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Foto: Pexels / Harrison Haines

Papel essencial

Crescer sem a presença do pai biológico pode colocar em risco o desenvolvimento emocional das crianças, especialmente dos meninos

Por Evandro Teixeira

Uma das consequências do divórcio é a quebra no convívio entre pais e filhos. Com o fim do casamento, um dos cônjuges − geralmente, o marido − deixa a casa, afetando a vida das crianças. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, onde 44% dos casamentos terminam, mostrou que crescer afastado do contato paterno impacta diretamente jovens do sexo masculino. Segundo o levantamento, meninos que crescem longe do pai são duas vezes mais propensos a estarem ociosos aos 20 anos em comparação aos que tiveram a figura paterna no lar. Se conseguirem ingressar na faculdade, esses têm metade da probabilidade de conseguir se formar. Além disso, estão mais propensos a enfrentar problemas com a lei e serem presos na juventude. A sondagem foi realizada pelo Institute for Family Studies (Instituto para Estudos da Família), uma associação norte-americana sem fins lucrativos que busca fortalecer o casamento, a vida familiar e promover o bem-estar das crianças por meio de pesquisa e educação pública.

O Prof. Francisco Razzo vê a criação de leis que facilitam a dissolução do casamento como uma visão equivocada sobre o que é viver a dois: “Nossa cultura contemporânea imagina a vida matrimonial como um ambiente onde os prazeres individuais devem ser satisfeitos”
Foto: Arquivo pessoal

O alto número de divórcios também é um problema corrente no Brasil, onde houve um recorde com mais de 80 mil rompimentos matrimoniais registrados nos cartórios em 2021 – um aumento de 4% em relação ao ano anterior. O Prof. Francisco Razzo, mestre em Filosofia, credita esses índices elevados de uniões desfeitas a uma crise de valores difundida nas sociedades modernas. Filho de pais divorciados, Razzo vê a criação de leis que facilitam a dissolução do casamento como uma visão equivocada sobre o que é viver a dois. “A cultura contemporânea imagina a vida matrimonial como um ambiente onde os prazeres individuais devem ser satisfeitos. Casamento, no sentido institucional, não é contrato de serviço, e sim uma aliança com vínculo perene.”

O educador explica que a relação paterna é fundamental para a formação de uma consciência de respeito à autoridade, o que pode colaborar para que o filho não tenha problemas com a lei. No entanto, ressalta que a mãe também tem contribuições importantes nesse processo. Por isso, ele defende que o envolvimento de jovens com práticas ilegais não pode ser explicado apenas pela ausência paterna. “Um pai presente, mas autoritário pode ser responsável pela deformação moral de um filho tanto quanto um pai ausente.” No caso das famílias cristãs, Razzo destaca a necessidade de os pais tementes a Deus assumirem seus papéis no desenvolvimento dos filhos, testemunhando diariamente uma vida inspirada nos valores cristãos.

A pedagoga e teóloga Simone Maia de Carvalho pontua: “Um indivíduo que cresce sob a influência de uma base familiar ruim, ou marcada pela ausência, será um alvo fácil de insegurança, medo e ansiedade”
Foto: Arquivo pessoal

Entretanto, tal cuidado demanda investimento de tempo com os pequenos, como lembra a pedagoga e teóloga Simone Maia de Carvalho. Pastora auxiliar na Igreja do Evangelho Quadrangular do Conjunto Tom Jobim, em Bangu, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), ela pontua que as figuras do pai e da mãe estabelecem os principais alicerces para a vida adulta. Portanto, a ausência de um desses pilares pode comprometer a formação da criança e do jovem. Contudo, a especialista reafirma que a qualidade da participação dos pais na educação dos filhos é essencial ainda na infância. “Um indivíduo que cresce sob a influência de uma base familiar ruim, ou marcada pela ausência, será um alvo fácil de insegurança, medo e ansiedade.”

O Rev. José Ernesto Spinola Conti lembra: “Ao atacar as bases familiares, estão enfraquecendo a própria sociedade e, consequentemente, destruindo qualquer perspectiva de um futuro promissor para as próximas gerações”
Foto: Arquivo pessoal

Heranças do Senhor O Rev. José Ernesto Spinola Conti, líder da Igreja Presbiteriana Água Viva, no bairro Estrelinha, em Vitória (ES), aponta que, biblicamente, o pai é o cabeça da família. Como tal, sua ausência ou negligência poderá comprometer o equilíbrio familiar, especialmente sob o ponto de vista espiritual. Conti salienta que, por meio de uma teologia respaldada nas verdades bíblicas, cabe às igrejas orientar os pais acerca de suas responsabilidades. Para o líder, essa conscientização se faz ainda mais necessária nas sociedades modernas, onde existe um esforço – sobretudo nos meios de comunicação – para tentar destruir os conceitos tradicionais de família. “Ao atacar as bases familiares, estão enfraquecendo a própria sociedade e destruindo qualquer perspectiva de um futuro promissor para as próximas gerações.”

