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Fotos: Divulgação / Missão Portas Abertas

O contrabandista de Deus

Irmão André, fundador da Missão Portas Abertas, foi o pioneiro na distribuição de Bíblias aos cristãos do bloco socialista soviético

Por Élidi Miranda*

No fim dos anos de 1960, em plena corrida espacial entre os Estados Unidos e a extinta União Soviética a seguinte piada se tornou popular na Holanda: Sabe o que os russos encontrarão se chegarem à Lua primeiro que os norte-americanos? O Irmão André com um monte de Bíblias. Ainda que em tom de brincadeira, os holandeses exaltavam um compatriota que havia se notabilizado por um feito inédito: a arriscada tarefa de levar Bíblias aos países da Cortina de Ferro – expressão usada na segunda metade do século 20 para nomear as nações socialistas da União Soviética e do Leste Europeu.

O notável “fora da lei” era Andrew van der Bijl (1928-2022) que ficou mais conhecido por seu codinome Brother Andrew (no Brasil, Irmão André), após a publicação de sua biografia, O contrabandista de Deus (Portas Abertas), em 1967. A obra, que se tornou um best-seller, conta como van der Bijl fazia para transportar Bíblias para os cristãos do bloco socialista e revela a perseguição e a opressão do regime comandado por Moscou aos cristãos. O trabalho quase solitário do Irmão André angariou simpatizantes, e, assim, surgiu a Missão Portas Abertas, organização dedicada a apoiar a Igreja Perseguida em todo o mundo. 

O desejo de ajudar os cristãos da Cortina de Ferro surgiu no coração de van der Bijl em 1955, depois de participar de um congresso de jovens comunistas realizado na Polônia, nação que compunha o bloco soviético na época. No evento, ele pretendia distribuir secretamente alguns folhetos cristãos. No entanto, aquela viagem marcaria sua vida por outros motivos: lá, conheceu alguns crentes em Jesus e, por intermédio deles, várias igrejas clandestinas, isoladas e desamparadas. Além disso, encontrou irmãos em Cristo sedentos por Bíblias, apoio e orações.

O missionário, sentado em seu fusca azul, lendo a versão em inglês do livro O contrabandista de Deus

Gosto por aventura – Foi inspirado por essas pessoas que o Irmão André decidiu empreender a primeira viagem contrabandeando Bíblias, em 1957. O país escolhido foi a antiga Iugoslávia, no Leste Europeu. Em sua incursão, levou consigo um punhado de exemplares das Escrituras e de porções bíblicas, precariamente escondidos em seu fusca azul. Havia, nas fronteiras, guardas revistando os carros, e, caso fosse pego, ele poderia ser preso por tentar entrar no país com material proibido. Então, enquanto aguardava a sua vez, fez esta oração: Senhor, na minha bagagem, tenho Bíblias que quero levar para Teus filhos que estão além desta fronteira. Quando estavas na Terra, fizeste olhos cegos enxergarem. Agora, eu oro para que Tu tornes cegos olhos que enxergam. Não deixes que os guardas vejam aquelas coisas que Tu não queres que eles vejam. O sucesso da primeira empreitada o incentivou a continuar, e, daquela forma, fez inúmeras viagens transportando o Livro Sagrado.

Risco e aventura não eram algo novo para o Irmão André. Nascido em um vilarejo humilde no interior da Holanda, testemunhou, aos 12 anos, a ocupação de seu país pelos nazistas alemães em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial. Em companhia de outros meninos, ele se divertia ao pregar peças nos soldados invasores. Aos 18 anos, o jovem ingressou no Exército e foi enviado para a Indonésia como integrante da força que tentava reprimir a luta pela independência daquele país. Lá, segundo seu próprio relato, cometeu atrocidades. Uma delas foi ter se envolvido no massacre de civis em uma aldeia onde todos os habitantes foram assassinados.

Irmão André pregando em um evento da Missão Portas Abertas em defesa da Igreja Perseguida em todo o mundo

Contudo, depois de ser atingido por um tiro no tornozelo, aos 20 anos, sua passagem pelo Exército teve fim. No hospital, sofreu de dores no corpo e na alma, assolada por profundos dramas de consciência. No leito, passou a ler a Bíblia e, ao aceitar Cristo como Senhor e Salvador, recebeu o perdão de Deus.

Desde então, o desejo de se tornar um missionário tomou conta do coração daquele rapaz recém-convertido. Mas, por ter pouca instrução e caminhar mancando em razão do combate, ele não se sentia apto para cumprir o chamado divino. No entanto, em uma tarde de domingo, disse sim ao Senhor, crendo que Ele o enviaria ao campo missionário. Pela graça de Deus, o jovem foi curado sobrenaturalmente da sequela do ferimento à bala.

Em 1953, o servo de Deus foi para a Escócia, a fim de estudar em uma escola de preparação para missionários e, em 1955, fez uma viagem à Polônia. A partir de então, os países da Cortina de Ferro se tornaram seu foco de evangelização. Porém, no fim da década de 1960, após a publicação de seu livro, o Irmão André deixou que outros “fora da lei” fizessem o contrabando de Bíblias e usou o seu testemunho para ampliar o alcance da Missão Portas Abertas.

Fusca usado pelo Irmão André para contrabandear Bíblias

E seu objetivo foi alcançado. Quando faleceu, em 27 de setembro de 2022, aos 96 anos, seis décadas e meia após sua primeira viagem para Iugoslávia, a organização Portas Abertas já estava presente em 60 nações, distribuindo centenas de milhares de Bíblias anualmente e com um sólido trabalho de discipulado, ação social e defesa dos cristãos perseguidos.

Os soviéticos não pisaram na Lua. Porém, muitos deles, certamente, encontraram, na Palavra de Deus, o caminho para o Céu graças à ousadia do Irmão André. (*Com informações de Inspirational Christian e Christianity Today)


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