Heróis da Fé | Josiah Henson | Revista Graça/Show da Fé
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Foto: Reprodução

Exemplo de vida

O pastor metodista Josiah Henson entrou para a História por seu caráter cristocêntrico e sua fé inabalável

Por Élidi Miranda*

O romance A cabana do pai Tomás, da escritora Harriet B. Stowe (1811-1896), é uma das obras mais importantes da literatura norte-americana. Publicada em 1852, a narrativa denunciava as aflições dos negros escravizados e fez imenso sucesso. Acredita-se que tenha sido a responsável pela deflagração da Guerra de Secessão, cujo estopim foi a escravidão negra. O conflito teve início em 1861 e pôs em lados opostos os estados do Sul (escravocratas) e os do Norte (abolicionistas). Terminou quatro anos depois, com a derrota dos sulistas, e resultou na abolição da escravatura.

Apesar disso, o livro está longe de ser uma obra revolucionária, que conclama os leitores à guerra. Pelo contrário, seu personagem central, pai Tomás, que, na versão original, chama-se uncle (tio, em inglês) Tom, é um escravo pacífico e, acima de tudo, um cristão fervoroso. Fiel seguidor de Jesus, ele é capaz de oferecer a outra face e manter sua fé mesmo em meio às mais terríveis agruras. A fonte de inspiração da autora foi um bispo metodista: Josiah Henson (1789-1883).

Nascido escravo no Condado de Charles, no estado norte-americano de Maryland, Henson tinha como lembrança mais remota de infância a imagem de seu pai sendo chicoteado. Ele estava sendo punido por ter livrado sua mulher das investidas de um homem branco. Depois das chicotadas, o pai de Josiah teve a orelha arrancada e foi vendido e enviado ao Sul. O menino jamais voltou a vê-lo.

Josiah Henson acabou sendo vendido com a mãe e cresceu em uma fazenda nos arredores da capital norte-americana, Washington. As surras eram constantes – uma delas por tentar aprender a ler. Henson era muito inteligente. Já crescido, administrava toda a produção das terras do latifundiário que o escravizava (um alcoólatra) e cuidava das vendas na capital.

O pastor metodista Josiah Henson e sua esposa, Nancy, com quem teve quatro filhos Foto: Reprodução

Em 1807, aos 18 anos, Josiah e a mãe receberam permissão para irem a uma cidade próxima e ouvirem um pregador leigo que começava a se destacar: John McKenny (1788-1847). Henson se converteu a Cristo e, aos 20 anos, embora continuasse analfabeto, tornou-se um pregador apaixonado entre os negros dos arredores de Washington. Em determinado tempo, foi ordenado ministro da Igreja Metodista Episcopal.

Em 1828, casado com Nancy e pai de quatro filhos, conheceu um pregador abolicionista que o convenceu a juntar dinheiro para comprar sua liberdade. Segundo aquele ministro, havia irmãos em diversas igrejas dispostos a lhe ofertar valores à medida que ele aceitasse convites para ministrar nas congregações. Henson economizou uma boa quantia, mas o plano foi descoberto pelo senhor da fazenda. A despeito de tudo o que ele fizera pela prosperidade dos bens daquele homem, este decidiu mandá-lo ao Sul, para ser vendido em um mercado de escravos.

Na viagem de barco, tomado de profundo ódio e ressentimento, Henson pensou em matar toda a tripulação, incluindo o filho do fazendeiro, que o acompanhava na viagem. Contudo, foi impedido de fazer isso pela voz do Espírito Santo. Antes de chegarem ao destino, porém, aquele jovem contraiu malária. Henson colocou-o em um vapor de volta para casa e fugiu.

Universidade da adversidade – Ele retornou secretamente ao lugar onde sua família estava para resgatá-la. Viajou com eles quase mil quilômetros até um assentamento para negros no Canadá. Em vez de se fixar nessa nação, pois lá seria livre, retornou outras vezes aos Estados Unidos para conduzir mais pessoas escravizadas pelo mesmo caminho, garantindo-lhes a liberdade. Também, envolveu-se com a causa abolicionista. Os recursos que angariava eram usados para financiar a comunidade negra no Canadá, para comprar e libertar mais gente ou ajudar famílias negras necessitadas. Nessa empreitada, viajou a Londres, onde foi recebido pelo arcebispo de Cantuária (o líder da Igreja Anglicana). Impressionado com a mansidão e a sabedoria de Henson, o segundo homem mais importante do Império Britânico perguntou-lhe: Em que universidade o senhor se graduou? Ao que ele respondeu: Graduei-me, Sua Graça, na universidade da adversidade.

O presidente norte-americano Rutherford B. Hayes (1877-1881), o qual recebeu Josiah Henson na Casa Branca Foto: Library of Congress

Com o sucesso estrondoso de A cabana do pai Tomás, Harriet B. Stowe foi desafiada a provar que a história era baseada em fatos. Ela, então, lançou A key to uncle Tom’s cabin (em tradução livre: Uma chave para a cabana do pai Tomás), em 1854, em que reunia todas as fontes documentais utilizadas para compor o romance. Na obra, ela informava que o personagem central da trama era inspirado no caráter manso e cristocêntrico do Pr. Henson, tornando-o, dessa forma, uma espécie de celebridade.

Mesmo com o fim da guerra e a abolição da escravatura, Josiah Henson, trabalhava com afinco pela causa do Evangelho e dos ex-escravos. Em 1876, aos 87 anos, então bispo metodista, fez uma viagem ao Reino Unido. Lá, pregou em mais de cem cidades. Foi convidado para se encontrar com a rainha Victoria e sua família no Castelo de Windsor, nos arredores de Londres. Em seguida, foi aos EUA e lá recebido pelo então presidente Rutherford B. Hayes (1877-1881), na Casa Branca. Depois dessas viagens, ele voltou ao Canadá e continuou a pregar até que o importante jornal TheNew York Timesnoticiou seu falecimento, aos 93 anos, em 1883. (*Com informações de Christianity Today)


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