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Luís XI (1423-1483) – Foto: Wikimedia
Abraão de Almeida

Pano de fundo político e religioso da Reforma

No artigo anterior, falamos de Patrício e Columba, perseguidos e perseguidores. Nesta edição, vamos tratar do pano de fundo político e religioso para entender o desenvolvimento da Reforma Protestante.

Pano de fundo político A fim de melhor compreendermos o desenvolvimento da Reforma, vamos examinar primeiro a situação política da Europa tendo em vista a segunda metade do século 15, começando com a França. Luís XI (1423-1483), graças à sua habilidosa política, legou uma forte monarquia ao filho, Carlos VIII (1470-1498). A França era, então, uma das mais influentes nações da Europa.


Carlos VIII (1470-1498) – Foto: Wikimedia

A Espanha, que havia sofrido muito em razão das guerras e anarquias do século 14 e início do século 15, fortaleceu-se mediante o casamento de Fernando de Aragão (1452-1516) com Isabel de Castela (1451-1504). Fernando e Isabel iniciaram uma cruzada para expulsar os mouros do reino de Granada, que era o seu último reduto no país, e conseguiram após 11 anos de lutas. A partir daí, a Espanha enfatizou o patriotismo e a intolerância religiosa, resultando em drásticas medidas contra os judeus, os hereges em geral e, mais tarde, contra os protestantes. A Inquisição se tornou extremamente poderosa e sanguinária, levando ao suplício e à morte dezenas de milhares de vítimas.

Fernando de Aragão (1452-1516) e Isabel de Castela (1451-1504) – Foto: Reprodução

A Inglaterra, por sua vez, enfraquecida pela Guerra dos Cem Anos e, a seguir, pela Guerra das Rosas, estava, no final do século 15, profundamente debilitada. Henrique VII (1485-1509), graças à sua habilidade administrativa, afastou o país de toda guerra estrangeira, eliminou os pretendentes ao trono, e restaurou a economia.
Na Alemanha, muitos príncipes haviam aumentado o seu território valendo-se da fraqueza de seus vizinhos. Sem autoridade forte no país, não havia como resistir às extorsões do papado, às intervenções estrangeiras e às heresias. Foi nesse terreno fértil que a Reforma Protestante germinou e cresceu.

A Holanda, por sua vez, estava dividida em muitos estados independentes antes de 1493, porém o país foi agrupado sob o domínio do imperador Carlos V (1500-1558). Os holandeses, insatisfeitos com a dominação espanhola, reagiram contra as manobras do imperador, e ele recorreu à violência e usou de uma crueldade sem limites para com os holandeses: suas vítimas chegaram, segundo alguns historiadores, a mais de 50 mil pessoas queimadas ou enterradas vivas, acusadas de heresia e de protestantismo.

Pano de fundo religioso John Wycliffe (1328-1384), o primeiro precursor da Reforma, era professor de Oxford. Conhecendo a Palavra de Deus e desejando salvar o seu país da tirania papal, ele escreveu tratados em defesa da verdadeira fé e também traduziu quase toda a Bíblia para a língua inglesa, tendo por base a Vulgata. Para essa gigantesca obra, ele reuniu palavras-chave dos 200 dialetos falados em sua pátria, tornando-se, dessa forma, um dos formadores da língua inglesa. Ao morrer, em 1384, seu trabalho foi continuado por João Purvey e concluído em 1388. As cópias dessa Bíblia foram objeto de grandes queimas públicas nos anos de 1410 e 1413, mas, pelo menos, 170 delas ainda existem até hoje.

João Hus (1369-1415), o segundo dos precursores da Reforma, ao ler os escritos de Wycliffe, percebeu as riquezas da vida espiritual e se tornou pregador muito popular. Apesar de ser grande a sua influência, tanto em virtude de suas poderosas mensagens bíblicas quanto pela sua maneira piedosa de viver, o anátema do papa e do bispo caiu sobre Hus, de sorte que, em Praga, ninguém podia ser por ele batizado, casado ou sepultado dentro da religião católica.

Em 1414, teve início em Constança um concílio geral, ao qual compareceram os mais altos dignitários eclesiásticos da Europa. Munido de um salvo-conduto, Hus se dirigiu ao concílio. A sua intenção era avistar-se com o papa e expor perante ele o seu caso, mostrando que nem ele nem a sua pátria eram hereges. Prometeram-lhe uma audiência com o papa, no entanto, em vez de cumprirem a palavra, colocaram-no em uma cela escura e malcheirosa de um mosteiro dominicano. Mais tarde, ele foi transferido para uma das torres do palácio do arcebispo de Gottleben. Em 6 de julho de 1415, o concílio condenou Hus à morte, na fogueira, por crime de heresia.

Outro que morreu pelo Evangelho foi Jerônimo de Praga (1379-1416), homem de grande eloquência. Submetido a muitas torturas durante quase um ano de encarceramento, assinou uma retratação. Mas a vitória de seus inimigos foi breve: ele voltou a pregar com ousadia tal que provocava a admiração até de seus inimigos. Em maio de 1416, ele se apresentou em sua última audiência, e então se confessou arrependido da sua retratação. A assembleia condenou Jerônimo à morte na fogueira, na mesma cidade de Constança, no ano de 1416. O reformador se dirigiu para o lugar do martírio cantando hinos de alegria, como também o fizera Hus.

Digna de citação também é a sociedade dos Irmãos de Vida Comum, nascida em 1340, na Holanda. Do seio dessa sociedade saiu, por volta do ano 1470, a famosa obra Imitação de Cristo, que alcançou 80 edições antes da Reforma. Por meio desse livro, educaram e prepararam os povos do Norte da Europa para, mais tarde, receberem, com regozijo, os pregadores e os princípios da Reforma, o que de fato aconteceu.

Abraão de Almeida
Pastor da Igreja Evangélica Brasileira em Coconut Creek, Flórida, EUA, e autor de mais de 30 livros em português e espanhol. E-mail: abraaodealmeida7@gmail.com

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