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Foto: PxHere

Ensinando o menino

A educação financeira das crianças deve ser uma preocupação de todas as famílias

Por Ana Cleide Pacheco

E m toda a História da humanidade, jamais se falou tanto sobre finanças pessoais. Por meio da internet, milhões de vídeos, textos e cursos sobre o tema são disseminados na velocidade da luz. Contudo, paradoxalmente, o assunto ainda é considerado espinhoso para muitos brasileiros. Uma sondagem realizada em 2020 pelo Itaú Unibanco mostrou que quase todos os entrevistados (97%) têm dificuldade de lidar com o próprio dinheiro, e 49% deles evitam até mesmo pensar no assunto para não ficar tristes. Estes se guiam pelo surrado ditado popular “o que os olhos não veem, o coração não sente”. No entanto, o resultado de não olhar com cuidado o que se faz com o pagamento acaba “saltando aos olhos” quando assume a forma de dívidas vultosas. Em setembro de 2021, três em cada quatro brasileiros estavam endividados, de acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O percentual de devedores registrado em setembro, aliás, foi 6,8% superior ao observado no mesmo período em 2020.

Para diversos especialistas, é louvável insistir na educação financeira dos adultos, no entanto é mais importante ensinar os pequenos, desde cedo, a ter uma melhor relação com o dinheiro. A ideia, segundo eles, é aplicar o preceito de Provébios 22.6 no cuidado das finanças: Instrui o menino no caminho em que deve andar, e, até quando envelhecer, não se desviará dele. Os estudiosos do tema garantem que orientar a criança a se relacionar de forma saudável com dinheiro é um passo essencial para que, quando ela crescer, esteja apta a administrá-lo de modo consciente e equilibrado. Além disso, eles defendem a tese de que oferecer à criançada noções de como ganhar, poupar e gastar, com sabedoria, pode causar um impacto grande na sociedade como um todo. Entre os entusiastas dessa ideia, está o empresário Ricardo Fadini, 44 anos, especialista em Finanças Pessoais e um dos idealizadores do portal Graninha Kids, destinado a ajudar os pequenos e suas respectivas famílias a lidar melhor com seus recursos. “Acreditamos que a educação financeira ainda é um tabu no Brasil. Nossos pais e avós não falavam sobre finanças em casa. Pelo contrário, ouvíamos frases, como ‘Dinheiro não nasce em árvores’ ou ‘Não tenho dinheiro, pare de me pedir’. Isso acontecia, em grande parte, porque eles não sabiam como ensinar e falar sobre o assunto”, analisa o empresário. Ele acredita que, se a educação financeira estiver presente nos lares, desde os primeiros anos de vida das crianças, elas se tornarão adultos mais prósperos no futuro. “Para começar, é preciso quebrar a resistência que muitos têm em falar de dinheiro e, ao fazer isso, tratar o tema de forma leve e tranquila.”

O empresário Ricardo Fadini analisa: “Acreditamos que a educação financeira ainda é um tabu no Brasil. Nossos pais e avós não falavam sobre finanças em casa” – Foto: Arquivo pessoal

Casado com a funcionária pública Juliana Fadini, 38 anos, o empresário tem em casa o próprio “laboratório” para comprovar a eficácia dos princípios que ensina por meio do Graninha Kids. “Sou pai de duas meninas, as gêmeas Izabelle e Giovanna, de 11 anos. Normalmente, planejamos as metas financeiras com elas”, informa Ricardo, assinalando que, quando as meninas manifestam o desejo de adquirir algo, a decisão de compra não é tomada antes de uma série de ponderações. São levantadas questões pertinentes à real necessidade daquela aquisição: trata-se de algo, de fato, útil ou essecial? É um capricho ou impulso de consumo? Assim, uma vez avaliadas as reais motivações para a compra, parte-se para o planejamento, seguindo o método – criado pelo empresário – que não se restringe apenas a ensinar as crianças a comprar de forma mais consciente. [Leia, no final desta reportagem, o quadro Quatro potinhos]

O administrador de empresas Bruno Ahnert lembra: “Os pais, em sua maioria, se preocupam com o futuro dos filhos em vários aspectos, entretanto poucos cuidam de educá-los financeiramente e não percebem a importância de começar cedo a ensiná-los sobre o assunto” – Foto: Arquivo pessoal

“Calor da emoção” – A falta de sabedoria na gestão das finanças pessoais pode gerar problemas e reduz drasticamente a qualidade de vida. É o que destaca o administrador de empresas Bruno Ahnert, 44 anos. Para ele, com as finanças equilibradas, é possível ter menos preocupações, alimentar-se e cuidar melhor da saúde, planejar uma aposentadoria tranquila e, principalmente, poupar para realizar sonhos. “Os pais, em sua maioria, se preocupam com o futuro dos filhos em vários aspectos, entretanto poucos cuidam de educá-los financeiramente e não percebem a importância de começar cedo a ensiná-los sobre o assunto.” Segundo Ahnert, se uma criança joga comida no chão, não cuida dos brinquedos e não apaga as luzes, não está contribuindo para a saúde financeira da família. “Se pensarmos em finanças de forma ampla, teremos excelentes oportunidades de mostrar aos filhos a importância de economizar, reduzir gastos e, por consequência, ter melhor proveito financeiro dos recursos”, explica o empresário, casado com a administradora de empresas Andressa Ahnert, 44 anos, e pai de duas filhas: Maressa, 13, e Luisa, nove.

