Falando de História | Revista Graça/Show da Fé
Sociedade
08/08/2022
Heróis da Fé | Paul W. Brand
01/09/2022
Sociedade
08/08/2022
Heróis da Fé | Paul W. Brand
01/09/2022
Foto: Reprodução
Abraão de Almeida

O avanço da Reforma: Espanha

Na edição anterior, tratamos do progresso da Reforma na Itália. Neste artigo, vamos falar do avanço da Reforma Protestante na Espanha.

Os eclesiásticos e nobres espanhóis que acompanharam o imperador Carlos V (1500-1558) à Alemanha e estiveram presentes à Dieta de Augsburgo (1547-1548) – as reuniões da Dieta Imperial (ou Reichstag) do Sacro Império na cidade alemã. Eles e os que estiveram na Inglaterra após o casamento de Filipe II de Espanha (1527-1598) com Maria I (1516-1558) familiarizaram-se com as doutrinas protestantes, e não poucos deles inclinaram-se a adotá-las. Os escritos do reformador alemão Martinho Lutero (1483-1546) e as traduções da Bíblia para a língua
espanhola – principalmente a versão concluída pelo teólogo espanhol Casiodoro de Reina (1520-1594) em
1569 – contribuíram muito para introduzir os princípios da Reforma na Espanha, onde seus adeptos se multiplicaram particularmente nas cidades de Sevilha e Valladolid, lugares em que muitas igrejas secretas foram organizadas.

Movimento protestante – Os mais eminentes pregadores em Sevilha foram o teólogo Constantino Ponce de la Fuente (1502-1560) e Juan Gil (mais conhecido como Dr. Egídio), que tinham sido capelães do imperador. Em Valladolid, distinguiu-se como líder principal do movimento protestante outro capelão do imperador, o ex-padre Agostinho Cazalla. Assim, o movimento, na sua maior parte, estava em mãos de pessoas eminentes e cultas. Todavia, a descoberta dessas associações secretas em Sevilha e Valladolid estimulou a Inquisição a redobrar sua vigilância. O descuido de alguns facilitou a prisão dos principais dirigentes protestantes, e eles foram horrivelmente supliciados a fim de denunciar outros possíveis “hereges”.

Entre os que pereceram no auto de fé do dia 22 de maio de 1559, estava o advogado Antonio Herrezuelo (1513-1559), possuidor de uma fé inquebrantável, mesmo diante de seus juízes. Ele havia sido encarcerado com sua esposa, Leonor. No dia da execução de Herrezuelo, ele teve a tristeza de vê-la entre os reconciliados com a Igreja Romana. Ela receberia a pena menos severa de passar o resto da vida em uma casa de reclusão. Ao estar diante dela, o corajoso cristão lhe lançou um duro olhar dizendo:
É este o apreço que tens pela doutrina que te ensinei durante seis anos? Enquanto se dirigia à fogueira, esse valoroso crente espanhol repetia textos bíblicos que o consolavam e davam alto testemunho da sua fé, o que motivou que lhe pusessem uma mordaça. Ele morreu na fogueira com admirável constância. Conduzida à sua cela, só com a consciência e as lembranças de seu corajoso e querido esposo, Leonor se arrependeu e confessou de novo aquela fé que, em um momento de fraqueza, havia negado. Os inquisidores tudo fizeram para impedir o seu testemunho, mas fracassaram, porque a mulher se havia convertido em uma fortaleza invencível. Foi sentenciada e morreu na fogueira em 26 de setembro de 1568.

Foto: Joaquin Pinto / Reprodução

Na história do protestantismo espanhol, destaca-se outra Leonor, a viúva do ex-padre Agostinho Cazalla – morto na fogueira em 1554. Mulher rica e culta, ela havia aberto as portas de sua casa para que ali os crentes se reunissem. Seu cadáver, sepultado alguns anos antes na igreja de São Benito, foi exumado e queimado no auto de fé de maio de 1559. Sua casa, que havia servido de templo, foi derrubada, e o terreno, repleto de sal. No mesmo sítio se levantou uma coluna com uma lápide que recordava a causa daquela desolação. Essa coluna existiu até o ano de 1809, quando um dos generais de Napoleão mandou lançá-la por terra, relata a escritora inglesa Jean Plaidy (1906-1993) em sua obra The growth of the spanish inquisition (O crescimento da inquisição espanhola), publicada em 1960 pela Robert Hale Limited, em Londres.

Testemunhos triunfantes – Em outro auto de fé, realizado em Sevilha no dia 24 de setembro de 1559, foram martirizados diversos cristãos fiéis. Havia, entre eles, Don Gonzales, grande pregador, e suas duas irmãs. Ele havia sido torturado com uma severidade fora do comum, entretanto nada podia fazê-lo negar a sua fé. Gonzales e suas irmãs foram condenados a sofrer a morte pela fogueira, vivos. Quando, porém, acenderam o fogo, os inquisidores insistiram com eles que pedissem a misericórdia de serem estrangulados em troca de uma retratação, mas os três valentes cantaram juntos: Não retenhas a tua paz, ó Deus do meu louvor; pois a boca dos ímpios e a boca dos fraudulentos estão abertas contra mim. Eles falam contra mim com uma língua mentirosa.

É grande a lista dos que abraçaram a fé evangélica e foram martirizados na Espanha. Outros, contudo, conseguiram fugir do país e produziram abundante literatura, que era enviada à Igreja perseguida. Se a Reforma não conseguiu avançar muito na Espanha, tendo a mesma aceitação que em outros países, por outro lado registrou a atuação de heróis da fé. Eles suportaram horríveis suplícios e morreram nas fogueiras inquisitoriais, porém deram testemunhos triunfantes e cheios da gloriosa paz que só o Evangelho verda­deiro pode conceder.

Abraão de Almeida
Pastor da Igreja Evangélica Brasileira em Coconut Creek, Flórida, EUA, e autor de mais de 30 livros em português e espanhol. E-mail: abraaodealmeida7@gmail.com

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *