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Foto: PxHere

Longe do ideal

Considerada uma questão de saúde pública, a obesidade cresce cada dia mais no Brasil e em todo o planeta

Por Ana Cleide Pacheco

O mundo terá 1 bilhão de pessoas obesas até 2030, número que representa mais de 12% de toda a população global – hoje, em torno de 8 bilhões. A estimativa consta no Atlas Mundial de Obesidade de 2022, produzido pela Federação Mundial de Obesidade (WOF, na sigla em inglês). Esta é uma instituição dedicada a estudar e propor ações para o combate a essa questão. O tema também está na mira da Organização Mundial de Saúde (OMS) e dos governos de diversos países.

No Brasil, o Ministério da Saúde já reconhece o sobrepeso e a obesidade como assuntos que merecem atenção do poder público e que o país vive uma epidemia de excesso de peso. Segundo a edição de 2020 da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), mais da metade (60,3%) dos adultos brasileiros tem sobrepeso e um quarto (25,9%) está obeso. Seguindo a tendência global de crescimento, o país terá 29,7% da população adulta nessa condição até 2030, conforme o Atlas da Obesidade. Desse total, 33,2% serão mulheres e 25,8%, homens.

O cirurgião geral e bariátrico Daniel Proença aponta: “A obesidade é uma doença crônica, sistêmica e multifatorial”
Foto: Arquivo pessoal

Tal perspectiva é corroborada por números do Mapa da Obesidade, relatório elaborado pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO). De acordo com o levantamento, houve um aumento de 72% nos casos de ganho de peso excessivo ao longo dos últimos 13 anos no Brasil. “A obesidade é uma doença crônica, sistêmica e multifatorial”, aponta o cirurgião geral e bariátrico Daniel Proença.

O médico explica que o sobrepeso e a obesidade são condições definidas pelo índice de massa corporal (IMC) de cada indivíduo. O indicador é calculado mediante a divisão do peso (em quilos) pela altura (em metros) elevada ao quadrado. De forma simplificada, pode-se dizer que um IMC de 25 a 29,9 aponta sobrepeso; de 30 a 34,9, obesidade grau 1; de 35 a 39,9, obesidade grau 2 e, acima de 40, obesidade grau 3. “Apesar de ser facilmente compreendido e calculado, o IMC tem limitações. Por isso, o melhor caminho é sempre passar por uma avaliação médica, na qual o profissional fará uma análise muito mais completa”, salienta o cirurgião.

A médica Maria Clara Rosas destaca: “Dietas com muitas calorias, pouco nutritivas, e inatividade física geram um ambiente obesogênico e, consequentemente, o ganho de peso”
Foto: Arquivo pessoal

“Sem fome” Um dos fatores que o especialista deverá avaliar são as causas do ganho excessivo de peso. A última atualização das Diretrizes Brasileiras de Obesidade, documento publicado pela ABESO em 2016, apontou que, dentre outros fatores, as questões genéticas e endócrinas, além da diminuição dos níveis de atividade física, estão entre as principais causas por trás do aumento de peso da população. Aliado a isso está o consumo excessivo de alimentos ricos em calorias e ultraprocessados, facilmente encontrados no comércio a um baixo custo. “Sabemos que existem muitos fatores, como a suscetibilidade genética associada: pais e mães obesos têm mais chances de terem filhos nessa condição, independentemente dos hábitos de vida. Entretanto, é inegável que existe a participação das práticas habituais na presença e manutenção da obesidade. Dietas com muitas calorias, pouco nutritivas, e inatividade física geram um ambiente obesogênico e, consequentemente, o ganho de peso”, destaca a médica Maria Clara Rosas, 32 anos, que aponta outro fator que pode desencadear esse quadro: as questões emocionais.

A neurologista Ingrid Barboza explica que a obesidade é uma doença inflamatória, que pode prejudicar também as funções relativas ao conhecimento
Foto: Arquivo pessoal

Segundo ela, os transtornos afetivos interferem no cérebro exatamente no centro regulador da fome e da saciedade. “O ser humano é a única espécie que come pela palatabilidade dos alimentos, mesmo estando sem fome”, ressalta a médica, assinalando que a obesidade, por se tratar de uma doença que tem múltiplos fatores associados, necessita de tratamento multidisciplinar. “O endocrinologista é o especialista indicado para esses casos, mas é preciso haver acompanhamento também com um nutricionista e, muitas vezes, com um psicólogo e um educador físico.”

