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Foto: Towfiqu Barbhuiya / Unsplash

Sabedoria financeira

Aprender a gerir os recursos segundo a Palavra é a chave para sair do endividamento

Por Ana Cleide Pacheco

Mais de 77% das famílias brasileiras encerraram o mês de março de 2022 endividadas. O número foi divulgado, no início de abril, pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), tomando por base a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC). O levantamento, realizado mensalmente, tem o objetivo de orientar o planejamento de empresários do comércio de bens, serviços e turismo que utilizam o crédito como estratégia de negócios.

O percentual mostrado nessa edição da PEIC representa o maior grau de endividamento registrado na série histórica da análise, levada a efeito desde 2010, tendo em conta todas as dívidas registradas (atrasadas ou não), cartões de crédito, carnês de lojas, empréstimos pessoais, prestações de carro ou casa, cheques pré-datados e seguros. Na comparação de março de 2021 – quando o percentual de endividamento das famílias brasileiras era de 67,3% – com o período anterior, é possível perceber uma piora considerável na saúde financeira dos brasileiros ao longo do último ano. A PEIC revelou que, entre todas as famílias que têm dívidas no Brasil, pelo menos, 10,8% não vão conseguir pagar as parcelas das dívidas existentes. Ou seja, ficarão inadimplentes por mais tempo e sem perspectiva de regularizar os débitos. Ainda segundo a PEIC, o orçamento dos brasileiros está sendo pressionado pela inflação, que se mantém alta, apesar do aumento nos juros.

A jornalista e educadora financeira Ketlin Oliveira Brito, ao falar dos brasileiros: “É um povo, em grande parte, sem educação financeira, que sempre tenta dar um ‘jeitinho’ para conseguir as coisas” – Foto: Arquivo pessoal

Para a jornalista e educadora financeira Ketlin Oliveira Brito, 31 anos, outro fator muito importante é parte da equação do endividamento nacional: a falta de educação financeira. De acordo com ela, o pouco conhecimento dos brasileiros sobre gestão de finanças pessoais é, na verdade, o principal responsável por tanta gente estar endividada. “Historicamente, fomos bastante explorados, desde a chegada dos portugueses no Brasil. Nossa relação com o dinheiro sempre foi distorcida, pautada em propina, exploração, falta de crescimento social etc”, avalia Ketlin Brito, acrescentando que a perpetuação daquela “herança”, ao longo de séculos, gerou a sociedade atual. “É um povo, em grande parte, sem educação financeira, que sempre tenta dar um ‘jeitinho’ para conseguir as coisas”, analisa.

No entanto, na opinião da especialista, que pesem as influências e os traços culturais, a mudança para uma vida financeira mais equilibrada é resultante de um esforço individual. “Cabe a cada um tentar romper esse ciclo, buscar novos hábitos de consumo e ensinar as novas gerações a fazer diferente também”, conclama. A jornalista destaca que, atualmente, há um boom de educação financeira no país e o surgimento de inúmeros profissionais nessa área. “Temos um maior número de pessoas investindo na Bolsa de Valores e poupando, porém ainda há um longo caminho a percorrer”, informa Ketlin Oliveira, que usa seu canal Saldo Extra no YouTube para falar de finanças à luz da Bíblia. “O objetivo é ajudar as pessoas a ter uma relação melhor com as finanças pessoais. Como a maioria não teve esse tipo de educação na infância, tentamos ‘reprogramar’ essa relação, tornando-a mais saudável e consciente.”’ Além disso, para a profissional, fazer a ligação do “bolso” com aquilo que pregam as Escrituras é fundamental, já que a Palavra apresenta ricos ensinamentos sobre o tema. “Muitas pessoas acham que Deus não Se importa com as nossas finanças e com os nossos bens, e isso não é verdade. O Senhor deu vários conselhos acerca de como devemos lidar com o dinheiro”, assegura.