O Pr. Marlei Vagner Lúcio pontua: “É essencial ter o entendimento de que os pequenos são heranças dadas pelo Senhor e, como tais, devem ser bem cuidados”
Foto: Arquivo pessoal

O Pr. Marlei Vagner Lúcio, líder da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Barbacena (MG), concorda com o ministro presbiteriano e defende a tese de que os cultos voltados para as famílias são ótimos para conscientizar os pais. Além de tratar das questões espirituais que podem atrapalhar o bom andamento do lar, ele acredita que realizar reuniões desse tipo com os responsáveis é uma maneira de orientá-los no cumprimento de seus papéis segundo a Palavra. “É essencial ter o entendimento de que os pequenos são heranças dadas pelo Senhor e, como tais, devem ser bem cuidados”, pontua o pregador, citando o Salmo 127.3,4: Eis que os filhos são herança do SENHOR, e o fruto do ventre, o seu galardão. Como flechas na mão do valente, assim são os filhos da mocidade.

O psicólogo e teólogo Leonardo Luís Távora da Silva afirma: “Muitos problemas ocorrem por falta de paciência. Ensinar com caráter cristão dá trabalho. Essa instrução não será aprendida na escola, pois a educação institucional não pode dar conta do que compete aos responsáveis”
Foto: Arquivo pessoal

Por sua vez, o psicólogo e teólogo Leonardo Luís Távora da Silva assinala que, entre pais e filhos, é necessário haver um relacionamento de discipulado pautado na ordenança divina registrada em Deuteronômio 6.6,7: E estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração; e as intimarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te.

Membro da Primeira Igreja Batista de Irajá, na zona norte do Rio de Janeiro (RJ), o terapeuta ressalta que aPalavra de Deus deixa claro que o “discipulado” familiar é responsabilidade dos pais e, por isso, não pode ser terceirizado ou negligenciado. “Muitos problemas ocorrem por falta de paciência. Ensinar com caráter cristão dá trabalho. Essa instrução não será aprendida na escola, pois a educação institucional não pode dar conta do que compete aos responsáveis.”

A psicóloga Ana Lúcia Moreira Rodrigues assegura: “O ideal é a criança ser criada pelos pais em um lar harmônico onde será cuidada e amada”
Foto: Arquivo pessoal

Indagado sobre o resultado da pesquisa do Instituto para Estudos da Família, abordado no início desta reportagem, o especialista enfatiza que a ausência paterna na infância nem sempre causará efeitos nocivos em fases posteriores da vida. “Existem casos de pessoas que cresceram em ambientes disfuncionais, com pais maus ou ausentes, e hoje são cidadãos exemplares.”

Harmonia no casamento – Porém, na opinião da psicóloga Ana Lúcia Moreira Rodrigues, a ausência paterna é capaz de gerar uma carência tão grande nos pequeninos que eles podem buscar o afeto da figura masculina em alguém alheio ao núcleo familiar – algo perigoso, pois os torna vulneráveis ao abuso sexual. “O ideal é a criança ser criada pelos pais em um lar harmônico onde será cuidada e amada”, assegura a profissional, concordando com a ideia de que as igrejas precisam trabalhar bem essas questões nos púlpitos. Além disso, devem oferecer cursos para noivos, palestras e outras atividades para os casados, evitando que tenham de experimentar o divórcio.

A microempresária Solange Carla Moreira Lacerda (na foto, ao lado da família) entende que a harmonia do casal tem influenciado diretamente na criação do filho
Foto: Arquivo pessoal

A microempresária Solange Carla Moreira Lacerda, 42, é casada há 18 anos com o técnico de telecomunicações Cleber Lacerda Ferreira, 45 anos. Eles se tornaram membros da sede regional da Igreja da Graça em Venda Nova, Belo Horizonte (MG), em 2008, quando nasceu o filho Arthur, hoje com 14 anos. Sempre incentivados pela Igreja a manterem um relacionamento conjugal saudável, a esposa entende que a harmonia do casal tem influenciado na criação do filho. “Foi muito importante que eu e meu esposo estivéssemos em acordo com relação à educação do Arthur”, observa Solange, aconselhando que toda família busque em Deus a sabedoria necessária para melhor instruir os pequenos. “Na Bíblia, encontramos as orientações de que precisamos para ensinar as crianças conforme a vontade do Senhor.”

Agora, a família já colhe os frutos desse investimento. Arthur está envolvido na obra de Deus: toca bateria no ministério de louvor do grupo jovem e ajuda na limpeza do templo. Solange só lamenta não ter vivido a mesma experiência na infância. Seus pais se separaram quando ela tinha dez anos, e a falta da figura paterna lhe causou sofrimento. Por causa disso, tornou-se arredia e quase não falava com as pessoas. Ela relata que passou por inúmeras frustrações e bloqueios psicológicos, hoje superados em Jesus, mas que permaneceram durante toda a sua adolescência. Por isso, com base em sua experiência pessoal, endossa o resultado do estudo norte-americano. “Por mais que a mãe consiga criar o filho sem o pai, um não substitui o outro. Cada um tem um papel de relevância na vida do filho”, conclui.

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