
Pressão redefinida
11/11/2025
Por Victor Rodrigues
A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou, em setembro, dados alarmantes: mais de 1 bilhão de pessoas no mundo vivem com algum tipo de transtorno mental, incluindo ansiedade e depressão. No Brasil, segundo a OMS, mais de um quarto da população, de 213,4 milhões de habitantes, sofre de ansiedade (26,8%). O levantamento aponta também que 12,7% dos brasileiros apresentam quadro de depressão – o que significaria dizer que 27,1 milhões de cidadãos em nosso país têm esse transtorno de humor grave, caracterizado por uma tristeza profunda e persistente. De acordo com informações dessa agência das Nações Unidas, esses estados mentais, que afetam indivíduos de todas as idades e níveis de renda, são a segunda maior causa de incapacidade a longo prazo, provocando significativa perda de qualidade de vida. [Do editor: a longo prazo, as maiores responsáveis pela incapacitação são as doenças neurológicas, como o AVC]

Foto: Arquivo pessoal – modificada por IA
Para o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, investir em saúde mental significa investir em pessoas, comunidades e economias – um investimento que nenhum país pode se dar ao luxo de negligenciar. Na opinião de especialistas evangélicos ouvidos por Graça/Show da Fé, de fato, é necessário prestar mais atenção ao ser humano. No entanto, sem deixar de lado a fé em Cristo, capaz de transformar vidas – por meio da leitura da Palavra, da oração, do jejum, do aconselhamento de pastores e do atendimento de profissionais especializados –, libertando-as e curando-as dessas e de tantas outras doenças.

Foto: Arquivo Graça / Solmar Garcia – modificada por IA
O Pr. Diógenes de Souza Santos, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no Centro de Caçapava (SP), lembra que a depressão, assim como a ansiedade, atinge qualquer um, independentemente da profissão, da fé ou do status social. Para ilustrar, ele cita o exemplo bíblico do profeta Elias, registrado em 1 Reis 18–19. Depois de vencer 450 profetas de Baal, Elias recebeu a ameaça de uma mulher e, tomado pelo medo, desejou morrer. “Está relatado, em 1 Reis 19.5-8, que o anjo do Senhor toca no profeta duas vezes e lhe dá alimento, conduzindo-o a um processo gradual de restauração. Assim também é na igreja: O Altíssimo fala por intermédio de homens e mulheres que levam a Sua Palavra, passo a passo, ajudando o aflito a caminhar”, observa Santos, ressaltando que as disciplinas espirituais são ferramentas importantes para que a vida do cristão tenha propósito e significado. “O ansioso sofre por antecipação; o depressivo, por algo que já aconteceu. Mais do que dizer para ter calma, é preciso ouvir, instruir e incentivar a pessoa na leitura da Bíblia e no envolvimento com a obra de Deus. Jesus era uma ponte para os seres humanos, e nós precisamos imitar Seu exemplo.”

Foto: Arquivo pessoal
Fazendo coro com o Pr. Diógenes Santos, a Pra. Rozimar Jesus dos Santos, da Igreja da Graça na comunidade César Maia, em Vargem Pequena, na zona sudoeste do Rio de Janeiro (RJ), reforça que as disciplinas espirituais devem andar de mãos dadas com hábitos saudáveis e, quando necessário, com acompanhamento médico, visto que todas essas ações são benéficas para a manutenção da saúde mental. Ela cita, como exemplo de um exercício espiritual eficaz de auxílio a quem sofre, o texto do Salmo 4.8 (NVI): Em paz me deito e logo adormeço, pois só tu, Senhor, me fazes viver em segurança. “A leitura bíblica, a oração, o jejum, a boa alimentação e o sono adequado são fundamentais. É preciso, inclusive, seguir a prescrição médica, trabalhar o amor-próprio e crescer com o processo, sempre com a empatia e o acolhimento da igreja”, observa a pastora, destacando que a congregação exerce um papel fundamental na vida daqueles que padecem de problemas emocionais e mentais.

