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Foto: nicoletaionescu / 123RF

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Estudo afirma que consumo excessivo de notícias ruins pode fazer mal à saúde física e mental

Por Ana Cleide Pacheco

Uma pesquisa da Universidade de Tecnologia do Texas, nos Estados Unidos, apontou que a informação consumida diariamente impacta o pensamento, as emoções e o comportamento das pessoas. O estudo mediu a propensão dos mil e cem participantes da sondagem de checarem as notícias com frequência e de se deixarem envolver por elas. Com base nos dados coletados, os cientistas descreveram um padrão de consumo de notícias problemático – uma espécie de dependência.

Segundo os pesquisadores, aqueles que apresentam o problema tendem a absorver as notícias, em especial as ruins – como a guerra na Ucrânia ou a pandemia do novo coronavírus –, e permanecem preocupados com elas. Os cientistas destacam que esses indivíduos costumam checar o noticiário frequentemente na tentativa de encontrar alívio para ansiedade, porém, sem sucesso. Além disso, uma vez que começam a verificar as informações, não conseguem mais parar.

O levantamento, Caught in a Dangerous World: Problematic News Consumption and Its Relationship to Mental and Physical lll-Being (Apanhado em um mundo perigoso: consumo de notícias problemáticas e a sua relação com o mal-estar mental e físico, em tradução livre) classificou 16% dos entrevistados como tendo um padrão de consumo de notícias problemático severo. Estes reportaram problemas físicos e mentais bem mais significativos do que os demais. A investigação apontou ainda que 72% deles tinham a saúde prejudicada em função desse comportamento.

A prática de checar continuamente o celular em busca de notícias ruins ganhou o nome de doomscrolling – termo em inglês que une as palavras doom (ruína) e scroll (rolar a tela). Uma análise sobre esse fenômeno, divulgada pela Real Faculdade de Cirurgiões da Irlanda (RCSI, a sigla em inglês), mostra que esse hábito leva ao descontrole de uma função natural do organismo ativada em situações de perigo. Nesses casos, todo o corpo entra em alerta, como parte de um mecanismo de sobrevivência, deixando a pessoa frequentemente em estado de prontidão. Uma das substâncias liberadas nessas situações é a adrenalina, que pode causar dependência. Assim, mesmo de forma inconsciente, o indivíduo tende a procurar cada vez mais notícias ruins a fim de produzir esse hormônio. No entanto, isso tem um preço alto: após os picos de adrenalina, podem surgir sentimentos e pensamentos negativos, que, por sua vez, levam à depressão.


A psicóloga clínica Carla Ivonete Silva Campos avalia: “Vivemos em uma sociedade que premia o que é exagerado, excessivo, intenso, violento, dramático e com grande repercussão na internet”
Foto: Arquivo pessoal

Físico e emocional Outra consequência fisiológica provocada por tais notícias em demasia é a produção de outro hormônio, o cortisol. Se produzido em excesso e de forma recorrente, esse neurotransmissor envia uma mensagem para o hipotálamo, parte do cérebro que atua como uma espécie de gerente do sistema imunológico. “Acontece, então, o desarme desse sistema, causando uma baixa na imunidade e abrindo precedentes para que doenças oportunistas se instalem. Isso ocorre porque vivemos em uma sociedade que premia o que é exagerado, excessivo, intenso, violento, dramático e com grande repercussão na internet”, avalia a psicóloga clínica Carla Ivonete Silva Campos, membro da Igreja Metodista da Pampulha, em Belo Horizonte (MG).

A especialista ressalta que os indivíduos que desenvolvem uma visão de mundo mais negativa ativam também, de modo errado, a amígdala cerebral. Essa estrutura, de cerca de três centímetros, tem uma função muito importante na preservação e na proteção da vida, pois é a responsável pela mensagem cerebral de fuga, paralisia ou ataque, em situações de perigo. “Dessa forma, quando o cérebro está exposto constantemente a eventos de medo, pânico ou violência, sejam eles reais sejam imaginários, pode haver distúrbios na qualidade do sono, no convívio social e na manifestação de transtornos que, muitas vezes, acompanharão a pessoa pelo resto da vida se não forem devidamente tratados”, explica Carla Campos.

A professora de Educação Física Adriana de Souza Martins Costa diz que tenta se esquivar do contato com notícias ruins: “Geralmente, eu as evito, pois afetam diretamente o meu emocional”
Foto: Arquivo pessoal

Por esse motivo, a professora de Educação Física Adriana de Souza Martins Costa tenta se esquivar do contato com notícias ruins. “Geralmente, eu as evito, pois afetam diretamente o meu emocional.” Ela passou a adotar esse comportamento de autopreservação, principalmente durante a pandemia, quando as informações relacionadas à doença se tornaram frequentes. “Na época, fiquei muito acelerada, buscando sempre saber o que acontecia e chorava demais. Ver tantas vidas perdidas me gerou medo, fez minha imunidade cair e eu acabei sendo infectada pelo vírus”, relata a docente, reiterando que o emocional tem uma grande influência sobre o físico. Por isso, Adriana não descuida da preservação de sua saúde mental. “Faço como diz a Palavra no Salmo 101.3: Não porei coisa má diante dos meus olhos. E sigo olhando para o que é agradável e faz bem”, cita a professora, membro da Igreja Evangélica Puro Nardo, em Jardim Catarina, na cidade de São Gonçalo (RJ).


Reprodução da primeira página de um jornal: más notícias são predominantes

Sentimentos desagradáveis – O vendedor Paulo Sérgio de Moura Júnior também se preserva diante das notícias desagradáveis. Na opinião dele, a mídia foca na divulgação de informações relacionadas à violência, as quais despertam emoções e sentimentos ruins. “Acredito que os noticiários deixam as pessoas, especialmente as cristãs, com a fé abalada.”

O vendedor Paulo Sérgio de Moura Júnior também se preserva diante das notícias desagradáveis: “Acredito que os noticiários deixam as pessoas, especialmente as cristãs, com a fé abalada”
Foto: Arquivo pessoal

Ele cita o exemplo hipotético de um servo do Senhor que descobre, assistindo a um telejornal, que seu bairro está com alta incidência de assaltos. “O que acontece? Fica com medo de sair de casa, porque, ao ouvir aquelas notícias, ele deixa um sentimento negativo tomar conta do seu coração. Atentando só para o que é ruim, a pessoa se esquece da Palavra e de crer que Deus pode guardá-la de todo o mal. Precisamos examinar a nossa vida e olhar para as Escrituras Sagradas”, aconselha
Paulo, obreiro da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) Taquara I, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ).

A psicóloga Renata Molina defende que direcionar a atenção para os fatos que fazem bem é a melhor opção. Ela explica que, naturalmente, o ser humano tende a se atentar mais às notícias negativas do que às positivas. E isso ocorre por vários fatores, principalmente por comparação e autoproteção. “Quando temos informações ruins relacionadas à vida do outro, nossa tendência é compará-las com o que estamos vivendo.” Além disso, a especialista destaca que as pessoas buscam por proteção quando acontece, por exemplo, algo trágico, como um acidente. “Procuramos saber detalhes sobre o ocorrido na ilusão de que, conhecendo os pormenores, conseguiremos evitar ou prevenir que o mesmo se passe conosco.”

A psicóloga Renata Molina assevera: “Quando temos informações ruins relacionadas à vida de outras pessoas, nossa tendência é compará-las com o que estamos vivendo”
Foto: Arquivo pessoal

De acordo com a psicóloga, melhor do que gastar horas assistindo ao noticiário é desenvolver atividades prazerosas que ajudem a ocupar o tempo, que colaborem com a produtividade e proporcionem mais alegria. “Atividades ao ar livre, uma boa alimentação e o estímulo à leitura também são excelentes ferramentas para modificar esse comportamento”, afirma Renata Molina, membro da Missão Evangélica do Brasil, em Padre Miguel, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ).

No entanto, muitas pessoas não abrem mão de se manterem informadas. Optam por não se abster das matérias veiculadas pela mídia, mas tentam gerenciar aquilo que consomem. Dessa maneira, conseguem estar antenadas sem, no entanto, colocar a saúde em risco. É o que faz a auxiliar de escritório Luciana Silveira de Oliveira. “É importante saber o que está acontecendo, até para poder conversar com outras pessoas. Mas, em minha opinião, se ficarmos só absorvendo notícias ruins, nós nos tornaremos pessoas negativas, medrosas e levaremos toda essa negatividade para o nosso cotidiano”, pontua ela, que que congrega na Primeira Igreja Batista de Vila Canaã, em Araruama (RJ).


A auxiliar de escritório Luciana Silveira de Oliveira pontua: “Em minha opinião, se ficarmos só absorvendo notícias ruins, nós nos tornaremos pessoas negativas, medrosas e levaremos toda essa negatividade para o nosso cotidiano”

Foto: Arquivo pessoal

Nisso pensai O psicoterapeuta e especialista em Neurociências, Marco Aurélio de Campos, 31 anos, explica que a tendência humana de dar mais atenção ao negativo é chamada pela Psicologia de viés de negatividade. Como os profissionais de mídia conhecem essa preferência do público pelo sensacionalismo, concentram o noticiário nesse tipo de pauta. “Os meios de comunicação sabem que os conteúdos que exploram problemas e conflitos despertam a curiosidade e chamam atenção das pessoas.”

A fim de equilibrar a negatividade das notícias com a necessidade de estar informado sobre o Brasil e o mundo, Campos sugere a intencionalidade na busca do conteúdo noticioso a ser consumido. “A ideia é não ser passivo, e sim se proteger. Muitos se sentam em frente à televisão e se tornam reféns da pauta que alguém preparou. Podemos ir atrás da informação que nos interessa. Buscar notícias que serão úteis naquele momento, em vez de consumir, passivamente, o que estão sugerindo”, orienta o profissional.

O psicoterapeuta e especialista em Neurociências, Marco Aurélio de Campos, explica: “Os meios de comunicação sabem que os conteúdos que exploram problemas e conflitos despertam a curiosidade e chamam atenção das pessoas”
Foto: Arquivo pessoal

Membro da Igreja Presbiteriana do Calvário em Vila Jardini – Sorocaba (SP), o psicoterapeuta explica que tudo o que entra na mente do ser humano, e ocupa seu pensamento, influenciará diretamente a maneira como se sente e se comporta. “Entendemos hoje que os pensamentos geram em nós algum tipo de emoção, boa ou ruim. Só de pensar em uma situação negativa, podemos ficar ansiosos ou tristes”, explica.

Assim, de acordo com Marco Aurélio, a influência das notícias sobre o estado emocional precisa ser levada em consideração na hora de acompanhar o noticiário. Afinal, quanto mais informações negativas forem colocadas diante de si, mais pensamentos e emoções ruins a pessoa terá. “Se tenho o cuidado de alimentar minha mente com conteúdos positivos, isso acabará impactando também minhas atitudes”, conclui o especialista, destacando em seus argumentos as palavras de Paulo, em sua carta aos Filipenses, como um guia para se proteger da dependência de notícias ruins: Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai (Fp 4.8).

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