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Foto: Sondem / Adobe Stock

Sem direção

Pesquisa mostra que boa parte dos adolescentes cristãos não lê a Bíblia

Por Patrícia Scott

É consenso entre os especialistas de que o fim da adolescência e o início da vida adulta representam uma fase bastante difícil. Isso porque o indivíduo se sente mais independente, no entanto, não possui experiência suficiente para lidar com todos os desafios que estão diante dele. Trata-se de uma etapa de descobertas e de tomada de decisões importantes.

Para descobrir o que pensam esses jovens, a OneHope, organização cristã norte-americana sediada em Pompano Beach (Flórida), decidiu investigar o que a geração Z (de nascidos de 1995 a 2010) pensa a respeito de diversos assuntos, inclusive da religião. O levantamento Global Youth Culture (Cultura Jovem Global, em tradução livre) ouviu mais de 8 mil adolescentes com idades de 13 a 19 anos em mais de 20 países ao redor do globo.

O Pr. Fábio Dalliw assegura que ser cristão é imitar Jesus: “Por isso, se não houver compromisso e obediência à Palavra, o jovem será apenas um religioso”
Foto: Arquivo pessoal

Entre os entrevistados, 43% relataram ser cristãos, 23% afirmaram ser adeptos de outra religião e 34% disseram não ter qualquer filiação religiosa. Apesar de a maioria dos respondentes ter se identificado como cristã, apenas 7% se declararam comprometidos com a fé que professam. Um dos critérios estabelecidos pelos pesquisadores para definir o que é ser um cristão comprometido era a frequência de leitura da Palavra de Deus. Mais de um terço dos participantes cristãos (40%) afirmou que nunca lê a Bíblia, e apenas 25% dos crentes declararam ler as Sagradas Escrituras pelo menos uma vez por semana. Os especialistas relataram que, entre os motivos apontados pelos adolescentes para não manter contato com o Livro Sagrado, destacaram-se pelo menos três: eles o consideram chato, desatualizado e não confiável.

O Pr. Wallace Pimentel lembra que o processo de formação de caráter, a construção da mentalidade e a adaptação à sobrevivência acontecem na juventude. E assevera: “A santificação faz parte da adoração a Deus”
Foto: Arquivo pessoal

O Pr. Fábio Dalliw, líder estadual do ministério Jovens Que Vencem (JQV) da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) na Paraíba, assegura que ser cristão é imitar Jesus. “Por isso, se não houver compromisso e obediência à Palavra, o jovem será apenas um religioso”, ressalta, citando 1 João 2.6: Aquele que diz que está nele também deve andar como ele andou. De acordo com o ministro, a única maneira de o adolescente se manter firme com Deus é seguindo os ensinamentos das Sagradas Escrituras, conforme está registrado no Salmo 119.9: Como purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme a tua palavra. “Além de haver a promoção de atividades específicas para esse público, os líderes devem ensinar-lhe que a Bíblia não é um livro qualquer, e sim a revelação do Altíssimo ao ser humano”, aponta.

Segundo Dalliw, no mundo atual, os padrões morais e a essência do Evangelho estão sendo desprezados por muitos e, por isso, aqueles que escolhem seguir Jesus são vistos como antiquados. Por tal motivo, inúmeros jovens frequentam a igreja, participam dos cultos, mas não querem compromisso porque acreditam que podem servir a Deus ao seu modo. “Portanto, o grande desafio é levá-los a um encontro verdadeiro com o Senhor, a fim de que abram mão da própria vontade para vivenciar os propósitos do Pai celestial.”

O Pr. Reinaldo Vieira Lima Júnior ressalta que não é possível sustentar um comprometimento com a fé e a santidade cristã sem uma experiência genuína com o Senhor: “É preciso nascer de novo”
Foto: Arquivo pessoal

Experiência genuína – O Pr. Wallace Pimentel, da Primeira Igreja Batista em Jardim Bom Pastor, na cidade de Belford Roxo (RJ), lembra que o processo de formação de caráter, a construção da mentalidade e a adaptação à sobrevivência acontecem na juventude. Ele acrescenta que muitos jovens cristãos entram em crise quando o assunto é a necessidade de viver em santidade. “Eles precisam entender que a santificação faz parte da adoração a Deus e que o servo do Senhor não pode se ajustar aos padrões do mundo, o qual tem propostas tentadoras aos mais novos. As lideranças precisam se transformar pela renovação da mente a fim de se antecipar às investidas do mal”, explica Pimentel, fazendo referência ao texto de Romanos 12.2: E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.

O Pr. Sidcley Pereira Paulino destaca que os adolescentes precisam ter mentores e líderes comprometidos com o ensino e a prática do Evangelho: “Os líderes não devem abandonar a posição do chamado do Senhor, assim, serão referência como modelo bíblico”
Foto: Arquivo pessoal

O Pr. Reinaldo Vieira Lima Júnior, da Igreja Batista 21, na Casa Verde, zona norte de São Paulo (SP), ressalta que não é possível sustentar um comprometimento com a fé e a santidade cristã sem uma experiência genuína com o Senhor. “É preciso nascer de novo, conforme o ensinamento de Jesus a Nicodemos, descrito no capítulo 3 do evangelho de João. Depois, é necessário orientar essas pessoas a articularem a fé dentro da realidade em que vivem”, observa Lima Júnior, assinalando que a leitura das Sagradas Escrituras é essencial na orientação dos jovens. No entanto, o ministro esclarece que, para essa mocidade cultivar o hábito de ler o Texto Santo, líderes evangélicos e familiares precisam conhecer as riquezas contidas nele. “Sem o conhecimento aprofundado da Bíblia, eles [os jovens] serão apenas cristãos nominais, não praticantes da fé e desconhecedores da Palavra de Deus.”

O Pr. Sidcley Pereira Paulino, da Rampa Church, congregação ligada à Comunidade Evangélica Projeto Vida, em Volta Redonda (RJ), destaca que os adolescentes precisam ter mentores e líderes comprometidos com o ensino e a prática do Evangelho. Segundo ele, é necessário investir tempo e recursos para que essa nova geração seja transformada, mas os resultados valerão a pena. “Quando se cria um ambiente de confiança na Palavra, os jovens tenderão a se engajar, com base na fé, nas Escrituras. Desse modo, terão uma boa comunhão com o Criador e com a comunidade local. Por sua vez, os líderes não devem abandonar a posição do chamado do Senhor, assim, serão referência como modelo bíblico.”

A psicóloga Samira Flores Alves pontua: “Esse desejo de ser aceito, de se identificar com o grupo, muitas vezes, afasta o jovem da igreja por falta de uma liderança que compreenda o momento que ele está vivenciando”
Foto: Arquivo pessoal

Aspectos emocionais e psicológicos dificultam a caminhada do jovem no aprendizado e na vivência da Palavra de Deus. É o que pensa a psicóloga Samira Flores Alves, a qual afirma que alguns desprezam a leitura bíblica porque temem ser rejeitados por seus pares. “Esse desejo de ser aceito, de se identificar com o grupo, muitas vezes, afasta o jovem da igreja por falta de uma liderança que compreenda o momento que ele está vivenciando”, pontua ela, que é membro da Assembleia de Deus em Caçador (SC).

A especialista esclarece que as mudanças repentinas e imprevisíveis de humor – às vezes, acompanhadas de agressividade – são frequentes nessa fase. Entretanto, na maioria dos casos, essas alterações de comportamento são demonstrações de insegurança e ansiedade diante de tantas situações novas, as quais geram dúvidas e provocam transformações no pensamento. “O líder dos jovens mais amadurecido precisa identificar a necessidade de intervir, orientando o mais novo a contornar os problemas da idade. Assim, eles aprenderão, na igreja, a manter a fé.”

O Pr. Eduardo Fettermann acredita que a juventude de hoje entende a vida cristã de forma diferente das gerações anteriores: “O comprometimento desse adolescente passa, necessariamente, por uma contextualização da fé”
Foto: Arquivo pessoal

Visão modificada – Já o Pr. Eduardo Fettermann, líder de adolescentes da Igreja Batista da Água Branca, em São Paulo (SP), acredita que a juventude de hoje entende a vida cristã de forma diferente das gerações anteriores. “Uma fé que não responda às questões mais presentes e atuais da vida não faz sentido para ela. Por isso, o comprometimento desse adolescente passa, necessariamente, por uma contextualização da fé, isto é: que tipo de pessoa a fé em Cristo torna esse jovem no mundo de hoje.”

Fettermann entende ser necessário pensar em maneiras criativas de contextualizar o Livro Santo para esta geração, aplicando as lições atemporais das Escrituras ao nosso século. “Com todas as ferramentas tecnológicas existentes e as inúmeras possibilidades de se criar atividades interativas, é possível tornar o estudo da Bíblia algo dinâmico, divertido e leve”, pontua o líder batista, destacando também a importância de se gerar mais comunhão para que os jovens se engajem na igreja. “À medida que desenvolvem ‘amizades espirituais’, eles entram em um novo mundo, em que o Todo-Poderoso se torna mais real porque Se manifesta nas pessoas com quem convivem. A partir dessas amizades, a intimidade com Deus é desenvolvida”, aponta o pastor, lembrando que “o comprometimento com o Senhor passa muito pelo compromisso com o próximo”.

O Pr. Raphael Assunção aconselha: “É preciso ministrar a Palavra na linguagem dos jovens, citando exemplos que estejam relacionados ao cotidiano deles, para que possam entender que Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida”
Foto: Arquivo pessoal

Na opinião do Pr. Raphael Assunção, líder estadual do Jovens que Vencem (JQV) da Igreja da Graça no Espírito Santo, existe hoje uma crise de comunicação, inclusive nas igrejas. Isso porque, segundo ele, muitos líderes evangélicos desejam pregar o Evangelho sem se preocupar com quem são os seus ouvintes. “É preciso ministrar a Palavra na linguagem dos jovens, citando exemplos que estejam relacionados ao cotidiano deles, para que possam entender que Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida.” Além disso, Assunção assevera que a igreja precisa ser dinâmica. “Quando isso acontece, a juventude fica interessada e tem a visão modificada. Não à toa, Paulo escreveu para Timóteo: Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza [1 Tm 4.12]”.

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