Teologia | Revista Graça/Show da Fé
Capa | Igreja
01/06/2022
Medicina e Saúde – 277
01/08/2022
Capa | Igreja
01/06/2022
Medicina e Saúde – 277
01/08/2022
Foto: Denys Nevozhai / Unsplash

Sistema mundano

Cristãos precisam estar atentos para não sucumbir às armadilhas da babilônia, alertam pastores e teólogos

Por Patrícia Scott

De acordo com o Dicionário Houaiss, o termo babilônia significa cidade grande, construída sem planejamento. Em sentido figurado, confusão, babel. Era também o nome da capital do império homônimo, na antiga Mesopotâmia, situado na região onde fica hoje o Iraque. A Babilônia era a grande potência econômica e militar da época. Tão poderosa que conquistou o reino de Judá, em 597 a.C., fazendo muitos judeus serem levados cativos para lá (2 Rs 25.8-11). Mesmo sob o jugo babilônico, a comunidade judaica prosperou. O profeta Daniel, que se tornou um ministro muito importante do rei Nabucodonosor (Dn 2.48,49), desenvolveu ali seu ministério profético.

Com o passar dos séculos, no entanto, a cidade pujante – e todo aquele fortíssimo império – desapareceu (em 539 a.C.). “A Babilônia recebeu o que merecia no curso da história humana, pois aqueles que a governaram pensavam em si mesmos como pequenos deuses. Todos os que vivem em um sistema mergulhado no pecado terão o mesmo fim desta nação, que foi amaldiçoada, destruída e ficou no passado”, informa o teólogo Wagner Pedro Lima.

O teólogo Wagner Pedro Lima informa: “A Babilônia recebeu o que merecia no curso da história humana, pois aqueles que a governaram pensavam em si mesmos como pequenos deuses. Todos os que vivem em um sistema mergulhado no pecado terão o mesmo fim – Foto: Arquivo pessoal

A partir do exílio dos judeus, o termo babilônia passou a ter uma conotação negativa nas Escrituras Sagradas. No livro do Apocalipse, seu nome é usado para ilustrar a corrupção generalizada da humanidade que se encontra distante de Deus: E a mulher estava vestida de púrpura e de escarlata, adornada com ouro, e pedras preciosas, e pérolas, e tinha na mão um cálice de ouro cheio das abominações e da imundícia da sua prostituição. E, na sua testa, estava escrito o nome: MISTÉRIO, A GRANDE BABILÔNIA, A MÃE DAS PROSTITUIÇÕES E ABOMINAÇÕES DA TERRA (Ap 17.4,5). Babilônia, portanto, tornou-se sinônimo do sistema mundano, governado pelo pecado. [Leia no quadro abaixo, Distantes do Criador]

Distantes do Criador

Em seu livro Contaminados pela Babilônia (Graça Editorial), o pastor e escritor norte-americano Steve Gallagher defende que a Babilônia é um conjunto de crenças fundamentado na seguinte premissa: o ser humano não precisa de Deus. Para o autor, a Babilônia representa o esforço da humanidade caída para estabelecer o próprio sistema de crenças, valores, busca pela felicidade e significado para a vida, rejeitando tudo que vem do Alto, especialmente a cultura judaico-cristã.

De acordo com o escritor, o ser humano está determinado a alcançar os seus objetivos e a desenvolver seu futuro longe do Criador. A humanidade está, segundo Gallagher, envolvida em um projeto de declaração de independência do Deus da Bíblia. Esse movimento é chamado pelo autor de mundanismo, termo que se refere à exaltação do homem em detrimento do Senhor. Assim, nesse processo, a criatura rejeita deliberadamente o governo do Criador, desenvolvendo para si uma “nova bíblia”, ou seja, um novo padrão de fé e conduta. Assim, opiniões humanas são exaltadas, e seus desejos pecaminosos ganham preponderância sobre os mandamentos do Altíssimo.

(Fonte: Divulgação / Graça Editorial)

A palavra babilônia vem de Babel, que aparece pela primeira vez na Bíblia em Genesis 11, em claro episódio de rebelião contra Deus. O Senhor havia ordenado que os homens enchessem a terra (Gn 9.1), mas os babilônios tinham outros planos e disseram: […] Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra (Gn 11.4). Por causa disso, Deus confundiu as línguas, e os planos deles foram por água abaixo (Gn 11.5-9).

