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Foto: Arquivo pessoal

Grandes obstáculos

Pastor destaca os principais desafios para o avanço do Evangelho no mundo atual

Por Patrícia Scott

A ordenança de Jesus é clara: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura (Mc 16.15). A missão, no entanto, não é simples, principalmente em contextos em que há significativas diferenças étnicas, culturais e linguísticas entre aquele que deseja pregar a Palavra de Deus e os ouvintes. Além disso, em muitos lugares, falar sobre a mensagem de Cristo pode redundar em perseguição, prisão e até morte.

Contudo, tais dificuldades não se restringem aos rincões mais remotos do planeta. Há países desenvolvidos, que, no passado, tiveram ampla presença cristã, e que, agora, também é difícil propagar a Palavra. “Nova Zelândia e Austrália, na Oceania, experimentam um processo forte de secularização e liberalismo teológico”, exemplifica o Pr. Amauri Oliveira, 55 anos, presidente da Agência Presbiteriana de Missões Transculturais (APMT), organização que mantém 277 missionários ao redor do globo.

Líder da Igreja Presbiteriana da Penha, na zona leste de São Paulo (SP), o pastor reconhece que é preciso fazer o Evangelho avançar, a fim de cumprir a ordem do Mestre. “Dados apontam que o número de povos não alcançados no mundo é de cerca de 4.400”, revela ele, lembrando que, se considerada a presença de um mesmo povo em mais de um país, como curdos e ciganos, esse contingente pode chegar a mais de sete mil grupos que não ouviram a mensagem do Senhor. “No Brasil, há, aproximadamente, 160 povos nessa categoria”, acrescenta Oliveira.

Nesta entrevista à Graça/Show da Fé, o ministro aponta os principais obstáculos para o crescimento da obra missionária no mundo, mas também enumera os aspectos positivos do processo de globalização, os quais facilitam o avanço da evangelização em muitos lugares.

Quais são os principais desafios do trabalho missionário transcultural?

Há aspectos geográficos, culturais e linguísticos, além da perseguição e de questões financeiras. Os povos que mais carecem do Evangelho, hoje, estão também nas regiões mais isoladas, de difícil acesso, por limitações estruturais e naturais. Quando o missionário consegue chegar a essas pessoas, além de aprender a língua, ele precisa assimilar conceitos e costumes da cultura, a fim de entender como contextualizar os ensinamentos das Boas-Novas de maneira a torná-los compreensíveis. É preciso traduzir a Bíblia e produzir literaturas cristãs, para que os povos recém-alcançados ganhem autonomia como cristãos e, por conta própria, possam atingir os compatriotas. Portanto, missões transculturais fora do Brasil envolvem investimento financeiro alto. Além do mais, muitos missionários convivem com riscos iminentes de serem presos ou mortos, sofrerem abusos, receberem pesadas multas e até de serem deportados.

Na Europa, qual é o maior problema enfrentado?

O secularismo e o pós-cristianismo. A sociedade europeia vive um descrédito da religião e, em particular, do cristianismo, que foi e tem sido bombardeado e desconstruído pelo progressismo e relativismo ideológico. Há forte rejeição quanto à ideia de uma religião institucionalizada e única. Ademais, há uma avalanche migratória para o continente, de pessoas de várias origens. Cada uma delas representa um desafio social, cultural e religioso, como é o caso dos islâmicos, os quais se fecham quando ouvem a Palavra de Deus.

E na África?

Na área subsaariana, há muita pobreza. A África é subdividida em diversos grupos étnicos. Alguns países chegam a ter 30, 40, 100 povos diferentes e línguas distintas. Dessa forma, em algumas nações, há duas ou três comunidades alcançadas, enquanto a maioria da população ainda não ouviu falar de Jesus. Existe um grande crescimento do islamismo na África, especialmente no Nordeste do continente africano. Nações como a Argélia, a Etiópia e o Marrocos são hostis e fechados ao Evangelho, devido à força da religião muçulmana.

A globalização ajuda na obra missionária transcultural?

Sim, pois abre corredores: pessoas provenientes de países e povos extremamente fechados ao Evangelho vêm para o Brasil (ou vão para os Estados Unidos e até mesmo para a Europa) e têm contato com o cristianismo. Esse movimento migratório da globalização gera oportunidades para a evangelização. Muito da cultura e dos conceitos cristãos tem influenciado vários povos. No mundo islâmico, por exemplo, há alguns anos, os filmes mais assistidos foram Homem Aranha e A Paixão de Cristo. Este último, do ator e diretor estadunidense Mel Gibson, impactou países de maioria islâmica.

E nas Américas, onde é mais difícil pregar?

Especialmente nas Américas Central e do Sul, o desafio é grande. O Uruguai, por exemplo, é um país com alto índice de ateísmo. O Evangelho tem pequeno alcance em nações como Guiana Francesa e Suriname. Há povos indígenas nativos que vivem na região da Floresta Amazônica e são pouco alcançados. Nos grandes centros e em alguns países, há uma presença forte do Evangelho, como na Colômbia e Bolívia, mas há muito sincretismo, ou seja, uma mistura da Palavra de Deus com as religiões nativas. 

Como está o avanço do Evangelho no Oriente Médio?

Há um avivamento na igreja nativa nessa região. Em países como Iraque e Irã, ocorre um despertamento muito grande. As Boas-Novas têm avançado como nunca antes, desde o domínio islâmico no território. Nos Emirados Árabes, o número de evangélicos saltou de 2% para 13% da população. Nosso desafio é ajudar as igrejas locais e suas lideranças, de modo que os líderes as tornem mais bem-estruturadas e consigam plantar novas comunidades de fé. Essas congregações precisam de apoio financeiro, pois estão em ambientes hostis, devido ao domínio do islã. É uma realidade de martírio: muitos têm morrido por causa da mensagem de Cristo, mas possuem coragem e ousadia.

E no que concerne ao restante da Ásia, quais os desafios do continente referentes à pregação do Evangelho?

Lá, estão os quatro países com maior população islâmica do mundo: Indonésia, Índia, Paquistão e Bangladesh, os quais são muito fechados ao Evangelho. Há ainda o desafio da tradução da Bíblia. Existe um grande esforço para que a Escritura Sagrada alcance os povos asiáticos em sua língua nativa. No continente, há também alguns países hinduístas onde existe extrema hostilidade à Palavra. O envio de missionários é muito difícil. Na Ásia, o hinduísmo e o budismo são desafiadores. Além desses obstáculos, há barreiras geográficas, pois o continente possui muitas ilhas e vários povos isolados. Mesmo assim, a Igreja tem crescido.

Amauri Oliveira
Pastor e presidente da APMT

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