Falando de História | Revista Graça/Show da Fé
Heróis da Fé | Joseph Alleine – 286
18/05/2023
Capa | Sociedade
18/05/2023
Heróis da Fé | Joseph Alleine – 286
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18/05/2023
Bíblia de Gutenberg na Biblioteca Pública de Nova Iorque (DETALHE)
Foto: Wikimedia
Abraão de Almeida

As primeiras traduções da Bíblia

Como consequência dos 70 anos de cativeiro na Babilônia e da forte influência do aramaico, a língua hebraica se enfraqueceu. Todavia, fiéis à tradição de preservar os oráculos em sua própria língua, os judeus não permitiam que esses Livros Sagrados fossem traduzidos para outro idioma. Alguns séculos mais tarde, porém, essa atitude exclusivista e ortodoxa teria de dar lugar a um senso mais prático e liberal. Com o estabelecimento do império de Alexandre III da Macedônia (356-323 a.C.) – mais conhecido como Alexandre, o Grande – a partir de 331 a.C., o grego popularizou-se a ponto de se tornar imprescindível uma tradução da Sagrada Escritura para essa língua.

Segundo o escritor alexandrino Aristeias (350-330 a.C.), a tradução grega foi feita por 72 sábios judeus (daí o seu nome, Septuaginta) na cidade de Alexandria, a partir de 285 a.C., a pedido de Demétrio de Faleros (350-280 a.C.), orador ateniense e bibliotecário. Finalizada 39 anos mais tarde, essa versão marcou o começo de uma grande obra, que, além de preparar o mundo para o advento de Cristo, tornaria a Palavra de Deus conhecida de todos os povos. Na Igreja primitiva, essa era a tradução que os cristãos compreendiam.

Nem todos os livros do Antigo Testamento foram bem traduzidos na Septuaginta, razão pela qual o teólogo egípcio Orígenes (185-253), por volta de 228, compôs a Hexapla, uma edição de seis colunas da Bíblia que continha a versão grega dos Setenta e as traduções gregas do Antigo Testamento efetuadas por Áquila do Ponto, Teodócio e Símaco, o Ebionita. Além dessas, constavam nas duas últimas colunas uma versão do texto em hebraico e o mesmo documento transliterado em caracteres gregos. Essa grandiosa obra, constituída de 50 volumes,
perdeu-se provavelmente quando os sarracenos saquearam Cesareia no ano 653.

Em 382, o bispo lusitano Dâmaso (305-384) encarregou Jerônimo de Estridão (347-420) de traduzir o livro dos Salmos e o Novo Testamento da Septuaginta para o latim, o que ele fez em três anos e meio. Mais tarde, um novo bispo assumiu a direção da Igreja em Roma e percebeu, com inveja, a grande cultura e a influência de Jerônimo. Este, perseguido e humilhado, dirigiu-se a Belém, na Terra Santa, onde estudou e trabalhou durante 34 anos na tradução de todo o Livro Sagrado para a língua latina.

Nascido na província romana de Dalmásia – perto de Liubliana, a capital da Eslovênia –, Jerônimo escreveu ainda 24 livros de comentários bíblicos, 1 conjunto de biografias de eremitas, 2 histórias da Igreja primitiva e diversos tratados. Posteriormente, a Bíblia de Jerônimo ficou conhecida por Vulgata (vulgar), sendo hoje usada pela Igreja Católica Romana como a autêntica versão das Escrituras Sagradas em latim, apesar de muitos eruditos a acharem pobre e com falhas graves.

Bispo Dâmaso (305-384) – Foto: Reprodução

Códices e manuscritos bíblicos – A partir do século 4, os livros cristãos passaram a ser escritos em códices – manuscritos em pergaminhos reunidos por um cordão que passava por orifícios feitos no alto dos exemplares em forma de livro – e, portanto, bem mais práticos de serem manuseados que os antigos rolos.

Os mais importantes códices bíblicos são:

– Sinaiticus (ou Livro do Sinai), produzido por volta do ano 325, contém todo o Antigo Testamento grego, além das epístolas de Barnabé e parte do Pastor de Hennas. Foi encontrado em 1844 pelo sábio alemão Constantin von Tischendorf (1815-1874) no mosteiro de Santa Catarina, situado na encosta do Sinai. Tischendorf avistou 129 páginas do manuscrito em uma cesta de papel para serem lançadas ao fogo. Percebendo o seu enorme valor, levou-as para a Europa. Em 1859, voltou ao mosteiro e encontrou as páginas restantes. Doada pelo seu descobridor ao imperador Alexandre II da Rússia (1818-1881), essa preciosidade foi comprada pela Inglaterra posteriormente pela, então, vultosa quantia de cem mil libras esterlinas. Hoje, entretanto, o códice Sinaiticus está dividido em quatro partes desiguais: 347 folhas na Biblioteca Britânica (199 do Antigo Testamento e 148 do Novo Testamento), em Londres; 12 folhas e 14 fragmentos no Mosteiro de Santa Catarina, no monte Sinai (Egito); 43 folhas na Biblioteca da Universidade de Leipzig (Alemanha) e fragmentos de três folhas na Biblioteca Nacional Russa em São Petersburgo.

– Alexandrinus (ou Alexandrino), de meados do século 4, contém o Antigo Testamento grego e quase todo o Novo Testamento, com omissões de 24 capítulos de Mateus, cerca de 4 de João e 8 da segunda carta aos Coríntios. Possui ainda a primeira epístola de Clemente de Roma e parte da segunda e está na Biblioteca Britânica.

Outros famosos códices bíblicos são:

– Vaticano, do século 4, contém o Antigo e o Novo Testamentos com omissões. Está na Biblioteca do Vaticano desde o século 15.

– Ephraemi Rescriptus, produzido por volta de 450, encontra-se na Biblioteca Nacional da França, em Paris.

– Beza, encontrado por Teodoro de Beza (1519-1605) no mosteiro de Santo lrineu, na França, em 1581. Data do século 5 e está atualmente na Biblioteca de Cambridge, Inglaterra.

– Washington, produzido nos séculos 4 e 5, encontra-se na Freer Gallery of Art, em Washington D.C., capital dos Estados Unidos.

Há ainda vários outros códices de menor importância expostos em museus e bibliotecas de várias partes do mundo. Somente de livros do Novo Testamento, completos ou em fragmentos, há 156 conhecidos atualmente.

Em se tratando de manuscritos em rolos, o mais antigo e importante de todos foi encontrado casualmente em 1947 por um beduíno, em uma gruta bastante escondida nas proximidades de Jericó, junto ao mar Morto. Examinado por Eleazar Lipa Sukenik (1889-1953), arqueólogo israelense e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, revelou-se pertencer ao século 3 antes de Cristo. Contém o livro completo de Isaías e comentários de Habacuque, além de outras importantes informações sobre a época em que foi escondido. É conhecido como os Manuscritos do mar Morto.

Abraão de Almeida
Pastor da Igreja Evangélica Brasileira em Coconut Creek, Flórida, EUA, e autor de mais de 30 livros em português e espanhol. E-mail: abraaodealmeida7@gmail.com

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