Heróis da Fé | Ralph Venning | Revista Graça/Show da Fé
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Fotos: Wenceslaus Hollar Digital Collection / Wikimedia

Mensagem radical

Ralph Venning dedicou sua vida a pregar contra o pecado e a chamar os cristãos a viver em santidade

Por Élidi Miranda*

De modo geral, o termo puritano tem hoje um cunho pejorativo, denotando um comportamento hipócrita e obsessivo com a moralidade. Mas não era assim no século 17, quando o movimento puritano protestante estava em seu auge na Inglaterra. Seus seguidores nutriam grande paixão pelas Escrituras, em lugar de uma religiosidade descomprometida – comum entre adeptos da Igreja Anglicana. Eles argumentavam que o pecado era o principal inimigo da humanidade e o maior obstáculo para a manutenção da comunhão com Deus.

Os puritanos acreditavam que a solução para esse problema não era o moralismo, e sim o reconhecimento da morte sacrificial de Jesus Cristo na cruz; a aceitação de que o Salvador tomou sobre Si o peso da justa condenação destinada aos homens, de modo que eles, por meio do arrependimento e da fé, pudessem ser perdoados e reconciliados com o Criador. Segundo o movimento puritano, os salvos deveriam viver piedosamente, abominando o pecado e buscando a santidade e a obediência ao Evangelho, cujos princípios teriam de permear todas as áreas da vida deles.

Foi sobre esses preceitos que Ralph Venning (1621-1674), pregador inglês, pautou a sua trajetória e o seu ministério. Nascido no condado de Devon, no Sul da Inglaterra, e filho de fazendeiros, ele conheceu o pregador puritano George Hughes (1603–1667) e, sob cuidadoso ministério pastoral, converteu-se a Cristo e aprendeu acerca dos principais ensinamentos bíblicos a respeito da santidade, os quais levaria pelo mundo afora ensinando a muitos.

John Owen (1616-1683)
Foto: National Portrait Gallery / Wikimedia

Em abril de 1643, Venning iniciou os estudos em Cambridge, onde foi admitido no Emmanuel College como sizar – uma categoria de estudantes que realizavam trabalhos braçais na universidade para cobrir parte da mensalidade. Ele completou o bacharelado e o mestrado antes de entrar no ministério da Palavra. Além disso, tornou-se um profundo estudioso da língua original do Novo Testamento, o grego, e foi um dos editores do primeiro dicionário grego-inglês publicado em 1661.

Ralph Venning passou a maior parte da vida atuando como ministro em Londres na companhia de grandes nomes da teologia protestante inglesa, como o pastor, capelão e autor John Owen (1616-1683). Durante o período da Commonwealth (governo republicano que exerceu o poder no Reino Unido de 1649 a 1660), o pregador trabalhou em uma série de funções de Estado, participando de comissões de avaliação para candidatos a cargos de capelania na Marinha e promovendo projetos de missões com povos indígenas das colônias norte-americanas.

Porém, o mais importante para Venning era a promoção da piedade em todos os aspectos da vida diária, tema central de suas pregações e de seus livros. O pecado é a quintessência do mal; causou todos os males que existem e é pior do que todos os males que causou. É tão mau que é impossível torná-lo bom ou adorável por meio de todas as artes que podem ser utilizadas, escreveu ele em uma de suas obras mais famosas, Sin, the plague of plagues (1669) – Pecado, a praga das pragas (2020), em tradução livre.

Durante a década de 1650, o ministro inglês se ocupou, principalmente, do ensino em uma igreja em Southwark, no centro de Londres, e pregou, em algumas ocasiões, de um púlpito ao ar livre vizinho à imponente Catedral de São Paulo, o maior templo anglicano da cidade. O lugar foi descrito por historiadores como equivalente do século 17 à radiodifusão, pois, entre os frequentadores do local, estariam vereadores, o prefeito londrino, cidadãos de todas as classes sociais e visitantes.

Capa de Pecado, a praga das pragas
Foto: Divulgação

Congregação independente – Em 1661, aos 40 anos, Venning se casou com Hannah Cope, com quem teve dois filhos. No ano seguinte, mesmo sendo conhecido por sua moderação – e pouco afeito a partidarismos políticos –, o pregador se viu obrigado a deixar a Igreja da Inglaterra. Com o fim da república (fortemente influenciada pelo puritanismo) e o retorno à monarquia (muito próxima do anglicanismo tradicional), ele manteve sua posição firme contra o Ato de Uniformidade de 1662, um documento emitido pelo Parlamento determinando que as práticas litúrgicas e as regras do Livro de Oração Comum da Igreja Anglicana fossem obrigatórias em todos os serviços religiosos da Igreja da Inglaterra. Os clérigos que se recusassem a aderir ao Ato seriam destituídos de seus cargos. Por isso, Venning e outros dois mil ministros puritanos perderam suas posições eclesiásticas, pois se negaram a acatar essa determinação.

Nos anos seguintes, Ralph Venning trabalhou como pastor auxiliar de Robert Bragge (1627-1704) em uma congregação não conformista – como eram chamados os templos independentes da Igreja Anglicana –­­­­­ que se reunia em um auditório. Seu último sermão foi pregado no início de março de 1674. Logo após, ele adoeceu e faleceu.

Mais de três séculos depois da morte de Venning, suas palavras continuam atuais: Esteja tão disposto a morrer para o pecado, como Cristo estava para morrer pelo pecado, e tão disposto a viver para Ele, como Ele estava para morrer por você. Esteja tão disposto a ser Ele, a servir-Lhe, quanto Ele deveria ser seu para salvá-lo. Aceite-O em Seus próprios termos, entregue-se totalmente a Ele, conclama o autor em seu livro Sin, the plague of plagues. (*Com informações de Church History Review e Banner of Truth)


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