Entrevista | Revista Graça/Show da Fé
Capa | Sociedade
18/05/2023
Família – 287
10/06/2023
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Foto: Arquivo pessoal

“Jesus foi refugiado”

Pastor aponta a necessidade de um despertamento da Igreja brasileira para acolher e evangelizar os estrangeiros que buscam uma nova vida no país

Por Patrícia Scott

O número de refugiados é crescente no Brasil. Atualmente, 134 mil pessoas vivem aqui nessa condição, e a maioria ainda aguarda uma definição das autoridades competentes para permanecer legalmente em nosso território. Trata-se de um fenômeno relativamente novo. Em 2010, somente 600 estrangeiros pleiteavam viver em terras brasileiras como refugiados, apenas 0,44% do número registrado hoje.

A maior parte dos que buscam asilo no Brasil é de venezuelanos (78,5%). Há ainda angolanos (6,7%), haitianos (2,7%) e indivíduos de outras nacionalidades (12,1%). Nosso país tem recebido solicitações de refúgio de, aproximadamente, 117 diferentes nações, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). “Vivemos em um mundo em constante fluxo de pessoas indo e vindo das mais variadas partes. Receber refugiados no Brasil parecia algo distante. No entanto, desde 2008, a partir da crise econômica na Europa, passamos a ser um destino procurado por estrangeiros de diversas nacionalidades”, explica o Pr. Samuel Silva, 51 anos, líder do Projeto Refúgio, ligado ao Instituto Cristão de Ensino e Cultura (InCEC), em São Paulo (SP).

Segundo o pregador, a proposta da iniciativa é oferecer acolhimento a imigrantes que estão em busca de uma nova vida, disponibilizando a eles aulas de alfabetização e proporcionando-lhes condições de ingresso no mercado de trabalho. Além da abordagem do ponto de vista social, o projeto visa, primordialmente, apresentar o Evangelho a essas pessoas, já que muitas não conhecem a Palavra de Deus.

Nesta entrevista à Graça/Show da Fé, Samuel Silva, um dos líderes da Igreja Batista do Povo, em Vila Mariana, na zona sul de São Paulo (SP), fala sobre a necessidade de despertar a Igreja de Cristo no Brasil para o acolhimento desse número crescente de estrangeiros.

Qual é a diferença entre imigrantes e refugiados?

O imigrante é aquele que muda de país de maneira voluntária para estudar ou trabalhar. Já o refugiado é alguém compelido a deixar sua terra de origem involuntariamente por questões políticas ou religiosas, ou devido a situações de guerra, cuja vida está ameaçada de alguma forma. 

Qual é o maior desafio nesse trabalho feito com os refugiados?

A comunicação do Evangelho, que deve ser realizada de maneira sutil. Outra questão é a integração deles à cultura brasileira. Muitos vêm de realidades e hábitos bastante diferentes aos praticados em nosso país, os quais geram um choque cultural que precisa ser bem administrado.

Como o senhor começou a trabalhar com refugiados?

Em 2016, eu morava com minha família na Inglaterra. Por intermédio de uma missionária inglesa, conheci uma família de sírios que estava no Brasil. Naquele mesmo ano, voltei ao país e iniciei um programa de acolhimento que incluía alfabetização e cursos, em parceria com algumas instituições. Observei que a maior prioridade dos estrangeiros era o aprendizado da Língua Portuguesa. Em 2019, transferi o projeto para o Instituto Cristão de Ensino e Cultura (InCEC), que nomeou a iniciativa como Projeto Refúgio.

Do que se trata o projeto nos dias de hoje?

Atualmente, ajudamos cerca de 300 pessoas. Oferecemos aulas de alfabetização e temos parceria com o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e com o SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) a fim de que elas tenham acesso à capacitação e ao mercado de trabalho.

Quais países atualmente “produzem” mais refugiados no mundo?

Síria (6,7 milhões), Venezuela (4 milhões), Afeganistão (2,6 milhões), Sudão (2,2 milhões) e Mianmar (1,1 milhão). De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), existem hoje 89,3 milhões de pessoas deslocadas de seus países.

Em sua opinião, o número de refugiados tende a crescer no globo?

Sim, por várias razões: economia global, guerras, catástrofes naturais. Há também o ressurgimento de grupos radicais islâmicos em algumas nações, o que obriga muitas pessoas a abandonarem sua terra natal a fim de preservarem a própria vida.

Qual é a abordagem bíblica relativa à migração forçada?

O povo judeu viveu como escravo no Egito, onde foi oprimido [Êx 1-3]. Por causa dessa experiência, Deus lhe ordenou que não oprimisse ou maltratasse o estrangeiro [E, quando o estrangeiro peregrinar convosco na vossa terra, não o oprimireis. Como o natural, entre vós será o estrangeiro que peregrina convosco; amá-lo-eis como a vós mesmos, pois estrangeiros fostes na terra do Egito. Eu sou o SENHOR, vosso Deus – Lv 19.33,34 – NVI]. Uma outra história comovente – que define em toda sua natureza a condição de um refugiado – é a fuga de Jesus e de Sua família para o Egito, quando o rei Herodes desejava matar o Salvador. O Messias e Seus familiares viveram como refugiados [Mt 2.13-15].  

Em sua visão, qual é a responsabilidade da Igreja no que diz respeito aos refugiados?

A Igreja tem a responsabilidade espiritual e social de acolher o estrangeiro. No Brasil, existem oito grupos considerados não alcançados pelo Evangelho. Entre eles, estão imigrantes vindos de vários países, sendo alguns de fundamentação islâmica. Eles chegam aqui em situação de extrema vulnerabilidade e com uma grande expectativa para recomeçar a vida. Algumas dessas pessoas não tinham liberdade em sua terra natal para escolher a religião que desejavam seguir. Então, quando chegam a um país livre, podem fazer a própria opção religiosa.

Atualmente, qual é o nível de comprometimento da Igreja brasileira com os refugiados?

Há várias iniciativas para alcançá-los. No entanto, as ações ainda são bem tímidas. Nós, como líderes, não podemos perder essa oportunidade! As pessoas em situação de refúgio, vindas de diversas nações, continuam chegando até nós! A qualquer momento, o inesperado pode acontecer, e a Igreja de Cristo deve estar preparada para acolher, amar e integrar cada um desses estrangeiros em seu novo lar.

Samuel Silva
Pastor e líder do Projeto Refúgio

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