Falando de História | Revista Graça/Show da Fé
Família – 261
01/04/2021
Carta do Pastor à ovelha – 263
01/06/2021
Família – 261
01/04/2021
Carta do Pastor à ovelha – 263
01/06/2021
Foto: Reprodução
Abraão de Almeida

As cruzadas e a Palestina

Na edição passada, falamos sobre o Império Romano, os árabes e a Terra Santa. Agora, teceremos discussão acerca das cruzadas e a Palestina.

Após o ano de 1078, data da tomada de Jerusalém pelos turcos, todos os peregrinos europeus que conseguiam voltar à sua pátria narravam, com lágrimas, as terríveis desgraças dos cristãos orientais, sujeitos a perseguições por parte de um povo selvagem e cruel.

Foi nesse triste estado de coisas que um homem chamado Pedro, o Eremita (1050-1115), começou a se movimentar pela libertação da Palestina. Depois de visitar Jerusalém e chorar amargamente os males dessa cidade aos pés do Santo Sepulcro, Pedro conferenciou longamente com o Papa Urbano II, e este tomou sobre si a responsabilidade de convocar um concílio em que o assunto pudesse ser oficialmente tratado.

A primeira cruzada – O grande concílio se reuniu na cidade de Clermont, na França, no mês de novembro de 1095, e contou com a presença das principais autoridades eclesiásticas e civis de quase toda a Europa. Até a Igreja Oriental se fez presente, com representantes de Jerusalém e outras cidades cristãs.

Em seguida, Urbano entregou a palavra a Pedro, e este, vestido de sua conhecida capa preta e com lágrimas nos olhos, narrou a tragédia dos cristãos orientais. O sucesso do eremita sobrepujou as mais otimistas expectativas, pois, após suas palavras, Urbano conseguiu arrebatar a multidão pelo discurso e pela apresentação da cruz, que viria a se tornar o símbolo do movimento daquela guerra santa, sendo estampada em estandartes, nas armas, nos ombros e no peito de cada cruzado.

O Papa Urbano II no Concílio de Clermont, França: o encontro aconteceu em novembro de 1095 – Foto: Reprodução

A notícia da guerra santa se espalhou rapidamente por toda a França e pelos países vizinhos. Em todas as dioceses e paróquias, os bispos e os padres não cessavam de benzer cruzes para os fiéis que prometiam libertar Jerusalém. Durante todo o inverno, trabalhou-se exclusivamente nos preparativos para a grande viagem marcada para a primavera de 1096. Em sua obra História das cruzadas (Editora das Américas, pp. 90 e 91), o historiador francês Joseph François Michaud descreve a cena: A multidão dos cruzados oferecia uma mistura bizarra e confusa de todas as condições de todas as classes: havia mulheres armadas no meio dos terreiros; e a prostituição e as alegrias profanas apareciam no meio das autoridades da penitência e da piedade. Via-se a velhice ao lado da adolescência, a opulência ao lado da miséria; o capacete confundia-se com o capuchinho, a mitra com a espada, o senhor com o servo, o patrão com os empregados. […] Só se viam grupos de homens marcados com a cruz, jurando exterminar os sarracenos e, antecipadamente, celebrando suas conquistas. De todos os lados ressoava o grito de guerra dos cruzados: “Deus o quer! Deus o quer!”.

Pedro, o Eremita (1050-1115), estátua que fica nos fundos da catedral de Amiens, França, de autoria de Gédéon de Forceville (1854) – Foto: Vassil / Wikimedia

As outras cruzadas – A primeira leva a partir para o Império Bizantino foi a de Pedro, o Eremita, e era composta por aventureiros e fanáticos que, durante a viagem, massacraram os judeus de Metz (França) e da Suábia, da Baviera e da Boêmia, todas na atual Alemanha. A cruzada se desenvolveu em meio à anarquia geral: Pedro, sem autoridade para evitar as brigas internas e as devastações, viu seus companheiros quase totalmente mortos pelos turcos.

Na cruzada dos barões, um dos exércitos, comandado por Godofredo de Bulhão (1060-1100) e seu irmão Balduíno I, conseguiu chegar a Jerusalém em junho de 1099, mas, na Cidade Santa, encontraram uma oposição acirrada, comandada pelos fatímidas xiitas, que, no ano anterior, haviam tomado a cidade aos turcos sunitas. Mesmo assim, os cruzados entraram em Jerusalém em 15 de julho, quando promoveram massacres e devastações pelas ruas da cidade.

Todavia, a partir de 1130, Zengui (1087-1146), atabegue de Mossul e Alepo, e seu filho Nuredin, iniciaram a união dos muçulmanos sírios para uma contracruzada. Como primeiro resultado, tomaram o condado autônomo de Edessa em 1144. Esse revés levou à segunda cruzada (1147-1149), organizada com o objetivo de recuperar o território perdido, mas que resultou em um completo fracasso.

Representação pictórica da quarta cruzada: na imagem, os cruzados entrando na cidade de Constantinopla, em 1203 – Foto: Reprodução

A terceira cruzada (1189-1192) – pregada pelo Papa Gregório VIII (1108-1187) e organizada por Clemente III (1130-1191) – foi motivada pela tomada de Jerusalém por Saladino em 1187. Ficou conhecida como “a cruzada dos reis” por ter sido liderada pelo rei Ricardo I, Coração de Leão da Inglaterra (1157-1199), por Felipe II da França (1165-1223) e pelo imperador romano-germânico Frederico I (1122-1190), também chamado de Barba Ruiva.

A política bizantina, muito hostil em relação aos latinos, motivou a quarta cruzada (1202-1204). Os cruzados e os venezianos tomaram Constantinopla em 1204.

Em 1218, o Papa Honório III (1150-1227) reuniu a quinta cruzada. Inicialmente comandada por João I de Brienne (1170-1237), rei titular de Jerusalém, essa cruzada nada mais conseguiu senão a recuperação da santa cruz, que havia sido capturada por Saladino em 1187.

Em 1228, Frederico II de Hohenstauffen (1194-1250) lançou a sexta cruzada, que terminou em 1229 por meio do tratado de Jafa, com o qual obteve o controle de Jerusalém, Belém, Nazaré, Sidon e outros lugares, e dez anos de paz.

Finalmente, ocorreram as duas últimas cruzadas, lideradas pelo rei Luís IX (1214-1270) da França, que resultaram em um completo fracasso. Na sua primeira expedição, que objetivava a captura de Damietta, no Egito, o rei foi capturado em 1250 e, mais tarde, foi resgatado em troca de grande soma em dinheiro, emprestada pelos italianos; na segunda, durante o cerco de Túnis (na Tunísia), em 1270, Luís IX morreu, e seu exército, desolado, voltou à França.

Abraão de Almeida
Pastor da Igreja Evangélica Brasileira em Coconut Creek, Flórida, EUA, e autor de mais de 30 livros em português e espanhol. E-mail: abraaodealmeida7@gmail.com

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *