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Foto: Maja Petric / Unsplash

Verdade eterna

Entregar o dízimo é uma ordenança de Deus, em vigor desde antes da Lei de Moisés, que permanece até hoje

Por Ana Cleide Pacheco

Entre as 12 tribos de Israel, os descendentes de Levi foram os escolhidos pelo Altíssimo para cuidar do culto no tabernáculo – e, mais tarde, do templo. Sendo assim, Deus estabeleceu que as outras 11 tribos separassem 10% – o dízimo – de tudo o que tinham para ofertar na casa do Senhor. Dessa forma, os levitas poderiam se dedicar exclusivamente ao sacerdócio religioso. É o que registra o livro de Números: E eis que aos filhos de Levi tenho dado todos os dízimos em Israel por herança, pelo seu ministério que exercem, o ministério da tenda da congregação (Nm 18.21). 

Equivocadamente, muitas pessoas pensam que essa entrega não é mais seguida pelos cristãos, pois seria algo ultrapassado, que faz parte das ordenanças da Antiga Aliança. Nos Estados Unidos, muitos, enganados por esse argumento, não devolvem o dízimo. Uma pesquisa revelou que apenas 13% dos evangélicos estadunidenses são dizimistas. O mesmo levantamento indicou que metade dos norte-americanos que se intitulam crentes em Jesus doam apenas 1% de sua renda anualmente. O estudo Fator de generosidade: evangélicos e doação(em tradução livre), realizado pela Gray Matter Research em parceria com a agência de comunicação Infinity Concepts, reuniu dados coletados de mil protestantes estadunidenses, buscando saber como e onde os evangélicos doam dinheiro.

O psicólogo clínico e pastor André Esteves lembra o que significa a devolução do dízimo: “Isso deve ser encarado, em primeiro lugar, como um ato de amor. Quem ama a Deus acima de todas as coisas é fiel, incluindo o próprio bolso”
Foto: Arquivo pessoal

Para o psicólogo clínico e pastor André Esteves, 45 anos, caso tal análise tivesse sido feita no Brasil, possivelmente o resultado fosse semelhante. “É comum ouvir a frase: ‘a última coisa a ser convertida é o bolso’, ainda mais diante da atual conjuntura socioeconômica do país, o que torna um grande desafio a questão da fidelidade [nos dízimos]”, opina Esteves, líder da Igreja Presbiteriana de Governador Portela, em Miguel Pereira (RJ).

De acordo com André Esteves, as pessoas estão sobrecarregadas de compromissos financeiros e várias até endividadas, o que prejudica o exercício da devolução do dízimo. “Não que isso justifique”, pondera ele, lembrando que devolver 10% da renda ao Senhor é mais do que contribuir para a igreja. “Isso deve ser encarado, em primeiro lugar, como um ato de amor. Quem ama a Deus acima de todas as coisas é fiel, incluindo o próprio bolso.”

O Pr. Daniel Elias Cardoso de Araújo Pinto lembra que servir a Deus é amá-Lo, e o amor se manifesta com obras: “Assim, o dízimo não é uma imposição, e sim um ato de amor ao Senhor e à Sua obra”
Foto: Arquivo pessoal

Forma de agradecimento – O Pr. Daniel Elias Cardoso de Araújo Pinto, 41 anos, da Igreja Pentecostal Casa de Oração em Parque Eldorado, na cidade de Duque de Caxias (RJ), concorda que a devolução do dízimo é mais do que um mandamento, mas o reconhecimento da soberania do Pai celeste e uma forma de demonstrar amor por Ele. “Servir a Deus é amá-Lo, e o amor se manifesta com obras. Assim, o dízimo não é uma imposição, e sim um ato de amor ao Senhor e à Sua obra.”

Indagado se o dízimo seria um mandamento restrito à Antiga Aliança, Elias Pinto reconhece que tal compromisso foi instituído oficialmente como forma de sustentar o ministério dos levitas que serviam no templo. No entanto, ressalta que a primeira menção ao dízimo, na Bíblia, é anterior à Lei Mosaica. [Leia, no final desta reportagem, o quadro Para a Igreja]

Foto: Divulgação / IIGD

De acordo com o texto de Gênesis 14.18-20, o patriarca Abraão deu o dízimo de tudo a Melquisedeque, quando voltava da guerra contra os reis. “A Lei surgiu centenas de anos depois, quando Moisés estava no monte Horebe. O dízimo de Abraão era uma forma de agradecer ao Altíssimo pela vitória. Afinal, ele fora com apenas 318 homens (Gn 14.14). Dando o dízimo, ele estava reconhecendo que aquela vitória não era mérito seu, e sim de Deus [Gn 14.20]”, ensina o ministro. Segundo Elias, só devolve o dízimo, com amor, quem reconhece que tudo quanto tem veio do Senhor. “Entendo que só faz isso quem é grato.”

Igreja local – Quem alega que o dízimo não é uma prática cristã – e, por isso, não deveria ser adotada pela Igreja de Jesus – argumenta que nem o livro de Atos nem as epístolas mencionam o termo. Esse raciocínio, entretanto, é equivocado na opinião da Pra. Cíntia Jardim de Freitas Goiano, 45 anos, da Igreja Batista da Lagoa, em Maricá (RJ). Ela informa que, embora o termo não seja citado textualmente em passagens de Atos dos Apóstolos e nas cartas, há expressões análogas, tais como ofertas e contribuições.

A Pra. Cíntia Jardim de Freitas Goiano informa que, embora não exista citação direta ao termo dízimo, não significa que os primeiros cristãos não fossem dizimistas
Foto: Arquivo pessoal

Assim, de acordo com a ministra, o fato de não haver citação direta ao termo não significa que os primeiros cristãos não fossem dizimistas. “Há um princípio hermenêutico segundo o qual se algo não é citado é porque ou não existe ou existe tanto que não precisa ser citado.” A ministra batista lembra que, em Mateus 23.23, Jesus faz uma crítica aos fariseus pela hipocrisia deles, mas recomenda que se entregue o dízimo: Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer essas coisas e não omitir aquelas.

O Pr. Neemias Fagundes, 49 anos, ministro auxiliar na Assembleia de Deus Ministério Ebenézer em Araruama (RJ), concorda com a Pra. Cíntia Goiano e acrescenta que a passagem citada por ela [Mt 23.23] é, muitas vezes, mal interpretada. Segundo ele, com base nesse versículo, alguns argumentam que Jesus teria falado contra o dízimo – o que não é verdade. “Ele denunciou a ausência do espírito de amor ao próximo naqueles que o entregavam.”

O Pr. Ricardo Guimarães lembra que o dízimo é uma prática que deve ser adotada pela Igreja: “A ótica certa é enxergar o dízimo com as lentes da graça e fundamentar a nossa prática não na ordem de Levi, mas na de Melquisedeque”
Foto: Arquivo pessoal

O pregador ainda afirma que o dízimo deve ser devolvido ao Senhor na igreja onde a pessoa congrega. Ele afirma que a Palavra não deixa margem para que o ofertante administre o dízimo, uma vez que deve entregá-lo a fim de a instituição honrar seus compromissos ligados à propagação do Reino de Deus. “A Bíblia recomenda, em Hebreus 10.25, que não devemos deixar a nossa congregação. Isso reforça a importância de estarmos reunidos. Para tanto, a igreja precisa ter um local que seja conveniente, o qual demanda um compromisso mensal financeiro por parte de seus integrantes”, explica Fagundes.

“Coração grato” – O Pr. Ricardo Guimarães, 51 anos, da Igreja Videira, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro, lembra que o dízimo é uma prática que deve ser adotada pela Igreja. “É possível enxergar o dízimo de duas maneiras: pelas lentes da Lei ou da graça. Mas a ótica correta é a da graça. Devemos fundamentar a nossa prática não na ordem de Levi, mas na de Melquisedeque”, esclarece o pastor.

O Pr. Neemias Fagundes explica: “A Bíblia recomenda, em Hebreus 10.25, que não devemos deixar a nossa congregação. Isso reforça a importância de estarmos reunidos. Para tanto, a igreja precisa ter um local que seja conveniente, o qual demanda um compromisso mensal financeiro por parte de seus integrantes”
Foto: Arquivo pessoal

Se um cristão, frisa ele, for capaz de entender esse princípio, fará da prática do dízimo um momento aprazível e de gratidão. O líder também pontua que existem ordens expressas nas Escrituras para que os dízimos sejam entregues, tal como registra o texto de Malaquias 3.10: Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança (Ml 3.10). Por isso, segundo o pregador, deixar de fazê-lo é também uma expressão de avareza e carnalidade, porque uma das marcas dos filhos de Deus é a generosidade. “É estranho que alguém receba tanto e não tenha um coração grato para reconhecer que o Senhor é a sua fonte.”

