Por Patrícia Scott
Ajuventude brasileira está se aproximando cada vez mais das igrejas evangélicas. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, ainda em 2020, mostrou que, na faixa dos 16 a 24 anos, dois em cada dez jovens do país (19% dos brasileiros neste grupo etário) pertence ao segmento protestante – cerca de 12,4 milhões de pessoas. O número é muito próximo ao dos jovens da mesma faixa de idade que se identificam como católicos: 13,7 milhões.
Porém, na visão do Pr. Rodolfo Capler, escritor e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), levando-se em conta que o segmento protestante não para de crescer, os jovens do Brasil continuarão a engrossar cada vez mais o rebanho evangélico. A interpretação dos dados […] nos permite concluir que a juventude brasileira caminha a passos largos para se tornar predominantemente evangélica, informou Capler, em artigo publicado no blog de Matheus Leitão no portal Veja.
Na mesma postagem, o pesquisador destaca que a adesão dos jovens brasileiros ao protestantismo se dá, principalmente, nas classes mais baixas e que os segmentos pentecostais e neopentecostais são os principais responsáveis por abraçar esse público. Ele também acredita que a contextualização da mensagem da fé, que se adapta à realidade sociocultural de grande parte da juventude, contribui para esse cenário. Segundo o pastor, a música gospel – a qual abarca vários estilos musicais, do samba ao rock – seria outro fator importante nessa equação, além da presença social das igrejas nas periferias.
Ferramenta valiosa – Já o Pr. Kenner Terra, doutor em Ciências da Religião, salienta que, para além da questão socioeconômica, a experiência religiosa em si, a construção de sentido da vida e a internet também contribuem para a adesão da juventude às fileiras protestantes. “A rede social é outro fator importante, pois as igrejas, especialmente as carismáticas e pentecostais, usam bem esse espaço onde a juventude está em peso”, avalia.
Os meios digitais, de uma forma geral, tornaram-se uma ferramenta ainda mais valiosa para as igrejas evangélicas e para os ministérios de jovens durante a pandemia da covid-19. Diante da impossibilidade da realização de cultos e programações presenciais, o uso das redes se tornou praticamente obrigatório. “Investimos nas redes sociais, principalmente no Instagram, para evangelizar e consolidar os jovens, de modo que não ficassem dispersos”, revela a Pra. Carla Pontes, líder estadual do ministério Jovens Que Vencem (JQV), da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no Amazonas.
Pontes lembra que, mesmo com o retorno das atividades presenciais, o trabalho nas redes continuou, porém, agora, com possibilidades maiores de levar os jovens para mais perto da igreja. Ela destaca que a realização de eventos específicos para esse público, como o Papo Reto (para rapazes) e o Quarto Rosa (para moças), são iniciativas importantes no sentido de ajudá-los a enfrentarem seus conflitos pessoais e se firmarem na Palavra. Segundo ela, na sede estadual da Igreja da Graça em Manaus, eles também têm a oportunidade de se engajarem nas atividades de ação social, por meio do programa Amar Mais. “É um trabalho de visitas a famílias, hospitais e asilos, com entrega de cestas básicas”, informa.
A pastora faz, entretanto, um alerta: o número de jovens depressivos e com baixa autoestima é muito grande nas igrejas. Daí a importância do trabalho ministerial que os ajude a se firmarem na Palavra de Deus, tornando-os dedicados na propagação do Evangelho e prontos a ganhar outros jovens para Cristo. “Eles despertam muito rápido para as necessidades do Reino. São fortes e corajosos”, assegura a ministra, citando o texto de 1 João 2.14: […] Eu vos escrevi, pais, porque já conhecestes aquele que é desde o princípio. Eu vos escrevi, jovens, porque sois fortes, e a palavra de Deus está em vós, e já vencestes o maligno. [Leia, no final desta reportagem, o quadro Jovens de valor]
Vazio da alma – No entendimento do Pr. Jessé Guidelli de Oliveira, da Assembleia de Deus de Alto Ginásio, Sertãozinho (SP), a permanência da juventude na Igreja depende da oferta de programações sadias, que preencham seu tempo ocioso. “Infelizmente, várias denominações têm criado cópias de sistemas mundanos, demonstrando, assim, incoerência com a Bíblia. Acredito que deve haver uma volta ao Evangelho genuíno e simples, com ênfase na leitura, explicação e aplicação das Escrituras Sagradas no cotidiano da juventude, semanalmente”, recomenda.
Para o Pr. Eduardo Zocolotto, líder estadual do Jovens Que Vencem (JQV) no Paraná, é essencial também acolher muito bem os que chegam à igreja e trabalhar para firmá-los nos caminhos do Senhor. “Isso porque, de um modo geral, estão enfrentando alguma adversidade. E, qualquer ser humano, nesses momentos, deseja a presença de Deus”, frisa o líder. Ele acredita que o fato de os jovens buscarem apoio nas igrejas evangélicas nada tem a ver com classes sociais, e sim com a necessidade de preencher o vazio da alma. “Eles entendem que precisam do Pai para sarar as feridas e desejam saber qual é o melhor caminho a seguir.”
Segundo ele, muitos jovens chegam às comunidades cristãs buscando suporte para lidar com conflitos familiares e consolo nas áreas emocional e sentimental. Zocolotto aponta a existência de um grande desafio para quem decide trabalhar com esse público: a maneira como pensam e absorvem as informações, um processo que se dá, principalmente, pelas redes sociais, de forma bastante prática e dinâmica. “É necessário unir os assuntos do cotidiano aos ensinamentos bíblicos dentro de uma linguagem que os alcance.”
“Muitos frutos” – O Pr. Jâmesson Alves de Santana, líder estadual do ministério Jovens Que Vencem (JQV) em Rondônia, faz coro com o Pr. Eduardo Zocolotto. Ele assegura que trabalhar com a juventude é diferente do trabalho com adultos, pois requer altas doses de motivação. “Temos de ser criativos e ousados para que permaneçam nos caminhos do Senhor e, assim, tenham envolvimento com a obra de Deus”, explica o pastor, reiterando que inúmeros jovens vão às igrejas em busca de solução para seus dramas cotidianos. “Muitos estão depressivos, por exemplo, e procuram a cura na fé”, pontua.
Outra característica dos jovens, segundo o líder estadual do JQV do Pará, Valdenir Azevedo, é a necessidade de ter contato, principalmente, com pessoas da mesma faixa de idade. Ele lembra que, no pico da pandemia da covid-19, diminuiu o número de jovens envolvidos no ministério. No entanto, aos poucos, com a flexibilização das medidas de proteção sanitária, a adesão às atividades do JQV paraense voltou a crescer. “Eles querem o contato, a interação, o presencial. O isolamento dificultou isso, mas agora já ganhamos fôlego. A juventude gosta de dinamismo, de movimento, por isso está sempre voltada para ações que quebram a rotina”, avalia.
Azevedo acredita que, mesmo em meio a todos os atrativos mundanos os quais tentam iludir os jovens, o Senhor os alcançará. “Darão muitos frutos para o Reino de Deus. O Senhor tem um chamado para todos eles, independentemente da classe social ou dos problemas que estejam enfrentando. Ele deseja resgatá-los para que sejam usados em prol do Reino”, conclui.
Jovens de valor
Ao longo de toda a história bíblica, o Senhor chamou e preparou moços para Lhe servirem com integridade e dedicação. Apesar da pouca idade, o compromisso deles com Deus os levou a realizar grandes obras e marcar seu tempo. Eis alguns exemplos:
José – Filho do patriarca Jacó, ele tinha revelações de Deus por meio de sonhos (Gn 37.1-17). Preferido de seu pai, foi vendido como escravo pelos irmãos (Gn 37.18-36). Levado ao Egito, mesmo na condição de escravo, destacou-se como bom administrador (Gn 39.1-18). Caluniado pela esposa de seu senhor, passou anos na prisão (Gn 39.19-23); porém, depois de interpretar os sonhos do copeiro e do padeiro do rei (Gn 40.1-23), interpretou também o sonho do Faraó (Gn 41.1-36) e, por isso, tornou-se governador do Egito (Gn 41.37-47).
Davi – Era pastor de ovelhas quando foi escolhido pelo Senhor para substituir Saul como rei de Israel (1 Sm 16.1-13). Destemido, o jovem Davi ousou enfrentar Golias, o gigante filisteu, e o derrotou (1 Sm 17.1-11). Ele entrou para o exército real, onde teve sucesso em várias campanhas militares, despertando a inveja de Saul (1 Sm 18.1-16), o qual passou a querer matá-lo (1 Sm 19.1-10). O jovem, então, viveu anos como fugitivo (1 Sm 21 e seguintes). Após a morte de Saul (1 Sm 31.1-13), Davi foi reconhecido como rei (2 Sm 2.1-7) e se tornou o mais notável monarca da história de Israel.
Timóteo – Converteu-se a Cristo ainda muito jovem. Tornou-se auxiliar de Paulo, durante a segunda viagem missionária do apóstolo (At 16.1-5). Dessa forma, o jovem viajou por várias cidades e ajudou seu “pai na fé” (1 Tm 1.1) a escrever algumas de suas epístolas (1 Ts 1.1, 2 Co 1.1). Nos últimos dias de vida de Paulo, este queria muito rever Timóteo e pediu ao jovem pastor, o qual liderava a igreja em Éfeso, que fosse a Roma para estar com ele, em sua hora final (2 Tm 4.9).
(Fonte: Bíblia Sagrada)