Entrevista | Revista Graça/Show da Fé
Renda-se à verdade!
07/06/2024
Na prateleira – 299
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Foto: Arquivo pessoal

Trabalho árduo

Missionário brasileiro fala sobre seu ministério entre os baras, população não alcançada da ilha de Madagascar

Por Patrícia Scott

A obra de Deus sempre é desafiadora, principalmente quando desenvolvida entre povos não alcançados. Desde 2013, o missionário Luís Fernando Basso, 43 anos, está em Betroka, região montanhosa rural e isolada ao sul de Madagascar, para proclamar o Evangelho. Ao seu lado, estão sua esposa, Janaíne, 38 anos, e os filhos Benício, 8, e Timóteo, de 5 aninhos. Janaíne está grávida do terceiro filho. “Viemos fazer parte de uma equipe que acabou indo embora, mas decidimos ficar pela fé”, revela Fernando, que, com a sua ajudadora, foi enviado ao campo pela Missão para o Interior da África, em parceria com a Associação Missionária Evangélica Livre (AMEL), ligada à Igreja Evangélica Livre de Toledo (PR).

O local é bastante empobrecido. Por isso, o trabalho social serve como uma oportunidade de ganhar os que sofrem em meio à falta de recursos. “Neste ano, está chovendo bem. Porém, quando há seca, a situação se agrava. Em 2015, vimos pessoas morrerem de fome. A necessidade aqui é muito grande”, relata o pregador, que, nesta entrevista à Graça/Show da Fé, fala dos desafios e das estratégias de evangelização que utiliza naquela ilha-nação, situada perto da costa sudeste da África, conhecida mundialmente por suas belezas naturais.

Quais desafios vocês têm enfrentado na obra em Madagascar?

A língua bara é difícil de aprender. Mesmo depois de 11 anos, não falamos perfeitamente o idioma. Além disso, o lugar onde residimos é de extrema miséria, e nele há seca semelhante à do sertão nordestino brasileiro. Não existe qualquer provisão do governo [de Antananarivo]. As estradas não são asfaltadas e, quando chove, ficam intransitáveis. Quando chegamos, não havia água nem energia elétrica. Atualmente, temos luz de quatro a cinco horas por dia, e a água só chega de madrugada. Para utilizá-la, enchemos um galão. Não há como furar poço artesiano, pois moramos em cima de um terreno bem rochoso. Enfrentamos questões raciais, porque somos os únicos brancos, e tudo para nós é mais caro. Várias igrejas começam a nos ajudar, mas não permanecem. Então, levantar fundos para os projetos que desenvolvemos é outra questão a ser pensada.

Como você descreveria o povo bara?

Os habitantes dessa área geográfica cultuam a natureza e são envolvidos com outros costumes. Adoram seus ancestrais e creem que os espíritos dos mortos ainda estão no mundo. Escolhem o local para o sacrifício e acreditam que os espíritos vão até lá para abençoá-los. Isso causa empobrecimento, porque precisam sacrificar o gado. Sem dinheiro, vendem terra ou o que tiverem. Há muito medo envolvido. Além disso, cerca de 80% do povo bara não sabe ler nem escrever. Sou engenheiro agrônomo e tento ajudá-los na agricultura, que, para eles, é comandada pelos espíritos. As práticas agrícolas poderiam aumentar a produtividade, porém não são utilizadas, pois eles acreditam que esses seres sobrenaturais podem puni-los.

Quais estratégias de evangelização são desenvolvidas?

Iniciamos um projeto infantil com seis crianças. Hoje, são quase mil. Elas são evangelizadas às quartas-feiras e aos sábados e ainda recebem um lanche. Além disso, brincam na quadra de basquete e de futebol de areia. Também montamos uma escola gratuita, onde meninas e meninos são alfabetizados na língua materna. Atualmente, atendemos 200 pequeninos. A proposta incluiu lhes fornecer alimentos, pois muitos ficam sem comer por longos períodos do dia. Uma vez por ano, realizamos o curso de corte e costura para as mulheres. Ao final, doamos as máquinas para que elas possam trabalhar. Visitamos outras vilas com um programa de contação de histórias, onde alcançamos mais crianças. A obra social não é o foco prioritário, e sim parte do trabalho, com a finalidade de demonstrar o amor e o cuidado de Jesus.

É verdade que o filme do Projeto Jesus, com base no evangelho de Lucas, tem sido utilizado como estratégia de evangelização?

Começamos a lançar mão desse método em 2015, visitando as vilas e exibindo essa produção dublada na língua bara. Desde então, percorremos 451 vilas junto aos parceiros, alcançando em torno de cem mil pessoas. O povo bara é muito visual, e as histórias são passadas oralmente por gerações. Nesse sentido, a ideia de exibir o longa-metragem é perfeita. Depois, enviamos evangelistas às vilas, para continuarem semeando as Boas-Novas e discipulá-los. No total, foram implantadas 15 igrejas e estabelecidos cinco pontos de pregação nas casas. A exibição do filme também beneficiou os cristãos, pois eles renovaram seu amor a Cristo.

Como se dá o auxílio às igrejas locais?

Treinamos evangelistas e pastores para pregar o Evangelho contando histórias. Ajudamos essas comunidades de fé a compreenderem a teologia da missão e a prática do cristianismo, que é sincrético ou nominal em Madagascar. Cooperamos com 14 pessoas, entre pastores e evangelistas, oferecendo-lhes recursos financeiros, para que consigam desenvolver a obra. O salário médio do pastor é de 300 reais, e os preços dos alimentos são basicamente os mesmos praticados no Brasil. Já entregamos 19 motos para pastores parceiros e mais de cem bicicletas. Distribuímos Bíblias em áudio e Bíblias de estudo. Além disso, minha esposa realiza discipulado com as mulheres.

Qual foi sua experiência mais impactante na ilha?

Uma vez, fiquei três dias fora visitando algumas vilas distantes para propagar a Palavra. Retornei cansado à minha casa. Logo depois, o Pr. Emanuel me chamou no portão, dizendo para irmos a uma vila projetar o filme Jesus. Dei desculpas para não ir, mas, mesmo emburrado, fui. Chegando lá, a igreja estava fechada, e havia apenas duas crianças na porta. No entanto, quando entramos, o local estava lotado. Olhei aquela cena e comecei a chorar. Pedi perdão a Deus e fiz uma aliança com Ele dizendo: “Se o Senhor me der recursos e saúde, vou visitar todas vilas da população bara, levando esse filme para proclamar o Evangelho”. Já alcançamos 451 vilas e pretendemos chegar a 500.

Luís Fernando Basso
Missionário e engenheiro agrônomo

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