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Cultura & Cristianismo
15/06/2023
Carta do Pastor à ovelha – 288
01/07/2023
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Representação de Johannes Gutenberg (1400-1468)
Foto: acrogame / Adobe Stock
Abraão de Almeida

Traduções renascentistas e modernas

Na segunda metade do século 14, o teólogo e reformador inglês John Wycliffe (1328-1384) reuniu as palavras-chave dos 200 dialetos falados em sua pátria e fez deles uma língua para a qual traduziu quase todas as Escrituras Sagradas, começando pela Vulgata Latina. Após morrer, em 1384, sua grande obra foi continuada por seu discípulo, o teólogo inglês John Purvey (1354-1414), e concluída em 1388. As cópias dessa Bíblia foram queimadas publicamente nos anos de 1410 e 1413. No entanto, 170 delas existem até hoje.

Na Alemanha, entre os anos de 1521 e 1522, o reformador Martinho Lutero (1483-1546) traduziu o Novo Testamento do grego para o alemão popular. Em seguida, iniciou a tradução de todo o Antigo Testamento diretamente do hebraico, terminando-o 11 anos mais tarde, em 1534. A Bíblia de Lutero teve uma aceitação impressionante: apesar de ser vendida inicialmente a um valor exorbitante – o equivalente, nos dias atuais, a mais de 300 dólares o exemplar –, os editores se apressaram em publicar novas edições. Aos poucos, o preço do Texto Sagrado foi sendo reduzido até que as pessoas mais pobres pudessem adquiri-lo.

O tradutor e estudioso William Tyndale (1484-1536), contemporâneo de Lutero, empreendeu a tarefa de colocar o Livro Santo na mão do povo inglês. Para tanto, deixou a Inglaterra em 1524 e seguiu para a Alemanha, uma vez que, em sua pátria, essa empreitada seria impossível. Ao final de um exaustivo ano de trabalho, Tyndale publicou o Novo Testamento inglês, fundamentado nos dialetos que John Wycliffe reunira.

Em 1526, cerca de seis mil cópias da Palavra de Deus traduzidas por Wycliffe foram distribuídas secretamente em toda a nação inglesa. Ao tomarem conhecimento desses fatos, os inimigos da Bíblia iniciaram uma intensa perseguição contra o Texto Santo, culminando com um grande espetáculo público na Cruz de Paulo, onde empilharam 150 cestos de Novos Testamentos e obrigaram os crentes a atearem fogo. A queima despertou a curiosidade do povo, que se dispôs a pagar qualquer preço pelo Livro proibido. Assim, as impressoras alemãs fizeram novas edições, as quais entraram na Inglaterra enriquecendo gananciosos comerciantes e espalhando a luz do Evangelho nos redutos da tenebrosa idolatria.

Tyndale, que era alvo de perseguição, foi preso e, 14 meses mais tarde, em 6 de outubro de 1536, estrangulado publicamente. Durante o tempo em que esteve preso, o reino inglês passou por profundas transformações religiosas:

– O rei Henrique VIII (1491-1547), ao abolir a autoridade papal, acabou promovendo uma reforma religiosa na Inglaterra. Porém, tal ação não agradou a todos, pois a nova religião continuava com muitas práticas romanistas. Os que se conformaram com a situação religiosa foram chamados de anglicanos. Já aqueles que queriam uma reforma mais profunda ficaram conhecidos como puritanos.

– Assim que subiu ao trono, em 1603, o rei Tiago I (1566-1625) convocou alguns dos mais eminentes anglicanos e puritanos para discutirem os problemas ocorridos na igreja. Havia muita contenda entre os dois lados, pois, enquanto um usava a Bíblia do Bispo, o outro usava a de Genebra (ou calvinista). Cada partido religioso procurava depreciar a Bíblia do opositor.

Com isso, o rei Tiago I indicou uma comissão com 54 eruditos de ambos os grupos religiosos, a fim de preparar uma revisão perfeita e completa da Escritura Sagrada, a qual se tornaria oficial da Igreja da Inglaterra. No entanto, em vez de revisar o Livro Santo, o grupo, que se reduziu a 47 sábios, preparou uma tradução direta das Escrituras Hebraicas e Gregas, trazendo à luz a famosa versão hoje conhecida por Versão do rei Tiago, publicada em 1611. Considerada um monumento de beleza literária, ela tem influenciado profundamente todos os povos de língua inglesa.

Traduções modernas – Desde o início do século 16, graças à Renascença e à criação da imprensa em 1439 pelo inventor, gravador e gráfico Johannes Gutenberg (1400-1468) e, principalmente, ao movimento reformista protestante, a Bíblia tem sido cada vez mais falada em maior número de países. Isso se dá também em virtude  do inestimável trabalho dos missionários-tradutores. Vejamos alguns desses casos:

– O missionário inglês John Eliot (1604-1690), após 27 anos de exaustivo trabalho, publicou, em 1661, o Novo Testamento na língua dos índios Massachusetts, tribo dos Estados Unidos, hoje extinta.

– Por volta de 1810, os missionários William Carey (1761-1834) e Joshua Marshman (1768-1837) já haviam traduzido a Palavra de Deus toda para o bengali e o Novo Testamento para o sânscrito, o criiá, o marata, o hindustani, o guzerate, o lalmiga e o canarês.

– Em 1815, a Sociedade Bíblica Russa, de São Petersburgo, publicava o Novo Testamento em persa, e, no ano seguinte, a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira publicava o mesmo livro em árabe, frutos do trabalho do pastor anglicano Henry Martin (1781-1812), missionário na Índia e na Pérsia.

– O missionário Robert Morrison publicou, em 1819, a Bíblia completa em wenli puro, língua literária da China antiga. Nessa monumental obra, Morrison foi ajudado pelo missionário William Milne (1785-1822), que traduziu dez livros do Antigo Testamento.

–  Em torno do ano de 1830, o missionário alemão Karl Friedrich August Gützlaff (1803-1851) já havia traduzido os livros de Gênesis e Mateus para O japonês e o Novo Testamento completo para o siamês.

– O bispo anglicano Samuel Isaac Joseph Schereschewxky (1831-1906) terminou, em 1873, a tradução da Bíblia completa para o mandarim, língua mais falada na China. Na tradução do Novo Testamento,
Schereschewxky contou com a ajuda de sete missionários.

– O missionário norte-americano Adoniram Judson Jr. (1788-1850), que levou o Evangelho à Birmânia (atual Myanmar), publicou, em 1835, o Livro Santo na língua local após 22 anos de trabalho sob constante perseguição.

– Em língua portuguesa, temos a tradução do português João Ferreira de Almeida (1628-1691), ministro protestante da Igreja Reformada Holandesa, traduzida diretamente dos originais hebraicos e gregos. Almeida teria feito sua versão em Java, na Oceania, no final do século 17. Essa Bíblia foi revisada e publicada em 1819.

Abraão de Almeida
Pastor da Igreja Evangélica Brasileira em Coconut Creek, Flórida, EUA, e autor de mais de 30 livros em português e espanhol. E-mail: abraaodealmeida7@gmail.com

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