A psicopedagoga Michelle Santos de Almeida da Silva com as filhas, Manuella Santos da Silva, 11 anos, e Laura Santos da Silva, três anos: “Esse assunto precisa ser bem discutido pelas famílias, para que ninguém seja levado pelo calor da emoção na hora das compras” – Foto: Arquivo pessoal

A psicopedagoga Michelle Santos de Almeida da Silva, 37 anos, faz coro com Ahnert. Ela igualmente acredita que a educação financeira deve ser aplicada desde cedo. “É importante que a didática seja apropriada a cada faixa etária”, ensina a especialista, assinalando que um momento interessante para falar sobre finanças – e como gastar de forma consciente – é na hora de escolher presentes. “Esse assunto precisa ser bem discutido pelas famílias, para que ninguém seja levado pelo calor da emoção na hora das compras”, adverte ela, membro da Igreja da Promessa, em Coelho Neto, zona norte do Rio de Janeiro (RJ), casada com o servidor público Hugo Leonan Amaral da Silva, 37 anos, e mãe de duas filhas: Manuella, 11, e Laura, três anos.

Michelle afirma que mesmo a mais nova já está sendo ensinada sobre princípios básicos de finanças. “Trato o assunto de forma lúdica e tranquila. Tem dado certo”, garante a psicopedagoga, a qual lembra que a mais velha recebe uma mesada, mas o uso do dinheiro é controlado. “Não gasta com facilidade ou futilidades.” Por sua vez, Manuella se alegra pelo fato de, ainda jovem, saber a importância de administrar bem os recursos financeiros que vêm às mãos. “Gosto que meus pais falem sobre esse assunto comigo e acho que todas as crianças deveriam ter essa orientação. Quanto mais cedo se aprende, mais fácil é administrar o dinheiro com sabedoria. Sempre que ganho mesada, economizo para comprar algo que eu deseje bastante.”

A advogada Danielle Barbosa Ribeiro Berriel com o marido, Joabe, e as filhas, Ana Clara, 14 anos, e Giovanna, nove: “A educação financeira faz parte do aprendizado e do lidar com aquilo que Deus põe em nossas mãos para administrar” – Foto: Arquivo pessoal

A estudante Ana Clara Ribeiro Berriel, 14 anos, pensa de maneira semelhante. “Meus pais me ensinam como devo usar o dinheiro. Procuro economizar, para, mais tarde, adquirir algo que esteja querendo ou precisando. Além disso, sei que, quando crescermos, eu e minha irmã saberemos como cuidar de nossas finanças”, explica a adolescente, referindo-se à caçula, Giovanna, nove anos. Elas são filhas da advogada Danielle Barbosa Ribeiro Berriel, 42 anos, e do militar Joabe Berriel da Silva, 43. O casal, que é membro da Igreja de Deus de Brasília (DF), considera imprescindível instruir as crianças sobre como utilizar bem o próprio dinheiro. “A educação financeira faz parte do aprendizado e do lidar com aquilo que Deus põe em nossas mãos para administrar”, enfatiza Danielle, frisando que começou a ensinar às filhas o assunto de maneira bem natural, quando passaram a verbalizar suas necessidades de consumo, por volta dos quatro anos. “As crianças pequenas não têm muita noção sobre a origem dos recursos que as sustentam e têm dificuldade de estabelecer prioridades de consumo. Aí entra a oportunidade de instruí-las a fazer melhores escolhas, que resultarão em atitudes conscientes por toda a vida.” A advogada acredita também que o conceito de mordomia cristã deve ser aplicado no dia a dia da família. “Desde tenra idade, eles devem saber que todos os recursos que nos são confiados por Deus precisam ser administrados com responsabilidade e generosidade para com aqueles que passam por alguma privação.”

Marcela Vasconcelos Martins comenta que seus filhos estão aprendendo que não devem comprar aquilo de que não precisam e vão tomando consciência de que é relevante guardar uma parte de tudo o que se ganha – Foto: Arquivo pessoal

De forma consciente – Contudo, mesmo que tais princípios não sejam ensinados nos primeiros anos de vida, nunca é tarde para iniciar a caminhada rumo à educação financeira. Essa é a história da dona de casa Marcela Vasconcelos Martins, 44 anos, e de seu marido, o marítimo Leandro Ferreira Martins, 44. Eles perceberam a necessidade de ensinar princípios básicos sobre controle de finanças para os filhos quando a mais velha já era adolescente. O casal notou que Anna Luiza, 14 anos, Bernardo, nove, e Sara, cinco, não estavam dando tanto valor ao que ganhavam – brinquedos, por exemplo – e ao quanto gastavam com coisas desnecessárias na rua (biscoitos, doces). Assim, decidiram ensinar-lhes a importância de gerenciar bem os recursos de forma prática. As crianças começaram a receber determinada quantia, e a cada um foi dada a responsabilidade de administrar o dinheiro, gastando-o de forma consciente. “Acreditamos que isso é indispensável para que consigam ter uma vida financeira equilibrada”, pontua a dona de casa, membro da Igreja Batista da Lagoinha em Niterói (RJ).

Marcela conta que, antes de fazerem qualquer compra, as crianças são orientadas a se questionarem assim: “Estou precisando de fato disso?”; “Se tenho dez reais, posso guardar pelo menos dois?”. Assim, de acordo com ela, os filhos estão aprendendo que não devem comprar aquilo de que não precisam e vão tomando consciência de que é relevante guardar uma parte de tudo o que se ganha. “Fácil não é, mas é necessário, se quisermos construir uma sociedade mais saudável física, espiritual e financeiramente”, pontua ela, ressaltando o texto de Provérbios 21.20: Tesouro desejável e azeite há na casa do sábio, mas o homem insensato o devora.

A especialista em finanças Merula Borges lembra: “Mais do que falar é preciso viver de acordo com os valores que se quer passar. O próprio adulto precisará buscar informações e cultivar bons hábitos para ensinar sobre finanças aos filhos” – Foto: Arquivo pessoal

Para a especialista em finanças Merula Borges, 32 anos, coordenadora financeira da Conferência Nacional de Dirigentes Logistas (CNDL), as famílias devem discutir abertamente o tema e é necessário incluir as crianças nas conversas. Segundo ela, uma das lições fundamentais a mostrar é a de que os adultos não ganham dinheiro, e sim o recebem em troca de um trabalho prestado. “Deve-se abordar também sobre restrições orçamentárias e falar de planejamento e paciência para aguardar o momento certo de adquirir os objetos de desejo.” De acordo com Borges, o que de fato causará mais impacto no processo de aprendizagem dos pequenos será o exemplo dos adultos. “Não adianta falar, conversar e explicar tudo se o assunto dinheiro é um fator de estresse em casa. As crianças veem como lidamos com as finanças no dia a dia”, assinala Merula, destacando que os exemplos ruins nem sempre são determinantes, no entanto exercem uma influência potente sobre as mentes infantis. Por isso, ela esclarece que os pais já deverão estar no caminho em que vão ensinar o pequeno a andar. “Mais do que falar é preciso viver de acordo com os valores que se quer passar. O próprio adulto precisará buscar informações e cultivar bons hábitos para ensinar sobre finanças aos filhos”, conclui.

Quatro

Josh Appel / Unsplash

Os princípios da educação financeira podem ser ensinados de várias formas, por meio de situações simples do dia a dia, mesmo a crianças pequenas. À medida que crescerem e forem alfabetizadas, serão capazes de realizar as primeiras operações matemáticas, podendo, então, receber as primeiras mesadas. Esse será um bom momento para ensiná-las a gerir os próprios recursos. A fim de ajudar as famílias na introdução de alguns princípios de educação financeira, os criadores do portal Graninha Kids desenvolveram o método Quatro potinhos: a criança deverá ter quatro locais físicos (cofrinhos ou caixinhas) e irá separar o dinheiro que receber dos pais em quatro partes.

1ª – A primeira parte é destinada a metas de longo prazo e recebe o nome de Galinha dos ovos de ouro. A quantia que entrar nesse recipiente poderá, eventualmente, ser aplicada, de modo que a criança aprenderá que, com o passar do tempo, o dinheiro pode gerar mais dinheiro.
2ª – O montante da mesada destinado a metas de curto e médio prazos é guardado na Caixinha de Natal. A ideia é juntar uma quantia definida com o objetivo de realizar um sonho, como comprar uma bicicleta. O nome é apenas uma alusão à época do ano em que se ganha presentes.

3ª – O terceiro potinho é chamado de Diversão. A criança terá liberdade e autonomia para gastar a quantia com o que quiser. É a oportunidade de aprender a usar parte do que ganhou para ter qualidade de vida no presente, porém com responsabilidade.

4ª – O quarto potinho é o Doação. É uma forma de ensinar a criança a ser desprendida e doar parte do que ganha a pessoas necessitadas ou a alguma instituição. Adaptando o método para a realidade evangélica, essa categoria poderia ser destinada, por exemplo, ao dízimo e às ofertas.
(Fonte: portal Graninha Kids)


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