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Foto: Reprodução
Abraão de Almeida

Alemanha e Suíça: líderes da Reforma (parte 1)

Desde que o monge agostiniano Martinho Lutero (1483-1546) afixou, em 1517, suas teses contra o frade dominicano saxão Johann Tetzel (1465-1519), grande comissário para indulgências na Alemanha, não mais conseguiu conformar-se com Roma. Suas entrevistas com o cardeal italiano Tomás Caetano (1469-1534), em Augsburgo, na Baviera, não levaram a nada, como também de nada valeram à causa romana as outras duas que manteve, respectivamente com o cardeal alemão Karl von Miltitz (1490–1529) e com o teólogo alemão Johann Eck von Maier (1486-1543), ferrenhos defensores do catolicismo.

Martinho Lutero (1483-1546) – Foto: Reprodução

De maneira decidida, Lutero completou e publicou a sua argumentação, na qual afirma, entre outras coisas, que um leigo que possua as Escrituras e se guie por elas é mais digno de crédito do que um papa ou um concílio que não o faça! Na dieta [assembleia] de Worms, em 1521, perante o imperador Carlos V (1500-1558), os príncipes do imperador e os prelados, o monge alemão foi instado, sob ameaças, a retratar-se de tudo o que escrevera. Mas, longe de se esmorecer ou acovardar-se, com intrépida ousadia, proferiu ele estas palavras imortais: Se Sua Majestade Imperial deseja uma resposta franca, eu a darei, e é esta: É impossível para mim retratar-me, a não ser que me convençam pela Escritura ou por meio de argumentos evidentes. Eu acredito em coisas contrárias ao papa e aos concílios, porque é claro como a luz do dia que eles têm errado e dito coisas incoerentes com eles próprios. Estou firmado nas Escrituras Sagradas que  tenho citado; minha consciência tem de submeter-se à Palavra de Deus. Portanto, eu não posso e não me retratarei, porque proceder contra a consciência é ímpio e perigoso. Assim Deus me ajude. Amém.

Johann Tetzel (1465-1519) – Foto: Reprodução

Corajosa confissão Após essa corajosa confissão, a vida do reformador passou a correr grave perigo, e ele só não teve o mesmo fim do pensador tcheco João Hus (1369-1415) porque estava muito bem guardado. Na reunião do dia seguinte, Lutero foi declarado um herético e fora da lei. Foi condenado à morte, e seus escritos condenados ao fogo. O imperador disse: Um simples monge faz aqui afirmações contra o que a igreja tem crido por mil anos ou mais. Depois de sua obstinada explanação de ontem, eu sinto que tenho me aborrecido demais com ele. Ele irá livre para a sua casa, mas, depois disso, qualquer que o encontrar deve submetê-lo aos oficiais. [em história do Cristianismo, de A. Knight & W. Anglin, Rio de Janeiro, CPAD, 1984, p. 197]

Tomás Caetano (1469-1534) – Foto: Reprodução

Quando Martinho Lutero, correndo perigo de vida, deixou Worms, seu amigo, Frederico III (1463-1525), Príncipe-eleitor da Saxônia, providenciou o sequestro do reformador para o castelo de Wartburgo, de propriedade do nobre alemão. Ali, permaneceu por dez meses. Foi naquele castelo que ele começou a extraordinária obra de colocar a Bíblia na língua popular da Alemanha. Conhecedor do poder da palavra escrita, Lutero escrevia, em média, um livro ou livreto por semana, revolucionando completamente toda a Alemanha com seus escritos, apesar da severa intolerância reinante naqueles dias. Em 1525, alguns estados e muitas cidades imperiais já haviam abraçado a Reforma. E o interesse que o primeiro ato de Lutero havia despertado não diminuía com o decorrer do tempo.

Johann Eck von Maier (1486-1543) – Foto: Reprodução

Em 1526, Carlos V se indignou contra a política traiçoeira do papa Clemente VII (1478-1534), e, em represália a este, concedeu ampla regalia aos luteranos na dieta de Espira. No ano seguinte, apoiado pelos estados e pelas cidades que haviam abraçado a Reforma, o imperador invadiu a Itália com um exército formado de alemães e espanhóis. Apoderou-se de Roma, e o papa se refugiou no castelo de Santo Ângelo. Durante dez dias, a cidade ficou entregue ao saque, que alcançou cerca de 10 milhões de escudos de ouro, e ocasionou a morte de perto de oito mil pessoas.

Carlos V (1500-1558) – Foto: Reprodução

Na humilhante condição de derrotado e prisioneiro, o papa pagou o resgate de 400 mil ducados e assinou com o imperador, em 29 de junho de 1528, o Tratado de Barcelona, que comprometia a destruição da Reforma. Com tal finalidade, foi convocada a segunda assembleia de Espira para 21 de fevereiro de 1529. O momento era de profunda angústia e apreensão para todos os adeptos da Reforma. No auge do seu poder, depois de grandes e brilhantes vitórias militares e políticas, estava Carlos V pronto para satisfazer os desejos do Vaticano no extermínio da “heresia”, e, por isso, considerou inválida a concordata de 1526, e proscreveu todos os luteranos. Estes, energicamente, lançaram um heroico protesto, lavrado a 24 de abril de 1529, assinado por seis príncipes e 14 cidades. Dele, derivou-se o termo protestante – sem dúvida, origem extremamente honrosa para todos os evangélicos. Diante de tão grande oposição, o poderoso monarca ficou furiosíssimo, e só não tentou esmagar a Alemanha porque os reis da França e da Turquia o acalmaram até a paz de Crespy. Em 18 de fevereiro de 1546, faleceu Lutero em Eisleben, na mesma cidade onde nascera a 10 de novembro de 1483.

Clemente VII (1478-1534) – Foto: Reprodução

Em 1548, Carlos V mandou redigir uma concordata visando harmonizar os dois partidos religiosos, defensores de princípios tão opostos um ao outro como o dia da noite. No ano de 1552, em Passau, Carlos V assinou a liberdade religiosa, confirmada em Augsburgo em 1555, que devia ser permanente, absoluta e incondicional, edurar para sempre. Estava, assim, vitoriosamente estabelecida a Reforma Protestante na Alemanha.

Abraão de Almeida
Pastor da Igreja Evangélica Brasileira em Coconut Creek, Flórida, EUA, e autor de mais de 30 livros em português e espanhol. E-mail: abraaodealmeida7@gmail.com

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