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Por Lilia Barros*
As Escrituras Sagradas reúnem inúmeras histórias de pessoas que, à primeira vista, pareciam inabilitadas para cumprir missões grandiosas. Entre elas, estão Davi, o mais novo entre seus irmãos e pastor de ovelhas, que foi ungido rei de Israel (2 Sm 5.1-5); Moisés, um homem com dificuldades de fala, escolhido para liderar o êxodo do povo hebreu do Egito (Êx 4), e Raabe, prostituta que abrigou espias israelitas e enganou o rei de Jericó para protegê-los (Js 2). Esses personagens revelam um padrão na Bíblia: Deus frequentemente escolhe e capacita aqueles considerados fracos, inadequados ou indignos pela sociedade, transformando-os por Sua graça para manifestar Sua autoridade e glória.
Nessa perspectiva, entre as figuras mais marcantes do Livro Sagrado, em particular do Novo Testamento, não há como deixar de citar Maria Madalena, discípula de Cristo e primeira testemunha da ressurreição de Jesus. “Para a cultura da época, especialmente para os religiosos judeus, e pelo simples fato de ser mulher dentro daquele contexto discriminatório, Madalena, que, antes de ser liberta por Cristo, era possuída por sete demônios, seria a última pessoa a testemunhar tal revelação”, observa o Pr. Joarês Mendes de Freitas, da Primeira Igreja Batista em Jardim Camburi, Vitória (ES). O ministro lembra que ela foi ao sepulcro de madrugada, encontrou a pedra removida e viu o Filho de Deus ressuscitado, embora não O tenha reconhecido. “Essa experiência nenhum dos apóstolos teve antes dela”, recorda-se Freitas. A narrativa mostra que, no Reino de Deus, os improváveis são aceitos e abraçados. “Os que se consideram os primeiros são ultrapassados por aqueles que são vistos como os últimos. Aprendemos isso com a história dessa serva.”

Pensamento semelhante tem o Rev. Eber Cocareli, apresentador do programa Vejam Só!, da Rede Internacional de Televisão (RIT), o qual destaca o passado de Maria Madalena, marcado pela opressão espiritual. “Era uma vida comprometida com o mal, e Jesus a transformou na principal voz da ressurreição dos mortos — algo improvável”, pondera Cocareli. Ele chama a atenção para outros personagens que surpreendem na narrativa bíblica. “Entre os 12 apóstolos de Cristo, havia os Tiagos (Maior e Menor) e os Judas (Iscariotes e Tadeu). No entanto, as epístolas que levam esses nomes foram escritas pelos irmãos de Jesus, aqueles que O hostilizaram durante Seu ministério e não creram nEle, mas se converteram após a ressurreição. A ironia está no fato de que ex-incrédulos tornaram-se os autores das epístolas, cujos nomes eram compartilhados com discípulos do Mestre”, pontua.

O apresentador acrescenta que esse padrão distinto dos projetos, das decisões e das ações do homem evidencia uma característica marcante da atuação do Criador. “Deus não Se baseia nos recursos humanos, Ele gosta de surpreender. Usa a improbabilidade como instrumento e, muitas vezes, aplica uma fina ironia em Seu plano”, analisa, citando um episódio registrado no Antigo Testamento como um dos exemplos mais extraordinários da lógica divina: Eliseu, o sucessor de Elias. “Passados alguns anos da morte de Eliseu, um soldado morto durante uma batalha foi lançado na cova na qual estavam os ossos do profeta. Porém, quando o corpo do soldado toca nos ossos de Eliseu, o homem ressuscita. Isso mostra como o Senhor tem predileção por agir fora do esperado”, frisa Cocareli, referindo-se à passagem de 2 Reis 13.21.
Valores invertidos – Já o Pr. Vanderlei Duarte Júnior, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Coroa do Meio, na cidade de Aracaju (SE), reforça como a trajetória de Davi representa um dos casos mais emblemáticos de como Deus escolhe aqueles que são desprezados pelo mundo. “Quando o profeta Samuel foi ungir o novo rei de Israel, todos os irmãos de Davi foram apresentados por sua aparência. Porém, Deus deixou claro que o homem vê o exterior, mas Ele olha para o coração”, destaca o líder, mencionando 1 Samuel 16.7 (Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a altura da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o Senhor não vê como vê o homem. Pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração). Duarte Júnior lembra a trajetória do jovem pastor de ovelhas, desprezado até pela família, que se tornou rei, marcando a história de Israel. “Davi superou gigantes, enfrentou governos e venceu as próprias limitações. Isso mostra que o olhar do Senhor não se prende ao que é valorizado pela sociedade.”

O ministro ressalta ainda que Deus continua escolhendo pessoas simples, anônimas e limitadas para grandes propósitos. “Muitas são moradoras de comunidades, sem acesso à educação formal, mas lideram projetos sociais, igrejas e movimentos com impacto global. Essa realidade desarma a arrogância humana e coloca Cristo no centro de tudo”. Para exemplificar, ele cita o pastor batista e ativista político negro Martin Luther King Jr. (1929-1968), nascido no estado da Geórgia durante o período de segregação racial nos Estados Unidos. “Ele se tornou uma das maiores vozes do século 20 na defesa dos direitos humanos. Foi improvável aos olhos da sociedade, mas, com fé, coragem e visão, inspirou multidões e transformou a História.”
Ao mencionar as palavras do apóstolo Paulo dirigidas à igreja de Corinto, registradas em 1 Coríntios 1.27-29 (Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes. E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele), Duarte frisa que a mensagem paulina evidencia o fundamento do Reino dos Céus. “A cruz parecia loucura e fraqueza, mas o poder da salvação se revelou nela”, aponta o pregador, ressaltando que o Senhor não segue o princípio dos privilégios humanos. “Status, riqueza ou posição social não definem valor. O que conta é obediência, humildade e um coração disposto. Deus usa os improváveis para surpreender e manifestar a Sua graça. Aquilo que o mundo despreza Ele pode exaltar e o que a sociedade valoriza, humilhar.”
O Pr. Wagner Escatamburgo, da Assembleia de Deus Ministério Vale das Virtudes em Jardim Trianon, na cidade de Taboão da Serra (SP), esclarece que a Igreja em Corinto era marcada por divisões internas, pela disputa por prestígioe pela influência de valores gregos e romanos. “A sociedade daquela época valorizava sabedoria humana, retórica e posição social. Paulo corrige essa mentalidade, mostrando que o Evangelho subverte esses critérios. Deus escolheu os fracos, os loucos e os desprezados para confundir os sábios e poderosos”, enfatiza o ministro assembleiano.

Seguindo a mesma linha de raciocínio, o Pr. Jamil Ribacki, líder estadual da IIGD no Maranhão, aponta que a igreja é o único lugar onde um analfabeto pode ensinar alguém com diploma universitário. “Isso é possível, porque a autoridade vem da regeneração em Cristo, não é fruto da sabedoria humana”, declara o pastor, salientando que há pessoas que foram libertas das drogas, do crime e da prostituição e, hoje, são instrumentos usados pelo Criador. “Elas recebem revelações profundas do Salvador, muitas vezes, mais do que aqueles com longa caminhada na fé.” [Leia, no final desta reportagem, o quadro Heróis improváveis]

Resgate e restauração – Um exemplo de transformação improvável é a missionária Silvia Regina Ferreira, 68 anos, a qual teve um passado marcado por traumas, violência e criminalidade. Conhecida como a “bruxa da Cracolândia”, ela viveu 14 anos em situação de dependência química e passou 25 anos na prisão – dos 18 aos 43 anos. Sua trajetória de vida foi complicada desde muito cedo. Aos nove anos, após presenciar uma agressão do padrasto contra a mãe dela, Silvia fugiu de casa e passou a viver nas ruas de São Paulo. Nesse período, praticou pequenos furtos e foi recrutada por um homem que a treinou para o crime. Mais tarde, descobriria que ele era seu pai biológico. Saí de um padrasto ruim para encontrar um pai pior, relatou em vídeo divulgado pela Junta de Missões Nacionais (JMN) da Convenção Batista Brasileira (CBB).