De acordo com Maria Rosas, o uso de medicações aprovadas no país pode ser indicado como auxílio no tratamento, mas o ideal é a prevenção. “Hábitos saudáveis, adquiridos na infância, são mais fáceis de serem reprodutíveis a longo prazo. Experimentar frutas, legumes e alimentos in natura, além da estimulação da atividade física, são maneiras de manter taxas energéticas mais altas e diminuir a tendência ao ganho de peso.” [Leia, no final desta reportagem, o quadro Cultive bons hábitos]

A nutricionista Nathalia Ferreira Antunes de Almeida explica: “Muitos ainda acreditam que não há necessidade de modificar os hábitos alimentares, mas esse é o ponto de partida”
Foto: Arquivo pessoal

Risco de doenças – A obesidade é um fator de risco para doenças metabólicas, aquelas que causam alterações no funcionamento do organismo, como o colesterol alto (dislipidemia), a gordura no fígado (esteatose hepática) e a diabetes mellitus. Essas enfermidades podem desencadear problemas cardiovasculares, como o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC), resultando, muitas vezes, em morte ou em graves prejuízos à qualidade de vida do indivíduo.

De acordo com a neurologista Ingrid Barboza, a obesidade também favorece os distúrbios do sono, como a apneia obstrutiva – condição em que ocorrem bloqueios repetitivos da garganta, gerando pausas respiratórias enquanto a pessoa dorme –, e está relacionada a outras comorbidades que aumentam o risco de problemas neurológicos.

Para a especialista, a obesidade é uma doença inflamatória, que pode prejudicar também as funções relativas ao conhecimento. “Sabemos que a prevenção para as doenças cerebrais e para o declínio cognitivo tem muito a ver com a redução dos fatores de riscos cardiovasculares, entre eles, o controle da obesidade e a perda de peso. Não é uma relação direta, no sentido de: ‘se eu controlar o peso, não vou desenvolver transtornos mentais’, mas entendemos que isso tem impacto. Portanto, faz parte da recomendação médica”, explica.

A Profª. Lívia Neves testemunha: “As roupas de que tanto gostava não ficavam bem em mim. A virada de chave foi um comentário do meu pai. Ele via que eu não estava feliz com aquele corpo”
Foto: Arquivo pessoal

Grande mudança – De acordo com a nutricionista Nathalia Ferreira Antunes de Almeida, 38 anos, a modificação comportamental, o aconselhamento nutricional e a prática de atividade física são os meios mais efetivos para o controle da obesidade e do sobrepeso. Porém, por ser um tratamento longo e que demanda deixar de ingerir certos alimentos, a taxa de abandono varia entre 10% e 80%. “Muitos ainda acreditam que não há necessidade de modificar os hábitos alimentares, mas esse é o ponto de partida. Essa mudança e a sua manutenção são a chave para a melhora de inúmeras questões de saúde, inclusive a obesidade. Tudo começa pela conscientização, que precisa ser acompanhada de ações.”

Esses foram os passos seguidos pela Profª. Lívia Neves, 40 anos, ao assumir a responsabilidade de se cuidar, quando estava acima do peso e bastante infeliz. “As roupas de que tanto gostava não ficavam bem em mim. A virada de chave foi um comentário do meu pai: ‘É, minha filha, você está precisando mudar’. Ele via que eu não estava feliz com aquele corpo”, recorda-se a professora, membro da Igreja Batista da Lagoinha em Niterói (RJ).

A empresária Michele Cristini Ferrão sofria devido ao excesso de peso e opina: o obeso tem uma vida difícil em razão do bullying que sofre em diversos ambientes, como a escola e até em casa
Foto: Arquivo pessoal

A partir da adoção de uma dieta saudável e da prática de atividades físicas, Lívia iniciou uma grande mudança em sua vida. “Eu sabia que tinha de mudar e que poderia fazer isso acontecer. Sempre uso a expressão: ‘faça por você’. Não tem a ver com o outro, é sobre estar bem consigo mesmo. Queria me sentir linda e poder escolher a roupa para vestir, e não ser escolhida por ela”, brinca a docente, que, graças à reeducação alimentar e às mudanças de hábitos, eliminou 15kg.

Alimentação equilibrada – A empresária Michele Cristini Ferrão, 43 anos, também sofria devido ao excesso de peso. Em sua opinião, o obeso tem uma vida difícil em razão do bullying que sofre em diversos ambientes, como a escola e até em casa. “Sempre fui ofendida pelo meu pai. Ele tinha vergonha de mim, e isso me feria muito. Eu não aceitava essa rejeição de quem, por razões lógicas, deveria me proteger. Com isso, desenvolvi uma compulsão por comida e engordei ainda mais”, afirma a empresária, que congrega na Igreja Getsêmani, em Bento Ribeiro, zona norte do Rio de Janeiro (RJ).

Em 2014, aos 36 anos e pesando 130kg, Michele conseguiu reunir forças para mudar aquela condição. “Optei pela cirurgia bariátrica porque já havia tentado outras alternativas. Foi bastante desafiador, mas tudo mudou. Seis meses depois da operação, meu pai me chamou de princesa ao me ver”, comemora a empresária, que pesa 77kg atualmente. Para ela, a cirurgia e o emagrecimento foram presentes de Deus, pois tornaram possível a reaproximação com seu pai. “Além disso, emagrecer foi uma bênção: hoje, tenho uma alimentação equilibrada e pratico exercícios, aprendi a me amar e, acima de tudo, a me valorizar. Atribuo a Deus toda a honra por isso.”

Para a nutricionista Renata Moraes, os avanços da Medicina geraram um aumento na expectativa de vida da população, o que só a torna interessante quando a pessoa desfruta de boa saúde. “Como queremos viver? Com doenças associadas ou com menos doenças?”, questiona a especialista, lembrando que a longevidade e a qualidade de vida têm basicamente cinco pilares: alimentação, atividade física, cuidado com o intestino, qualidade do sono e gerenciamento do estresse. “Sempre digo que hábito é aquilo que a pessoa faz, repetidamente, várias vezes. Precisamos estar atentos a esses pilares e ter disciplina e constância para colhermos os frutos que virão.”

A nutricionista Renata Moraes afirma: “Sempre digo que hábito é aquilo que a pessoa faz, repetidamente, várias vezes. Precisamos estar atentos a esses pilares e ter disciplina e constância para colhermos os frutos que virão”
Foto: Arquivo pessoal

Na opinião da profissional, apesar de o número de obesos estar aumentando em todo o mundo, as pessoas estão mais informadas a respeito da importância de manter um estilo de vida saudável. Muitas estão inserindo, no dia a dia, práticas que lhes garantam mais tempo e mais qualidade de vida no futuro. “É importante implementar bons hábitos à nossa rotina. Quando fazemos isso, somos favorecidos não apenas pela perda de peso, mas tambémpelo ganho de saúde”, conclui.

Cultive bons hábitos

Pratique atividades físicas – O corpo precisa estar em movimento para se manter saudável. Por isso, é importante que os exercícios façam parte da rotina do ser humano. É preciso que cada um escolha a atividade física de sua preferência a fim de não correr o risco de ser motivado por modismos ou pelo incentivo de amigos. Isso pode resultar no abandono da prática em poucos dias ou semanas. É essencial que tal atividade esteja de acordo com o estilo de vida da pessoa e se encaixe na agenda dela. Além de favorecer a perda de peso, a prática de atividades fortalece músculos, ossos e tendões, fortifica o sistema imunológico, melhora a circulação sanguínea, reduz os sintomas da depressão, do estresse e da ansiedade e melhora a qualidade do sono.

Fotos: Gary Butterfield / Unsplash

Fuja das dietas restritivas – A alimentação saudável precisa ser variada, permitindo, assim, a perda de peso gradual. Dietas que prometem eliminar 5kg em uma semana não são recomendáveis porque podem provocar efeito rebote, quando a pessoa engorda ainda mais depois que volta a se alimentar com menos restrição. O ideal é fazer o devido acompanhamento com auxílio de um profissional capacitado.

Fotos: Farhad Ibrahimzade / Unsplash

Visite um médico regularmente – O especialista solicitará exames de rotina e diagnosticará eventuais problemas, recomendando o tratamento adequado em cada situação. Aquelas condições de saúde identificadas ainda no início têm maiores chances de cura. Portanto, não deixe de consultar um profissional de saúde com frequência. (Fonte: Boa Consulta)

Fotos: Pexels / Tima Miroshnichenko

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