Foto: Arquivo pessoal – modificada por IA
A Pra. Mônica Terrigno, da IIGD no Centro de Mesquita (RJ), na Baixada Fluminense, concorda com a Pra. Rozimar e afirma que as disciplinas espirituais criam um ambiente de intimidade com Deus, que fortalece o corpo, a alma e o espírito. “Ao longo da minha trajetória pastoral, tenho presenciado inúmeros casos de pessoas que enfrentavam dificuldades emocionais. Percebo, contudo, que a fé em Jesus exerce uma influência direta e positiva na saúde física, emocional e psicológica”, revela Terrigno. “A cada ano, noto resultados extraordinários: gente fortalecida na esperança, voltando a viver melhor do que anteriormente. Ter fé em Cristo proporciona paz interior, firmeza e ausência do medo.” A ministra enfatiza ainda que as Escrituras nos orientam a respeitar, amar e ter compaixão, acolhendo os oprimidos e cuidando deles com todo carinho, considerando o tempo de entendimento de cada um, sem julgamento ou exclusão social. Na opinião da ministra do Evangelho, muitas questões emocionais e mentais são partes da condição humana – e não sinais de fraqueza espiritual. “Por isso, não há nenhum problema em buscar suporte de profissionais de saúde”, afirma.

Foto: Arquivo pessoal – modificada por IA
Palavra libertadora – Para quem enfrenta o abismo da depressão e da ansiedade, relatos de superação surgem como faróis de esperança. No caso de Patrícia Santos Lopes Silva, 44 anos, cuidadora de idosos, a virada começou quando ela decidiu se entregar inteiramente ao Todo-Poderoso. “Passei por um processo depressivo. Não queria sair da cama e desenvolvi distúrbios de saúde graves, como urticária crônica. Os remédios já não faziam efeito, e um médico disse que, se eu não melhorasse, precisaria tomar adrenalina na perna.” Nesse momento crítico, ela clamou ao Altíssimo pedindo misericórdia e passou a frequentar as reuniões na igreja. “O Espírito Santo usou o pastor para falar comigo, e a minha vida mudou”, lembra-se Patrícia, que congrega na Igreja da Graça no Centro de Caçapava (SP). Segundo a cuidadora, a última parte do texto de Neemias 8.10 (portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do SENHOR é a vossa força) foi a sua âncora para o início da restauração. “Apeguei-me ao Senhor, participei de todas as reuniões em busca de libertação e me entreguei de corpo, alma e espírito a Jesus”, recorda-se, feliz e curada. Agora que está se preparando para se tornar obreira, evangelizando e ganhando almas para Cristo, Patrícia envia uma mensagem para quem sofre de transtorno mental. “Não desista da sua saúde emocional. Entrega o teu caminho ao SENHOR; confia nele, e ele tudo fará”, aconselha, citando o conhecido versículo 5 do Salmo 37.

Foto: Arquivo pessoal – modificada por IA
No Rio Grande do Sul, o engenheiro de dados Gustavo Cardozo Rodrigues, 27 anos, revela que o início de sua jornada de fé interrompeu um ciclo de enfermidade que durou cinco anos. Ele relata que as crises de ansiedade evoluíram para síndrome do pânico e, posteriormente, para depressão. “Eu tomava remédios controlados e acreditava que dependeria deles para a vida toda”, conta Rodrigues, hoje líder do ministério Jovens que Vencem (JQV) e de mídia na Igreja da Graça em Santos Dumont, na cidade de Alegrete (RS). No entanto, tudo mudou em 2019. Certo dia, antes de sair para uma festa, Gustavo ouviu um louvor e começou a chorar. Naquele momento, ele decidiu ir ao culto no dia seguinte. “O pastor citou o Salmo 30, versículo 5 (O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã) e aquele foi o ponto de virada: decidi servir a Jesus”, testemunha o engenheiro. Ele acrescenta que, quando a ansiedade tentava dominá-lo, lembrava-se da passagem de Isaías 41.10: Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te esforço, e te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça. De acordo com ele, após cinco anos vivendo em um período de escuridão, houve uma transformação. “Os remédios podem amenizar os sintomas, e os profissionais são importantes para ajudar no entendimento do que estamos enfrentando. Porém, somente Jesus pode curar e libertar verdadeiramente, dando-nos a real alegria, que é a salvação”, atesta Gustavo Rodrigues, que hoje está casado, feliz e trabalhando.

