Explosão de fé

Pesquisa aponta que o número de evangélicos ultrapassou o de católicos em Honduras

Por Patrícia Scott

Devido à colonização ibérica, a América Latina tem forte presença da fé católica. Entretanto, o avanço das igrejas evangélicas na região, ao longo do último século, tem causado fortes mudanças nesse cenário. Um dos melhores exemplos de tal transformação é Honduras, país da América Central com 10,1 milhões de habitantes. Ali, os evangélicos já são a maioria da população, de acordo com levantamento conduzido por um instituto de pesquisas local, o Paradigma. Segundo o texto, ao todo, 43,2% dos hondurenhos se identificam como evangélicos, contra 38,2% de católicos, 5,6% de outras religiões, e 13% sem qualquer afiliação religiosa.

As leis hondurenhas garantem liberdade para a prática de qualquer religião, desde que preservada a ordem pública. Essa legislação permitiu que os evangélicos alcançassem muitas pessoas nos últimos anos, com a Palavra e ações sociais em uma das nações mais pobres das Américas. A economia de Honduras é essencialmente rural – consiste na exportação de produtos, como tabaco, banana e café –, e a região está sujeita a estragos causados por furacões, os quais têm potencial de prejudicar a agricultura. Outro problema é a presença constante do crime organizado em algumas regiões, dificultando as ações missionárias.

A Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) não possui (ainda) templos em Honduras. Mas a mensagem das Boas-Novas chega até aquele país por meio do programa Show da Fé, apresentado pelo Missionário R. R. Soares e dublado em espanhol, via internet. E, dessa forma, o ministério da Igreja da Graça tem levado o Evangelho e transformado diversas vidas. Uma delas é Luis Alexis Velazque Mendez, hondurenho que se converteu a Cristo por meio das pregações do Doutor Soares – título pelo qual o Missionário é conhecido no exterior. “O Senhor o preparou para orar pela humanidade. E uma das pessoas resgatadas sou eu. Sofri um grave acidente de carro e fiquei agonizando na cama. Um dia, assistindo ao programa, ouvi o Missionário dizer que havia um homem prestes a perder uma perna. Era eu. Estou totalmente restabelecido graças às orações do Doutor Soares, que é um pai espiritual para mim”, testemunha.

Risco social – Na capital do país, Tegucigalpa, foi fundada, em 1978, a Iglesia Evangelica Asamblea de Dios Hondureña, a qual possui congregações em outras cidades e aldeias. O pastor brasileiro Ronie Eugênio Borges, que mora há 12 anos em Honduras, ressalta que a obra avança a partir de cruzadas evangelísticas, acampamentos para jovens, escolas bíblicas e grupos de crescimento. “Evangelizamos crianças em situação de risco social, transmitindo a Palavra, aconselhando as famílias e prestando assistência médica e psicológica, quando necessário. Doamos vestimenta, calçados, alimentos e material escolar, todos os anos, para mais de 200 menores de idade”, contabiliza.

Borges confirma que aumentou muito o alcance da Palavra nas principais cidades hondurenhas, mas lembra que o país ainda é um campo missionário repleto de desafios. Um deles é o valor de aluguel e o preço de venda das propriedades, o que é um obstáculo para abrir novas congregações. Além disso, de acordo com ele, é lento o treinamento de pessoas que se dispõem a servir na expansão do Reino de Deus. E o líder ainda revela outro dado curioso, que torna mais difícil a realização de cultos noturnos: não há transporte urbano após 19h30, por isso as igrejas precisam alugar ou obter o próprio meio de locomoção para os membros comparecerem às reuniões.

Se a ação missionária é desafiadora na capital, que dirá nos rincões do país? “Ainda há muitas áreas que não foram alcançadas pela Palavra de Deus”, ressalta o Pr. Carlos Madrid, do Ministério Internacional Reino Unido, da cidade de La Esperanza, no Oeste de Honduras. Segundo ele, seu trabalho mescla pregação do Livro Santo e prestação de ajuda humanitária a populações carentes. Para Madrid, uma barreira é a forte tradição religiosa do povo hondurenho, o qual, muitas vezes, opõe-se à pregação evangélica. “Entretanto, obtivemos resultados. O Senhor apoiou o trabalho, e percebemos mudanças nas pessoas.”

A escassez de exemplares da Bíblia é outra adversidade a ser enfrentada pelos missionários. Para driblar esse entrave, eles distribuem impressos com porções do Texto Sagrado. Esses folhetos das Escrituras na linguagem do povo são a única Palavra escrita de Deus que essas pessoas já viram, informou Helen Williams, integrante da organização internacional World Missionary Press (WMP, a sigla em inglês para Imprensa Missionária Mundial), ao comentar, em entrevista ao portal de notícias norte-americano Mission Network News (MNN), uma ação evangelística da instituição realizada na selva Mosquitia, no Leste de Honduras.

“Palavra de fé” – O ministério brasileiro Fábrica de Sonhos vem atuando na capital Tegucigalpa, com evangelização e ações sociais. A organização está presente em uma região da cidade onde não existe saneamento básico. Com foco nas crianças, as estratégias evangelísticas incluem atividades de reforço escolar para 40 crianças. Mas há também atividades voltadas para a famílias delas, que incluem cursos livres de pintura em tecido, artesanato, costura e manicure. “O trabalho é realizado por missionários brasileiros e voluntários nativos que transmitem seus conhecimentos e ainda ministram uma palavra de fé”, explica Alex Tinoco de Toledo, idealizador do projeto e membro da Primeira Igreja Batista de Guarapari (ES).

Segundo ele, ampliar o alcance da missão é a meta e, ao mesmo tempo, um desafio porque o ministério depende exclusivamente de doações. “Esperamos que Deus desperte igrejas, empresários e pessoas em geral para que entendam a necessidade urgente de levar a Palavra e garantir suporte para que os menores hondurenhos voltem a sonhar.” Alex Toledo informa ainda que pretende iniciar, neste ano, o processo de transformação da Fábrica de Sonhos em uma escola oficial com reconhecimento do governo de Honduras. “Precisaremos de mais apoio e de recursos financeiros. Nosso objetivo é fazer com que mais crianças conheçam o Senhor, mudem de comportamento e tenham novas perspectivas de vida.”

Outro ministério brasileiro, a Missão Betel, também pretende ampliar sua atuação em Honduras. “Por enquanto, estamos contribuindo financeiramente para  os obreiros que estão no país. No entanto, queremos enviar mais missionários para lá”, informa o Pr. Gilmar de Araújo Marques, presidente da Missão Betel, sediada em Pontes e Lacerda (MT). De acordo com ele, a agência missionária (que é interdenominacional) atende menores carentes, idosos e encarcerados por meio de ministérios de capelania. “Pregamos a mensagem da salvação e oferecemos consolo, apoio e conforto para aqueles que sofrem e precisam de ajuda.”

Na cidade de Comayagua, no Oeste de Honduras, outra instituição, denominada Centro de Desenvolvimento Infantil (CDI), concentra seus esforços no atendimento às crianças. Coordenada por missionários brasileiros, a CDI trabalha em várias frentes, as quais incluem aulas de reforço escolar e atividades recreativas e cognitivas, atendendo atualmente 150 meninos e meninas. “Fora do horário escolar e dentro da programação oferecida, eles estão em contato também com os ensinamentos cristãos”, esclarece o Pr. Sebastião Oliveira da Silva, secretário de missões da Assembleia de Deus do Farol, em Maceió (AL).

De acordo com ele, em 22 anos de ministério missionário em Honduras, o CDI plantou duas igrejas, construiu uma escola e montou duas salas de aula que funcionam como extensão da organização em outros bairros da cidade. Cerca de 200 pessoas, em média, frequentam os cultos. “Temos de unir a propagação do Evangelho, educação e ajuda material. Sobre esses três pilares, vidas são restauradas e libertas para a glória de Deus”, celebra o pastor.

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