
Pressão redefinida
11/11/2025
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Mensageiro da unidade
Reconhecido pelo rigor bíblico, William Graham Scroggie defendeu o compromisso missionário e a fidelidade ao senhorio de Cristo
Por Patrícia Scott*
Na primeira metade do século 20, o pastor batista William Graham Scroggie (1877-1958) se destacou como uma das vozes mais influentes no cenário evangélico britânico, moldando a fé evangélica de milhares de pessoas entre as décadas de 1920 e 1950. Reconhecido por sua devoção bíblica, seu rigor intelectual e sua firmeza pastoral, ele soube equilibrar o compromisso profundo com a obra do Espírito Santo e a cautela diante dos excessos emocionais que, na visão dele, poderiam desvirtuar a fé cristã. Educador e autor prolífico, escreveu mais de 50 livros, entre eles sua obra-prima O descortinar do drama da redenção, composta por três volumes.
Nascido em 1877, em Great Malvern, no condado de Worcestershire (Inglaterra), era um dos nove filhos de James Johnston e Jane Mitchell Scroggie, ambos escoceses. Aos 19 anos, William ingressou no Pastors’ College, em Londres. Mais tarde, no Spurgeon’s College, ele estudou formação teológica durante dois anos. Em 1900, casou-se com Florence Hudson, com quem teve um filho, Marcus. Seu primeiro pastorado foi em Leytonstone, no condado de Essex, no sudeste da Inglaterra. No entanto, permaneceu apenas dois anos na liderança – período que descreveria posteriormente como um tempo de profunda crise espiritual. Em 1902, assumiu a igreja em Halifax, na região de Yorkshire, mas deixou o ministério devido a convicções pessoais contrárias às práticas que julgava mundanas na denominação.
Mantendo silêncio pastoral e dedicado à reflexão bíblica, Scroggie teria a sua vida mudada a partir de 1907, ao aceitar a liderança da Igreja Livre de Bethesda, em Sunderland, no Nordeste da Inglaterra. Naquele período, ele ficou muito conhecido e, após seis anos, passou a pastorear, em 1913, a Capela Charlotte, em Edimburgo, capital da Escócia. Sua chegada causou um impacto imediato: a congregação ultrapassou mil frequentadores nos cultos dominicais e contava com a presença de centenas de pessoas nas classes bíblicas semanais. Além disso, houve um desenvolvimento das iniciativas de ação social e o registro de, aproximadamente, 650 batismos ao longo de sua permanência naquela congregação.
Durante o Avivamento da Ânglia Oriental, em 1922, sob a liderança do pastor batista Douglas Brown, muitos descreveram algumas daquelas reuniões como cheias de “fogo pentecostal”. Para alguns, era um sopro de renovação; entretanto, embora reconhecesse que havia encontros autênticos com Deus naqueles cultos, advertiu para alguns riscos e lembrou: Fé não é credulidade; fé é inteligente, aberta e fundamentada. [Do editor: a Ânglia Oriental compreendia a região dos atuais condados de Norfolk e Suffolk, na Inglaterra]
A postura equilibrada de William Scroggie se refletia em suas exposições bíblicas, que atraíam multidões de diferentes denominações. Ele ensinava que a vida cristã exigia disciplina, estudo e ação consciente e que a verdadeira fé se revelava na obediência diária ao senhorio de Cristo.

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Missão e ensino – O reconhecimento acadêmico veio em 1927, quando a Universidade de Edimburgo concedeu a Scroggie o título de Doutor em Divindade, destacando sua influência como pregador e seu compromisso com o ensino das Escrituras Sagradas. Dois anos depois, em 1929, durante a Convenção de Keswick, ao refletir sobre o Credo dos Apóstolos, defendeu que, diante do avanço do Modernismo, o mais saudável seria unir os evangélicos em torno de uma confissão de fé histórica e amplamente reconhecida, em vez de multiplicar pequenas declarações fragmentadas. Ainda na cidade de Keswick, especialmente nas reuniões missionárias que encerravam a semana da convenção, havia uma forte ênfase para o serviço ao Reino no exterior. Em uma dessas ocasiões, Scroggie fez um apelo diferente: pediu que pais e mães dispostos a liberar seus filhos para a missão se apresentassem. Cerca de 200 responderam ao convite, gesto que marcou profundamente aquela geração.
Em 1933, com a saúde debilitada, renunciou à liderança da Capela Charlotte, após duas décadas de ministério frutífero. Em sua despedida, realizada no salão da Assembleia Geral da Igreja da Escócia, reafirmou sua postura em relação às divisões confessionais: Foi dito que meu ministério não foi denominacional ou sectário; espero que seja verdade, mas também quero dizer que nunca brinquei com minhas convicções como batista.
Nos cinco anos seguintes – de 1933 a 1937 –, Scroggie se dedicou a um ministério itinerante, pregando na Nova Zelândia, nos Estados Unidos, no Canadá, na Austrália e na África do Sul. Em 1938, assumiu aquele que seria seu último pastorado: o Tabernáculo Metropolitano de Spurgeon, em Londres, onde permaneceu até 1944, conciliando a função pastoral com o ensino no Spurgeon’s College, instituição em atividade até hoje.
Após a morte da primeira esposa, Scroggie se casou, em 1941, com Joan Hooker, ligada ao Ridgelands College, voltado à formação missionária. Poucos anos depois, em 1943, quando o recém-fundado London Bible College (atual London School of Theology) buscava um diretor, William foi convidado para a função. Contudo, a carga administrativa se mostrou excessiva, levando-o a renunciar ao cargo em poucos meses. Nos últimos anos de vida, dedicou-se à conclusão de seu livro O descortinar do drama da redenção.
William Graham Scroggie faleceu em 28 de dezembro de 1958, aos 81 anos, mas sua obra permanece como referência na história da pregação e do ensino da Palavra. Foi um líder que soube conjugar discernimento frente a excessos, rigor acadêmico, compromisso missionário e fidelidade prática ao senhorio de Cristo. (*Com informações de Christian Hall of Fame, BrethrenPedia, Pankeka e Biblical Training)


