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Foto: Courtney People Images / Adobe Stock

Dar e receber

O perdão é um ensino central do Novo Testamento e deve ser praticado por todo seguidor de Jesus

Por Ana Cleide Pacheco

O perdão é o coração da fé cristã. Por meio de Sua morte na cruz, o Filho de Deus pagou o preço a fim de os homens terem seus pecados perdoados. Seguindo o exemplo do Mestre, os salvos da condenação eterna também devem usar de misericórdia com seus semelhantes. Em Mateus 18.23-35, o bom Pastor ensina esse princípio de forma clara, usando como exemplo a parábola do credor incompassivo. De acordo com a narrativa, um homem devia muito dinheiro a seu senhor, mas recebeu o perdão da dívida. Contudo, o perdoado, embora tivesse sido alvo de tamanho ato de piedade, recusou-se a anistiar um companheiro que lhe devia uma quantia bem menor. Quando aquele senhor soube disso, ficou extremamente irado e mandou trancar o que fora absolvido na prisão. Assim vos fará também meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas (v.35).

O Pr. Alair dos Santos Lima enfatiza: “Todo aquele que não está disposto a perdoar, não aprendeu a obedecer aos ensinos do Senhor, nosso grande exemplo
de perdão”

Foto: Arquivo pessoal

O texto ilustra a dificuldade humana de exercer o perdão e confronta o leitor com a necessidade de aprender de Cristo a aplicar esse mandamento diariamente, sob pena de sofrer graves consequências. Não por acaso, a questão é tratada em diversas passagens das Escrituras, demonstrando sua vital importância. O tema aparece inclusive na oração do Pai-nosso: Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores (Mt 6.12). Em outro momento, o Salvador enfatiza a prática do perdão como condição para receber o favor divino: E, quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas. Mas, se vós não perdoardes, também vosso Pai, que está nos céus, vos não perdoará as vossas ofensas (Mc 11.25,26).

O Pr. Renato Lima de Souza aponta: “Quando lemos a Bíblia, com o coração aberto para os ensinamentos dela, compreendemos que perdoar é um ato de fé”
Foto: Arquivo pessoal

Quem não compreende que o perdão é a base para estar conectado a Deus não pode se relacionar com Ele nem com o próximo. É o que afirma o Pr. Alair dos Santos Lima, da Primeira Igreja Batista em Jardim Alcântara, no município de São Gonçalo (RJ). “O perdão é, sem dúvida, algo extraordinário, incomparável e só quem o experimenta pode entender o que ele representa. Trata-se de um alívio para a alma: é como tirar dos ombros algumas toneladas de peso”, argumenta o líder, enfatizando que perdoar é um ato de obediência ao Rei dos reis. “Todo aquele que não está disposto a perdoar, não aprendeu a obedecer aos ensinos do Senhor, nosso grande exemplo de perdão.”

O Pr. Renato Lima de Souza, da Igreja Evangélica Fonte de Amor Eterno, na Ilha do Governador, zona norte do Rio de Janeiro (RJ), concorda com o ministro batista. “Quando lemos a Bíblia, com o coração aberto para os ensinamentos dela, compreendemos que perdoar é um ato de fé. É preciso olhar para Jesus e fazer o que Ele sempre fez: mover-se de íntima compaixão, perdoar e amar”, afirma Renato Souza, asseverando que, erroneamente, muitos pensam que jamais conseguirão superar as ofensas vividas. No entanto, o pregador ressalta que a consagração ao Altíssimo capacita os indivíduos a perdoar qualquer um. Já quem não o libera fica à mercê das consequências negativas de suas escolhas. “Infelizmente, os espíritos malignos agem dentro do coração do ser humano por meio do ódio, da ira, da mágoa e do ressentimento, aprisionando-o no sofrimento. Por isso, é importante ter uma vida de obediência à Palavra.”

O Pr. Marcelo Escandarane Cardoso argumenta: “Por meio desse conhecimento [a Palavra], conseguimos enxergar o quanto somos pecadores e o quanto precisamos do perdão do Pai celeste”
Foto: Arquivo pessoal

Pessoas comprometidas em ler regularmente o Texto Sagrado tendem a se declarar mais abertas a exercitar o perdão, de acordo com uma pesquisa realizada em 2022 nos Estados Unidos pela American Bible Society (Sociedade Bíblica Americana). O objetivo do inquérito era avaliar o nível de transformação impulsionada pela leitura do Livro Santo em diversas áreas da vida. Segundo o levantamento, 94% dos respondentes, que liam a Bíblia com regularidade, concordaram com a frase: Sou capaz de perdoar sinceramente qualquer coisa que alguém tenha feito para mim, independentemente de me pedirem perdão ou não. Apenas 6% dos entrevistados discordaram da sentença.