O Pr. Otávio Pio lembra que a atração do homem por tudo o que a Babilônia representa vem do desejo dele por autossuficiência e de ser como Deus: “Exatamente o argumento utilizado pelo diabo, que resultou na queda de Adão e de toda a humanidade” – Foto: Arquivo pessoal

O Pr. Otávio Pio, ministro auxiliar na sede estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) na Paraíba, lembra que a atração do homem por tudo o que a Babilônia representa vem do desejo dele por autossuficiência e de ser como Deus. “Exatamente o argumento utilizado pelo diabo, que resultou na queda de Adão e de toda a humanidade”, destaca o pastor, citando o texto de Gênesis 3.4,5 (Então, a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal). Segundo ele, de forma geral, as pessoas estão focadas apenas em riquezas, poder e dominação. “É uma tendência natural de quem está separado do Senhor. Por isso, a necessidade de haver o novo nascimento em Jesus Cristo e, como nova criatura, reconhecer a dependência do Pai celeste.”

O Pr. Elder Cavalcante afirma: “A ministração que muda a vida das pessoas é aquela que demonstra a virtude e o poder do Senhor” – Foto: Arquivo pessoal

Por sua vez, o Pr. Elder Cavalcante, líder estadual da Igreja da Graça no Rio Grande do Norte, frisa que o mundo oferece o que satisfaz a carne, o ego, as vaidades humanas. O ministro ensina que só vence esse sistema maligno “quem é do Espírito, nascido de Deus”, uma referência às palavras de Jesus registradas em João 3.5 ([…] Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus). Por isso, de acordo com Cavalcante, a Igreja deve anunciar sempre uma mensagem que confronte as práticas mundanas e mostrar que é preciso renunciar ao curso desse mundo. “A ministração que muda a vida das pessoas é aquela que demonstra a virtude e o poder do Senhor”, acrescenta.

O Pr. Éric Costa Dias alerta: “O mundo consegue atrair aquele cristão que não se firmou na Verdade, que é Jesus” – Foto: Arquivo pessoal

Compromisso real – Contudo, mesmo aqueles que, um dia, creram em Jesus como Salvador, podem sucumbir diante dos apelos da Babilônia. Em Apocalipse 18, uma voz vinda do Céu alerta: […] Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados e para que não incorras nas suas pragas (Ap 18.4). “O mundo consegue atrair aquele cristão que não se firmou na Verdade, que é Jesus”, alerta o Pr. Éric Costa Dias, líder estadual da Igreja da Graça em Roraima, citando o exemplo de Demas, um cooperador de Paulo que, amando o presente século, abandonou a fé. [Leia, no final desta reportagem, o quadro Paixão vazia]

Contudo, para evitar que o crente se perca, o pastor defende que os líderes espirituais se consagrem ao Senhor para oferecer ao rebanho apenas alimento puro, com base nas Escrituras. “Não podemos deixar de cuidar daqueles que o Senhor nos confiou como ovelhas, que estão dentro das igrejas. A Palavra convence a pessoa do seu estado pecaminoso, de seu afastamento da presença dEle”, opina Dias.

Na opinião do Pr. Joarês Mendes de Freitas, ministro emérito da Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi, em Vitória (ES), a falta de conhecimento bíblico redunda na ausência de um compromisso real com o Evangelho. “Esse descompromisso faz muitas pessoas que estão nas igrejas terem condutas que refletem mais a influência mundana do que os valores cristãos. O crente que namora o mundanismo está longe da maturidade espiritual.”

O Pr. Joarês Mendes de Freitas lembra: “Esse descompromisso faz muitas pessoas que estão nas igrejas terem condutas que refletem mais a influência mundana do que os valores cristãos. O crente que namora o mundanismo está longe da maturidade espiritual” – Foto: Arquivo pessoal

Freitas explica que há, nas igrejas, dois tipos de cristãos propensos a cair na fé: os novos convertidos, que ainda não romperam completamente com algumas práticas da velha vida, e os cristãos antigos que, por quaisquer motivos, ainda se sentem atraídos pelo mundo. “O caminho para vencer esse mal é investir no discipulado, implementando um programa consistente de crescimento espiritual. A natureza humana decaída não morre na conversão: precisa ser subjugada todos os dias debaixo do controle do Espírito Santo.”

O ministro batista pontua que a Palavra de Deus enfatiza a necessidade de o crente ficar atento ao que acontece ao seu redor e cita o conhecido texto de 1 João 2.15,16: Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. “Nesse e em outros textos bíblicos, “mundo” é um estilo de vida, a forma de viver daqueles que não têm Deus. Estes são guiados pelos próprios instintos. Seu modo de pensar e agir é contrário aos valores do Reino de Deus.”

O Pr. Uri Barros critica: “As pessoas estão procurando mais pelos milagres de Deus, e não pelo Deus dos milagres. Não querem se submeter ao Senhor” – Foto: Arquivo pessoal

Verdade absoluta – O Pr. Uri Barros, da Assembleia de Deus Ministério Belém, na Lapa, zona oeste de São Paulo (SP), cita outra passagem que demonstra claramente a necessidade de santificação: Romanos 12.2 (E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus). “O apóstolo Paulo orienta que não devemos tomar a forma deste mundo, ou seja, ficar dentro do modelo que ele propõe. Pelo contrário, precisamos transformar nosso entendimento, nossa maneira de pensar, para que possamos experimentar a boa, perfeita e agradável vontade de Deus”, destaca o líder assembleiano.

Barros enfatiza que a Bíblia se opõe frontalmente ao relativismo, uma corrente de pensamento muito presente na atualidade, segundo a qual nada é verdade absoluta. Ele lembra que as palavras proféticas de Paulo, em sua segunda carta a Timóteo, mostram que isso, de fato, aconteceria antes da segunda vinda de Jesus: Porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas. (2 Tm 4.3 e 4). “Sabemos que esse é um sinal dos últimos dias da Igreja na Terra. A tendência é que esse quadro se agrave. As pessoas estão procurando mais pelos milagres de Deus, e não pelo Deus dos milagres. Não querem se submeter ao Senhor.”

Foto: Jason Wong / Unsplash

Citando o texto de 1 Pedro 1.16 (Porquanto escrito está: Sede santos, porque eu sou santo), o líder lembra que a orientação do Altíssimo é para que Seus filhos sejam santos tal como Ele mesmo é. “Ser santo é ser separado, é ter exclusividade. E isso só é aprendido pelo ensinamento da Bíblia”, afirma o pastor, explicando que o processo de santificação é gradativo. “A ministração genuína da Palavra de Deus é fundamental para o indivíduo ser santificado. A Igreja que não tem as Sagradas Escrituras como fundamento é fadada ao fracasso espiritual”, alerta Uri Barros. Ele assinala que o grande desafio para vencer a Babilônia, neste século, é levar o povo a conhecer a Palavra e estudá-la, em profundidade, contando com a Graça e a orientação do Espírito Santo. “O Espírito convence o homem do pecado e da justiça”, conclui ele, referindo-se ao texto de João 16.8.

Paixão vazia

Demas foi um cooperador importante no ministério do apóstolo Paulo, por isso foi citado na saudação da carta aos Colossenses (Cl 4.14). Seu nome também é referido na epístola a Filemom, onde Paulo informa que Demas é um de seus auxiliares ministeriais: Saúdam-te Epafras, meu companheiro de prisão por Cristo Jesus, Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus cooperadores (Fl 1.23,24).

Contudo, seu nome será lembrado, no Novo Testamento, como aquele que abandonou a fé e, por consequência, o apóstolo, no fim de sua vida. Na primeira prisão de Paulo, em Roma, quando este escreveu a Filemon, Demas é citado como um importante cooperador. Porém, na segunda prisão, é mencionado na condição de desertor, de alguém que decepcionou o apóstolo. Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica; Crescente, para a Galácia, Tito, para a Dalmácia (2 Tm 4.10). No original, o verbo empregado pelo apóstolo, traduzido literalmente, dá a ideia de que Demas o deixou em dificuldades, desamparado. Alguns estudiosos defendem que a melhor tradução para este verso seria: Demas me abandonou ao desamparo porque se apaixonou pelo presente século. Nessa segunda carta a Timóteo, Paulo pede que o jovem vá encontrá-lo depressa, em Roma, justamente por causa do que Demas havia feito (2 Tm 4.9).

(Fonte: Gospel Mais e Estilo Adoração)


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *