Missões / Internacional | Revista Graça/Show da Fé
Buscando a bem-aventurança
27/05/2024
Na prateleira – 298
27/05/2024
Buscando a bem-aventurança
27/05/2024
Na prateleira – 298
27/05/2024

Ódio aos cristãos

Foto: Jiri Hera / Adobe Stock

Ódio aos cristãos

A liberdade religiosa está se deteriorando de modo acentuado no planeta, aponta ranking anual

Por Patrícia Scott

A perseguição religiosa no mundo aumentou, e isso tem sido observado de perto, nas últimas décadas, pela Missão Portas Abertas (MPA). Desde 1993, essa organização missionária elabora a Lista Mundial da Perseguição (LMP), um ranking anual das 50 nações mais perigosas do planeta para um cristão viver. De acordo com a edição mais recente do documento, divulgada no início deste ano, 365 milhões de seguidores de Jesus – um em cada sete cristãos em todo o globo – sofreram algum tipo de perseguição em razão de sua fé ao longo de 2023. O número é 1,4% maior que o registrado em 2022 (360 milhões) e representa quase uma vez e meia a população do Brasil (203 milhões). Entretanto, se forem considerados todos os dados dos últimos dez anos, o número de servos de Deus perseguidos subiu 250% no período.

O ditador socialista Kim Jong-un em foto registrada durante encontro com o presidente da Rússia, Vladimir Putin
Foto: Alexei Nikolsky / Russian Presidential Press and Information Office

De acordo com a LMP 2024, as 13 nações que apresentam os maiores índices de intolerância aos cristãos são: Coreia do Norte, Somália, Líbia, Eritreia, Iêmen, Nigéria, Paquistão, Sudão, Irã, Afeganistão, Índia, Síria e Arábia Saudita. Durante 20 anos, a Coreia do Norte ocupou a nada honrosa primeira posição na lista. Foi assim até 2022, quando caiu para o segundo lugar, ficando atrás do Afeganistão, depois de o Talibã reassumir o poder no país com a saída das tropas norte-americanas em 2021. Porém, em 2023, a nação asiática, comandada pelo ditador socialista Kim Jong-un, voltou ao primeiro lugar e nele permanece.

Segundo o secretário-geral da Missão Portas Abertas no Brasil, Marco Cruz, estima-se que haja de 50 a 70 mil cristãos em campos de trabalhos forçados na Coreia do Norte. “Muitos conheceram Jesus ao fugirem para a China, mas foram repatriados”, informa ele, assinalando que a maioria dos países fechados ao Evangelho possui leis de proteção às minorias religiosas, porém elas não são praticadas. “A pessoa não tem liberdade para a conversão.”

Segundo o secretário-geral da Missão Portas Abertas no Brasil, Marco Cruz, estima-se que haja de 50 a 70 mil cristãos em campos de trabalhos forçados na Coreia do Norte
Foto: Divulgação / Missão Portas Abertas Brasil

Marco Cruz ressalta que, se um muçulmano, um hinduísta ou um budista se converter a Cristo, esse indivíduo passa a ser considerado infiel pela família e pela comunidade e fica sujeito a graves sanções, como a morte. “Essa pessoa pode ser punida sem que haja intervenção governamental, apesar da existência da lei. Há países muçulmanos em que os cristãos não podem sequer ser enterrados, pois se acredita que eles são amaldiçoados e o solo ficará contaminado.”

Ainda de acordo com o secretário-geral, o que mais chama a atenção na LMP 2024 não é uma nação muçulmana, e sim cristã: a Nicarágua. Esta subiu 20 posições no ranking ao longo de 2023. Na pesquisa anterior, o país ocupava o 50° lugar. Porém, em apenas um ano, passou para a 30ª posição. Segundo informação da Missão Portas Abertas, essa escalada é o resultado do aumento das restrições do governo de orientação socialista do ditador Daniel Ortega em relação aos cristãos. Informes revelam que líderes estão sendo presos e muitos templos e instituições cristãs (inclusive universidades) estão fechando as portas. “Mais de 14 mil igrejas foram atacadas ou fechadas – um número sete vezes maior do que o apresentado na lista anterior.”

A Nicarágua, governada pelo ditador Daniel Ortega (na foto, em visita oficial a Taiwan), subiu 20 posições no ranking da LMP
Foto: Divulgação / Palácio Presidencial de Taiwan / Wikimedia / CC

Perseguição intensa – Os agentes de perseguição variam de um país para outro. Em alguns, como é o caso da Nicarágua, o Estado é o principal ator nesse cenário. Em outros, como a Índia, 11ª colocada na LMP 2024, tanto os aparelhos estatais quanto as organizações da sociedade são responsáveis pela perseguição religiosa intensa. Em território indiano, majoritariamente hinduísta, os governos estaduais têm criado leis anticonversão que, na prática, proíbem a pregação cristã.

Clãs familiares e grupos mais radicais agridem verbal e fisicamente os cristãos com o objetivo de fazê-los retornar ao hinduísmo. “Os que não aceitam deixar a fé cristã são hostilizados e, em última instância, mortos”, pontua o Pr. Luiz Renato Maia, presidente da Missão em Apoio à Igreja Sofredora (Mais), organização que acompanha o crescimento da intolerância no mundo.

