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Heróis da Fé | Paul W. Brand
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Foto: Giammarco / Unsplash

Vãs filosofias

Estudo estadunidense levanta preocupação quanto à capacidade dos pais cristãos de fornecer aos filhos ensinamentos bíblicos

Por Patrícia Scott

A Bíblia fala claramente sobre a importância de os pais ensinarem os filhos a conhecer os mandamentos do Senhor. É o que registra, por exemplo, o livro de Deuteronômio: E estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração; e as intimarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te (Dt 6.6,7). O autor do Salmo 78 afirma: Não os encobriremos aos seus filhos, mostrando à geração futura os louvores do Senhor, assim como a sua força e as maravilhas que fez […] para que pusessem em Deus a sua esperança e se não esquecessem das obras de Deus, mas guardassem os seus mandamentos (Sl 78.4-7). No Novo Testamento, o apóstolo Paulo exorta: E vós, pais, não provoqueis a ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor (Ef 6.4).

O pastor e autor George Barna lembra que a Bíblia atribui aos pais a responsabilidade primária de moldar a visão de mundo dos filhos e cabe àqueles equipar estes para que cresçam na comunhão com o Criador e no serviço a Deus
Foto: Divulgação

Contudo, hoje, vários pais que se identificam como cristãos estão abandonando essa prática, como demonstra uma pesquisa realizada pela Universidade Cristã do Arizona, nos Estados Unidos, em parceria com o instituto Barna Group. De acordo com o levantamento, boa parte dos pais estadunidenses – especialmente aqueles com filhos pré-adolescentes – está deixando de lado a prática de ensinar às novas gerações os princípios das Escrituras. Isso porque eles mesmos não creem, de fato, na Bíblia.

O resultado do inquérito, divulgado no primeiro semestre de 2022, apresenta respostas de uma amostra de 600 pais que se identificam como cristãos e têm filhos menores de 13 anos. A pesquisa mostrou, por exemplo, que menos da metade dos entrevistados (42%) vê a Bíblia como a exata Palavra de Deus. Ao serem questionados se criam que o propósito da vida é conhecer, amar e servir a Deus com todo o coração, mente, força e alma, apenas 28% deles responderam afirmativamente. Da mesma forma, somente 29% dos entrevistados acreditam que a base da verdade é Deus, revelado por meio da Bíblia.

A psicóloga Alessandra Augusto lembra que a conduta dos pais interfere no modo como os pequenos percebem tudo à volta deles: “Enquanto estiverem vivos, estarão persuadindo”
Foto: Arquivo pessoal

O pastor e autor George Barna, fundador do instituto que leva seu sobrenome e responsável pela sondagem, alertou sobre o perigo da adoção de uma filosofia de vida confusa pelos pais que se autointitulam cristãos, mas não adotam para si mesmos o cristianismo bíblico autêntico. Para Barna, se a criança vai à igreja e aprende que a Bíblia é a Palavra de Deus, mas, em casa, ouve dos pais que isso não é bem assim, crescerá com pensamentos contraditórios a respeito da fé. Quando as crianças são expostas a ensinamentos – por meio de palavras ou ações, formais ou informais – que são discordantes, elas naturalmente concluem que a fé cristã é inerentemente contraditória e, portanto, pode não ser o que elas procuram como filosofia de vida, alertou.

O psicólogo Jimmy Magalhães ressalta: “Os pais são as primeiras referências dos filhos. Eles irão cunhar seu desenvolvimento intelectual, social e emocional, assim como a fé, a partir do que aprendem com os responsáveis”
Foto: Arquivo pessoal

Ainda de acordo com Barna, a Bíblia atribui aos pais a responsabilidade primária de moldar a visão de mundo dos filhos e cabe àqueles equipar estes para que cresçam na comunhão com o Criador e no serviço a Deus. Isso requer o desenvolvimento intencional e consistente de uma cosmovisão [visão de mundo] bíblica na mente e coração das crianças, uma vez que a cosmovisão de cada pessoa começa a se desenvolver antes do segundo ano de vida, acrescentou.

O Pr. Carlos Alberto Mendes reforça a relevância de os pais serem exemplos de fé para os filhos: “Eles são a base, o espelho. Se ensinarem na direção, nos princípios do amor, da Verdade e no temor de Deus”
Foto: Arquivo pessoal

Imitação e repetição – A escritora norte-americana Joyce Thompson, ao analisar a questão familiar, do ponto de vista bíblico, no livro Um guia para os pais: preservando uma semente de justiça (Graça Editorial), adverte: para que os filhos sejam cristãos verdadeiros, é necessário, primeiro, perceberem que os pais confiam no Senhor. A autora alerta tanto para os ensinamentos contrários à Bíblia quanto para os comportamentos dos pais opostos à Palavra de Deus. De acordo com ela, o velho chavão “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço” é inútil para a educação dos filhos. Quando você estiver errado ou deixar de viver nos padrões elevados que Deus nos pede, desculpe-se com seus filhos. Ensine-os a fazer o mesmo. Dê um exemplo que diz: ‘Siga-me, como eu sigo Jesus’. Não entre no caminho de Deus dando mau exemplo. Nosso objetivo é criar adultos maduros e piedosos. Devemos ser um exemplo vivo de como queremos que nossos filhos sejam, afirma Thompson.

A obreira Cristiene Ferreira Machado afirma: “Não é pelo falar que os filhos aprendem, mas pelos exemplos”
Foto: Arquivo pessoal

A psicóloga Alessandra Augusto concorda com a autora norte-americana e lembra que a conduta dos pais interfere no modo como os pequenos percebem tudo à volta deles. Além disso, segundo a especialista, não há limite de idade para os pais exercerem influência sobre os filhos. “Enquanto estiverem vivos, estarão persuadindo. O grande desafio é que seja de maneira positiva.”

Já o psicólogo Jimmy Magalhães ressalta que, na infância, o aprendizado se dá, principalmente, por imitação e repetição. “Os pais são as primeiras referências dos filhos. Eles irão cunhar seu desenvolvimento intelectual, social e emocional, assim como a fé, a partir do que aprendem com os responsáveis”, pontua. Ele acrescenta que o aprendizado é maior a partir do exemplo do que das palavras. Por isso, o especialista concorda que, se os pais são cristãos, e não agem ou pensam conforme as Sagradas Escrituras, vão permitir que os filhos cresçam com muitas dúvidas e conflitos a respeito da fé. “Eles perceberão que o ensinamento bíblico não é seguido e que podem fazer o mesmo.” Em sua opinião, somente com compromisso e amor pelo Evangelho, será possível firmar os filhos na presença de Jesus. “Não deve ser algo imposto, e sim compartilhado. Os filhos precisam compreender os benefícios de seguir as práticas cristãs.”

A empresária Alessandra Vilela Moscardini Vaneli frisa que não há desafios na educação dos filhos quando os pais são guiados pelo Espírito Santo
Foto: Arquivo pessoal

Exemplo e palavras – O Pr. Carlos Alberto Mendes, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Praia de Leste, Pontal do Paraná (PR), reforça a relevância de os pais serem exemplos de fé para os filhos. “Eles são a base, o espelho. Se ensinarem na direção, nos princípios do amor, da Verdade e no temor de Deus, os filhos seguirão na direção correta”, assegura.  

É justamente esse o preceito que orienta a obreira Cristiene Ferreira Machado, 37 anos, na criação de sua filha, Iauanny, 13. “Não é pelo falar que os filhos aprendem, mas pelos exemplos. Procuro dar o meu melhor, como serva de Deus e como mãe, para o caráter dela ser moldado. Aos 13 anos, minha filha é batizada nas águas e ajuda no ministério infantil. Não forcei. Foram escolhas pessoais”, revela Cristiene, obreira da IIGD em Jardim Oriente, na cidade de Valparaíso de Goiás (GO). Em sua visão, o maior desafio é mostrar à filha, por meio do próprio exemplo, a necessidade de ela depender totalmente do Senhor, em qualquer situação. “Ensino que nada pode ocupar o lugar de Deus no nosso coração e que Jesus permanece no controle, não importando as circunstâncias.”

Kênia Ribeiro Ferreira diz que não é difícil identificar crianças que moram em lares onde os pais vivem de forma incoerente com a Bíblia: “São agitadas, carentes, inseguras e agressivas”
Foto: Arquivo pessoal

A empresária Alessandra Vilela Moscardini Vaneli, 41 anos, também procura ensinar o filho, Lucas, 13, tanto pelo exemplo quanto por palavras. “Acredito que os dois tipos de ensinamentos se completam e tornam a educação mais eficiente”, avalia ela, que é casada com o Pr. Narciso Vaneli, 44 anos, líder regional da IIGD de Governador Valadares (MG). À frente do ministério Mulheres Que Vencem (MQV) em sua cidade, Alessandra frisa que não há desafios na educação dos filhos quando os pais são guiados pelo Espírito Santo.

Primeira responsabilidade – Na opinião de Kênia Ribeiro Ferreira, líder do ministério infantil da Igreja da Graça em Jardim Oriente, Valparaíso de Goiás (GO), não é difícil identificar crianças que moram em lares onde os pais, que se dizem cristãos, vivem de forma incoerente com a Bíblia. “Elas relatam situações vividas em casa que demonstram a total falta de sabedoria dos pais na maneira de falar e de agir”, lembra-se Kênia, a qual enumera algumas características dessas crianças. “São agitadas, carentes, inseguras e agressivas.”

O Pr. Sérgio Leoto afirma que pai e mãe precisam ensinar o que têm vivido e aprendido dEle, aproveitando situações comuns do cotidiano: “Só os pais têm essas ótimas oportunidades”
Foto: Arquivo pessoal

Líder do ministério Fortalecendo a Família, o Pr. Sérgio Leoto cita o texto mostrado no início desta reportagem (Dt 6.6,7) e aponta o significado desses versículos bíblicos. “Antes de falar sobre o que devemos transmitir aos filhos, a passagem destaca uma atitude devocional pessoal que os pais devem cultivar diante de Deus.” De acordo com Leoto, pai e mãe precisam ensinar o que têm vivido e aprendido dEle, aproveitando situações comuns do cotidiano. “Só os pais têm essas ótimas oportunidades.” Ele reconhece que a Igreja pode ajudar a comunicar o Evangelho aos pequenos, mas adverte que essa responsabilidade é primordialmente dos pais. “Instrua seus filhos a conhecer, a amar e a buscar o Senhor, obedecendo à Sua Palavra!”


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