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Foto: Michael Rivera / Unsplash

A favor da natureza

A maioria dos evangélicos brasileiros considera pecado destruir o meio ambiente

Por Patrícia Scott

Do SENHOR é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam. Porque ele a fundou sobre os mares e a firmou sobre os rios (Sl 24.1,2). Essa conhecida passagem bíblica mostra que Deus é o Criador do Universo e tudo o que existe Lhe pertence. Portanto, causar danos à obra de Suas mãos é um grave erro para 85% dos evangélicos brasileiros, segundo sondagem realizada pela agência de comunicação e consultoria Purpose, com sede em São Paulo (SP). No levantamento, foram ouvidas duas mil pessoas em todo o Brasil, as quais se declararam protestantes históricos, pentecostais ou neopentecostais, de 24 de agosto a 4 de setembro de 2020.

Foi explicitado que 82% concordaram que um crime contra a natureza é pecado contra Deus, 84% falaram que destruí-la é um pecado grave, 67% dos entrevistados disseram ser importante a preservação ambiental, e 77% manifestaram o desejo de que sua igreja apoiasse ações em defesa do meio ambiente. “No alicerce da Palavra, pela ação do Espírito Santo, que nos convence do pecado, da justiça e do juízo, compreendemos que devastar a natureza é atacar o próprio Deus em Sua natureza divina e criadora”, opina o Pr. Nilson Gomes, do movimento Coalizão Evangélicos pelo Clima, que congrega cristãos de diversas denominações.

O Pr. Nilson Gomes, do movimento Coalizão Evangélicos pelo Clima: “É essencial incluir esse assunto nas escolas bíblicas e nas reuniões de estudo da Palavra” Foto: Arquivo pessoal

Para o Pr. Gomes, a maneira como o cristão convive com a natureza – a qual reflete a glória do Senhor – revela o tipo de comunhão que mantém com o Altíssimo. “Em Gênesis 2.15, o grande imperativo do Deus criador à humanidade é para que cultive e guarde a terra”, enfatiza, acrescentando que o Senhor criou cada coisa com um propósito, e a iniquidade do homem tem acabado com aquilo que o Pai fez e viu que era bom. “É essencial incluir esse assunto nas escolas bíblicas e nas reuniões de estudo da Palavra”, opina o pregador, salientando que as lideranças devem ensinar os membros acerca da preservação ambiental como critério ético e bíblico indispensável na escolha de candidatos nas eleições brasileiras.

Educação ambiental – Os crescentes e violentos golpes contra o meio ambiente preocupam pelas possíveis consequências nefastas. “O aquecimento global é um dos pontos mais discutidos atualmente”, destaca o geólogo Marcos Natal, diretor do Instituto de Pesquisa em Geociência (GRI, a sigla em inglês) e presidente da Sociedade Criacionista Brasileira. Ele lembra que o Senhor é mantenedor de todas as formas de vida e dos ambientes que lhe dão sustentação. “Ao contrário do que pregam as religiões pagãs, que reverenciam tanto o mundo animado como o inanimado, a Terra e tudo o que nela está não são divinos, e sim pertencem a Deus, que reina soberano sobre Sua criação.” Natal sugere que, para promover a preservação da natureza, a sociedade organize programas de reciclagem, promova projetos comunitários que tratam de tópicos ambientais e ensine a todos a respeito do uso racional dos recursos naturais.

O geólogo Marcos Natal, presidente da Sociedade Criacionista Brasileira: “O aquecimento global é um dos pontos mais discutidos atualmente” Foto: Arquivo pessoal

No entanto, para tais projetos frutificarem, é urgente que as pessoas se enxerguem como parte da natureza, e não como um elemento à parte. É o que pensa o biólogo André Luiz Oliveira, especialista em Conservação Natural e Manejo de Fauna Silvestre: “A educação ambiental precisa acontecer para que a população cuide do ‘eu coletivo’. Achar que, se estou fora de casa, nada me pertence é uma forma de pensar que deve ser transformada. É necessário termos visão de coletividade”. Segundo ele, o planeta é como um ser vivo, um todo; logo, o que se faz em determinada região será sentido em outras. “É fundamental ter essa consciência”, alerta André Luiz, acrescentando ser significativo trabalhar questões do meio ambiente nas mais diversas disciplinas das escolas.

Rebelião contra Deus Gênesis 2.15 registra que Adão e Eva foram colocados no Jardim do Éden para cuidar dele. O princípio expresso no texto encontra paralelo com a parábola do servo vigilante (Lc 12.35-48) e no conceito neotestamentário de mordomia, ou seja, de serviço. Como herdeiros do primeiro casal, todo ser humano é, portanto, mordomo da criação e deve estar ciente de sua responsabilidade por aquilo que é obra das mãos do próprio Deus. [Leia, na página anterior, o quadro Cuidados no dia a dia]

O biólogo André Luiz Oliveira: “A educação ambiental precisa acontecer para que a população cuide do ‘eu coletivo’. Achar que, se estou fora de casa, nada me pertence é uma forma de pensar que deve ser transformada. É necessário termos visão de coletividade” Foto: Arquivo pessoal

Ser mordomo da criação significa zelar pela preservação das coisas que a Ele pertencem, tendo o privilégio de desfrutar delas e, ao mesmo tempo, honrar o nome do Altíssimo. Tanto agredir quanto negligenciar a natureza são atos de rebelião contra Deus, são pecados”, defende o Pr. Timóteo Carriker, teólogo e membro da campanha Renovar Nosso Mundo, um movimento global de cristãos engajados na preservação ambiental.

Cuidados no dia a dia

  • Não corte ou pode árvores sem autorização.
  • Preserve a vegetação nativa. Não desmate! Não coloque fogo!
  • Não altere cursos d’água. São protegidos por lei. Poços artesianos somente devem ser abertos com autorização das autoridades competentes.
  • Não compre nem tenha animal silvestre em casa.
  • Não maltrate animais silvestres ou domésticos.
  • Separe o lixo em casa, e coloque na rua no dia da coleta seletiva em seu bairro.
  • Não desperdice água ou energia elétrica.
  • Não jogue lixo no chão.
  • Recicle ou reaproveite tudo o que puder.
  • Mantenha seu veículo regulado e ande mais a pé.
  • Não contribua com a poluição sonora e/ou visual.
  • Não jogue óleos lubrificantes na sua rede de esgoto.
  • Ensine às crianças amor e respeito pela natureza.
  • Evite jogar materiais não degradáveis (plásticos ou outros) no ambiente.
    (Fonte: Instituto Federal Catarinense)

Carriker explica que o propósito do Senhor em separar um povo para Si sempre foi de “participarmos da Sua missão”. Ele observa que Jesus tem uma função redentora e reconciliadora com a criação, expressa em versículos, como Efésios 1.10 (De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra). “Então, todo cristão e toda igreja, por vocação bíblica, devem estar engajados nessa questão, pessoal e coletivamente”, assevera. Para ele, da mesma forma, a Igreja precisa ser exemplo de um estilo de vida socioambiental que valoriza a vida, a justiça e a compaixão, “as principais características de Deus a quem representamos”. [Leia, no final desta reportagem, o quadro Preservação e redenção]

Pr. Timóteo Carriker, teólogo e membro da campanha Renovar Nosso Mundo: “Tanto agredir quanto negligenciar a natureza são atos de rebelião contra Deus, são pecados” Foto: Arquivo pessoal

Tripé da sustentabilidade” A jovem Amanda da Cruz Costa, mobilizadora da Youth Climate Leaders, instituição internacional de educação climática, entende ser relevante a Igreja se voltar mais para os temas ambientais. “Recebemos a ordem do Senhor para governar[Gn 1.26]. Isso passa pelo campo social,ambiental e econômico. A Igreja, ao desenvolver esse tripé da sustentabilidade, expressará o amor como fonte primária de transformação.”

No Antigo Testamento, um de seus principais personagens, Abraão, enviado para uma terra que não conhecia a fim de se tornar pai de uma grande nação, preocupou-se com as gerações futuras, como se lê em Gênesis 21.33: E plantou um bosque em Berseba e invocou lá o nome do SENHOR, Deus eterno. Por que uma pessoa de idade tão avançada haveria de se preocupar em plantar um bosque, se, provavelmente, não comeria do fruto daquelas árvores, nem aproveitaria as suas sombras para descansar? Certamente, fez isso por aqueles que viriam depois.

A jovem Amanda da Cruz Costa, mobilizadora da Youth Climate Leaders: “A Igreja, ao desenvolver esse tripé da sustentabilidade, expressará o amor como fonte primária de transformação” Foto: Arquivo pessoal

Inspiradas pelo exemplo abraâmico, algumas igrejas desenvolveram materiais bíblico-educacionais para gerar a conscientização socioambiental entre seus membros. É o caso da Igreja Metodista do Brasil, que elaborou a cartilha Ser cristão é ser sustentável. “Nela, há sugestões de ações práticas, com base bíblica e teológica, a respeito da necessidade de as igrejas cuidarem do ambiente onde estão inseridas”, ressalta o Pr. Renato Saidel Coelho, que participou do trabalho.

O Pr. Renato Saidel Coelho, que trabalhou na elaboração da cartilha Ser cristão é ser sustentável, da Igreja Metodista do Brasil: “sugestões de ações práticas, com base bíblica e teológica” Foto: Reprodução / YouTube

Ao ser indagado sobre a investigação apresentada no início desta reportagem, o líder discordou dos resultados tabulados. Em sua opinião, falta aos cristãos brasileiros o nível de consciência ambiental considerável nos dias de hoje. E foi além: “Pecamos. E oro para o Espírito Santo nos convencer do nosso pecado. Assim, iniciaremos nossa busca de santidade nessa área”.

Preservação e redenção

Foto: Juan Davila / Unsplash

No Antigo Testamento, algumas mensagens bíblicas expressam a relevância da preservação ambiental, deixando clara a relação de respeito que deve existir entre o ser humano e a natureza:

  • E tomou o SENHOR Deus o homem e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar (Gn 2.15).
  • Também seis anos semearás tua terra e recolherás os seus frutos; mas, ao sétimo, a soltarás e deixarás descansar, para que possam comer os pobres do teu povo, e do sobejo comam os animais do campo. Assim farás com a tua vinha e com o teu olival (Êx 23.10,11).
  • Quando sitiares uma cidade por muitos dias, pelejando contra ela para a tomar, não destruirás o seu arvoredo, metendo nele o machado, porque dele comerás; pelo que o não cortarás (pois o arvoredo do campo é o mantimento do homem), para que sirva de tranqueira diante de ti (Dt 20.19).
  • Quando encontrares algum ninho de ave no caminho, em alguma árvore ou no chão, com passarinhos, ou ovos, e a mãe posta sobre os passarinhos ou sobre os ovos, não tomarás a mãe com os filhos (Dt 22.6).
  • Não semearás a tua vinha de diferentes espécies de semente, para que se não profane o fruto da semente que semeares e a novidade da vinha (Dt 22.9).

No Novo Testamento, surge a noção de que o plano de redenção divino, expresso por meio do sacrifício de Cristo na cruz, alcança não apenas o ser humano, isoladamente, mas também tem uma dimensão mais ampla manifestando-se sobre o restante da criação:

  • Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus (Rm 8.19).
  • De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra (Ef 1.10).
  • Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus (Cl 1.19,20).

(Fonte: Bíblia Sagrada)


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