O Pr. Luiz Renato Maia ao falar da Nigéria: “É dividida em 36 estados, sendo que a maior parte deles é dominada pelos muçulmanos”
Foto: Arquivo pessoal

O pregador chama a atenção para um aspecto importante da LMP 2024: das dez nações que mais perseguem os cristãos em todo o planeta, cinco estão localizadas no Norte da África: Somália, Líbia, Eritreia, Nigéria e Sudão. Nesses países, a perseguição é realizada por grupos extremistas islâmicos, que desejam impor ditaduras muçulmanas e erradicar o cristianismo, lançando mão de todo tipo de violência – que vão desde a destruição de propriedades a sequestros, estupros e assassinatos. Outros problemas, como a pobreza extrema, o subdesenvolvimento e os conflitos civis, tornam a vida dos cristãos ainda mais difícil nessas localidades. “A crise humanitária é enorme, o que restringe ainda mais a liberdade. Muitos pastores pedem apoio externo, devido à perseguição, e ajuda para manter funcionando a comunidade de fé.”

O presidente nigeriano Bola Tinubu (foto oficial) e seu vice, Kashim Shettima, são muçulmanos
Foto: Nosa Asemota / Wikimedia / CC

A Nigéria, um dos países elencados pelo Pr. Luiz Renato Maia, é a maior nação do continente africano, com mais de 200 milhões de habitantes, e ocupa a 6ª posição da LMP 2024. “É dividida em 36 estados, sendo que a maior parte deles é dominada pelos muçulmanos, principalmente no Norte do país”, informa o missionário L. K., da Missão Somente Pela Fé, que falou à nossa reportagem sob a condição de não ser identificado, por questões de segurança.

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdoğan, restringe a entrada de missionários no país, mas permite ações humanitárias cristãs
Foto: X / Republic of Türkiye Directorate of Communications

O principal grupo radical islâmico em ação na Nigéria, o Boko Haram, tem como objetivo controlar todos os estados pela força e transformar o país em uma nação 100% islâmica. Para colocar esse plano em prática, milicianos sequestram e matam cristãos, atacam e incendeiam templos. “Infelizmente, o governo de Abuja não faz nada para acabar com o Boko Haram e as demais facções extremistas que perseguem a Igreja”, lamenta L. K., destacando que a Nigéria é governada por muçulmanos – tanto o presidente nigeriano Bola Tinubu quanto seu vice, Kashim Shettima, seguem essa religião. Na visão do obreiro, a tendência é que a perseguição continue a crescer, uma vez que as autoridades permanecem inertes diante da onda de violência.

O Pr. Daniel Moulié, coordenador da área de Inteligência e Segurança Missionária da JMM, acredita que, em diversas nações de maioria islâmica, hinduísta ou de orientação socialista, a perseguição poderia ser pior, mas é limitada “por fatores, como pressões diplomáticas, sanções internacionais e a falta de apoio de países ou de grupos extremistas”
Foto: Arquivo pessoal

Pressões internacionais – Há países em que, apesar de a perseguição religiosa ser explicitamente promovida pelo poder estatal, as organizações cristãs atuam com algum sucesso. É o caso da Turquia, que ocupa o 50º lugar na LMP 2024. Embora a entrada de missionários seja restrita em território turco, as instituições de ajuda humanitária cristãs têm respondido às necessidades da população, oferecendo apoio e assistência às demandas que o governo de Recep Tayyip Erdoğan tem dificuldade de suprir. “A ação dessas organizações tem sido um farol de esperança durante desastres naturais ou por meio de programas sociais”, assegura o Pr. Daniel Moulié, coordenador da área de Inteligência e Segurança Missionária da Junta de Missões Mundiais (JMM), órgão ligado à Convenção Batista Brasileira (CBB). O ministro do Evangelho acredita que, em muitas nações de maioria islâmica, hinduísta ou de orientação socialista, a perseguição poderia ser pior. “No entanto, é limitada por fatores, como pressões diplomáticas, sanções internacionais e a falta de apoio de países ou de grupos extremistas.”

Líderes da milícia terrorista Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (conhecida pela sigla JNIM), grupo ligado à Al-Qaeda
Foto: Reprodução de vídeo por Ernest Rockwell / Air University

Todavia, há casos em que as pressões internacionais nem sempre funcionam, lembra o missionário Brad Walz, da Rede de Missões Latinas. Como exemplo, ele cita o fato de um líder cristão estar preso há mais de uma década na Eritreia, na África Oriental. “Muitos têm defendido o seu nome e lutado por sua libertação, mas sem sucesso.” Outro país quase imune às pressões externas é Burkina Faso, na África Ocidental, que ocupa o 20º lugar na LMP 2024. Segundo Walz, mais da metade do território foi perdido para a milícia terrorista Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (conhecida pela sigla JNIM), organização ligada à Al-Qaeda. “O grupo está estabelecido no Mali e é ativo em grande parte da África Ocidental, incluindo extensões territoriais do Níger. Muitas pessoas foram forçadas a deixar suas casas. O governo conseguiu recuperar parte do território, e alguns regressaram, mas a situação ainda é muito difícil”, lamenta o missionário.

Foto: methaphum / Adobe Stock

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *