Falando de História | Revista Graça/Show da Fé
Heróis da Fé | David Brainerd
05/12/2022
Palavra dos Patrocinadores – 281
30/12/2022
Heróis da Fé | David Brainerd
05/12/2022
Palavra dos Patrocinadores – 281
30/12/2022
O Dia do Massacre de São Bartolomeu, óleo sobre tela de François Dubois (1529-1584)
Foto: Musée Cantonal des Beaux-Arts / Wikimedia
Abraão de Almeida

Martírio de protestantes na França (parte 2): as consequências

Na edição anterior, falamos do massacre de São Bartolomeu (1572), o martírio de protestantes na França. Neste mês, trataremos das consequências daquele evento.

O peso da mão de Deus – Os líderes da matança ocorrida em São Bartolomeu ficaram impunes. Eles haviam recebido autorização do rei e cumpriram o desejo da Igreja Romana. No entanto, uma solene recompensa aguardava os autores desse crime. Os envolvidos tiveram um fim violento, exceto Carlos IX (1550-1574), que, arrependido de ter concedido permissão para a carnificina, viveu de modo precário até 30 de maio de 1574, desconfiando de todos, principalmente de sua mãe e de seu irmão. O remorso  lhe rendeu horrendas visões, e ele foi acometido de uma estranha enfermidade que o fazia suar sangue.

O Duque de Guise foi assassinado, e seu irmão, o Cardeal de Lorraine, morreu com perturbações mentais e furioso. Catarina de Médici (1519-1589), embora tenha chegado a uma idade avançada, foi encarcerada pelo filho favorito, e seu nome se tornou sinônimo de deslealdade e crueldade. O assassinato do Duque de Guise, ocorrido em 23 de dezembro de 1588, foi ordenado pelo Duque de Anjou, irmão de Carlos IX, que reinou na França com o nome de Henrique III (1551-1589). No ano seguinte, esse monarca teve o mesmo fim: foi morto pelo frade dominicano Santiago Clemente. Ao tomar conhecimento da mortandade dos huguenotes, o Papa Gregório XIII (1502-1585) manifestou sua satisfação cantando uma solene Te Deum [cântico católico romano que exalta Deus], e mandando cunhar uma medalha comemorativa.

O Edito de Nantes – Henrique de Navarra (1553-1610), chefe dos huguenotes, filho e neto de duas santas mulheres, Joana Dálbert e Margarida Angloulême, subiu ao trono francês com o nome de Henrique IV, tendo antes renunciado ao protestantismo e se convertido ao catolicismo por temer a oposição da Igreja Romana. Seu reinado promoveu a paz entre os dois partidos religiosos, tornando célebre o Edito de Nantes, assinado em Versalhes em 1598. Insatisfeitos com a situação, alguns católicos fundamentalistas conspiraram contra o rei, que, no dia 14 de março de 1610, foi assassinado friamente por François Ravaillac (1577-1610). Tempos depois, o criminoso foi condenado e morto por desmembramento.

Por ocasião do Edito de Nantes, naquela época, havia cerca de 1,5 milhão de huguenotes na França, os quais passaram a desfrutar da liberdade de consciência, podendo realizar cultos públicos em diversos lugares. Eles exerciam plenos direitos civis e governavam grande número de cidades. Eram profissionais liberais, principalmente no âmbito das indústrias.

Contudo, a era áurea de Luís XIV (1638-1715) influenciaria os terríveis sofrimentos infligidos aos protestantes franceses. Entre 1598 e 1659, o governo tirou deles o controle das cidades, mas lhes permitiu continuar com a liberdade religiosa. Apesar das restrições, o protestantismo cresceu a ponto de influir nas grandes decisões nacionais. As igrejas tinham obreiros bons e bem preparados, líderes de projeção, destacados comerciantes e industriais. No entanto, insatisfeito com esse cenário, o clero católico romano pressionou o governo a combater os protestantes. Então, em 1659, as autoridades civis iniciaram um ataque maciço aos huguenotes. As medidas incluíram suspensão total dos direitos civis desse grupo e perseguição em larga escala, a fim de obrigar os adeptos a professar a fé católica. A partir de 1681, Luís XIV fez de tudo para eliminar o protestantismo e, quatro anos depois, conseguiu revogar o Edito de Nantes.

As consequências para a França – As perseguições acarretaram irreparável perda para a França, pois milhares dos seus cidadãos foram mortos, e inúmeros outros submetidos a torturas. Cerca de 400 mil huguenotes fugiram de sua pátria, provocando um desastre econômico e moral nessa nação. Alguns foram para a Suíça, onde implantaram a indústria relojoeira; outros, para a Alemanha, Inglaterra, Holanda e América, territórios nos quais iniciaram as estradas de ferro, tapeçarias, entre outras realizações. Enquanto essas nações prosperavam rapidamente, a França empobrecia.

Durante cerca de 80 anos, a partir de 1685, os huguenotes suportaram, com heroísmo, intensas perseguições. Foram cometidas atrocidades contra os crentes, que tinham suas casas invadidas e saqueadas pelos soldados armados do rei. A opressão acabou vencendo os huguenotes, destruindo os seus templos, fechando suas escolas, obrigando as crianças a se batizarem segundo o catolicismo e praticarem os ritos romanos.

A liberdade religiosa na França só retornaria a partir de 1789, com a Revolução Francesa (1789-1799). Ironicamente, a Igreja Romana – principal inspiradora da matança de São Bartolomeu – não pôde se orgulhar de ter banido o protestantismo do território francês, pois ela mesma perdeu muito de sua autoridade e influência nesse país.

Abraão de Almeida
Pastor da Igreja Evangélica Brasileira em Coconut Creek, Flórida, EUA, e autor de mais de 30 livros em português e espanhol. E-mail: abraaodealmeida7@gmail.com

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *