Vítimas da Intolerância | Revista Graça/Show da Fé
Carta Viva – 252
01/07/2020
Heróis da Fé | Lillian Trasher
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Foto: alphaspirit / 123RF

VÍTIMAS DA INTOLERÂNCIA

Na defesa dos valores bíblicos, evangélicos se tornaram alvo de perseguição ideológica

Por Evandro Teixeira

O filme brasileiro Democracia em vertigem (2019), da cineasta Petra Costa, concorreu ao Oscar 2020 na categoria Melhor Documentário, no entanto não ganhou a estatueta. A indicação, contudo, foi suficiente para a documentarista ter alguns minutos de fama no exterior. O auge de sua glória efêmera foi uma entrevista concedida, em janeiro, à renomada jornalista Christiane Amanpour, em seu programa na PBS, a rede de TV educativa dos Estados Unidos. Na conversa, a cineasta comentou a participação dos evangélicos nas últimas eleições presidenciais no Brasil, classificando-os como massa de zumbis preconceituosos e manipuláveis

Essas e outras “pérolas” ditas por ela – de que os crentes não gostam de negros, por exemplo – motivaram o economista Pedro Fernando Nery a dedicar-lhe um artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo. Nele, o autor cunha o termo “crentefobia” para definir o modo como Petra Costa e outros ditos “formadores de opinião” brasileiros retratam esses cristãos atualmente. Para Nery, o neologismo escancara a intolerância com a qual essa expressiva parcela da população nacional tem sido tratada. 


O Pr. Niger Silva Martins: “Se nos intimidarmos, inclusive politicamente, valores completamente estranhos à fé cristã e à família nos serão impostos”
Foto: Arquivo Graça / Solmar Garcia

Porém, é necessário realçar que o comportamento da referida cineasta não é inédito. Basta ler os Evangelhos para perceber que estar na mira de indivíduos e grupos intolerantes faz parte da caminhada cristã. Não por acaso, o Salvador adverte em Mateus 5.11,12: Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós. “O preconceito religioso, que sempre existiu, agora só ganhou novos argumentos”, destaca o Pr. Niger Silva Martins, líder da Igreja de Nova Vida Ministério É de Deus, em Cascadura, zona norte do Rio de Janeiro (RJ). Ele aponta que não houve quem sofresse mais perseguições do que o próprio Jesus, por isso Ele deixou Seus discípulos avisados de que experimentariam afrontas semelhantes. 

Diante de injúrias e ofensas, sublinha o pastor, o cristão deve se manter firme, ciente de que esse tipo de confronto serve para fortalecê-lo na defesa dos princípios ensinados pelo Mestre. “Se nos intimidarmos, inclusive politicamente, valores completamente estranhos à fé cristã e à família nos serão impostos.” Mencionando o texto de Marcos 16.15 (Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura), o líder alerta para o fato de que o convertido deve agir conforme as recomendações do Livro Sagrado, sobretudo no cenário político, não pensando meramente como Igreja institucionalizada, mas se fazendo representar nos diversos segmentos da sociedade. Silva frisa que tal representação social não fere a laicidade do Estado, porque o Brasil é laico, não adota uma religião oficial, porém não é antirreligioso, mantendo-se neutro em relação à pluralidade de crenças. 

A cientista social Rosângela Paes Romanoel observa: “Quando nos opomos àqueles que são contrários aos princípios éticos e morais, somos vistos como intolerantes e fanáticos”
Foto: Arquivo pessoal

“Princípios éticos” – O número de evangélicos está crescendo cada vez mais em nossa nação. De acordo com o último Censo (2010), ele aumentou 61,45% em apenas dez anos. No ano 2000, constituía 26,2 milhões de pessoas (15,4% da população); em 2010, já era 42,3 milhões (22,2% dos brasileiros). Devido à pandemia do coronavírus, o Censo deste ano será adiado para 2021. Entretanto, projeções não oficiais dão conta de que o rebanho protestante compõe 31% da população nos dias atuais. Se esse ritmo permanecer em alta, é possível que os evangélicos se tornem o maior grupo religioso do país ainda no início da década de 2030. 

Portanto, é natural que um povo tão grandioso tenha representantes em todos os setores, até na política. Por outro lado, é plausível que sua participação nas decisões voltadas para o coletivo, principalmente em defesa das visões bíblicas, enfrente embates. “Quando nos opomos àqueles que são contrários aos princípios éticos e morais, somos vistos como intolerantes e fanáticos”, observa a cientista social Rosângela Paes Romanoel, membro da Assembleia de Deus Renovar Vidas, em Uberaba (MG). Segundo ela, os líderes cristãos, cientes de sua condição de cidadãos, despertaram para a relevância de uma participação mais ativa nas decisões políticas no Brasil, uma vez que tais resoluções influenciam diretamente a vida de todos. “Podemos afirmar que, para esse novo perfil de evangélicos, religião e política se misturam.”

