Juventude| Revista Graça/Show da Fé
Igreja
01/11/2020
Capa | Psicologia
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Foto: rawpixel / 123RF

Fazendo o bem

Pesquisa aponta que os universitários cristãos são mais propensos a se envolver em trabalhos voluntários

Por Ana Cleide Pacheco

Logo que ingressou no curso de Design de Moda, há dois anos, Amanda Martins Maria não tinha certeza se havia escolhido a melhor carreira. “Tentava entender o propósito de Cristo para mim nesta graduação”, revela a jovem de 19 anos. A dúvida permaneceu até Amanda conhecer a Missão Casa Gaio, uma agência missionária, com sede em Niterói (RJ), voltada para missões urbanas e transculturais. “As coisas começaram a fazer sentido”, diz a estudante, que se tornou voluntária da organização. “Nosso objetivo é realizar treinamentos, workshops e outras ações voltadas à educação, de forma gratuita, para comunidades em situação de vulnerabilidade”, resume ela, que coordena o Departamento de Artes.

Amanda Martins Maria: “Nosso objetivo é realizar treinamentos, workshops e outras ações voltadas à educação, de forma gratuita, para comunidades em situação de vulnerabilidade” Foto: Arquivo pessoal

Amanda sempre sonhou fazer algo que contribuísse para o desenvolvimento da sociedade e, ao mesmo tempo, exaltasse o Nome de Jesus. “Saber que posso abrir uma porta de possibilidades para outras pessoas é recompensador. Eu me espelho em Cristo, pois sei que Ele é essa Porta. Nada é mais gratificante do que isso”, celebra a universitária e membro da Igreja Tabernáculo Apostólico Semeando Avivamento, no bairro do Fonseca, em Niterói (RJ).

Ajudar o próximo, compadecer-se dos que sofrem e partilhar o pão com os necessitados – a síntese da solidariedade – é um tema recorrente nas Escrituras Sagradas. Em Lucas, João Batista fala aos seus seguidores sobre a importância de repartir o que se tem: Quem tiver duas túnicas, que reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos, que faça da mesma maneira (Lc 3.11). Essa questão é levada a sério entre os cristãos das novas gerações, de acordo com uma pesquisa realizada nos Estados Unidos entre jovens universitários e recém-formados filiados a igrejas evangélicas. O levantamento, apresentado em uma conferência para administradores de faculdades cristãs no início de 2020, ouviu cerca de 1,3 mil pessoas e revelou que 85% dos entrevistados disseram ser importante agir contra erros e injustiças na vida, enquanto 80% declararam que é preciso ajudar pessoas em situação de pobreza ou vítimas de injustiça.

Stefane Mercês Souto: “Pretendo também colaborar em bases missionárias. Sempre procurei uma profissão em que pudesse ajudar as pessoas diretamente” Foto: Arquivo pessoal

Carreira e missões – Se a estudante de Psicologia, Stefane Mercês Souto, 22 anos, fosse ouvida na pesquisa realizada nos EUA, estaria entre os que consideram ajudar o próximo um aspecto essencial da vida cristã. “Jesus nos ensinou isso quando expôs o segundo mandamento mais importante: Amarás o teu próximo como a ti mesmo [Mt 22.39]. Fomos criados para sermos solidários uns com os outros”, afirma a jovem, que, ao concluir a graduação, planeja fazer trabalhos voluntários usando os conhecimentos adquiridos em sua formação. “Pretendo também colaborar em bases missionárias. Sempre procurei uma profissão em que pudesse ajudar as pessoas diretamente”, afirma Stefane, membro da Igreja Betânia em Trindade, em São Gonçalo (RJ), cidade da região metropolitana do Rio de Janeiro.

A estudante Izabelly Fagundes Proença, 23 anos, pensa de maneira semelhante. Cursando História na Universidade Federal Fluminense, em Niterói (RJ), ela tem recebido convites para atuar como professora voluntária em pré-vestibulares comunitários. “Meu anseio é colaborar com jovens que sonham entrar em uma universidade pública, assim como eu sonhava.” O desejo de servir aos seus semelhantes surgiu na adolescência, quando ela pensava em estudar Relações Internacionais, a fim de combinar a carreira em outros países com o trabalho missionário.

Izabelly Fagundes Proença: “Meu anseio é colaborar com jovens que sonham entrar em uma universidade pública, assim como eu sonhava” Foto: Arquivo pessoal

Contudo, segundo a jovem, Deus interferiu em seus planos, direcionando-a para o curso de História. Ainda assim, o desejo de fazer missões e servir às pessoas continua em seu coração. “Acredito que a cruz revela não só o plano da salvação como também dois aspectos primordiais da vida cristã: a parte vertical indica nossa relação com Deus, e a horizontal, a comunhão e unidade com o próximo”, destaca Izabelly. “Olhar para a cruz me revela por que e para queestou aqui, fazendo o que faço”, conta ela, membro da Comunidade do Rei, em São Gonçalo (RJ).

O mesmo sentimento é compartilhado pela estudante de Medicina, Luciana Caetano Nogueira Dias, 27 anos. Como já está concluindo a faculdade, ela foi convocada para trabalhar na linha de frente do combate à covid-19, pelo programa O Brasil Conta Comigo, do Ministério da Saúde. Ela trabalha na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Evangélico de Vila Velha (ES). “Sou cristã e estava um pouco afastada da fé. Mas há um propósito em tudo o que Deus faz.”

A futura médica tem visto a ação do Altíssimo mediante seu trabalho diariamente. Na UTI reservada aos pacientes infectados com o novo coronavírus, as visitas presenciais são proibidas, devido ao perigo de exposição à doença. Além disso, os boletins diários do hospital são dados aos familiares por telefone pelos médicos e acadêmicos. É dessa maneira que ela se sente usada pelo Senhor. “Toda vez que faço uma ligação e passo o quadro clínico de um paciente a seu familiar, tento me colocar no lugar daquela pessoa, imaginar a aflição que ela está passando e peço a Deus que me conduza da melhor forma. Assim, Jesus vai usando a gente.”

Vontade de Deus – Segundo a direção do Hospital Evangélico de Vila Velha (HEVV), o texto de Colossenses 3.23 (E, tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor e não aos homens) é o princípio que norteia o trabalho daquela unidade de atendimento hospitalar, fundada em 1972, graças à iniciativa de cristãos de diversas igrejas.

Sirlene Motta de Carvalho: “Ao longo dos anos, a maior recompensa é a gratidão que transforma a vida das pessoas, tanto do voluntário quanto de quem está sendo acolhido” Foto: Arquivo pessoal

Até hoje, o trabalho conta com a ajuda de voluntários, majoritariamente jovens. São 300 pessoas que emprestam tempo e energia para servir. “Empatia, compaixão e solidariedade são as palavras que diferenciam o trabalho deles”, afirma Sirlene Motta de Carvalho, 71 anos, superintendente da Associação Evangélica Beneficente Espírito-Santense (AEBES), organização responsável pela gestão do HEVV. Na opinião de Sirlene, doar-se em favor do outro traz benefícios tanto para quem é atendido quanto para quem se coloca à disposição para ajudar. “Ao longo dos anos, a maior recompensa é a gratidão que transforma a vida das pessoas, tanto do voluntário quanto de quem está sendo acolhido.”

O Pr. Daniel Henrique Bianchi, 33 anos, ministro auxiliar da sede estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre (RS), acredita que os jovens cristãos sentem a necessidade de agir em favor do outro a partir dos ensinamentos da Bíblia. “A juventude não quer ficar somente na teoria, deseja vivenciar a Palavra”, assinala o pastor, informando que a IIGD na capital gaúcha realiza diversas ações sociais e, nelas, conta com o envolvimento da mocidade e de pessoas de todas as faixas etárias.

Pr. Daniel Henrique Bianchi: “A juventude não quer ficar somente na teoria, deseja vivenciar a Palavra” Foto: Arquivo pessoal

Para Bianchi, a maior dádiva de quem pratica o bem é perceber-se obedecendo a Deus. “É uma ordenança dEle que ajudemos uns aos outros”, afirma o pregador, fazendo menção ao que Jesus ensina em Mateus 20.26-28 (Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser, entre vós, fazer-se grande, que seja vosso serviçal; e qualquer que, entre vós, quiser ser o primeiro, que seja vosso servo, bem como o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e para dar a sua vida em resgate de muitos) e ao que o apóstolo Paulo diz aos anciãos de Éfeso: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber (At 20.35c). “Servir é uma das maiores recompensas. Por essa razão, clamamos por mais corações dispostos a obedecer à voz do Mestre e se dispor a ser canais de bênçãos para os que vivem em situação de vulnerabilidade”, conclui, em tom de conclamação.


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