Bento, reforçando a ideia de que interceder fortalece a fé e manifesta o poder do Senhor na vida do cristão. O ministro do Evangelho ressalta que esse trabalho, que envolve tanto os ministérios locais quanto a liderança da Igreja, segue o exemplo do Pr. Jayme de Amorim Campos, da sede estadual da IIGD em São Paulo. “Ele tem intercedido nas manhãs de quinta-feira, e Deus tem operado grandiosamente.”

Há mais de 30 anos, a agente administrativa aposentada Maria de Fátima Ferreira Matias Garcia, 67 anos, também abraçou o ministério de oração como um chamado divino. “Por volta de 1994, a Pra. Gorete Moura me convidou para liderar o grupo. Vimos muitas respostas às orações, e o Senhor nos motivava a continuar”, compartilha a dirigente do Mulheres que Vencem na sede estadual da Igreja da Graça no Rio de Janeiro, localizada em Madureira, bairro da zona norte da capital fluminense. Maria de Fátima se recorda, com gratidão, do crescimento desse movimento, que, no início, limitava-se aos grupos de jovens e de obreiros. “Entretanto, Deus foi mostrando as necessidades, e surgiram Mulheres que Vencem, Homens que Vencem, Crianças que Vencem, Melhor Idade e Teens – todos frutos das orações”, elenca ela, afirmando que a intercessão ultrapassa a implantação de ministérios. Para Maria de Fátima, trata-se de cuidar de vidas, restaurar identidades e ajudar pessoas a
se reconstruírem.
Na opinião da líder, ser intercessora envolve consagração profunda e vida de oração constante. “Viver no altar do Senhor é se dispor a gerar os sonhos dEle. Quando nos colocamos na brecha em favor de outras vidas, não apenas ministérios são formados, mas também novas criaturas em Cristo nascem”, explica a dirigente, pontuando que a intercessão inclui libertação. “A Igreja da Graça recebe pessoas que passaram por traumas profundos e precisam ser cuidadas e restauradas, e interceder por elas é parte crucial nesse resgate.”

No Rio Grande do Sul, a Pra. Joziane Igarçaba Ibaldo de Carvalho, 43 anos, da IIGD em Lageado e líder estadual do MQV, destaca o impacto coletivo desse ministério. “A intercessão prepara o caminho para o sobrenatural. Nós nos reunimos para reivindicar o cumprimento da Palavra e, assim, vencemos no mundo espiritual”, afirma a pregadora, complementando que as participantes de cada cidade se organizam em grupos e que há uma responsável em cada região. “Os pedidos chegam pelo WhatsApp, e, todos os dias, alguém intercede. A oração não cessa”, conta Joziane, lembrando que testemunhou uma evidente intervenção do Senhor em 2024. “Durante a última ameaça de enchente, entramos em oração em todo o estado. As águas foram paralisadas e não passaram do limite. Vimos Deus operar o livramento.”

Já a líder estadual das intercessoras da Igreja Internacional da Graça de Deus em São Paulo, Ana Paula Souza, 36 anos, esclarece que o trabalho se beneficia dos avanços tecnológicos: tudo acontece on-line, tanto pelo Instagram quanto pelo Google Meet – plataforma que comporta em videoconferência até 500 mulheres, permitindo alcançar pessoas de diferentes cidades e estados da federação. “A intercessão precisou se adaptar à vida moderna, sem perder a essência da comunhão e da oração constante”, ressalta Ana, destacando que são realizadas vigílias virtuais de sexta para sábado, e o clamor atravessa a madrugada. “Cada uma permanece em sua casa, mas todas se reúnem em um mesmo propósito. Convidamos pastoras e esposas de pastores para ministração de mensagens, louvores e testemunhos”, relata ela, salientando que, recentemente, o grupo concluiu um propósito de 21 dias, no qual cada mulher compartilhou a Palavra dada por Deus para vencer suas batalhas. “Foram momentos muito edificantes para nós”, destacou a líder, que também coordena um café da manhã virtual em que cada intercessora prepara a mesa na própria casa e convida Jesus para estar presente com a família. “O objetivo é resgatar a comunhão familiar, o olho no olho, muitas vezes impedido pela correria diária.”
Testemunhos edificantes – Na sede estadual da Igreja da Graça em São Paulo, na avenida São João, no Centro da capital paulista, a aposentada Vanda Carlos Pereira da Silva, 58 anos, lidera um grupo de 50 mulheres que oram todas as noites às 21h. Ela conta que começou intercedendo pela família e, com o tempo, sentiu-se chamada a ampliar o trabalho. Hoje, recebe pedidos de oração de várias cidades. “Anotamos os nomes, oramos e acompanhamos os testemunhos”, conta Vanda, que, entre tantas experiências vividas, testemunhou a cura do neto – diagnosticado com uma doença renal – e a reconciliação com a filha, depois de anos de oração. “A intercessão sustenta vidas e famílias”, prega.