Para a dona de casa Maria José da Silva Jales, a cura da depressão foi resultado da combinação de tratamento médico, apoio familiar e fé. Ela relata que fez uso de medicação durante 11 anos – até conhecer, em 2017, a Pra. Rozimar Jesus dos Santos, na época líder da IIGD em Santa Efigênia, na Taquara, Jacarepaguá, bairro da zona sudoeste carioca. “Ela me orientou a ler o Salmo 4 e a colocar Jesus acima de tudo”, recorda-se Maria José, que, com o tempo, conseguiu abandonar definitivamente os remédios. “Hoje, sou livre, feliz e confiante. Estou descansando em Deus”, testemunha. “Precisamos crer no Senhor e deixá-Lo nos conduzir”, expõe ela, membro da IIGD Merck, na Taquara. Aos 52 anos, Maria comemora ter superado aquela enfermidade e aproveita esta reportagem para deixar um recado aos leitores: “Busquem Jesus. Não desistam! Persistam, porque há solução em Cristo.”

Foto: Arquivo pessoal
Fé e ciência – O psiquiatra Uriel Heckert, que integra o Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC), afirma que a fé não só exerce um papel importante na proteção emocional, como também atua como facilitadora no tratamento. “Possuir confiança em Jesus produz segurança e fortalecimento emocional”, explica o especialista. Entretanto, ele esclarece que a fé não impede o surgimento de transtornos, como ansiedade e depressão, porque há fatores genéticos e ambientais envolvidos, mas acelera a recuperação do paciente.
Heckert recomenda a oração e a meditação bíblica como práticas benéficas para a saúde, já que, segundo ele, a oportunidade de diálogo com um Deus misericordioso proporciona acolhimento. “Mesmo quando orar parece difícil, expressões curtas de entrega bastam para quem já cultivou intimidade com Ele”, ensina o médico, sinalizando que a leitura da Bíblia não pode ser apressada. “É necessário reservar um tempo diário de quietude, guardando a Palavra no coração e permitindo que ela também o examine. Esse exercício promove equilíbrio e bem-estar.”

Foto: Arquivo pessoal – modificada por IA
Opinião semelhante tem o psiquiatra Tiago Oliveira. Ele assegura que a oração e a reflexão bíblica produzem efeitos comprovados no cérebro. “Essas práticas diminuem a atividade da amígdala, área ligada ao medo e ao estresse, e estimulam o córtex pré-frontal, responsável pelo autocontrole. Em tempos de crise, contribuem para resgatar o sentido da vida e transformar o sofrimento em crescimento.” [Do editor: A amígdala é uma pequena estrutura em formato de amêndoa que existe dentro do cérebro e faz parte de uma rede maior chamada sistema límbico. É crucial para o processamento e a regulação de emoções, como o medo, e está envolvida na formação e consolidação de memórias]

Na visão do especialista, a crença e o tratamento médico caminham juntos sem conflito, complementando-se. “Isso ocorre quando a fé é vivenciada de maneira saudável e integrativa, funcionando como recurso interno de enfrentamento, e não como substituto da medicina ou da psicoterapia”, diz Oliveira. Ele ressalta que a fé oferece “narrativas de esperança, perdão, propósito e reconciliação, que ajudam na elaboração do sofrimento emocional.” Por fim, o psiquiatra reafirma a ideia de que práticas espirituais e acompanhamento profissional são essenciais no cuidado emocional e mental.