Foto: Emil Kalibradov / Unsplash

Dívidas acumuladas – A manicure L. Q., 42 anos, que prefere não se identificar para evitar constrangimentos, aprendeu, a duras penas, alguns princípios da educação financeira. No início de 2020, ela pagava o financiamento de um automóvel. Tudo corria bem, até que a pandemia da covid-19 – e as restrições de circulação impostas como medida de prevenção ao contágio – fizeram a sua renda despencar. Não podia mais arcar com o financiamento e, por isso, parou de pagar as prestações. A inadimplência fez a instituição credora entrar com uma ação de busca e apreensão do veículo.

Foto: Reprodução

Em desespero, ela pegou um empréstimo para pagar o que devia e, assim, não perder o carro, gerando uma dívida ainda maior. “Fiquei em uma situação bem desconfortável, pois meu telefone não parava de tocar. Percebi que tinha apenas transferido um problema: não havia resolvido a questão. Assumi dois compromissos financeiros altos, que consumiam toda a minha renda.”

Foto: Rafael Neddermeyer / Fotos Públicas

Sem condições de pagar o aluguel, as contas de água, de energia elétrica e as compras de supermercado, nossa entrevistada se viu presa em um pesadelo. “Como única responsável pelo caos, decidi reorganizar a vida. Em primeiro lugar, buscando a Deus.” Em seguida, ela vendeu o carro. O comprador pagou o que ela já tinha investido e assumiu as prestações. “Com o que recebi, paguei a dívida no banco. Foi difícil, mas aprendi a lição. No meu coração, tenho uma certeza: Deus não nos desampara. Nós é que agimos por impulso, muitas vezes”, destaca a manicure, que é evangélica.

Foto: Firmbee-com / Unsplash

Outra armadilha capaz de pegar vários incautos, aprisionando-os na ciranda financeira, é o empréstimo consignado. Trata-se de uma modalidade de crédito concedida, em especial, a aposentados, pensionistas e funcionários públicos. Como garantia de pagamento para o credor, as prestações são descontadas diretamente na fonte dos proventos. Muita gente se encanta com as facilidades apresentadas para obter tais empréstimos, sem levar em conta os altos juros cobrados. Foi o que aconteceu com a professora M. O. L., 39 anos, que só falou com Graça/Show da Fé sob a condição do anonimato. Com duas matrículas na rede pública de ensino, ela tirou tantos empréstimos consignados que não recebia mais o salário: as dívidas acumuladas consumiam todo o seu pagamento mensal. “Nem sei como consegui me endividar tanto. As facilidades do crédito e a falta de responsabilidade nos fazem gastar mais do que ganhamos. Morria de vergonha até de mim. Chorava, todos os dias, pedindo a Deus que me ajudasse a sair do ‘fundo do poço’. E Ele fez isso”’, comemora. Milagrosamente, ela relata que foi contratada por uma escola particular e, assim, conseguiu quitar todos os empréstimos, antes do tempo e com redução das taxas de juros. “Deus é bom e sou grata a Ele por me tirar dessa situação”, celebra a docente, que também é cristã.

O empreendedor digital e professor na área de Finanças Leonardo Gomes Pinheiro acredita que a falta de educação financeira e o imediatismo são os maiores responsáveis pelo superendividamento da maioria das pessoas – Foto: Arquivo pessoal

O empreendedor digital e professor na área de Finanças Leonardo Gomes Pinheiro, 40 anos, acredita que a falta de educação financeira e o imediatismo são os maiores responsáveis pelo superendividamento da maioria das pessoas. “Em minha opinião, a grande causa dos problemas financeiros é emocional, alinhada à falta de conhecimento e à cultura do brasileiro, sempre consumista, imediatista e gastador.” De acordo com Pinheiro, a educação financeira não é prioridade nos lares, não é de interesse de governos e não é devidamente ensinado nas escolas, embora muitas instituições de ensino hoje já estejam abordando o tema. “A facilidade de crédito é outro fator que faz os indivíduos se enrolarem em dívidas. Então, se não buscarem ajuda, a tendência é continuarem endividados”, garante o professor, que mantém o canal Cristãos sem Dívida no YouTube. “Conhecimento, sabedoria e controle emocional são os pilares de uma vida equilibrada. Então, é preciso aprender a dominar as emoções”, pontua o especialista, enfatizando que, para a educação financeira ser efetiva, as pessoas precisam abrir a mente, como a Bíblia orienta, em Romanos 12.2: E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. “Assim, será mais fácil se livrar das dívidas e ter uma vida plena e abundante, como ensinou Jesus e como, de fato, todos querem e merecem viver.”