A policial civil aposentada Cátia Regina Dantas de Brito, 60 anos, relata que aprendeu a orar em 1983, quando frequentava o grupo jovem da Igreja. Com o tempo, passou a interceder também logo ao acordar. “Procuro, ao longo do dia, manter minha mente e meu coração ligados à Palavra de Deus. Isso fortalece a conexão com o Pai, como se Ele estivesse sempre pertinho”, assevera ela, membro da sede estadual da IIGD no Rio de Janeiro. Cátia relembra, entre tantas bênçãos, de um milagre ocorrido na capital fluminense na semana em que seria realizado um encontro de mulheres. “No dia do evento, choveu em toda a cidade, mas não no sítio da Igreja. Naquela região, o sol abriu. Foi tremendo!”, celebra Cátia, para quem a intercessão é a semeadura que possibilita a colheita. “É o alicerce da Igreja. Ela não avança sem oração, que desperta em nós a consciência da necessidade do outro e nos tira do centro do nosso eu.”

Outro testemunho marcante é relatado por Ivone Dias da Silveira, 60 anos, coordenadora da Academia Teológica da Graça de Deus (Agrade) no Rio de Janeiro. “Meu casamento estava ‘por um fio’ quando cheguei à Igreja da Graça. Foi quando aprendi a buscar a Deus e a interceder pela minha família”, lembra-se Ivone, que, a partir daquele momento, passou a orar com fé e persistência pela restauração de seu lar. “Hoje, meu esposo é pastor da Igreja há mais de 30 anos, e eu sigo como sua ajudadora. Deus é fiel”, relata Ivone, cujo exemplo de perseverança abriu portas para a missão de ensinar. Ela é uma das autoras da apostila sobre intercessão distribuída entre os grupos de oração femininos das Igrejas da Graça. No material, a coordenadora procurou definir o conceito de intercessão e destacar exemplos bíblicos de mulheres que oraram e foram atendidas, como Raabe, que clamou pelos familiares durante a conquista de Jericó, salvando-os da destruição (Js 2.12-14), e de Débora, a juíza e profetisa que orientou e conduziu o povo de Israel à vitória contra os cananeus (Jz 4.4-7). “Esse estudo fortaleceu minha fé, e acredito que também encorajou intercessoras em todo o Brasil”, afirma ela, que dedica diariamente um tempo à oração e à leitura das Sagradas Escrituras de maneira coletiva. “Criamos um grupo no WhatsApp com pastores, no qual intercedemos por famílias, pela Igreja, pela liderança espiritual, pelas autoridades e pelo país. Os frutos dos clamores são visíveis todos os dias”, atesta.

Ivone, assim como os demais personagens ouvidos nesta reportagem, faria coro com o pregador puritano inglês John Bunyan (1628-1688), autor do sucesso literário O peregrino, escrito no final do século 17 no Reino Unido. Ele entendia que a verdadeira oração não depende de fórmulas, e sim de um coração sincero diante do Senhor, e a descrevia como a respiração do homem nascido de novo. Quando você orar, deixe que o coração esteja sem palavras, mais do que as palavras sem coração, escreveu Bunyan. Ele acrescentou que orar significa entrar em audiência com o próprio Deus e que Cristo, como intercessor, é o exemplo a ser seguido. Ele vive para interceder por nós. Se não falhou nessa obra, por que nós falharíamos?, indagou o pregador, reforçando que a intercessão é, de fato, uma prática cristã essencial para fortalecer a fé e promover a transformação de vidas.
Dicas de leitura
A oração é uma das disciplinas espirituais destacadas nas Sagradas Escrituras, junto com a leitura bíblica e a prática do jejum. Ao interceder por pessoas ou causas, o cristão aprofunda sua comunhão com Deus e descobre o poder do clamor a partir do Nome de Cristo. Ao longo das últimas quatro décadas, a
Graça Editorial lançou diversos livros que abordam esse tema. Confira alguns deles:
• Orando pelas autoridades, de Derek Prince
• Orações que transformam o mundo, de Gordon Lindsay
• Os segredos da oração que transporta os montes, de Gordon Lindsay
• O cristão que intercede, de Kenneth E. Hagin
• A arte da intercessão, de Kenneth E. Hagin
• A autoridade do crente, de Kenneth E. Hagin
• O Nome de Jesus, de Kenneth E. Hagin
• Não desperdice o seu poder na oração, de R. R. Soares
• Oração da fé – A chave para as bênçãos de Deus, de R. R. Soares
• Como tomar posse da bênção, de R. R. Soares
• Guerreiros de joelhos, de David D. Ireland
(Fonte: Graça Editorial).

