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Foto: Arte sobre desenho de Kamila Bay / Adobe Stock

Veneração ao erro

Em suas mais diversas formas, a idolatria desagrada a Deus e deve ser abandonada

Por Patrícia Scott

Do ponto de vista bíblico, a idolatria está relacionada a qualquer elemento que ocupe o lugar do Criador como objeto de veneração. A Bíblia condena essa prática nos Dez Mandamentos, um conjunto de leis ditadas pelo próprio Deus, a fim de nortear a conduta humana: Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás (Êx 20.3-5). Para nós, cristãos evangélicos, essa forma de culto – que atenta contra o Deus das Escrituras Sagradas – não se restringe ao paganismo. A humanidade se encarregou de trazer ao mundo uma variedade de outros deuses que ocupam altares suntuosos em sua mente. [No final desta reportagem, leia o quadro Condenação divina]

O Rev. Ageu Cirilo de Magalhães Júnior afirma que a idolatria permanece a mesma desde os tempos bíblicos: mudam apenas os objetos de adoração
Foto: Arquivo pessoal

O Rev. Ageu Cirilo de Magalhães Júnior, ex-diretor do Seminário Teológico Presbiteriano Reverendo José Manoel da Conceição, em São Paulo (SP), afirma que a idolatria permanece a mesma desde os tempos bíblicos: mudam apenas os objetos de adoração. “No passado, os ídolos eram de pedra, barro ou madeira. Hoje estão no interior das pessoas: dinheiro, carreira, prosperidade, relacionamentos, trabalho e diversão”, enumera. O ministro se recorda de que a Bíblia repreendia os israelitas que alimentavam um coração idólatra: Qualquer homem da casa de Israel que levantar os seus ídolos no seu coração […] lhe responderei conforme a multidão dos seus ídolos (Ez 14.4).

Magalhães Júnior cita como exemplo desse paganismo pessoas que acordam e vão dormir pensando no trabalho, ou os que buscam na comida o alívio para suas angústias. “Os ídolos se tornam um refúgio, o lugar para onde esses indivíduos correm”, avalia o pastor. Ele acrescenta que imoralidade, filmes e séries podem se tornar deuses do coração, opondo-se a Deus, o socorro bem-presente na angústia (Sl 46.1). “O ídolo escraviza.”

O Pr. Leonardo Paiva lembra: “Somente a pregação do Evangelho é capaz de abrir o entendimento dos homens e libertá-los do engano e da idolatria de imagens, pessoas, dinheiro ou até de si mesmos”
Foto: Arquivo pessoal

O Pr. Leonardo Paiva, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Padre Miguel, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), ensina que o Altíssimo não divide Sua glória com ninguém: Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei, nem o meu louvor, às imagens de escultura (Is 42.8). Entretanto, salienta que, por si mesmo é impossível romper com as cadeias. “Somente a pregação do Evangelho é capaz de abrir o entendimento dos homens e libertá-los do engano e da idolatria de imagens, pessoas, dinheiro ou até de si mesmos.”

Bezerro de ouro – Na visão do Pr. Yan Silva, ministro auxiliar na sede estadual da Igreja da Graça no Rio de Janeiro, o celular e as redes sociais tornaram ainda mais popular a adoração a artistas e famosos. “Eles têm se transformado em deuses. Quando a pessoa não encontra o Deus verdadeiro, até a pedra esculpida se torna um ídolo”, analisa, citando Provérbios 14.12: Há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte.

O Pr. Yan Silva afirma que o celular e as redes sociais tornaram ainda mais popular a adoração a artistas e famosos: “Eles têm se transformado em deuses”
Foto: Arquivo pessoal

O Pr. Daniel Miranda, da IIGD em Raimundo Melo, Rio Branco (AC), lembra que, na Bíblia, inúmeros exemplos de idolatria resultaram em efeitos desastrosos. O pregador menciona Êxodo 32, que narra como o povo, cansado de esperar Moisés descer do monte Sinai e crendo que ele havia morrido, pressiona Arão a fazer um bezerro de ouro. “Estavam colocando o destino nas mãos de uma estátua que eles mesmos haviam criado”, comenta o pastor, assinalando que essa passagem é um exemplo de como a idolatria cega as pessoas. “Eles se sentiam inseguros para prosseguir. Então, criaram um bezerro de ouro. O final desse triste episódio foi a morte”, relata Miranda, recordando o fato de que os israelitas haviam saído da escravidão no Egito para herdarem uma terra de descanso e prosperidade, mas quase todos morreram no deserto. “Quando depositamos nossa confiança em quem não há salvação, caminhamos para o abismo.”

