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Teologia

Businessman in suit point his finger at camera in front of black background

Foto: Aleksej / Adobe Stock

Não julgueis

Pastores revelam o sentido das palavras de Jesus acerca da crítica a terceiros

Por Evandro Teixeira

Em Mateus 7, o Salvador adverte quanto ao ato de julgar. Além de sinalizar que essa ação exige cautela, Ele ensina que o julgamento é uma via de mão dupla. Não julgueis, para que não sejais julgados, porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós (versos 1 e 2).

Na contramão desse conselho, o avanço das redes sociais gerou uma cultura permanente de julgamento e polarização. Em busca de engajamento virtual, as pessoas se expõem e recebem curtidas e comentários positivos, mas também críticas. Em 2022, um levantamento feito pelo instituto Datafolha sobre a saúde mental do brasileiro apontou: muitos usuários das mídias digitais temem ser julgados pelo conteúdo que postam. Outra pesquisa, da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (ABRATA), em parceria com a indústria farmacêutica Viatris, revelou que quatro em dez pessoas (38%) se sentem cobradas pelo teor de suas publicações nas redes sociais e temem ser julgadas.

O teólogo Paulo de Oliveira: “É impossível cumprir alguns mandamentos sem avaliar ou exercer algum tipo de crítica”
Foto: Arquivo pessoal

Diante desse quadro, a reportagem de Graça/Show da Fé buscou respostas a uma pergunta: em meio à cultura de julgamento, como o cristão usuário das redes sociais deve se comportar?  Para o teólogo Paulo Matias de Oliveira, membro da Assembleia de Deus em Resende (RJ), é preciso interpretar corretamente o texto de Mateus 7, citado no início da matéria. De acordo com Oliveira, a Palavra não proíbe julgamentos, mas estabelece um padrão para o cristão avaliar os comportamentos alheios.

Na opinião do estudioso, o texto costuma ser aplicado com um viés de ameaça de quem tenta proibir a crítica a determinada situação. “À luz da Bíblia, analisando exemplos de Jesus e dos Seus apóstolos, certas circunstâncias requerem de nós uma avaliação”, pontua o teólogo. Ele frisa diferentes relatos nas Escrituras nos quais um personagem fez algum julgamento. “Em Mateus 7.6, o próprio Jesus decreta: Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, indicando a prudência ao compartilhar ensinamentos espirituais. Ele compara pessoas a cães e porcos, o que sugere uma análise pesada.”

Foto: Pixel-Shot / Adobe Stock

Paulo de Oliveira reforça que alguns apóstolos também julgaram em seu tempo, como Paulo ao escrever aos coríntios: Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo (2 Co 11.13). “É impossível cumprir alguns mandamentos sem avaliar ou exercer algum tipo de crítica”, esclarece o teólogo. De acordo com ele, nestes tempos de exposição pessoal excessiva na web, convém ter cautela: praticar a empatia e tentar entender o ponto de vista dos outros é um caminho possível. “As diferentes experiências e expectativas podem influenciar opiniões e comportamentos. O ideal seria promover um diálogo construtivo: em vez de simplesmente julgar, entender as diferentes manifestações de pensamento pode ser mais benéfico para o ambiente virtual.”

O Pr. Sebastião Joi Cardoso salienta: “O cristão deve julgar ensinando as pessoas, e não as condenando, pois essa prerrogativa é exclusiva de Deus”
Foto: Arquivo pessoal

Com amor – O Pr. Sebastião Joi Cardoso, da Terceira Igreja Batista de Aperibé (RJ), afirma que, no campo das ciências humanas, a crítica é uma ferramenta construtiva. “Porém, no dia a dia, ganha outros contornos, como se fosse algo ruim. No entanto, ela só pode ocorrer mediante um julgamento, que é a avaliação de um fato”, esclarece o líder, assinalando que os cristãos não foram proibidos biblicamente de julgar.

De acordo com ele, em Mateus 7, as palavras de Jesus eram direcionadas aos fariseus, que sentiam prazer em acusar os pecadores, e não em ajudá-los. “O cristão deve julgar ensinando as pessoas, e não as condenando, pois essa prerrogativa é exclusiva de Deus”, explica Cardoso. Ele salienta que existe um desconforto a respeito do tema, porque há dúvidas sobre a intenção do julgador. Segundo o líder batista, é possível ter aspereza ao apontar um erro, como faziam os fariseus, ou amor, conforme ensina a Palavra. “A fim de evitar equívocos, o ideal é seguir o mandamento bíblico: quanto mais próximos estivermos do Senhor, mais longe estaremos das contendas.”

A pedagoga Giselly de Paula Cassiano orienta: “O servo de Deus precisa criar um filtro que o impeça de fazer julgamentos equivocados. Esse filtro é a Bíblia”
Foto: Arquivo pessoal

Para a pedagoga Giselly de Paula Cassiano, é inerente ao ser humano fazer juízo de valor. Entretanto, ela lembra que possuir uma opinião não torna alguém um árbitro, pois ninguém tem a capacidade de julgar perfeitamente devido aos limites humanos. “Apesar disso, nas redes sociais, é fácil encontrar situações de linchamento moral, partindo especialmente de pessoas que se aproveitam do anonimato. Para não incorrer nesse erro, o servo de Deus precisa criar um filtro que o impeça de fazer julgamentos equivocados. Esse filtro é a Bíblia”, orienta.

Ela observa ainda que, ao se sentir julgada, a pessoa pode ser afetada emocionalmente, gerando até consequências mais graves, como depressão e suicídio, dependendo do nível de fragilidade subjetiva. Por isso, o cristão precisa saber que, nas redes, ninguém está livre de ser criticado, devendo estar ciente das consequências. “Caso viva essa experiência, a atitude mais sensata é perdoar quem o julgou”, ensina a pedagoga, mencionando Colossenses 3.15 (E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos).

O Pr. Claudio Humberto de Oliveira diz que o cristão deve buscar a discrição, a simplicidade e a santificação: “Muitos se expõem demais e ostentam padrões de imagem e comportamento incoerentes com a vida cristã”
Foto: Arquivo pessoal

Na opinião do Pr. Claudio Humberto de Oliveira, da Primeira Igreja Batista de Alegre (ES), cabe apenas ao justo Juiz a tarefa de julgar, conforme registra o texto de Romanos 14.13: Assim que não nos julguemos mais uns aos outros; antes, seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao irmão. O líder entende que a excessiva exposição na internet potencializa as chances de crítica e reconhece que, para quem deseja visibilidade, mesmo os comentários negativos podem gerar engajamento.

De acordo com Oliveira, o cristão deve buscar a discrição, a simplicidade e a santificação. “Muitos se expõem demais e ostentam padrões de imagem e comportamento incoerentes com a vida cristã”, observa o pastor, ressaltando que a postura, nas redes sociais, é um reflexo do mundo real. “O cuidado com a exposição não se limita ao ambiente virtual. As pessoas devem saber com quem partilhar questões pessoais.”

O Pr. Douglas dos Santos Paiva ressalta: “Se não vigiarmos, ficaremos magoados com tudo o que vemos e ouvimos a nosso respeito”
Foto: Arquivo pessoal

“Respeito e compaixão” – O Pr. Douglas dos Santos Paiva, líder regional da Igreja da Graça em Santa Luzia (MG), lembra que, com a popularização das redes sociais, o julgamento acabou se tornando mais evidente. Segundo ele, ainda que, para alguns, julgar e criticar tenham significados diferentes, as opiniões de terceiros tendem a influenciar as pessoas. Por isso, Paiva afirma que é preciso estar preparado: “Se não vigiarmos, ficaremos magoados com tudo o que vemos e ouvimos a nosso respeito”, ressalta.

De acordo com o Pr. Ananias Pinto Siqueira, líder da Igreja Internacional da Graça de Deus em Campo Belo (MG), cabe ao julgador se autoavaliar primeiro, conforme recomenda Jesus em Mateus 7.3-5: E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e, então, cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão. “Somente quando reconhecemos o que somos e lidamos com isso, podemos ajudar nossos irmãos com humildade.”

O Pr. Ananias Pinto Siqueira lembra: “Somente quando reconhecemos o que somos e lidamos com isso, podemos ajudar nossos irmãos com humildade”
Foto: Arquivo pessoal

Para Siqueira, o ensinamento de Cristo tem de conduzir a postura do cristão, inclusive nas redes sociais: que as postagens respeitem os princípios e valores extraídos da Palavra. “É vital lembrar as orientações de Jesus sobre amor, respeito e compaixão”, recomenda o líder, reforçando que a decisão de se expor deve ser ponderada, exigindo discernimento acerca do conteúdo compartilhado. “Embora o julgamento seja seletivo, a decisão entre publicar informações pessoais ou preservá-las é opcional e precisa ser equilibrada. Por meio das interações digitais, os cristãos têm a oportunidade de testemunhar sua fé. Em vez de criticar comportamentos alheios, é necessário compartilhar o amor de Deus”, orienta.


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