Novo fôlego

Fé em alta: muitos jovens brasileiros estão se voltando para as igrejas evangélicas

Por Patrícia Scott

Programações que misturam música contemporânea, dança e teatro; pregadores que usam linguagem coloquial e vestem roupas informais, templos e auditórios com som e iluminação de qualidade e utilização maciça das redes sociais e de estratégias evangelísticas diferentes, como os flash mobs [grupo de pessoas que se reúnem repentinamente em um ambiente público para realizar apresentações curtas, tocando instrumentos ou cantando]. De acordo com especialistas do assunto, essas características das congregações evangélicas atuais resultam no aumento exponencial do número de jovens crentes no país.

Tais análises podem ser confirmadas. É o que indica o levantamento Global Religion 2023, realizado pela Ipsos, empresa especializada em pesquisas de mercado. A sondagem, que analisou dados de quase 20 mil pessoas em 26 países, revela que 26% dos jovens brasileiros integrantes da geração Z – nascidos entre a metade da década de 1990 e 2010 – se identificam como evangélicos. [Leia, na coluna ao lado, o quadro Topo do ranking]

O estudo da Ipsos, feito por amostragem, não apresenta a mesma precisão do Censo 2022, cujos dados, ainda não divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicarão um quadro mais preciso da juventude nacional. Entretanto, pesquisadores têm sinalizado que a adesão juvenil às denominações evangélicas é perceptível e motivada por diversos fatores. “Um deles é a contextualização da mensagem da fé, que se adapta à realidade sociocultural de grande parte da juventude”, analisa o Pr. Rodolfo Capler, da Igreja Batista Alternativa em Piracicaba (SP). “A mensagem centrada no indivíduo, um lugar-comum no evangelicalismo brasileiro, cativa boa parte dos fiéis mais novos”, enfatiza o também teólogo e pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo (SP). 

Capler observa que a presença social das igrejas nas periferias e em regiões mais afastadas pesa bastante nessa “balança”. “A adesão dos jovens brasileiros ao segmento evangélico aconteceprincipalmente entre os que fazem parte das classes mais baixas dopaís e que se filiam maciçamente às igrejas pentecostais e neopentecostais”, opina o especialista, destacando que a música gospel também é um fator atrativo. “Nas igrejas evangélicas, canta-se rap, funk, samba, sertanejo e rock, sendo um elemento de aproximação das novas gerações”, avalia.

Na opinião do teólogo, o crescimento do número de jovens evangélicos tende a aumentar nas próximas décadas, não só nas classes menos favorecidas, mas também nas mais elevadas. Esse evento deve propiciar o aumento da escolarização da população, em virtude do incentivo à leitura bíblica individual, enfatizada pelas lideranças evangélicas e apoiada pelos membros das congregações.

“Socorro espiritual” – O Pr. Orestes Lima, líder estadual do ministério Jovens que Vencem (JQV), da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no Maranhão, ressalta que as mídias eletrônicas são essenciais para o crescimento do Evangelho no Brasil. “Ao longo dos anos, a televisão e o rádio têm sido muito utilizados para propagar a Palavra. Especialmente após o ano 2000, com a chegada da internet, das redes sociais e das plataformas digitais, o acesso das igrejas à juventude aumentou.” Lima observa ainda que o número de jovens com problemas emocionais e mentais tem crescido no país. “Diante dessa realidade, eles buscam socorro espiritual na igreja.” [Leia, no final desta reportagem, o quadro Orientações bíblicas para a juventude]

A opinião do ministro é reforçada pela líder de jovens Sandra Gomes de Freitas, da Primeira Igreja Batista em Pará de Minas (MG). Ela acredita que os adolescentes procuram as igrejas em busca de algo diferente. De acordo com Sandra, o avanço da comunicação, em especial o surgimento das redes sociais, evidenciou ainda mais as sequelas do pecado, gerando repulsa em muitos rapazes e moças. “Eles entendem que o mundo não tem o que oferecer”, avalia.

O Pr. Raphael Assunção possui uma visão semelhante. Líder estadual do ministério Jovens que Vencem (JQV), da Igreja da Graça no Espírito Santo, ele alerta para o fato de que o avanço do mundanismo e o aumento do individualismo deixaram os jovens perdidos. “O Senhor tem despertado uma juventude sedenta para conhecer a Verdade, que é Jesus”, comemora Assunção, ressaltando que a presença dos mais moços nas congregações representa um novo motor para a Igreja. “O desenvolvimento da obra fica mais forte e abrangente devido ao comprometimento deles.”

Redes sociais – Diversas passagens registram histórias de jovens tementes ao Senhor, que foram usados como instrumentos poderosos nas mãos do Altíssimo. Entre eles, estavam José, Samuel, Davi, Daniel e Timóteo, assim como Ester e Maria, mãe de Jesus. Ressaltando o vigor dessa faixa etária, o apóstolo João aconselha: Eu vos escrevi, jovens, porque sois fortes, e a palavra de Deus está em vós, e já vencestes o maligno (1 Jo 2.14). No mesmo sentido, o apóstolo Paulo escreveu a Timóteo: Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza (1 Tm 4.12). O Pr. Valdenir Azevedo, líder estadual do ministério Jovens que Vencem (JQV), da Igreja da Graça no Pará, afirma que, assim como esses jovens serviram ao Senhor nos tempos bíblicos, muitos se empenham atualmente com a alegria e o ânimo próprios dessa fase da vida, a fim de testemunhar as Boas-Novas de Cristo. “Eles conseguem influenciar um número considerável de pessoas, e as redes sociais refletem esse potencial.”

Para o diácono Matheus Rocha Maia Rossi, líder do ministério de jovens da Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ) em Bangu, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), a juventude é o “pulmão” da igreja: proporciona fôlego renovado à comunidade de fé, impulsionando o trabalho nos ministérios. Indagado sobre a pesquisa da Ipsos, o diácono assegura que o resultado do estudo confirma o excelente trabalho feito pela Igreja brasileira fora de suas quatro paredes, atraindo a nova geração para Jesus. “Isso é positivo. A liderança tem identificado o valor dos jovens, e eles, ao tomarem conhecimento da nova identidade em Cristo, dão um novo sentido à própria vida.”

Por sua vez, o Pr. Sidcley Pereira Paulino, da Comunidade Evangélica Projeto Vida, em Jardim Cidade do Aço, em Volta Redonda (RJ), ressalta outro fator atrativo para os jovens: a preocupação da Igreja com os aspectos espirituais, emocionais e psicológicos deles. Entretanto, o ministro afirma que as lideranças precisam estar preparadas e treinadas para recepcionar com amor essa nova geração, que apresenta demandas e carências próprias. “Ao realizar a missão da Igreja – pregar a Palavra, promover a comunhão e acolher as pessoas –, a perspectiva é de que cada vez mais rapazes e moças desejem estar na casa de Deus. Sabemos que o Espírito Santo convence do pecado, do juízo e da justiça, mas a postura do cristão é a resposta que o jovem espera”, conclui Sidcley.

• Facebook
• Instagram