O professor de Filosofia Alexandre Cörner de Moraes pontua: “Todo aquele que se opuser aos pensamentos mundanos vai, por consequência, receber reações negativas”
Foto: Arquivo Graça / Solmar Garcia

Essa junção, é bem verdade, é criticada por muitos dos detratores daqueles que seguem Cristo e que abraçam a família tradicional. “No entanto, essa visão intolerante não atinge apenas os cristãos, mas também alcança os temas conservadores de forma geral, independentemente de quem levante a bandeira”, pontua o professor de Filosofia Alexandre Cörner de Moraes, membro da Assembleia de Deus, no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ). 

O Pr. Milton Hideki Awane lembra que a evolução do saber deve coexistir com os valores cristãos: “Podemos granjear conhecimentos e melhorar de vida sem abrir mão dos fundamentos da fé”
Foto: Arquivo pessoal

Ser conservador, opina Moraes, é um traço que define os evangélicos, contudo os conceitos desse conservadorismo devem ser construídos sempre sob a ótica da doutrina apostólica. Ele acrescenta que, ao defender cada pauta, é relevante fazer distinção entre verdadeiros valores cristãos e meros interesses políticos. Nesse sentido, o docente enfatiza que apoiar convicções erradas, sob a bandeira do conservadorismo, pode igualmente ser perigoso. Como exemplo, cita o discurso de ódio, propagado por certas lideranças, que tem influenciado o comportamento de inúmeros incautos. Quanto à perseguição, o professor lembra Tiago 4.4b: Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. “Todo aquele que se opuser aos pensamentos mundanos vai, por consequência, receber reações negativas.”

“Igreja é essencial” – O Pr. Milton Hideki Awane, líder da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Ponta Grossa (PR), ressalta que vários evangélicos brasileiros hoje possuem notável formação intelectual e acadêmica, o que se reflete na qualidade dos debates dos quais participam. Todavia, para ele, essa evolução do saber deve coexistir com os valores inegociáveis da Palavra de Deus. “Podemos granjear conhecimentos e melhorar de vida sem abrir mão dos fundamentos da fé”, comenta, citando 1 Coríntios 6.12 (Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma).

Awane sinaliza o risco de a secularização levar alguns cristãos a perder a fé no Senhor. Para evitar tal armadilha, ele acentua que questões políticas e sociais não podem suplantar o que é espiritual. Mas assinala que todo esforço para proteger os preceitos cristãos é válido, apesar do preconceito que o servo fiel tiver de encarar. “Para tanto, além de um bom conhecimento e uma sólida base bíblica, o amparo espiritual da Igreja é essencial.”

O Pr. Djalma Lino Gonçalves avisa: “Querem implantar a ditadura do pensamento liberal. Quem se opõe a isso é alvo de críticas e outros ataques”
Foto: Arquivo Pessoal

O Pr. Djalma Lino Gonçalves, da Assembleia de Deus Ministério do Belém em Dourados (MS), acredita que vivemos um momento novo. Com isso, uma série de mudanças de paradigmas vem alterando o contexto social. “Estamos em uma realidade em que os evangélicos começaram a exercer uma cidadania mais atuante”, observa Gonçalves, que também é mestre em História. Ele acrescenta que, por bastante tempo, os cristãos não se envolveram com a política, considerando-a incompatível com a fé. Porém, ao longo dos anos, perceberam a importância do exercício pleno da cidadania. “A não participação [na política] deu espaço para partidos políticos opostos às convicções cristãs avançarem suas pautas nocivas à sociedade tradicional.”

O pregador evidencia que cabe aos parlamentares evangélicos defender os mandamentos cristãos nos confrontos com temas afeitos à oposição, como o debate em torno da ideologia de gênero. Ele argumenta que, embora os defensores dessa questão levantem a bandeira da diversidade de opinião, observa-se uma contradição, pois os oposicionistas não aceitam quem pensa diferente deles. “Querem implantar a ditadura do pensamento liberal. Quem se opõe a isso é alvo de críticas e outros ataques.”

O Pr. Paulo Fernando Ferreira Furtado afirma que a postura combativa dos evangélicos deve continuar e lembra que a Igreja deve orar em favor dos representantes cristãos
Fotos: Arquivo Graça / Solmar Garcia

Do ponto de vista do Pr. Paulo Fernando Ferreira Furtado, da Igreja do Evangelho Quadrangular em Padre Miguel, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), essa postura combativa deve continuar, tanto pelos parlamentares evangélicos, como pelos cristãos em geral. “Os evangélicos sempre sofreram e continuarão sofrendo perseguição”, afirma Furtado, assinalando que, em meio a tantos confrontos, os servos de Deus devem ser firmes e constantes. “Nosso papel, como Igreja, é orar em favor de nossos representantes cristãos”, conclui. 


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