O Pr. Daniel Miranda lembra que, na Bíblia, inúmeros exemplos de idolatria resultaram em efeitos desastrosos: “Quando depositamos nossa confiança em quem não há salvação, caminhamos para o abismo”
Foto: Arquivo pessoal

O ministro cita também a lição deixada por Jesus. Mesmo estando em jejum no deserto, o Messias não aceitou adorar Satanás e o combateu com as Escrituras Sagradas (Lc 4.5-8). “O diabo apresentou uma proposta de glória e prazer. Segundo ele, o Mestre deveria Se prostrar e o adorar. Se Cristo tivesse feito isso, o plano da salvação e toda a humanidade estariam perdidos para sempre”, pontua. Ainda de acordo com Miranda, quando o homem se curva a pessoas ou objetos, mesmo sem querer, está se rendendo a Satanás. “É a morte eterna, pois só há vida em Cristo.”

Foto: Arte sobre desenho de Marina / Adobe Stock

O Pr. Herbert Liberman, da Igreja do Evangelho Quadrangular em Tancredo Neves, na cidade de Rio Branco (AC), ensina que a idolatria afasta o ser humano do Criador. “A pessoa está perdida, sem identidade e longe do Salvador. Por esse motivo, projeta sua vida no objeto de adoração”, explica o ministro, assegurando que o autoconhecimento é essencial para que o indivíduo abandone a idolatria e consiga identificar onde está empregando seu tempo, seus pensamentos e suas emoções.

De acordo com Liberman, o passo seguinte é buscar uma experiência pessoal com o Filho de Deus. “Muitos ouviram falar de Jesus, mas nem todos tiveram uma vivência com Ele”, analisa o pastor, citando Marcos 10.21,22. Nessa passagem, um homem pergunta a Jesus como conseguir a vida eterna. A resposta o surpreende: Falta-te uma coisa: vai, e vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem e segue-me. Mas ele, contrariado com essa palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades. “O coração daquele indivíduo estava no dinheiro. Entristecido, não seguiu o conselho do Mestre”, avalia.

O Pr. Herbert Liberman ensina que a idolatria afasta o ser humano do Criador: “A pessoa está perdida, sem identidade e longe do Salvador”
Foto: Arquivo pessoal

Idolatria na modernidade – Na opinião do empresário Alexandre Daloz, líder de adolescentes da Igreja Evangélica Batista de Vitória (ES), a idolatria pode afetar o crente em Jesus. É fundamental saber de que maneira o cristão está vivendo, fazendo-o questionar a si mesmo: “Por que não estou amando a Deus mais do que as outras coisas ou pessoas?”. Daloz afirma que, a partir desse exame de consciência e de sua resposta, o salvo identificará a raiz dessa prática pecaminosa. “Posso amar família, esposa, filhos, amigos, trabalho e igreja, mas o Senhor deve estar em primeiro lugar.”

O empresário Alexandre Daloz afirma: “Posso amar família, esposa, filhos, amigos, trabalho e igreja, mas o Senhor deve estar em primeiro lugar”
Foto: Arquivo pessoal

Para o empresário, quando isso não acontece, o ser humano não reconhece a obra de Cristo nem o Criador: “Ele desvia o olhar e substitui o altar de Deus. Sem um encontro real com o Altíssimo o homem fica perdido, buscando algo que o faça vencer as adversidades”, afirma o líder, citando os reis bíblicos Herodes e Nabucodonosor. “Ambos se consideravam importantes e adoravam as obras das próprias mãos. O primeiro se recusou a atribuir glória ao Altíssimo. Por isso, foi ferido pelo anjo do Senhor e comido pelos bichos [At 12.23]. O segundo, ao reconhecer o erro e se arrepender, honrou a Deus [Dn 4.29-37].”

O Pr. Marcelo Marinho, da Igreja Metodista Wesleyana em Marechal Rondon, na cidade de Porto Velho (RO), acredita que a centralidade do “eu” é uma forma comum de idolatria na modernidade. “Chegamos ao tempo em que os homens e as mulheres se tornaram amantes de si mesmos”, afirma, referindo-se às palavras do apóstolo Paulo em 2 Timóteo 3.2 acerca dos últimos dias.

O Pr. Marcelo Marinho acredita que a centralidade do “eu” é uma forma comum de idolatria na modernidade: “Chegamos ao tempo em que os homens e as mulheres se tornaram amantes de si mesmos”
Foto: Arquivo pessoal

Segundo Marinho, o ser humano é essencialmente um adorador e, na ausência da comunhão com o Deus verdadeiro, busca outros deuses para entregar seu culto. “Entretanto, o Senhor abomina essa postura, porque ela desvincula o homem de Sua presença e da condição de filho”, explica o pastor, acrescentando que a maioria das pessoas adora ídolos por desconhecer o amor do Pai. “A Igreja deve anunciar o Evangelho com ousadia, e encontraremos aqueles prontos a ouvir, aprender, converter-se e abandonar a idolatria”, cumprindo a profecia de Jesus registrada em João 4.23: Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem. “Sejamos esses adoradores sensíveis ao Espírito Santo, pois fomos reconciliados por intermédio de Cristo Jesus”, conclama Marcelo Marinho.

Foto: Josh / Adobe Stock

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