Entrevista | Revista Graça/Show da Fé
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Foto: Arquivo pessoal

“Pegos de surpresa”

Psicopedagoga cristã afirma que pandemia expôs ainda mais as desigualdades no sistema educacional brasileiro

Por Patrícia Scott

O fechamento das escolas em 2020, devido à covid-19, proporcionou um diagnóstico nada confortável da educação no Brasil. Afastados das instituições de ensino, professores, alunos e famílias foram lançados no universo do ensino virtual sem qualquer preparação. Mas, ao mesmo tempo em que a educação a distância ajudou milhares de alunos a não perder o ano letivo, muitos outros permaneceram excluídos desse processo por uma série de fatores, como a falta de acesso a dispositivos eletrônicos ou devido à indisponibilidade de redes de internet. E, assim, as discrepâncias no sistema educacional brasileiro ficaram ainda mais expostas, de acordo com psicopedagoga Nabel Ribeiro, 45 anos.

Com mais de duas décadas de atuação em colégios, seu vasto currículo inclui graduação em Fonoaudiologia, pós-graduação em Psicopedagogia e, recentemente, mestrado em Educação pela Fundación Universitaria Iberoamericana (FUNIBER), em Barcelona (Espanha). Casada com o Pr. Maxuel Ribeiro, da Igreja Fé, Amor e Graça, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), e mãe do pequeno Samuel Max, de sete anos, ela fala, nesta entrevista à Graça/Show da Fé, sobre os novos caminhos e os desafios da educação no país para 2021.

Qual foi o impacto do fechamento das escolas?

Fomos pegos de surpresa. O ensino presencial foi substituído por ensino remoto, sem planejamento algum. Os docentes, de um modo geral, adaptaram o quanto possível a planificação curricular à realidade de cada família. Lacunas foram criadas no processo de aprendizagem de milhares de alunos, tendo em vista que alguns receberam conteúdo e outros, muito pouco ou nada.

A educação on-line tende a avançar no Brasil?

Parte da nossa sociedade não possui acesso à web, o que dificulta esse andamento. O ensino só ficou remoto porque professores e alunos não podiam ir para a sala de aula. Não houve um preparo. Com o passar dos meses, foi se configurando um ensino remoto intencional, que acontece quando há um plano mais elaborado com objetivos que vão sendo alcançados satisfatoriamente.

O que a pandemia mostrou a respeito da realidade da educação nacional?

Ficou bastante caracterizado, em 2020, que a situação social, cultural e econômica continua interferindo diretamente na educação brasileira. Hoje, chama a atenção os alunos sem possibilidade de ter internet, entretanto sempre tivemos, em nosso meio, esses estudantes, que ainda não possuem livros adequados e a oportunidade de receber um ensino de qualidade. Também não desfrutam de um ambiente cultural enriquecedor, não têm estrutura ou apoio familiar, acesso à saúde ou a uma alimentação equilibrada. A escola, ao entrar remotamente nos lares na tentativa de manter a rotina e o ensino dos discentes, deparou-se com essa diferença social. Algumas crianças com recursos e estímulos, e outras não, embora esses devessem ser direito de todos.

Como combater a desigualdade na educação?

Precisamos ter políticas públicas bem delineadas, que viabilizem projetos e ações planejados dentro de cada contexto, envolvendo desde a estrutura e a organização de espaços até a formação continuada e a especialização de professores, o planejamento curricular, como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC): ou seja, é necessário haver educação para todos. Outra iniciativa importante dentro desse combate à desigualdade educacional é o acompanhamento dos alunos por especialistas, em uma visão multidisciplinar, avaliando as habilidades e competências, dificuldades ou transtornos de aprendizagem, entre outras questões que possam afetar o desempenho do aluno.

No Brasil, ainda há preconceito contra a educação a distância? Por quê?

Pela falta de esclarecimentos. A educação a distância pode acontecer de maneira síncrona, ao vivo, on-line, ou assíncrona, gravada, quando não ocorre em tempo real. Nesta última, o aluno pode assistir quantas vezes precisar e no melhor horário para cada lar. O ideal é ocorrer o aprendizado consistente. Isso depende do modo como é transmitido e ensinado o conteúdo para o aluno. Por outro lado, esse aprendizado consistente também pode não acontecer na modalidade presencial. Sendo assim, a prioridade é a aprendizagem, que está ligada ao jeito como o conteúdo é apresentado para o estudante.

De que maneira podemos alcançar um aprendizado satisfatório a partir da educação on-line?

Com disciplina, horários de estudo e dedicação. Os objetivos não podem ser perdidos de vista. É preciso buscar um ambiente silencioso e tranquilo para estudar. Deve-se optar sempre pelo reforço e pela revisão de todo o conteúdo ministrado. Manter a saúde da mente é igualmente fundamental. É importante cuidar da saúde como um todo, com boa alimentação e sono de qualidade, para favorecer a atenção e a memorização, que são funções cognitivas importantes nesse processo.

Quais são os desafios educacionais que o Brasil enfrentará em 2021?

Acompanhamos diversos educadores no período de pandemia se esforçando demais em busca de conhecimentos para o uso de ferramentas tecnológicas a fim de permanecerem em contato com seus alunos. Há escolas ordenando seus ambientes virtuais, tanto para aulas como para a sua gestão educacional, com plataformas de ensino, para se conectarem com eles. Existem estudantes e famílias engajados nesse novo modelo de ensino remoto, apesar de toda a mudança e quebra de rotina. Há pais que passaram a auxiliar os professores, agora como mediadores, exercendo um papel para o qual não estavam prontos. Algumas escolas iniciaram o retorno presencial com todas as medidas de segurança, porém o maior desafio será formular estratégias a fim de receber esses alunos, que, provavelmente, podem estar fragilizados em vários aspectos. Essa retomada requererá acolhimento, paciência e encorajamento, além de exigir uma observação das lacunas geradas nesses estudantes em 2020 e das defasagens apresentadas.

Nabel Ribeiro
Psicopedagoga, fonoaudióloga e mestre em Educação

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