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Minha Resposta – 264
15/07/2021
Jornal das Boas-Novas – 264
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Foto: alphaspirit / 123RF

Erro comum

Pequenas mentiras contadas por adultos podem afetar a vida das crianças a longo prazo

Por Ana Cleide Pacheco

Se mentir, seu nariz vai crescer. Se ficar longe de mim, o velho do saco levará você embora. Eis algumas mentiras que os adultos costumam contar às crianças. Embora tenham o objetivo de moldar comportamentos, essas “mentirinhas” podem acarretar consequências negativas para a vida dos pequenos.

Uma pesquisa realizada por cientistas chineses, norte-americanos e canadenses avaliou as relações entre pais e filhos em cerca de 200 famílias chinesas e norte-americanas. Os estudiosos constataram que, em geral, os adultos não veem problema em faltar com a verdade já que o objetivo é fazer os filhos adotarem um comportamento socialmente mais adequado. No entanto, o estudo concluiu que, na prática, o efeito é contrário: os adultos que apresentam maior dificuldade de aproximação, comunicação e relacionamento com os filhos são os que mais lhes contam pequenas mentiras. Além disso, a sondagem demonstrou que, quanto mais ouvem mentiras desse tipo, mais ansiosas as crianças se tornam quando chegam à adolescência.

A psicóloga Cristina Pimenta, 50 anos, enfatiza que a prática de iludir as crianças cria nelas falsas expectativas, as quais podem redundar em sérias consequências emocionais e de conduta. “A base fundamental e indispensável em qualquer vínculo de qualidade, principalmente entre pais e filhos, é a confiança. E esta deve ser construída e solidificada ao longo do tempo, desde a mais tenra infância até a vida adulta”, aconselha a psicóloga, sublinhando que os pais são o espelho, o exemplo na vida dos filhos, e, portanto, devem honrar sua palavra para ela ter peso. “Fazer promessas, como ‘Se fizer tal coisa, vai ganhar uma recompensa’, sem a intenção de cumpri-las, ocasiona muitos problemas. É de suma importância que os pais não prometam aquilo que não podem cumprir”, destaca a especialista, assinalando que, com base nas relações de confiança e respeito estabelecidas com os pais, a criança pequena criará o próprio modelo de funcionamento interno frente às variadas situações da vida. “Uma vez que essa confiança é quebrada, dificilmente será restaurada.”

A psicóloga Cristina Pimenta destaca: “Fazer promessas, como ‘Se fizer tal coisa, vai ganhar uma recompensa’, sem a intenção de cumpri-las, ocasiona muitos problemas” Foto: Arquivo pessoal

A psicopedagoga e educadora Maria Fatima Santa Cruz da Silva, 61 anos, informa que crianças com idade superior a cinco anos já são capazes de perceber quando o adulto não está falando a verdade. “E, quando isso acontece, há o rompimento da confiança, e a dúvida se instala. Por isso, a verdade é sempre o melhor caminho”, pontua a especialista, a qual lembra que, geralmente, crianças expostas a “mentirinhas” podem acreditar que essa será a melhor maneira de se livrar de contratempos. Sendo assim, a relação com os responsáveis tende a ficar frágil, criando rupturas, muitas vezes, irrecuperáveis. “É fundamental demonstrar aos filhos que o melhor é dizer a verdade, por mais difícil que seja”, orienta Maria Fatima, membro da Assembleia de Deus Bonsucesso, zona norte do Rio de Janeiro (RJ).

Caráter e personalidade – A empreendedora Fernanda Ribeiro Grégio de Oliveira, 42 anos,sabe o quanto uma pequena mentira pode ser danosa ao relacionamento familiar. Mãe de Ana Flávia, 19 anos, e Lívia, 12, ela viveu uma experiência marcante quando a mais velha tinha apenas quatro anos. A menina possuía um peixe de estimação chamado Beto, pelo qual nutria um imenso carinho. Infelizmente, certo dia, enquanto a pequena estava na escola, o peixe pulou do aquário e morreu. Sem saber o que dizer à criança, a mãe contou que ele tinha passado mal e estava internado no hospital dos peixes.

A psicopedagoga e educadora Maria Fatima Santa Cruz da Silva informa que crianças com idade superior a cinco anos já são capazes de perceber quando o adulto não está falando a verdade Foto: Arquivo pessoal

Fernanda achava que, com o tempo, a filha esqueceria o ocorrido, mas estava enganada. A garotinha perguntava quando Beto voltaria para casa, até que, um dia, flagrou os pais conversando a respeito da morte de seu estimado peixinho. Além de chorar muito, ela perdeu totalmente a confiança na mãe. “Foi um período difícil. Sempre que falava alguma coisa, ela me perguntava: ‘Mas isso é verdade mesmo, mamãe?’, e ia até o pai para ter certeza sobre o que eu estava falando.” Tudo só foi resolvido quando a mãe chamou a menina para conversar e lhe explicou que havia mentido para que ela não sofresse. Também reconheceu que tinha cometido um erro, pois nunca se deve mentir. “Pedi perdão à minha filha e prometi que sempre falaríamos a verdade uma para a outra.” Aquele situação foi reparada, e hoje, segundo Fernanda, ela e a filha são bastante amigas. “Conversamos sobre todos os assuntos. Consegui recuperar a confiança dela. Falar a verdade é imprescindível para criar vínculos verdadeiros com nossos filhos”, afirma a empreendedora, membro da Primeira Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Campo Grande, em Cariacica (ES).

A empreendedora Fernanda Ribeiro Grégio de Oliveira, com as filhas Ana Flávia e Lívia: “Falar a verdade é imprescindível para criar vínculos verdadeiros com nossos filhos” Foto: Arquivo pessoal

A assistente administrativaCíntia Silva Ferreira Marques, 40 anos, concorda com Fernanda. Mãe da adolescente Rayanne Ferreira Marques, 15 anos, ela afirma que os pais são os responsáveis por grande parte da formação do caráter e da personalidade da criança. “Isso até os seis anos. Portanto, sempre pensei que, se não falasse a verdade, ela poderia crescer achando que uma ‘mentirinha’, de vez em quando, não tem problema.” Membro da Assembleia de Deus Central de Jardim Primavera, em Duque de Caxias (RJ), Cíntia enfatiza que uma mentira leva a outra, agravando qualquer evento. “Acaba se tornando um ciclo vicioso, uma bola de neve. Como cristãos, precisamos seguir os ensinamentos da Palavra. Não podemos usar ‘mentirinhas’ para nos beneficiarmos em nada. Quando fazemos isso, estamos dando brechas para Satanás ter espaço em nossa vida”, argumenta, citando o texto de João 8.32 (E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará). “Sendo assim, precisamos falar a verdade, pois Jesus Cristo nos ensina que Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida, e quem é mentiroso não tem parte com Ele.”

A assistente administrativa Cíntia Silva Ferreira Marques, com a filha Rayanne: “Não podemos usar ‘mentirinhas’ para nos beneficiarmos em nada. Quando fazemos isso, estamos dando brechas para Satanás” Foto: Arquivo pessoal

Princípios básicos – O teólogo Tarcis Júnior, 39 anos, pastor da Cathedral International de Londres, na Inglaterra, ressalta que a falta de integridade moral, manifestada nas “pequenas” mentiras, destrói na criança as referências do que é certo e errado. “Percebo, em minha caminhada pastoral, que a falta de integridade moral, intelectual e espiritual são as vilãs que afastam os filhos do Deus de seus pais.” Para o líder, se os pais não praticam aquilo que pregam por meio de sua conduta no dia a dia, se não conseguem explicar os princípios básicos de sua fé e se não têm experiências com o Senhor, terão dificuldade para mostrar aos filhos que Deus realmente existe.

Ademais, Tarcis explica que, se a criança está imersa em um ambiente onde existem mentiras, será moldada por ele. “Sua personalidade ou o seu caráter será fortemente influenciado pelo contexto em que vive”, reitera, deixando um conselho: “Os pais devem tratar esse assunto com seriedade. Mentira não é brincadeira. Precisamos ser honestos e corajosos para quebrar culturas que nos familiarizam com Satanás, que nos afastam do Senhor e distanciam nossos filhos do Salvador. A verdade sempre liberta!”

O teólogo Tarcis Júnior afirma: “Percebo, em minha caminhada pastoral, que a falta de integridade moral, intelectual e espiritual são as vilãs que afastam os filhos do Deus de seus pais” Foto: Arquivo pessoal

O Pr. Carlos Pedro da Silva, 51 anos, da Assembleia de Deus na Itaoca, em Bonsucesso, zona norte do Rio de Janeiro (RJ), concorda que os pais precisam viver de modo a imprimir o caráter de Cristo nos filhos. “Ensinamos muito mais pelo exemplo do que pelo que falamos. Quando uma criança percebe que o pai ou a mãe não expressou a verdade, a cultura da mentira vai sendo impressa em sua alma”, adverte, lembrando a declaração de Jesus registrada em Lucas 12.2: Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido. “Cedo ou tarde, o pequeno verá que o pai, aquele a quem tanto admira, mentiu. Custe o que custar, fazer uso da verdade vai evitar traumas futuros”, admoesta, destacando o texto de Provérbios 28.13: O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia. “Nada há melhor nessa vida do que ser uma pessoa livre, sem pendências.”

O Pr. Carlos Pedro da Silva afirma: “Quando uma criança percebe que o pai ou a mãe não expressou a verdade, a cultura da mentira vai sendo impressa em sua alma” Foto: Arquivo pessoal

A Pra. Elizabeth Gomes de Souza, 43 anos, da sede estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Macapá (AP), acentua outras passagens bíblicas sobre a importância de falar e viver a verdade: Efésios 4.25 (Pelo que deixai a mentira e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros) e 1 João 2.4 (Aquele que diz: Eu conheço-o e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade). “Quando mentimos, não estamos andando conforme a Palavra, a qual também declara que o diabo é o ‘pai da mentira’ [Jo 8.44]. Toda verdade vem de Deus, e essa deve ser a nossa postura, como servos dEle”, pontua a pastora, reiterando, com base na Bíblia, o que apresenta a pesquisa citada no início desta reportagem. “Falar a verdade vai ajudar as crianças a serem pessoas honestas e emocionalmente equilibradas.”

A Pra. Elizabeth Gomes de Souza conclui: “Falar a verdade vai ajudar as crianças a serem pessoas honestas e emocionalmente equilibradas” Foto: Arquivo pessoal

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