O seminarista Daniel Carvalho da Silva afirma: “A verdade é: só consegue perdoar, com plenitude, aquele que entende, por meio das Escrituras e da comunhão intensa com Deus, que recebeu o perdão de uma dívida impagável com o Senhor”
Foto: Arquivo pessoal

Transformações pessoais – O Pr. Marcelo Escandarane Cardoso, da Igreja Batista da Amizade, em Trindade, São Gonçalo (RJ), defende a ideia de que a mensagem bíblica, quando corretamente compreendida, promove no leitor uma série de transformações pessoais. “Por meio desse conhecimento, conseguimos enxergar o quanto somos pecadores e o quanto precisamos do perdão do Pai celeste. Isso está estabelecido na oração modelo: Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores [Mt 6.12]”, argumenta o líder, acrescentando que, mediante o perdão, as dores do passado são superadas, a página de uma história dolorosa fica para trás, e, assim, seguimos em frente. “O perdão é uma das maiores experiências de libertação que alguém pode viver, e, em minha opinião, é ainda mais útil para quem o concede do que para quem o recebe.”

A auxiliar de serviços gerais Valneia Alves da Silva opina: “Perdoar é, também, um ato de desapego”
Foto: Arquivo pessoal

O seminarista Daniel Carvalho da Silva, membro da igreja do ministro Cardoso, pensa como o seu líder. Ele lembra que, para entender com profundidade a importância do perdão, é preciso compreender que se trata de um dom imerecido. “A verdade é: só consegue perdoar, com plenitude, aquele que entende, por meio das Escrituras e da comunhão intensa com Deus, que recebeu o perdão de uma dívida impagável com o Senhor.”

A assessora parlamentar Michele Kobbi de Magalhães D’aguila de Souza lembra: “Quando perdoamos, exercemos o amor de Cristo, além de nos aproximarmos de Deus e nos tornarmos cada vez mais a imagem e semelhança dEle”
Foto: Arquivo pessoal

A auxiliar de serviços gerais Valneia Alves da Silva, obreira da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Vargem Pequena, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), acredita que liberar o perdão é uma oportunidade de demonstrar amor pelo outro e por si mesmo. “Quando conseguimos dar esse passo, somos libertos de sentimentos que nos aprisionam e nos fazem mal, como mágoa, angústia e raiva. Perdoar é, também, um ato de desapego. Por meio dele, abrimos mão de algo que nos atormenta para dar lugar ao amor, à alegria e à paz. É se sentir livre da condenação e dar chance à felicidade!”, opina. 

“Espiritualmente saudável” – A assessora parlamentar Michele Kobbi de Magalhães D’aguila de Souza, da Igreja Metodista em Ricardo de Albuquerque, zona norte do Rio de Janeiro (RJ), destaca que o Redentor – mesmo tendo sido traído, rejeitado, humilhado e condenado à crucificação – morreu para que os pecados de toda a raça humana fossem perdoados. “Na consumação de Sua morte, Jesus exclamou: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem [Lc 23.34]. Maior prova de amor não há. Então, quando perdoamos, exercemos o amor de Cristo, além de nos aproximarmos de Deus e nos tornarmos cada vez mais a imagem e semelhança dEle.”

O Pr. Sérgio Ricardo Gonçalves Dusilek declara que perdoar é permitir que a vida siga seu fluxo: “Aquele que perdoa é espiritualmente saudável”
Foto: Arquivo pessoal

O Pr. Sérgio Ricardo Gonçalves Dusilek, da Igreja Batista Marapendi, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), declara que perdoar é permitir que a vida siga seu fluxo. “Sempre me lembro da célebre frase do pastor batista Martin Luther King Jr.: Decidi pelo amor, porque o ódio é um fardo pesado demais para carregar. Este floresce em pântanos afundados na mágoa”, argumenta Dusilek, acrescentando a passagem de Hebreus 12.15: a raiz de amargura causa perturbação a quem não perdoa. “Nesse sentido, aquele que perdoa é espiritualmente saudável.”

O universitário e seminarista Arthur Datrino Barbosa conclui: “À medida que conhecemos o Senhor, nossa capacidade de perdoar se torna maior”
Foto: Arquivo pessoal

O universitário e seminarista Arthur Datrino Barbosa, membro da Primeira Igreja Batista de Niterói (RJ), defende que perdoar não é algo que o indivíduo seja capaz de fazer sozinho. Ele explica que, desde a queda de Adão e Eva no jardim do Éden, séculos e séculos se passaram. Naqueles tempos, as pessoas se entregaram à maldade e à vingança até que ocorresse o primeiro grande ato de perdão do Antigo Testamento protagonizado por José, ao se reconciliar com seus irmãos no Egito (Gn 50.15-21). “José buscava a Deus e, portanto, foi capaz de tal atitude”, pontua Barbosa, enfatizando que perdoar é um gesto de amor que se origina do Todo-Poderoso, O qual enviou Jesus Cristo ao mundo para sofrer no lugar da humanidade. “À medida que conhecemos o Senhor, nossa capacidade de perdoar se torna maior”, conclui.

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