O evangelista Jaci Assis Gaby, 46 anos, da Igreja Batista Nova Filadélfia Macabu, em Coelho Neto, zona norte do Rio de Janeiro (RJ), também vê o dízimo como um ato de responsabilidade com a congregação local. “É por meio da entrega dos 10% que as igrejas conseguem manter as portas abertas e, assim, acolher os que precisam de uma palavra de fé e amor”, afirma ele, destacando que a Bíblia apresenta mais de 40 referências sobre o assunto. “As Escrituras são o nosso manual de fé, regra e prática. Acredito que, no Brasil, cerca de 60% dos cristãos são fiéis no dízimo por entenderem que é parte importante de sua comunhão com Deus.”

O evangelista Jaci Assis Gaby também vê o dízimo como um ato de responsabilidade com a congregação local:
“É por meio da entrega dos 10% que as igrejas conseguem manter as portas abertas e, assim, acolher os que precisam de uma palavra de fé e amor”
Foto: Arquivo pessoal

Na opinião de Jaci Gaby, as pessoas fiéis ao Senhor não devolvem o dízimo por ser uma obrigação, e sim por compreenderem que se trata de um ato de amor à obra. Ele lembra que o próprio Jesus referendou que isso deveria ser feito com um coração grato, ao falar sobre a oferta da viúva pobre em Marcos 12.41-44. “Devemos ser fiéis não apenas nos nossos dízimos, mas também em outras contribuições, como nosso tempo e nossos talentos. Entregá-lo, para mim, vai além do aspecto financeiro: é prestar serviços em prol do Reino. Devemos ser imitadores de Cristo em tudo; portanto, precisamos seguir essa orientação.”

Para a Igreja

O dízimo foi instituído por Deus, no Antigo Testamento, mas também aplica-se aos dias da Nova Aliança, ou seja, para a Igreja. Entenda:

:: As ordenanças do Senhor acerca do dízimo não cessaram com o fim da Antiga Aliança, pois são anteriores a ela. Quatro séculos antes de Moisés escrever a Lei, Abraão, o pai da nação de Israel (Gn 14.20), pagou dízimos a Melquisedeque, que, segundo muitos teólogos, é uma representação de Cristo (Hb 5.6;7.21) no Antigo Testamento.

Foto: Pexels / Italo Melo

:: Assim como o dízimo deveria ser usado para prover as necessidades dos levitas (Lv 27.30-33; Dt 14.22-30), que oficiavam no templo, princípio semelhante deve ser adotado para os que se dedicam ao ministério no Novo Testamento. O próprio apóstolo Paulo afirma: Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais? […] Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados do próprio templo se alimentam? E quem serve ao altar do altar tira o seu sustento? Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho (1 Co 9.11, 13,14 – ARA).

:: Há quem diga que Paulo não menciona o dízimo em passagens, como em 2 Coríntios 9.7 (Cada um contribua segundo propôs no seu coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria). No entanto, nesta, o apóstolo não estava se referindo ao dízimo, e sim a uma oferta especial, levantada para atender aos pobres da Judeia, ou seja, não era uma contribuição permanente. Esse texto também ensina que, além da prática do dízimo, os cristãos devem ser generosos em suas ofertas.

:: Ninguém está autorizado por Deus a anular as verdades expressas em Sua Palavra: Seca-se a erva, e caem as flores, mas a palavra de nosso Deus subsiste eternamente (Is 40.8). Portanto, as palavras de Levítico 27.30 continuam a ecoar pelos séculos: Também todas as dízimas do campo, da semente do campo, do fruto das árvores são do Senhor; santas são ao Senhor.

(Élidi Miranda, com informações do site da Igreja Presbiteriana de Pinheiros)


2 Comments

  1. MARISTELA BERTOLE ROCHA BAIENSE disse:

    Agradecer a Deus pelas graças e milagres alcançados,e o amor de Deus fluindo em nossa casa .

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