Heróis da Fé | James Chalmers | Revista Graça/Show da Fé
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Foto: Reprodução / Livingstone Press

Quero os perdidos

O missionário escocês James Chalmers foi o evangelista pioneiro entre os canibais de Papua Nova Guiné

Por Élidi Miranda*

Em sua segunda carta aos Coríntios, o apóstolo Paulo cita algumas dificuldades experimentadas em suas viagens missionárias pelo mundo antigo: Em perigos de rios […] em perigos dos gentios, […] em perigos no mar (2 Co 11.26). A passagem descreve muito do que foi o ministério do missionário escocês James Chalmers (1941-1901), o qual atuou por 25 anos em Papua Nova Guiné, no Sul do Pacífico.

Filho de um pedreiro humilde, Chalmers cresceu às margens do golfo Fyne, perto de Inveraray, no Sudeste da Escócia. Ele frequentou a igreja presbiteriana local quando criança, mas se converteu apenas em 1859, aos 18 anos. O versículo citado pelo pregador naquela noite nunca mais lhe sairia da memória: E o Espírito e a esposa dizem: Vem! E quem ouve diga: Vem! E quem tem sede venha; e quem quiser tome de graça da água da vida (Ap 22.17).

Não muito tempo depois de abraçar o Evangelho, Chalmers se tornou um pregador da mensagem da cruz. Mudou-se para a cidade de Glasgow, onde foi estudar e conheceu um veterano missionário das Ilhas Samoa, no Pacífico Sul. Este fez acender, no coração do jovem evangelizador, o desejo de seguir a terras distantes para pregar as Boas-Novas.

Assim, em outubro de 1865, Chalmers se casou com Jane Hercus, que tinha o mesmo chamado missionário. Os dois embarcaram para Rarotonga, nas Ilhas Cook, no Pacífico Sul, em janeiro de 1866. O navio fez uma parada na Austrália, onde o casal passou vários meses ministrando em diversas igrejas. Mas, quando partiram ao seu destino final, onde já havia um trabalho missionário estabelecido, o navio naufragou. Os passageiros e tripulantes se salvaram, porém perderam todos os pertences. James e Jane chegaram a Rarotonga em março de 1867, graças à ajuda do afamado pirata norte-americano Bully Hayes, que concordou em levá-los até lá. Os pregadores permaneceram os dez anos seguintes em Rarotonga, fortalecendo as igrejas locais.

Foto: Bill Fairs / Unsplash

No entanto, no final desse período, aos 35 anos, Chalmers sentiu que deveria levar a Palavra à região hoje pertencente a Papua Nova Guiné. Ali, não existia qualquer presença cristã. Um pastor presbiteriano que havia tentado se estabelecer no local, poucos anos antes, desistiu do intento e descreveu desta forma sua experiência: O canibalismo, em todo o seu horror, floresce em muitas partes da costa. Todo homem é um ladrão e um mentiroso. A coisa de que mais se orgulham são suas tatuagens, pois os homens tatuados são aqueles que já derramaram sangue humano.

Aldeias distantes – Certo de que Deus o chamava, o casal reuniu uma equipe de missionários de outras ilhas do Pacífico e se estabeleceu na Ilha de Suau, no Sul de Papua Nova Guiné, em 1877. Logo viram o que o pastor presbiteriano havia narrado. Além de serem constantemente ameaçados pelos nativos, os mensageiros de Cristo tinham seus pertences roubados com frequência. Eram recorrentes também conflitos entre tribos vizinhas rivais, e os perdedores, invariavelmente, iam parar no estômago dos inimigos.

Mesmo assim, depois de um ano na ilha, os missionários começaram a colher alguns frutos do trabalho evangelístico: vários nativos se converteram a Jesus. Chalmers passou, então, a navegar para o Leste, visitando outras tribos. Quando chegava a uma praia, abria um guarda-chuva, riscava um fósforo ou fazia outra coisa que despertasse a curiosidade dos nativos. Assim, ia estabelecendo contato e travando amizade com eles. Contudo, havia aldeias muito violentas das quais era necessário fugir rapidamente a fim de não ser pego.

Durante as viagens de Chalmers, Jane ficava em Suau com o restante da equipe, pregando aos nativos. Entretanto, a exposição ao estresse e às febres tropicais fizeram com que sua saúde fosse prejudicada, levando-a à morte, em fevereiro de 1879. Todavia, a perda não afastou o missionário de sua posição: Quero os perdidos para Cristo, escreveu em seu diário, no dia do sepultamento da esposa.

Foto: Liam Hans / Unsplash

Desse modo, ele continuou visitando aldeias distantes, enfrentando o risco de perder a vida. Enquanto isso, em Suau, a Igreja florescia. Cinco anos depois da chegada dos Chalmers, em 1882, os fornos usados para assar carne humana estavam todos desativados. Pessoas que antes não dormiam, com medo de um ataque inimigo à noite, agora se deitavam em paz. Membros de tribos mortalmente rivais dividiam o mesmo banco na igreja, adorando o Salvador.

O exemplo de Chalmers era seguido por vários missionários, vindos de Rarotonga e de outras ilhas já evangelizadas do Pacífico. Muitos morreram de doenças, e outros foram martirizados pelos canibais. No entanto, sempre havia novos candidatos para preencher o posto deixado por aqueles que tinham falecido.

Chalmers se casou novamente em 1888, com Eliza Harrison, uma mulher igualmente destemida. Em 1892, Chalmers iniciou a exploração do delta do rio Fly, o mais extenso do país. Viajava por dias inteiros em seu barco, visitando novas aldeias. Amo ser o primeiro a pregar Cristo em um lugar, escreveu ele. Seu esforço rendeu frutos: foi capaz de batizar centenas de nativos e fundou diversas igrejas.

Infelizmente, em 8 de abril de 1901, Chalmers e um grupo de missionários desembarcaram em uma praia conhecida como Ponto de Risco e foram cercados por nativos da ilha Goaribari, no Sudoeste do país. Conduzidos até o local dos rituais, ao sinal do chefe da tribo, todos eles foram executados e, mais tarde, servidos em um banquete.

O massacre daquele dia, porém, não impediu que a obra missionária avançasse e cobrisse todo o território de Papua Nova Guiné com o Evangelho. Graças aos esforços de James Chalmers e de tantos outros que seguiram seu exemplo, atualmente 95% da população do país se identifica como cristã.


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