A empresária Flávia Matos testemunha: “Quando escolhemos representar Jesus aqui na Terra, tudo muda. Ele não transforma só uma área da nossa vida, mas todas” – Foto: Arquivo pessoal

Vida diferente – A empresária Flávia Matos, 31 anos, passou por esse processo de transformação, depois de conhecer o Redentor. Antes de sua conversão, ela comprava coisas sem necessidade, como forma de preencher o vazio que havia na alma. Ao adquirir roupas, sapatos e maquiagens, sentia-se parcialmente saciada. Entretanto, com a chegada da pandemia, seu negócio entrou em crise e, como não tinha reserva financeira, viu o mundo desabar. “As dívidas me perseguiam dia e noite. Foi quando me voltei para Cristo, pois, apesar de ter crescido em um lar cristão, vivi 30 anos sem ter nascido de novo”, informa, referindo-se à conhecida passagem de João 3.3 na qual Jesus diz a Nicodemos: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus.

Ela ressalta que ia à igreja, mas não tinha comunhão com Deus. Até que, finalmente, no auge do endividamento, entregou a vida definitivamente ao Salvador. “Quando escolhemos representar Jesus aqui na Terra, tudo muda. Ele não transforma só uma área da nossa vida, mas todas”, testemunha a empresária, sublinhando que, a partir do momento em que passou a seguir os ensinamentos do Evangelho, experimentou milagres em diversas áreas, inclusive a financeira. “Por estar em comunhão com Deus, ampliei minha empresa e, pelo direcionamento dEle, mudei de cidade.” Ela afirma que sua vida hoje é diferente da do passado. “Não atribuo isso à sabedoria humana, pois a fonte é completamente divina. Consegui me reerguer e, agora, compro com mais consciência. Afinal, vida financeira é espiritual”, constata Flávia, membro da Igreja Batista da Lagoinha em Niterói (RJ).

O pastor auxiliar Paulo César Maximiano garante: “Se nosso coração estiver aos pés dAquele que é digno, com certeza seguiremos Sua vontade, e o dinheiro será simplesmente um meio pelo qual o Senhor nos abençoará” – Foto: Arquivo pessoal

O pastor auxiliar Paulo César Maximiano, 52 anos, da Igreja Presbiteriana Central de Londrina (PR), lembra que as pessoas têm a tendência de separar Deus e dinheiro; pensam que o Senhor é Santo e o dinheiro é algo sujo ou impuro. “Deus realmente é Santo, entretanto temos de entender que as Escrituras não falam que o dinheiro é o problema, e sim a maneira como lidamos com ele”, aponta, citando Mateus 6.21: Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. “Se nosso coração estiver aos pés dAquele que é digno, com certeza seguiremos Sua vontade, e o dinheiro será simplesmente um meio pelo qual o Senhor nos abençoará.”

Maximiano lamenta o fato de muitos deixarem o dinheiro ser o senhor deles, comandando seus relacionamentos e, principalmente, o coração e a mente. “A única citação bíblica sobre outro deus, que tenta roubar o senhorio do Deus Todo-Poderoso, está em Mateus 6.24: Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom, salienta o pregador, recordando não haver qualquer problema em ter muito dinheiro. Contudo, aponta que não devemos deixar a riqueza se apossar de um lugar o qual não lhe pertence. “Se permitirmos isso, estaremos dobrando nossos joelhos no altar de Mamom. Temos de ser homens e mulheres que têm apenas um altar: o que pertence somente a Deus”, conclui.


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