Com o tempo, Silvia se tornou líder de uma gangue e se envolveu em diversos assaltos – o que resultou em sua condenação e prisão. Acho que eu era menos que um lixo, declarou ela, ao lembrar-se da fase em que nutria ódio e desesperança. O processo de transformação de Silvia começou quando ela foi abordada por Fernanda Toyonaga, que, na época, tinha apenas 18 anos e atuava como missionária da Missão Batista Cristolândia, em São Paulo (SP). A jovem se aproximou de Silvia para conversar e compartilhar o Evangelho. Depois de alguns anos, já com a vida restaurada e tendo se reconciliado com a família, Silvia concluiu sua formação missionária no Centro Integrado de Educação e Missões (CIEM), no Rio de Janeiro (RJ). Atualmente, dedica-se a compartilhar sua história e anunciar o amor de Deus que a resgatou.

Trajetória semelhante tem o estudante de Teologia Wallace Feliciano, 42 anos, líder de Intercessão do Ministério de Casais e um dos líderes do Ministério de Homens da Primeira Igreja Batista em Jardim Camburi, Vitória (ES). Excluído, marginalizado e desacreditado, havia chegado ao fundo do poço quando foi internado em uma clínica de recuperação. “Eu me sentia desesperado e triste, sob acusação de todos. Até que, em uma noite, fui encontrado por Jesus, que faz novas todas as coisas”, relata Wallace, que há 22 anos está liberto das drogas. “Meu coração enganoso me fazia buscar experiências que me proporcionavam alegrias momentâneas e me conduziam à morte. Em meio ao pecado, encontrei a libertação em Cristo”, recorda-se. Hoje, o estudante faz questão de dizer que vive sob a direção do Mestre. “Sou um dependente químico em recuperação. Apresentar-me assim me faz reconhecer que sou doente, e os doentes precisam de médico”, testemunha, referindo-se às palavras de Jesus registradas em Marcos 2.17: Os sãos não necessitam de médico, mas sim os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores.
Heróis improváveis
Outros quatro personagens do Antigo Testamento também se tornaram heróis improváveis e, por isso, merecem uma citação especial. São eles:
– Calebe: Filho de Jefoné, o quenezeu, ele foi um dos 12 espias enviados para explorar Canaã (Nm 13.6). Destacou-se por sua fé e coragem (Nm 13.30), e, devido à sua obediência e perseverança, ele e Josué
(Nm 14.6-9) foram os únicos da geração que saiu do Egito a entrar na Terra Prometida (Nm 14.30). Aos 85 anos, lembrado por sua fidelidade após 40 anos de peregrinação, recebeu de Josué a posse das montanhas de Hebrom (Js 14.13).
– Eúde: Filho de Gera e juiz da tribo de Benjamim, foi descrito no livro de Juízes como um libertador de
Israel da opressão moabita, a qual durou 18 anos. Conhecido por ser canhoto, elaborou um plano para assassinar o rei moabita Eglom. Após executar seu intento, Eúde fugiu e liderou a vitória de Israel, trazendo, assim, 80 anos de paz à terra (Jz 3.15-30). A história desse servo mostra como Deus pode usar pessoas aparentemente fracas para cumprir Seus propósitos.
– A escrava da esposa de Naamã:Uma menina israelita, capturada e feita escrava da esposa de Naamã – o chefe do exército do rei da Síria e inimigo dos israelitas. Ao saber que o general sírio
havia contraído lepra, contou à sua senhora sobre o profeta Eliseu: Tomara que o meu senhor estivesse diante do profeta que está em Samaria; ele o restauraria da sua lepra(2 Rs 5.3). Após enviar uma carta ao rei de Israel, Naamã visitou Eliseu e foi curado daquela terrível doença (2 Rs 5.7-14).
– Amós: Pastor e colhedor de figos silvestres da cidade de Tecoa, um vilarejo ao Sul de Jerusalém, era um homem do campo, sem instrução especial. Não vinha de família importante nem se considerava um profeta (Am 7.14,15). Chamado por Deus para proclamar a Sua mensagem ao povo de Israel, foi corajoso ao denunciar a opressão, a idolatria e a hipocrisia religiosa e chamar o povo ao arrependimento e à justiça.
(*Colaborou Cleber Nadalutti com informações do teólogo Rodrigo Guerra, BibliaOn e Bíblia Sagrada)


