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Foto: Reprodução
Abraão de Almeida

Alemanha e Suíça: líderes da Reforma (parte 2)

AReforma religiosa do século 16 não foi obra exclusiva do monge agostiniano Martinho Lutero (1483-1546) nem ficou restrita apenas à Alemanha. Nos dois séculos precedentes, os precursores desse grande movimento haviam espalhado, com o sacrifício da própria vida, a semente da Reforma em seus diferentes países. Agora, no começo do século 16, essa semente germinava, de maneira vigorosa, nos lugares onde havia sido lançada. 

Ao mesmo tempo em que Lutero trabalhava no castelo de Wittenberg na divulgação de suas teses, outros grandes homens pregavam, em suas respectivas nações, as mesmas verdades bíblicas, embora não houvesse entre eles qualquer intercâmbio, aproximação ou prévio acordo. Eram movidos por uma mesma força, o Espírito Santo, para um mesmo objetivo, a restauração da verdade evangélica, tão profundamente esquecida no seio do romanismo. 

Ulrico Zuínglio (1484-1531) – Foto: Reprodução

Ulrico Zuínglio Foi mais precisamente durante o período compreendido entre a fixação das teses de Lutero à porta da igreja do castelo de Wittenberg, em 31 de outubro de 1517, até a paz de Nuremberg, concluída em 1532, que surgiu, nos mais populosos cantões suíços, um forte movimento reformador, responsável não somente pela elevação da vida religiosa, mas também da social e política. O líder era o suíço Ulrico Zuínglio (1484-1531), nascido no Leste do país em um povoado chamado Wildhaus. Educado nas universidades de Viena e Basileia, Zuínglio foi discípulo dos príncipes expositores do pensamento renascentista tão difundido na época, e tornou-se sacerdote mais por tradição da família do que por alguma experiência religiosa profunda, como foi o caso de Lutero. 

Ao assumir sua primeira paróquia em Glarus, Zuínglio continuou estudando a Bíblia e a Teologia, à luz do novo ensino. Em 1516, tomou emprestado o Novo Testamento traduzido pelo escritor e filósofo holandês Erasmo de Roterdã (1466-1536) — o desertor da Reforma —, copiou as cartas paulinas e as estudou constantemente. Residindo como sacerdote em Einsiedeln, pregou contra a venda das indulgências por um tal de Sanson, e acabou com esse desmoralizante tráfico. Transferido para a catedral de Zurique em 1518, começou a pregar as verdades evangélicas e escreveu um livro, publicado em 1522, no qual anunciava seu rompimento com o papado.

Em 1523, em um debate público organizado pelos seus inimigos (os enviados do Bispo de Constança), com o intuito de pôr um ponto final nos distúrbios religiosos, Zuínglio apresentou 67 proposições em defesa de seus pontos de vista. Ele revolucionou de tal maneira a controvérsia que os prelados reunidos romperam com o papa e encorajaram o reformador a prosseguir na sua obra, levando então a Reforma a toda a cidade e periferia, e dali ela se alastrou até a Suíça alemã. Em 1529, Zuínglio manteve uma conferência com Lutero, surgindo entre ambos uma séria divergência quanto à doutrina da Santa Ceia. Lutero ainda estava agarrado à interpretação católica, enquanto seu colega defendia o sentido bíblico da doutrina. Dois anos mais tarde, em 1531, em uma batalha entre os nove cantões protestantes e os quatro que haviam permanecido católicos, Zuínglio tombou mortalmente ferido.

João Calvino (1509-1564) – Foto: Reprodução / Sotheby’s

João Calvino Substituindo-o no protestantismo suíço, surgiu João Calvino (1509-1564), pertencente à segunda geração da Reforma – ou seja, 26 anos depois de Lutero. Francês de Nóyon, cidade situada ao Norte, Calvino fez o estudo preparatório para o sacerdócio em Paris. Depois, formou-se em Direito em Orleans e em Bourges. Com o falecimento do pai em 1531, voltou a Paris e dedicou-se à cultura das letras, estudando com os mais famosos humanistas. Convertendo-se ao protestantismo em 1533, Calvino teve de fugir de Paris um ano mais tarde, com outros convertidos, em virtude de uma terrível perseguição. Foi residir em Basileia, onde, em 1535, publicou sua famosa obra Institutas, na qual analisa as doutrinas evangélicas mais importantes. 

Guilherme Farel (1489-1565) – Foto: Wikimedia

Depois de três anos em Basileia, João Calvino chegou a Genebra em 1536, uma cidade de 13 mil habitantes. Esta havia conquistado independência contra o bispo católico, que era também senhor feudal. Sob os efeitos da pregação de Guilherme Farel (1489-1565), reformador francês, aquela cidade suíça havia se tornado protestante, porém muita coisa precisava ainda ser feita. Instado por Farel, Calvino aceitou liderar a Reforma ali e pôs mãos à obra, não sendo, porém, bem-sucedido. Ele vai para Estrasburgo, mas, em 1541, retornou a Genebra e levou avante a tarefa de fazer daquele lugar turbulento e dissoluto um modelo de um centro protestante para a difusão da Palavra de Deus. Trabalhando por muito tempo durante os 24 anos de seu ministério, Calvino praticamente conseguiu o seu intento. A igreja, bem organizada, possuía um presbitério que vigiava a conduta do povo e dos ministros; um serviço de assistência social, a cargo de diáconos, e uma Academia, onde se ensinava Teologia e preparavam-se obreiros para a evangelização de outros povos. Enfim, Genebra tornou-se uma cidade notável pela ordem, pela paz, pela cultura e pelo cristianismo bíblico que ali era ardorosamente vivido. Nos últimos nove anos de sua vida, Calvino foi governador da cidade.

Em sua obra The history of the Church (em português, A história da Igreja), o teólogo, historiador, professor e autor norte-americano G. P. Fisher (1827–1909) escreveu: Por sua obra em Genebra, Calvino alcançou três benefícios para o protestantismo em geral. A vida moral da cidade foi um exemplo do que a fé reformada poderia realizar, e daí o poder de sua propaganda. Genebra foi a cidade de refúgio para os perseguidos por causa da Reforma. Para essa cidade livre, veio gente da França, Holanda, Alemanha, Escócia e Inglaterra. Os refugiados nela encontraram um lar apropriado, e foi também um lugar de preparo sólido para os líderes do protestantismo. Na sua academia e no ambiente da cidade foram preparados ministros devotados, instruídos e destemidos que se espalharam como missionários da Reforma pelos países onde esta ainda não havia entrado. [Londres, Hodder & Stoughton, 1908, p. 385]

Apoderando-se da convicção do apóstolo Paulo em sua carta aos filipenses (Posso todas as coisas naquele que me fortalece – Fp 4.13), os reformadores levaram a Igreja a retomar o seu verdadeiro curso estabelecido por Jesus.

Abraão de Almeida
Pastor da Igreja Evangélica Brasileira em Coconut Creek, Flórida, EUA, e autor de mais de 30 livros em português e espanhol. E-mail: abraaodealmeida7@gmail.com

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