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Foto: Pexels / Cliford Mervil

Virtual ou real

Pesquisa mostra que boa parte dos brasileiros se sente solitária, apesar das interações que mantém nas redes sociais

Por Ana Cleide Pacheco

Uma pesquisa da Universidade de Harvard evidenciou que a saúde física e mental de qualquer indivíduo é grandemente influenciada pela qualidade das interações sociais que ele mantém ao longo da vida. O povo brasileiro, no entanto, está seguindo na contramão dessa tendência. Embora sejam conhecidos pelo comportamento amigável e alegre, um levantamento nacional realizado pelo Instituto Locomotiva revela que os brasileiros estão se sentindo muito solitários: 25% dos entrevistados não se sentem próximos de qualquer pessoa, independentemente de terem ou não incontáveis “amigos” nas redes sociais. Além disso, boa parte dos participantes (71%) declarou estar insatisfeita com as amizades restritas ao ambiente virtual e preferir o contato real.

A analista de neurociências do Instituto Locomotiva, Brenda Miura Lunardi, alerta: “O ambiente digital, com sua troca acelerada de informações e mudanças constantes de tópicos, muitas vezes, obstrui a formação de relações genuínas”
Foto: Arquivo pessoal

A pesquisa mostra também que, de maneira geral, os brasileiros são tímidos e se sentem mal falando com estranhos, o que dificulta ainda mais a ampliação de sua rede de conexões. O estudo, A Experiência Interpessoal dos Brasileiros, ouviu 1.682 pessoas com idades de 18 a 77 anos, partindo da informação de que o Brasil possui a população com maior prevalência de transtornos de ansiedade do mundo – aproximadamente, 9%, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). 

A analista de neurociências do Instituto Locomotiva, Brenda Miura Lunardi, 29 anos, acredita que, por si só, as mídias sociais não são prejudiciais às amizades. Segundo ela, em razão do potencial de expansão da rede de amigos, esses aplicativos, na verdade, até ajudam as pessoas a se manterem informadas e engajadas em assuntos do próprio interesse. Porém, na opinião da especialista, um dos desafios no uso frequente das redes sociais reside justamente na criação de conexões saudáveis, profundas e duradouras. “O ambiente digital, com sua troca acelerada de informações e mudanças constantes de tópicos, muitas vezes, obstrui a formação de relações genuínas.”

De acordo com a confeiteira Ana Paula Lima de Souza Caldas “quando a interação presencial é uma realidade, os indivíduos passam a se conhecer melhor, escutar a si mesmos e falar uns com os outros sem filtros ou corretores, olhando nos olhos e fazendo com que os sentimentos sejam externados”
Foto: Arquivo pessoal

Brenda Lunardi lembra que manter tantas conexões virtuais pode até resultar em uma sensação de distanciamento, inclusive entre pessoas que se conhecem bem. “Essa sensação de isolamento e a falta de significado em interações virtuais são fatores associados a uma menor satisfação com essas conexões a distância, quando comparadas com interações presenciais”, explica a analista, asseverando que os contatos via web não são essencialmente nocivos.

Melhor qualidade – Especialistas no assunto afirmam que a impessoalidade, a falta de feedback verbal imediato e as normas culturais do ambiente digital influenciam o comportamento das pessoas durante as interações pela internet. Eles lembram também que a possibilidade de editar, aprimorar ou até mesmo apagar mensagens na comunicação on-line pode afetar o comportamento dos usuários, diminuindo a percepção deles acerca das consequências de suas ações no espaço virtual. Por isso, esses indivíduos tendem a buscar interações mais audaciosas ou desinibidas se comparadas com aquelas que teriam pessoalmente.

A pedagoga Soelma Diniz Pereira Adegas lembra: “Temos vários exemplos de como o indivíduo se sente mais à vontade para opinar, criticar e até ofender por meio de aplicativos”
Foto: Arquivo pessoal

De acordo com a confeiteira Ana Paula Lima de Souza Caldas, 42 anos, as novas relações no meio digital têm outras implicações. “As pessoas estão perdendo a identidade por ficarem se comparando com outras. Penso que, por concentrarem esforços para se encaixar em padrões, muitas acabam se frustrando e deixando de lado a singularidade. Isso faz com que seus relacionamentos sejam frágeis e distantes, mesmo quando dão a impressão de muita intimidade.” Membro da Igreja da Lagoinha em Niterói (RJ), ela ressalta a importância do convívio fora das redes sociais. “Acredito que, quando a interação presencial é uma realidade, os indivíduos passam a se conhecer melhor, escutar a si mesmos e falar uns com os outros sem filtros ou corretores, olhando nos olhos e fazendo com que os sentimentos sejam externados”, reflete Caldas, assinalando que outra característica da interação física é a linguagem corporal. “Não ignoro os relacionamentos construídos em redes sociais, mas creio que a presença é mais significativa para a construção de relações sólidas.”

A modelista e costureira Selma Souza de Jesus reflete: “Deus criou o homem para que este se relacionasse com Ele e cuidasse de tudo o que havia criado. Por isso, devemos cultivar boas amizades, tendo ao nosso lado pessoas que nos aceitam como somos”
Foto: Arquivo pessoal

Por sua vez, a pedagoga Soelma Diniz Pereira Adegas, 53 anos, aponta que, embora existam diferenças entre relacionamentos presenciais e virtuais, não é possível garantir a qualidade deles. Para ela, uma rede ampla de interações cara a cara pode proporcionar algum tipo de satisfação e bem-estar, mas nem sempre afasta sentimentos negativos, como inadequação e tristeza. Em contrapartida, Soelma destaca que é inegável que existe uma grande diferença entre os bate-papos virtuais e as conversas presenciais. “Temos vários exemplos de como o indivíduo se sente mais à vontade para opinar, criticar e até ofender por meio de aplicativos.” De acordo com a educadora, nada substitui um momento de conversa olho no olho, mas é importante avaliar sempre o tipo de vínculo existente entre os interlocutores, a faixa etária e a situação socioeconômica e social. “Todos esses fatores impactam na interação e na modalidade da conversa”, pontua.

A arquiteta e urbanista Fernanda Quintanilha Bezerra destaca a importância da segurança oferecida pelas boas e verdadeiras amizades, as quais contribuem para o crescimento pessoal de todos os envolvidos
Foto: Arquivo pessoal

Boas amizades – Na opinião da modelista e costureira Selma Souza de Jesus, 43 anos, obreira da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Vargem Pequena (RJ), ter amigos de confiança, que respeitam os devidos limites, é um privilégio, pois eles transmitem tranquilidade e segurança e são um bem muito precioso. “Deus criou o homem para que este se relacionasse com Ele e cuidasse de tudo o que havia criado. Por isso, devemos cultivar boas amizades, tendo ao nosso lado pessoas que nos aceitam como somos.”

Já a arquiteta e urbanista Fernanda Quintanilha Bezerra, 26 anos, membro da Primeira Igreja Batista de Niterói (RJ), destaca a importância da segurança oferecida pelas boas e verdadeiras amizades, as quais contribuem para o crescimento pessoal de todos os envolvidos. Ela opina, entretanto, que devemos estar atentos àqueles coleguismos caóticos, que geram dúvidas, desgastam emocional e fisicamente e costumam comprometer a evolução pessoal de ambas as partes. “Mesmo não sendo perfeita e sem conflitos, uma boa amizade contribui para o descanso necessário das nossas mentes e emoções em meio a tantas demandas”, assevera Fernanda, que está entre os que acreditam que a interação face a face será sempre mais benéfica que a virtual. “É assim que interagíamos antes mesmo dos meios de comunicação existirem, e é como conseguimos perceber, de fato, o próximo. Nesse momento, nossos sentidos são estimulados, e há a troca mútua, que nos faz bem.”

O Pr. Vanderlei Duarte lembra: “A Bíblia nos dá muitos exemplos de amizades saudáveis. Porém, uma interação tóxica é ruim para a saúde física, o equilíbrio emocional e até mesmo para a vida espiritual”
Foto: Arquivo pessoal

Fernanda Bezerra não menospreza a importância da comunicação que ocorre por smartphones, computadores ou mídias impressas – uma revista ou um livro, por exemplo. No caso dos meios eletrônicos, a arquiteta ressalta que eles encurtam distâncias, facilitam a vida e abrem um leque enorme de possibilidades. “Seja para ampliar nossa rede de contatos e de conhecimento, seja para manter um vínculo com o que está distante fisicamente, são ferramentas que nos ajudam e nos tiram do isolamento. Porém, acredito que esses meios são secundários justamente por não promoverem a experiência completa e necessária à saúde do ser humano.”

Mesma fé – De acordo com o Pr. Vanderlei Duarte, auxiliar na sede estadual da Igreja da Graça em Sergipe, a manutenção de interações saudáveis é uma orientação amplamente disseminada pelas Escrituras Sagradas, como registrado no Salmo 133.1: Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união!, e em Provérbios 18.24: há amigo mais chegado do que um irmão. O pastor também destaca a amizade e proximidade entre vários personagens bíblicos, como Pedro e João, que subiam juntos ao templo, na hora nona, para orar (At 3.1). “A Bíblia nos dá muitos exemplos de amizades saudáveis. Porém, uma interação tóxica é ruim para a saúde física, o equilíbrio emocional e até mesmo para a vida espiritual.”

Foto: Jeff Bergen – peopleimages / Adobe Stock

Na opinião do ministro, o segredo para o cristão manter bons convívios e amizades duradouras é, em primeiro lugar, ter compromisso com o Senhor, uma vez que o maior de todos os mandamentos, amar a Deus,está diretamente atrelado a amar o próximo como a si mesmo (Mt 22.37-39). “Em segundo lugar, precisamos entender a necessidade de influenciar, com a Palavra, o ambiente em que estamos”. Duarte  salienta, em terceiro lugar, a importância de dar provas reais de amizade. “Não adianta a pessoa reclamar que não tem amigos se ela mesma não é amiga.”

O pregador aponta também o papel desempenhado pelas igrejas na construção de amizades verdadeiras e saudáveis, a partir da comunhão entre pessoas que professam a mesma crença e possuem os mesmos valores. [Leia, ao lado, o quadro Encontre sua comunidade]. “As igrejas têm um papel importantíssimo no desenvolvimento interpessoal, pois geram amizade, interatividade e comunhão. A Bíblia diz: Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles (Mt 18.20). Assim, para que possamos, realmente, viver na plenitude da Palavra, precisamos estar juntos”, assevera Vanderlei Duarte, deixando claro que há uma solução capaz de resolver os problemas de solidão do brasileiro: o Evangelho. Anunciado de Norte a Sul do país, ele é o remédio capaz de mudar a vida de todos os seres humanos – solitários ou não.

Encontre sua comunidade

Em artigo publicado na revista Forbes, o especialista em saúde mental Mark Travers explica que fazer novas amizades na vida adulta pode ser, de fato, algo desafiador. De acordo com ele, é fundamental, em primeiro lugar, que o solitário tome a iniciativa de mudar esse quadro. Encontrar uma pessoa com quem você se conecta profundamente é raro, mas não impossível. Segundo Mark, esse processo se torna mais fácil se o indivíduo buscar se inserir em um grupo ou em uma comunidade. Esperar que a amizade chegue até você pode ser um processo longo e solitário. Em vez disso, usar sua energia e canalizá-la em pequenas iniciativas, como se apresentar aos vizinhos, aparecer em sua igreja local ou centro comunitário […] pode ser muito mais frutífero e gratificante. Travers afirma que a ideia é encontrar pessoas com quem seja possível partilhar gostos e valores, em lugares onde as interações sociais sejam estimuladas, como é o caso das igrejas cristãs. Unir-se a uma atividade compartilhada pode ser uma porta de entrada para amizades profundas e duradouras, garante o autor. (Fonte: Forbes)

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