Entrevista | Revista Graça/Show da Fé
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Foto: Rodrigo Di Castro

Resposta à aflição

Psiquiatra explica que a melhor forma de combater a ansiedade é unir conhecimento científico e princípios bíblicos

Por Patrícia Scott

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com maior número de ansiosos de todo o mundo: 18,6 milhões de indivíduos; ou seja, 8,9% da população apresenta o transtorno. Entretanto, nem toda ansiedade é patológica. Determinados eventos estressores no dia a dia podem colocar qualquer um em situação de alerta, o que é normal. “Esse momento de atenção lança a pessoa na busca de respostas às suas aflições”, esclarece o psiquiatra Pedro Onari, 56 anos, membro da Igreja Batista do Povo, no bairro de Vila Mariana, na zona sul de São Paulo (SP).

Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), com especialização em Psicanálise pelo Instituto Animan Liberi (IAL) e fundador do Instituto Cristão de Psicanálise, o médico explica, nesta entrevista à Graça/Show da Fé, que trata do problema da ansiedade sob a perspectiva da psicanálise cristã, a qual alinha os princípios desse método terapêutico criado por Sigmund Freud (1856-1939) aos princípios bíblicos. “Abordamos os ensinamentos de Jesus, principalmente os relacionados à renovação e transformação do entendimento de si mesmo diante das diferentes circunstâncias da vida.”

Como o senhor define a ansiedade?

É uma sensação subjetiva interna, que se apresenta na consciência sob a forma de tensão psíquica, agitação mental, aceleração do pensamento; sentimento vago de que algo pode acontecer, que prepara o indivíduo para uma reação de luta ou fuga. O sinal de ansiedade é normal e coloca qualquer um em situação de alerta. É um sinalizador para prestarmos atenção: funciona como um mecanismo de defesa emocional para nos proteger do que possa nos fazer mal. Em algum momento, todo ser humano se depara com a ansiedade.

Quando esse estado passa a ser patológico?

Quando o sinal de alerta começa a produzir sensações com manifestações físicas incontroláveis, como palpitações, suor frio, tremores no corpo, dores musculares até mesmo em situações em que não há perigo ou risco de vida. Essas manifestações são chamadas de angústia.

O que fazer para aliviar o problema?

Realizar atividade física, aproveitar o tempo de lazer, tirar férias, caminhar regularmente, manter boa relação afetiva com as pessoas, ler a Palavra de Deus e praticá-la; assistir ao culto, cantar louvores e ser grato ao Senhor; conversar com o pastor ou líder na igreja. Porém, muita gente, devido à ansiedade, perde o controle da própria vida e não consegue fazer aquilo que planeja para se cuidar. Nesse momento, é importante e fundamental procurar ajuda profissional. 

Quais fatores podem causar a ansiedade?

Pessoas podem ser ansiosas devido ao próprio cérebro. No caso daquelas com transtorno bipolar, que apresentam variações de humor – entre a depressão e a mania ou agitação –, fatores neurobiológicos estão envolvidos. Portanto, elas, obrigatoriamente, devem ser acompanhadas pelo psiquiatra e com psicoterapia. No entanto, a causa mais comum são traumas do passado. Pessoas que sofreram agressão moral na infância, educadas por pais que, em vez de transmitir segurança, eram extremamente inseguros e cobravam em demasia da criança. Pessoas que sofreram abusos sexuais acabam tendo muita ansiedade na relação conjugal e sexual. Já as que foram traídas acabam perdendo a confiança até em Deus. Inúmeras situações que as levaram à ansiedade no passado acabam se repetindo durante a vida, afastando-as do Altíssimo.

Como a fé pode ajudar na prevenção e no combate à ansiedade?

Ela é fundamental. Bom seria se todos sempre se voltassem para as experiências com o Criador, mantendo a fé no invisível de Deus, em Jesus, alicerçando a esperança em Cristo e imitando a maneira de amar do Messias. Dessa forma, apesar dos momentos difíceis, como se estivesse no deserto com Moisés, aprende-se a esperar no sobrenatural do Senhor. Tudo passa, mas, nos momentos difíceis, é preciso observar o que tem desencadeado a ansiedade. A psicanálise cristã vem ajudando muita gente a resignificar as perdas, fortalecendo a fé, a esperança e o amor no Eterno.

Como a psicanálise cristã aborda esse problema? 

A psicanálise cristã é a melhor ferramenta para a pessoa acessar e conhecer os fatores psíquicos inconscientes envolvidos na gênese da ansiedade patológica. Durante a sessão, o profissional habilitado aplicará as técnicas a fim de atingir principalmente os fatores traumáticos e as fantasias criadas na infância que são as partes psíquicas envolvidas na ansiedade. O objetivo é fazer o paciente ressignificar esses traumas, liberando o perdão para o suposto agressor e para si mesmo, além de dar um novo significado cristão à raiva observada no inconsciente. O mais importante é fazê-lo modificar seus mecanismos de defesa de ansiedade e medo, voltando-se para a sua experiência com Deus.

De que maneira o senhor define a relação entre ansiedade, psicanálise e a Bíblia?

Todos estão em busca de paz para lidar com a ansiedade, que pode ser controlada de duas maneiras: com as obras da carne [Gl 5.19] ou com o fruto do Espírito Santo [Gl 5.22,23]. A psicanálise clássica atribui à repressão sexual a ansiedade e o sofrimento humano e procura auxiliar o indivíduo a se libertar da tal repressão. Porém, isso leva às obras da carne. Pode trazer a satisfação e o prazer intenso e imediato, entretanto, libertando-o apenas momentaneamente da ansiedade. Por exemplo, um indivíduo ansioso pode desenvolver dependência do álcool ou sexo para diminuir a ansiedade. Contudo, isso não é duradouro. É passageiro e carnal, conduzindo as pessoas a se identificarem com a sociedade hedonista, materialista e imediatista, sem o fruto do Espírito Santo. A psicanálise cristã objetiva trabalhar os fatores que afastam o indivíduo de Deus e do fruto do Espírito Santo. Este, sim, um prazer atemporal, eterno e duradouro, o qual leva à identificação com Jesus, com a transformação do caráter, ao domínio próprio e à paz. 

Pedro Onari
Psiquiatra e psicanalista

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